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3 REFERENCIAL TEÓRICO

3.2 Redes e alianças estratégicas

3.2.1 Origens e conceitos de redes

Os estudos seminais sobre redes sociais pertencem ao sociólogo norte-americano Mark Granovetter, com seus trabalhos The strength of week ties, de 1973, e Getting a job, de 1974, nos quais o autor identifica as formas de acesso a empregos, concluindo que as pessoas conhecidas promovem o acesso aos postos de trabalho, função do compartilhamento de informações entre os atores sociais (MARTES et al., 2008).

Mark Granovetter trouxe aos estudos o papel das redes sobre a circulação de informações. Outros pesquisadores estudaram as redes e a influência nas organizações, como Paul DiMaggio e Walter Powell, da perspectiva da difusão de práticas organizacionais (MARTES et al., 2008).

Uma rede é um conjunto de indivíduos ou organizações, interligados por relações de diversos tipos, sendo composta por nós e por laços. Os laços conectam os nós e estes são comumente chamados de atores, que podem ser tanto indivíduos ou firmas. Assim, os laços interligam os atores. Por esta definição, as redes podem ser tratadas quantitativamente (POWELL; SMITH-DOERR, 1994; MARTES et al., 2008; LAZZARINI, 2008).

Neste trabalho as redes e sub-redes são as relações, bidirecionais ou não, entre pessoas, empresas, IES, institutos de pesquisa e governos e novas formas de organizações que emergem, como ONG e associações. Além disso, uma rede pode ser tratada e matematicamente representada por uma matriz, onde cada célula da matriz representa um ator da rede (linha) o qual se relaciona com outro ator (indicado pela coluna).

Os laços em uma rede podem ser direcionais ou não-direcionais. São direcionais quando a relação ocorre de um ator A para um ator B. Se o sentido não importa na relação, diz-se que o laço é não-direcional (LAZZARINI, 2008).

As redes são ainda definidas em função das relações entre grupos e os atores, ou seja, na afiliação. Estas redes possuem dois tipos de nós que são os atores em si e os grupos aos quais os atores pertencem. Duas organizações podem estar relacionadas bilateralmente, interligadas por um laço definido, mas também podem interagir em uma aliança multilateral, ou seja, participando um mesmo grupo de organizações. Pode-se então caracterizar uma rede pela sua estrutura de forma geral, pela forma como os laços são estabelecidos entre os atores (LAZZARINI, 2008).

A densidade de uma rede é uma medida da conexão entre os atores em uma rede. A quantidade máxima de atores conectados, isto é, de laços, é dado por N(N-1)/2, onde N representa a quantidade de atores. A densidade é a quantidade de laços existentes em uma rede (LAZZARINI, 2008). Quanto mais densas as redes, maior é o fluxo de informações na rede (COLLEMAN, 1998 apud LAZZARINI, 2008). Com isso o conhecimento sobre os atores em uma rede de organizações pode auxiliar na tomada de decisão racional. As decisões em conjunto também podem ser facilitadas pela densidade mais alta em uma rede. Além disso, a densidade de uma rede permite à rede aplicar sansões de forma coletiva e obter aprendizado grupal.

A centralização em uma rede é a existência de um ator central, o qual interliga vários outros atores na mesma rede, funcionado como líder na rede. A estrutura deste tipo de rede parece-se com uma estrela. Nota-se que uma rede mais centralizada tem menor densidade, o que implica em maior esforço de coordenação dos atores centrais. Por outro lado, uma rede é dita fragmentada quando existem sub-redes e estas estão desconectadas entre si. Atores conectados entre si são denominados componentes da rede. Uma rede mais centralizada não implica em atores desconectados. Antes disso, os atores podem apresentar mais coesão interna do que em uma rede descentralizada (LAZZARINI, 2008).

Uma das facilidades de uma rede é a possibilidade de um ator, individual ou coletivo, se conectar a outro ator, mesmo sem haver relação direta entre ambos. Para isso, diversos nós da rede podem auxiliar na conexão entre si. A denominação mundo pequeno foi utilizada por Milgram (1967) no estudo da entrega de cartas a desconhecidos, em Boston, EUA (LAZZARINI, 2008).

A pesquisa de Milgram (1967) tratou da tentativa de entregar correspondências do Kansas para Boston a destinatários desconhecidos, mas as entregas poderiam ser realizadas através de conhecidos, mesmo que localizados em outras cidades. Em média, foram necessárias cinco pessoas intermediárias para as cartas chegarem aos destinatários. A

denominação mundo pequeno decorre de que variados indivíduos podem se conectar a outros, por meio de poucos intermediários, mesmo que desconhecidos (LAZZARINI, 2008).

Disto decorre a importância das redes. Para as empresas, soluções melhores para seus problemas técnicos ou administrativos podem ser obtidas e em menos tempo, através de suas relações com outras organizações. Se as relações forem formais e intencionais, o tempo de resposta da rede pode ser encurtado, criando pequenos mundos empresariais.

Neste mesmo sentido, a decisão de migrar ou não de uma região é função, dentre outras, do relacionamento com a comunidade do local de funcionamento: se tal relacionamento é intenso e amplo, as empresas permanecem no local, apesar do risco de sobrevivência no mercado. A tendência de migrar é menor nas organizações periféricas de uma rede e maior nas organizações centrais, face aos menores custos não-financeiros que estas desenvolvem nos relacionamentos (MARTES, 1998).

Igualmente, as decisões de investimento local decorrem das relações mais fortes com os membros da rede, especialmente, nas empresas de menor porte, nas quais a relação de confiança influencia positiva e fortemente os investimentos locais (MARTES, 1998). Confiança é um conceito dentre os mais importantes e citados em relações de cooperação interfirmas (GRANDORI; SODA, 1995), em especial, quando as relações envolvem processos de inovação e aprendizagem (DOGSON, 1993).

Mais ainda, empresas em rede podem reduzir os custos de transação para acessar recursos do mercado que não elas detêm, mas que são necessários para a atividade produtiva. No mesmo sentido, uma rede permite ampliar o capital social das organizações e aumentar a competitividade do cluster em variados elementos: atuação em mercados distintos, acesso a tecnologias, aumento do poder concorrencial, são exemplos. Empresas reunidas por laços e interesses conjuntos foram redes sociais em um mundo pequeno.

Um mundo pequeno (small world) é uma coleção densa de entidades, pelas quais a informação ou outros recursos fluem entre os atores mais célere e facilmente, por vezes intermediários que não conhecem a priori todos os membros da rede, em função da alta conectividade entre os integrantes (WATTS; STROGATZ, 1998; LAZZARINI, 2007).

Duas das características de um mundo pequeno são a distância entre dois dados atores (path length - PL) e o coeficiente de agrupamento de uma rede (clustering coefficient - CC). O PL indica a menor quantidade de laços para interligar dois atores na rede, direta ou indiretamente. O CC indica o grau de conectividade entre os atores: é a razão entre a quantidade de laços observados entre os atores e a quantidade total possível entre eles (LAZZARINI, 2008).

Assim, um mundo pequeno pode ser definido quando: a densidade global da rede é baixa, a distância média entre os atores não é longa e o coeficiente de agrupamento for elevado em uma rede (LAZZARINI, 2008). Quando se leva à economia os conceitos de redes organizacionais, percebe-se que um sistema produtivo pode ser explicado em função de redes. As redes permitem que empresas se tornem especialistas e desempenhem atividades econômicas mais eficientemente, deixando a cargo de outros atores o desempenho de funções que não lhes são atrativas.

Neste contexto, as empresa podem formar redes de cooperação entre si, unindo-se a outras organizações, evitando a competição por recursos escassos, se especializando em conhecimento ou no atendimento a mercados bem determinados, ou ainda, acessando mercados em conjunto com outras empresas. Os laços inter-organizacionais podem ser verticais ou horizontais.

Um laço vertical indica uma cadeia de suprimentos entre os atores, uma seqüência de laços entre eles, ou seja, operações seqüenciais e interdependentes. Um laço vertical possibilita gerenciar a interdependência entre os fornecedores e consumidores, dentro de uma cadeia produtiva. Este procedimento é utilizado em estudos de logística e de marketing, na Administração (LAZZARINI, 2008).

As redes horizontais ocorrem entre empresas que atuam no mesmo setor de negócios, ou entre empresas adjacentes entre si. Podem ser utilizadas para suprir necessidades que não podem ser desempenhadas pela mesma empresa ou porque a exploração comercial não é interessante. Podem surgir de alianças entre empresas com produtos complementares. As redes de agregação têm a interdependência mais fraca e as redes recíprocas são mais fortemente relacionadas. Relações horizontais tendem a ser mais forte nas relações recíprocas.

Lazzarini (2008) afirma que é raro encontrar, na prática organizacional, empresas apenas com laços verticais ou horizontais. O autor cita o caso da Toyota e seu sistema de produção e que se tornou padrão em manufatura. A rede de laços empresariais da Toyota é um intricado relacionamento entre parceiros, fornecedores, distribuidores, governos, transportadores, nos quais há participação financeira entre os atores da rede (LIKER, 2005; LAZZARINI, 2008; LIKER; HOSEUS, 2009).

Os estudos sobre organizações em redes têm crescido mundialmente (AGUIAR; CÂNDIDO; ARAÚJO, 2008) em função de seu poder explicativo do comportamento de grupo, sua existência formal e informal e pela possibilidade que surge para analisar efetivamente as relações entre organizações. Porém, questiona-se o que influencia a formação de redes?