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5. RESULTADOS

5.3. Os convites e os encontros

Carolina

Carolina tinha 21 anos no momento da entrevista. Conheceu apenas a mãe, foi abrigada na infância e cresceu em abrigos com os irmãos (ela é a mais velha de 6 irmãos). Aos 11 anos, foi transferida para outro abrigo e separada de seus irmãos. Diz ter ficado revoltada com a transferência e fugiu do abrigo para a rua com uma amiga. Abandonou a escola na sexta série. Sua primeira relação sexual foi aos 14 anos, consentida.

Na rua, iniciou o uso de crack:

“Comecei a usar crack pela revolta de terem me separado dos meus irmãos.”

Considera que o uso da droga faz mal à sua saúde, mas afirma:

“O crack me ajuda a esquecer os problemas.”

Devido ao uso de substância psicoativa, fez acompanhamento por alguns anos em um Centro de Atenção Psicossocial infanto-juvenil (CAPSij) da cidade e, após completar 18 anos, foi transferida para um CAPS álcool e drogas (CAPSad), onde conseguiu fazer um bom vínculo com as(os) profissionais. No entanto, teme encontrar com sua mãe, que é usuária de SPA, está em situação de rua e frequenta o mesmo CAPS.

“Eu gosto do CAPS, mas não quero ver minha mãe.”

Quando pergunto como ela faz para sobreviver na rua, Carolina responde:

“Estou no CAPS.”

No momento da entrevista, ela estava fazendo um tratamento intensivo para desintoxicação, durante o qual ficava 24 horas por dia no CAPSad. Quando está na rua, afirma:

“É difícil comer e tomar banho todo dia.”

Na questão sobre o número de internações e seu significado, ela responde:

“Quando fiquei de maior, ficou mais difícil”

Ela refere que após atingir a maioridade as equipes que trabalham no Hospital Geral tratam-na de forma menos cuidadosa.

Foi hospitalizada uma vez em um hospital psiquiátrico, onde ficou 8 meses internada para desintoxicação (por determinação judicial) e foi submetida a diversas internações em Hospital Geral (por vontade própria).

Ainda menor de idade, começou a traficar, teve 17 passagens pela polícia, entre a Fundação Casa e a Penitenciária feminina, na qual ficou dois anos detida (dos 18 aos 20 anos):

“Lá é um lugar onde o filho chora e a mãe não vê.”

Após a detenção, diz que houve uma mudança na sua vida:

“Parei de traficar.”

Quando pergunto se ela já sofreu alguma forma de violência na vida, ela diz que sim:

“Meu ex-companheiro, a guarda, outras pessoas do Centro e no São Pedro6

No questionário, ela identifica as formas de violência que já sofreu: física, psicológica, verbal, sexual e negligência.

Ficou 3 anos com o ex-companheiro:

“Eu fugia dele para ter atendimento”

Fala isto e ri como se dissesse algo proibido. Sempre que era espancada, fugia e procurava o Consultório na Rua para poder ser atendida. O ex-companheiro não queria que ela saísse de perto dele. Durante esse relacionamento, Carolina sofreu fratura exposta de rádio por espancamento que evoluiu com osteomielite. A equipe do

6 O São Pedro (nome fictício) é um local onde muitas pessoas circulam e dormem; fazem uso intenso de crack.

CAPSad levou-a ao Hospital Municipal, o ortopedista que a atendeu examinou-a rudemente, dizendo que ela precisava parar de usar drogas para se cuidar, foi mal atendida por toda a equipe do plantão, que se recusou a interná-la. A antibioticoterapia endovenosa precisou ser feita pelo CAPSad, mantendo-a no leito.

Ficou grávida do ex-companheiro por 3 vezes e sofreu 3 abortos após agressão.

“Foi bom ficar grávida, mas quando tem o aborto dá muita raiva.”

Diz fazer uso de preservativos em todas as relações sexuais, no entanto, afirma já ter contraído sífilis e, recentemente, foi diagnosticada com HIV.

Quando fala do ex-companheiro, diz:

“Perdi tudo por uma pessoa que não queria nada.”

Tem diversas cicatrizes dos espancamentos e facadas que recebeu do ex- companheiro.

“Achava que ele ia me matar.”

Entre idas e vindas ao CAPSad e aos atendimentos com o Consultório na Rua, Carolina também foi diagnosticada com tuberculose pulmonar. Intensificou-se a rede de cuidados, com a parceria da assistência social através da equipe do SOS- Rua na tentativa de criar novos vínculos, ajudando-nos na busca ativa para iniciar o tratamento supervisionado para tuberculose e acompanhá-la ao Centro de Referência em DST/AIDS para tratar a infecção pelo HIV. O atendimento nos outros serviços de saúde continuava a ser preconceituoso e até mesmo desrespeitoso.

Após várias tentativas de encontrá-la sem sucesso, a equipe do CnaR localizou-a, ela aceitou cuidado e pediu internação de forma pueril:

“Tia, se eu não internar eu vou morrer.”

Ela chama todas e todos da equipe de tia e tio.

Foi encaminhada a um hospital no interior do Estado de São Paulo para tratamento da tuberculose, reintrodução da terapia antirretroviral (TARV) e manejo da dependência química.

O projeto de internação planejado para seis meses, tempo necessário para completar o tratamento da tuberculose, durou dois. Ela não conseguiu manter-se abstinente e evadiu, retornando ao CAPSad alguns dias depois solicitando leito porque tinha feito uso intenso de crack. Evadiu após 48 horas no leito.

Hoje, Carolina (aos 22 anos) encontra-se em situação de rua, em região de alto consumo de crack. Os Redutores de Danos do CAPSad, a equipe do CnaR, a

Agente Comunitária de Saúde (ACS) do Centro de Saúde de referência do território e o SOS Rua encontram-na semanalmente. Conseguiu terminar o relacionamento abusivo com seu companheiro, mas já está em outro relacionamento com um homem que também a agride fisicamente. Recentemente aceitou recomeçar o tratamento supervisionado para tuberculose e a TARV. A Vigilância Epidemiológica está ciente e sabe que não adianta interná-la compulsoriamente. Sabemos que a tuberculose e o HIV constituem um problema de saúde pública. Por esse motivo, houve uma intensificação do cuidado com três equipes de saúde e a Assistência Social na tentativa de garantir sua autonomia, evitando, ao mesmo tempo, a transmissão dessas patologias através da distribuição de insumos para o uso de drogas e de preservativos.

Para ela, o mais difícil de estar na rua é:

“Não ter uma casa para morar.”

Carolina diz ter medo de morar na rua:

“Tenho medo da maldade das pessoas.”

A escolha de Carolina, dentre 51 entrevistadas(os), deveu-se ao fato de sua história ter mobilizado bastante toda a equipe do CnaR. Cada vez que ela chegava para atendimentos, fugida do companheiro, com medo de que ele acordasse ou voltasse e percebesse a sua ausência, deixava a equipe tão apreensiva quanto ela. A forma como ela foi tratada por serviços de saúde especializados que deveriam acolhê- la decepcionava a todos os membros da equipe, colocando-nos por algumas vezes no mesmo lugar de impotência de Carolina. Sua história foi discutida em supervisão institucional algumas vezes.

Foi tecida uma rede intersetorial de cuidado para acompanhá-la (Consultório na Rua, CAPSad, SOS Rua, Centro de Saúde (CS), Vigilância Epidemiológica); por diversas vezes os serviços de proteção à Mulher foram colocados à sua disposição. Seu tempo de assimilação e reação frente às situações de seu cotidiano sempre foi respeitado, sem deixar de estimular sua autonomia nas questões da violência de gênero, do uso de crack consciente (redução de danos) e no cuidado com a sua saúde.

Yolanda

Yolanda tinha 19 anos no momento da entrevista. Ela foi entrevistada em dois momentos diferentes. A primeira vez foi em um campo fixo, no mês de junho de 2017. Ela iniciou a conversa, mas não conseguiu terminá-la, disse estar cansada e pediu para continuar na próxima semana.

Muitas semanas se passaram até que Yolanda retornasse ao Campo do Mercadão; todavia, essa diferença foi primordial para que eu escolhesse trazer sua trajetória nesta Dissertação.

Yolanda foi uma das primeiras pacientes a serem atendidas pela equipe do CnaR, ela nasceu em Campinas, só conheceu o pai, a mãe morreu quando ainda era bebê. Sofreu violência física e negligência pela madrasta e pela avó materna. Foi abrigada com seus 8 irmãos, alguns foram adotados e, dos que cresceram em abrigos estão todos encarcerados em presídios da região. Ela diz sentir falta dos irmãos, mas não tem contato com eles há anos.

Viveu 16 anos em abrigos, inicialmente teve uma circulação de rua, voltando para o abrigo quando anoitecia. Após completar 18 anos ficou definitivamente em situação de rua. No dia da primeira entrevista estava morando há 9 meses em uma casa invadida.

Iniciou o uso de drogas aos 13 anos, já fez uso de cola, lança-perfume, tinner, maconha, cocaína, álcool, crack e tabaco. Sua droga de escolha é a cocaína.

Sobre o papel da droga em sua vida, diz:

“ É lazer, curtir uma brisa”.

Iniciou o tratamento para dependência química em um CAPSi, onde tinha um excelente vínculo com a equipe. No entanto, assim que completou 18 anos foi transferida para um CAPSad e, apesar da transferência ter sido feita paulatinamente, Yolanda não conseguiu vincular-se ao CAPSad. Ainda hoje vê o CAPSij como seu espaço de cuidado.

Sobre as hospitalizações, ficou um mês em uma Maternidade terciária para desintoxicação até o nascimento de sua primeira filha. Tinha 16 anos na época.

“Fiquei muito tempo sem usar, tive outro prazer por ser mãe. Voltei a usar quando tiraram a minha filha.”

Logo após a destituição judicial da guarda da sua primeira filha, foi detida e ficou por 45 dias na Fundação Casa. Quando perguntamos o que significou esta detenção ela responde com tom desafiador:

“ Nada, umas férias.”

Questiono se houve alguma mudança em sua vida após esta institucionalização, ela faz um olhar de desdém:

“ Voltei pior. Tinha muita revolta porque tiraram a minha filha.”

Tinha 13 anos na primeira relação sexual que foi consentida. Admite não usar preservativos em todas as relações sexuais e já contraiu sífilis. Está com uma companheira há mais de um ano.

Na questão sobre violência, ela identifica que já sofreu violência física, verbal, sexual, psicológica e negligência. Refere já ter sido agredida:

“Pela polícia, por pessoas do Terminal Central, várias vezes”.

Quando perguntamos como reagiu a todos esses episódios de violência, ela diz:

“Tive que levar a vida.”

Yolanda diz não ter dificuldades para comer: pede dinheiro na rua e as pessoas que estão com ela na casa invadida também trazem comida.

Para ela, o mais difícil de estar na rua é:

“Dormir sozinha”.

Na pergunta sobre o que ela tem mais medo na rua responde:

“ Das agressões e do estupro. Tenho raiva do meu pai, pois ele tem casa e não é presente.”

Neste primeiro momento da entrevista, Yolanda, referia estar com muita raiva e deprimida por ter perdido a guarda da sua filha. Acabara de descobrir que a criança de 2 anos tinha sido adotada. Sua companheira dizia que Yolanda acordava no meio da noite gritando o nome da filha.

Quando Yolanda retornou para atendimento algumas semanas depois, a entrevista foi retomada. Ela estava grávida novamente. Dizia não saber quem era o pai da criança:

“Tava muito louca na festa e fui estuprada.”

Yolanda desejava tanto engravidar novamente que não assimilou haver sofrido uma nova violência. Falava sorridente da nova gestação:

“Quando eu ganho bebê, fico muito feliz.”

A trajetória de Yolanda não se inicia nesta entrevista e não termina nela. Aos 15 anos Yolanda estava em abrigo para adolescentes e passava o dia em circulação de rua. Fazia uso de SPA e frequentava o CAPSij com um bom vínculo.

Aos 15 anos engravidou de sua primeira filha (tinha um companheiro na época) e foi transferida para um abrigo de mães adolescentes e bebês. No final da gestação ficou um mês internada para desintoxicação em uma Maternidade Terciária. Saiu da Maternidade com sua filha para este abrigo e continuou sendo acompanhada pelas equipes do CAPSij e CnaR. Fizemos visitas ao abrigo e a vimos amamentar e cuidar da filha. Manteve-se abstinente por quase dois anos. Quando a bebê estava com 18 meses, o abrigo foi fechado e mãe e filha foram separadas. Aquele era o único abrigo para mães adolescentes em Campinas.

Yolanda retornou ao abrigo para adolescentes e sua filha foi enviada para um abrigo de menores de 6 anos. Neste momento ela teve recaída, voltou a fazer circulação de rua. A equipe do CAPSij tentou acompanhá-la nas visitas semanais ao abrigo.

A adolescente apresentou sinais de sofrimento profundo, oscilando entre a tristeza e a revolta, intensificou o uso de SPA. Não conseguiu cumprir os horários das visitas e, quando se atrasava era impedida de ver sua filha. Logo após a separação da mãe, a criança começou a apresentar problemas de saúde, e foi diagnosticada com Lupus Eritematoso Sistêmico, deixando Yolanda ainda mais preocupada com a filha.

A rede intersetorial intensificou-se para tentar restituir o direito à guarda à Yolanda. CAPSij, CnaR e Defensoria Pública realizaram inúmeras reuniões com os equipamentos da Assistência Social. O abrigo afirmava que ela não cumpria com os combinados. Em uma das cansativas reuniões com os equipamentos da rede intersetorial, os representantes do Conselho Tutelar e da Vara da infância proclamaram:

“A Yolanda já é bem conhecida da rede e estamos todos cansados dela”

Naquele momento, não havia um único equipamento que pudesse receber mãe e filha no município de Campinas. Yolanda não possuía família extensa que quisesse obter a guarda da criança, e, a rede de Assistência Social, cuja função seria a proteção de crianças e adolescentes, dizia-se “cansada de Yolanda”, de modo que, ela foi destituída definitivamente da guarda da filha. Antes que a Defensoria Pública conseguisse articular uma defesa juntamente com os outros serviços que acompanhavam Yolanda, a criança foi adotada poucas semanas após a destituição.

Neste período, Yolanda apresentou uma nova intensificação do uso de SPA. Como num impulso suicida, ficou meses em uso nocivo de SPA, recusando

tratamento A nova gestação, apesar de resultar de um estupro, deixava-a feliz. Era a sua segunda chance.

Yolanda iniciou o pré-natal no CnaR, mas logo transferiu seu cuidado para um CS, ela sabia que o carimbo do CnaR em seu cartão de pré-natal evidenciaria a situação de rua. Apesar de já haver sido transferida para o CAPSad, continuou frequentando o CAPSij, cuja equipe realizou seu chá de bebê. No final da gestação, temerosa por possíveis ações arbitrárias do Conselho Tutelar de Campinas, decidiu ir para Jundiaí (SP), onde pariu outra menina.

Voltou à Campinas, onde alugou uma casa em um bairro de periferia junto com sua companheira. Trouxe à filha para que a conhecêssemos. Sua filha tem feito acompanhamento regular com a pediatra do CS do seu bairro. A equipe do CnaR fez visita domiciliar e encontramos Yolanda e sua filha em condições adequadas de moradia. A companheira trabalha como faxineira durante o dia, para garantir o sustento das três. Ela também está no registro de nascimento como mãe da criança.

Narrar a trajetória de Yolanda não foi fácil, escolhi narrá-la porque acompanhamos esta adolescente desde o início do CnaR; pudemos vê-la cuidando de sua filha e, assim como ela mesma, ousamos imaginar que seu futuro poderia ser diferente. No entanto, a insuficiência do Estado impossibilitou que Yolanda construísse outra história. O sofrimento de Yolanda e de sua filha evidenciou a impotência das equipes de saúde (CnaR e CAPS ij) em protegê-la.

Fiquei mobilizada e indignada em ver representantes de um Conselho Tutelar, que deveriam prezar pelo cumprimento do ECA, dizer que estavam cansados de Yolanda e afirmar que sua filha estaria melhor com a família adotiva. Para nós, equipe do CnaR foi possível elaborar tal impotência e indignação nas diversas supervisões institucionais. Para Yolanda, que se sentiu traída por todos os equipamentos envolvidos em seu cuidado, não houve tempo nem espaço para elaboração da perda da filha, a possibilidade possível foi a droga. Mais adiante veremos que este destino se repete em outras histórias de maternidade para as adolescentes em situação de rua.

Geni

Geni (21 anos) nasceu no interior da Bahia. Filho mais velho de uma família de 5 irmãos. Seu pai faleceu quando tinha 3 anos, a mãe era usuária de crack. Foi criada pelos avós paternos.

Refere que a partir dos 12 anos evidenciou sua identidade de gênero feminina. Sofreu muito preconceito na família, mas tinha o apoio da avó. Quando esta faleceu, Geni tinha 16 anos e foi para a rua.

“Meus avós sempre cuidaram de mim. Quando minha avó morreu ninguém mais quis segurar o fardo.”

Abaixou a cabeça e ficou em silêncio por alguns minutos após esta frase. Abandonou os estudos na oitava série, quando ficou em situação de rua e veio para Campinas. Chegou a morar por um ano em um abrigo para adolescentes e, assim que completou 18 anos ficou novamente em situação de rua. Na época da entrevista, dormia em frente à Catedral de Campinas há dois anos e cinco meses.

Iniciou o uso de tabaco aos 12 anos e cocaína aos 14. Sua droga de escolha é a maconha.

“Na rua o que mais consegue é droga”

Quando pergunto se ela acha que o uso que faz da droga é prejudicial à saúde, Geni abaixa os olhos e diz:

“Eu tenho essa consciência, mas é o que eu tenho na vida. Simplesmente esqueço os problemas que ela me traz.”

Nunca fez tratamento para dependência química. Refere ter ido a serviços de saúde para tratar IST (já contraiu sífilis e condiloma), no entanto afirma utilizar preservativos em todas as situações.

“Cauterizei um condiloma, estava me apodrecendo de dentro para fora.”

Sobre os serviços de saúde fala da dificuldade de realizar a hormonioterapia, consegue comprar quando tem dinheiro, mas não realiza acompanhamento em nenhum serviço.

Quando pergunto como faz para se alimentar na rua ela afirma que trabalha durante o dia vendendo balas no semáforo e à noite prostitui-se.

Com relação à violência, afirma ter sofrido violência física diversas vezes. Fala do preconceito que sofre na rua, mas não considera que o preconceito sofrido pelos seus familiares tenha sido uma forma de violência.

Geni foi espancada por um traficante porque estava se prostituindo próximo a uma região de tráfico.

Para Geni não é fácil estar em situação de rua, sente falta da família e tem muito medo.

“Tenho saudades de casa, dos amigos, sei lá...”.

“A gente tem medo de morar na rua, mas não demonstra, porque aí acaba pegando mesmo. Tenho medo do preconceito.”

Quando pergunto à Geni, o que é “estar na rua”, ela responde:

“Uma forma de escape da sociedade, desta sociedade ruim que a gente tem hoje.”

Geni continua em situação de rua, dormindo em frente à Catedral. Como outras transexuais, sofre muito preconceito da família, de outras pessoas em situação de rua, de transeuntes e dos serviços de saúde que deveriam acolhê-las(los).

Escolhi trazer a trajetória de Geni porque as transexuais em situação de rua são ainda mais vulnerabilizadas que a população de adolescentes cis em situação de rua. Para elas, a sociedade é ainda mais ruim, como afirma Geni.