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4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

4.2 Técnica de pesquisa

Esse estudo possui caráter qualitativo, baseado em pesquisa exploratória bibliográfica e em entrevistas semi-estruturadas. Foi revisada a literatura a respeito do conhecimento acumulado sobre os fatores críticos para desenvolvimento de sistemas portuários.

Em seguida foram realizadas dez entrevistas com pessoas de destaque na temática do estudo. Assim, foram obtidas as percepções de atores-chave atuantes no setor portuário e de respondentes que são impactados pelas operações portuárias de Suape/PE.

Tomou-se como caminho teórico-metodológico a análise qualitativa, uma vez que não se pode reduzir este estudo à variáveis quantitativas, visto o interesse em captar percepções. A escolha metodológica constituiu-se de alguns elementos que não se limitaram a uma preferência, mas a uma concepção com a qual o pesquisador se identificou e que acredita que responde melhor ao problema de pesquisa escolhido (MERRIAM, 1998; CRESWELL, 2010).

O objetivo deste estudo foi desvendar uma realidade, construindo-a por meio da interação do pesquisador com o campo de estudo.

Procura-se entender os fatores que levaram os maiores portos a merecerem destaque e quais exemplos se pode tomar de tais ações, através da interpretação de respondentes interessados no desenvolvimento do sistema portuário de Suape, o que é, segundo Merriam (1998), característica dos estudos qualitativos.

Além disso, foram pesquisadas as causas do desenvolvimento que conduziram alguns portos internacionais a obterem lugar de relevo no setor. A revisão da literatura permitiu desenvolver insights a respeito do problema de pesquisa e das questões acessórias a este estudo através do exame de artigos e outras publicações na temática objetivada.

Continuando a pesquisa, foram realizadas entrevistas. Para Godoi e Mattos (2006), são três as classes básicas da entrevista qualitativa: a conversacional livre na qual as perguntas e respostas surgem ao sabor do contexto; a roteirizada, com uma linha guia a seguir, permitindo modificações e adaptações, e a padronizada aberta, orientada por perguntas pré-selecionadas e seriadas (GODOI; MATTOS, 2006).

Para este estudo, escolheu-se a entrevista roteirizada que guiou o pesquisador e os respondentes, auxiliando a manter o foco na questão de pesquisa.

O roteiro das entrevistas surgiu dos indícios sobre quais caminhos os portos tomados como referência adotaram para obter posição de relevo em âmbito mundial. Além disso, foram considerados os desafios que estes portos escolhidos enfrentaram e enfrentam para se

manterem em posição de liderança. As questões elaboradas para as entrevistas constituíram a base de informações para responder ao problema de pesquisa.

Identificado o problema de pesquisa, é necessário que decidir quais informações serão necessárias ao entendimento da demanda em estudo, bem como onde poderá e deverá coletá- las. Variadas formas de obtenção de dados estão disponíveis.

A entrevista é dos meios mais comuns para a coleta de dados qualitativos e torna-se necessária quando se pretende obter dados que não podem ser conseguidos apenas pela observação, tais como emoções, pensamentos e atitudes.

É importante para a entrevista semi-estruturada que se tenha em mãos um guia de pesquisa, com perguntas norteadoras que irão conduzir e manter o respondente no foco da questão de pesquisa (MERRIAM, 1998).

A entrevista estruturada prevalece entre as técnicas de pesquisa em Administração, porém a do tipo não-estruturada vem crescendo em quantidade de uso. A pesquisa qualitativa também é adequada quando certos fatos escapam quando a forma quantitativa é realizada.

A etnometodologia e a etnografia podem proporcionar uma perspectiva interessante nestes casos (MATTOS, 2006). Neste trabalho pretendeu-se captar possíveis padrões cognitivos que não seriam prováveis de se obter quantitativamente.

Para se obter bons dados oriundos de entrevistas é necessário fazer um levantamento prévio das perguntas e realizar um teste piloto, experimentando-o com respondentes que detenham domínio de conhecimento sobre o fenômeno em estudo (MERRIAM, 1998).

Para este estudo, foram realizados dois testes pilotos de entrevistas com um consultor e com um ex-funcionário dos portos de Suape e do Recife com experiência portuária de mais de 20 anos, cada um deles.

Tais respondentes são também professores do ensino superior em IES particulares. Eles foram escolhidos pelo trabalho com a operação e gestão, por se entender que estes fatores compõem a infraestrutura para um complexo portuário e por se encontrarem atualmente envolvidos com o ambiente objeto deste estudo.

Os elementos norteadores das questões das entrevistas surgiram da análise da revisão da literatura e dos referenciais teóricos adotados. A Figura 12 serviu de base para a elaboração dos instrumentos de coleta de dados, apresentados nos apêndices de A até C.

Figura 12 (4): Fatores de sucesso dos grandes portos no mundo. Fonte: elaboração própria.

Com as respostas obtidas do teste inicial das entrevistas foram implantadas melhorias e ajustes nos instrumentos de coleta de dados, obtendo-se assim apuradas formas de conseguir informações mais apropriadas para responder ao problema de pesquisa (MERRIAM, 1998).

Taylor e Bogdan (1984) apontam seis questões que devem ser abordadas no início de cada entrevista: as motivações do pesquisador e as intenções e propósito da entrevista; o sigilo acerca da identificação dos entrevistados; a decisão sobre quem tem palavra final sobre o conteúdo do estudo; o pagamento ao entrevistado, se houver; e a logística relativa ao tempo, ao lugar, e ao número de entrevistas a serem agendadas (TAYLOR; BOGDAN, 1984).

Com os entrevistados no teste piloto das entrevistas, o pesquisador foi ao encontro nos locais de trabalho dos respondentes, os quais foram escolhidos livremente pelos entrevistados e que, em todos os casos, foram o local de trabalho corrente dos escolhidos.

Foi solicitada permissão para gravação e depois de obtidos os resultados, este foram devolvidos aos respondentes para validação e comentários, conduzindo a um novo e melhorado instrumento de pesquisa. Em dois casos, os respondentes não permitiram a gravação. Não houve solicitação de retificação das transcrições.

Entrevistas devem ser gravadas e transcritas. A gravação pode ser apenas do áudio ou do áudio e do vídeo. Quanto há vídeo, são aproveitados os dados não verbais. Também é importante tomar notas durante o encontro para registrar elementos que poderiam passar despercebidos na transcrição, em especial, quando a entrevista é gravada apenas em áudio. Após a coleta dos dados da entrevista, deve-se transcrevê-la junto com as notas, o que gerará a base de dados para análise (MERRIAM, 1998).

As entrevistas foram gravadas com a permissão individual de cada respondente utilizando aparelho discreto e digital, de forma a reduzir a inibição natural que estes artefatos causam aos falantes.

A permissão foi solicitada previamente e foi outorgado ao entrevistado a permanente possibilidade de solicitar desligamento do gravador. Em um dos casos, houve breves interrupções, entretanto, sem consequências relevantes para os resultados.

Foi o próprio pesquisador quem transcreveu as gravações. Optou-se assim, devido à três razões: i) desejava-se transcrever de imediato e combinar as informações; ii) há relatos de conhecidos sobre transcrições com muitos erros; iii) há necessidade de conferência da transcrição com a gravação, o que tinha que ser realizado pelo pesquisador. Entretanto, esta etapa adicionou tempo a obtenção do relatório de pesquisa. Para cada transcrição, este autor utilizou em média três horas e trinta e cinco minutos.

Foi utilizado como auxílio um bloco de anotações para escrever observações sobre a expressão facial, interrupções, silêncios e outros sinais que possam auxiliar na transcrição e compreensão do áudio ao texto.

São três os atributos essenciais à pesquisa qualitativa: que o entrevistado possua a liberdade de declaração, que a disposição das perguntas não embarace a livre linguagem do locutor e que o entrevistador possa adicionar ou remover perguntas para o bem do objetivo do trabalho. No caso da entrevista em profundidade, não pode haver rigor na aplicação da técnica, pois reduziria ou removeria a autonomia das respostas (GODOI; MATTOS, 2006).

É conveniente ter em mente que não há fórmula pronta para a entrevista, ela é adaptativa à conjuntura. Há orientação para não sugerir respostas, procurar a empatia, evitar a linguagem do especialista quando o sujeito respondente não o é, para reduzir a presença de

artefatos para o auxílio do registro (gravador e câmara de vídeo) e para ser paciente com a velocidade de raciocínio do entrevistado (GODOI; MATTOS, 2006).

Na maior parte dos estudos qualitativos, o pesquisador combina os três tipos de entrevista, que são a estruturada, a semi-estruturada e a informal ou aberta, dificilmente utilizando apenas uma delas. Esta variedade contribui para a riqueza da coleção de dados que se deseja obter (MERRIAM, 1998).

A entrevista como momento de diálogo deve procurar reduzir a oposição em falar e em entender um ao outro, reduzindo as fontes de erros na coleta dos dados. A procura por um discurso voluntário deverá ser constante, tal qual em uma confissão religiosa, onde aflora o consciente e o inconsciente, com plena liberdade de expressão (GODOI; MATTOS, 2006).

Após a obtenção dos dados, realizou-se a análise das entrevistas pela técnica da análise pragmática da linguagem, procurando descobrir significados que venham revelar iniciativas e ocorrências que possibilitaram a compreensão das causas das ações desenvolvidas pelos atores entrevistados.

A transcrição do áudio combinado com os sinais anotados foi utilizada para gerar categoriais de análise das quais foi, posteriormente, solicitado confirmação aos respondentes a respeito do entendimento que o pesquisador obteve das respostas.

A entrevista semi-estruturada encontra-se cercada de transformações. De uma análise quantitativa de texto, vem convergindo para uma análise pragmática da linguagem falada. Porém, o discurso do entrevistado está carregado de sinais e símbolos que devem ser identificados e elucidados nos resultados.

Como fazer isto? Como produzir um texto a partir da realidade falada e observada pelo entrevistador? A contagem de palavras e categorias de domínios contidas na exposição oral do respondente não dá conta desta tarefa. Vai além disto (MATTOS, 2006).

Propõe-se um modelo em cinco fases: a recuperação, que inclui a transcrição da entrevista e anotações complementares; a análise do significado, com duas demãos de leitura; a validação que abrange a revisão do entendimento do analista pelo autor do discurso; a montagem da consolidação das falas como em uma matriz de perguntas e respostas, e a análise de conjuntos, na qual se produz já conclusões parciais sobre o problema de pesquisa a partir de todas as respostas dos entrevistados (MATTOS, 2006).

Foi nesta orientação que os dados foram analisados e é esta, em resumo, a técnica da pragmática da linguagem.