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4 CRISE NÃO. CRISES

4.5 OUTRAS CRISES

Em 2009, Todd Gitlin apontou as cinco crises do jornalismo citadas anteriormente: financeira, circulação, atenção, autoridade e deferência. Até aqui, nos baseamos nesses conceitos e buscamos atualiza-los para a última década, bem como trazer uma breve perspectiva brasileira a respeito de cada uma delas.

Entretanto, durante a revisão bibliográfica e as primeiras pesquisas de campo realizadas para esta tese, observamos outros pontos críticos no jornalismo que passamos a relatar a seguir. Não significa que eles são novos, ou que surgiram apenas na última década. Do

mesmo modo que anteriormente, nenhuma dessas crises funciona sozinha, todas se relacionam com a sociedade e entre si. Contudo, para facilitar a leitura e a compreensão dos pontos aqui apresentados, a exemplo de Gitlin, as dividiremos em tópicos. São mais quatro os desafios aqui identificados que precisam ser enfrentados pelo jornalismo: crise de desinformação, representação, presença e trabalho.

4.5.1 Crise de desinformação

A digitalização da vida proporcionou acesso a uma quantidade cada vez maior de informação. Nessa conjuntura, as redes sociais assumem um papel cada vez mais importante como fonte de informação e notícias, superando, inclusive, mídias tradicionais, como o jornal impresso (SHEARER, 2018). Não desgrudamos dos celulares, trocamos mentiras e ódio através redes sociais, empresas de tecnologia não conseguem controlar o que é feito com os dados dos seus clientes, muito menos os governos com seus efeitos na vida dos cidadãos – e no resultado de suas eleições, conforme abordado no documentário Privacidade Hackeada121, de Karim Amer e Jehane Noujaim. O filme, lançado em 2019, examina o caso da Cambridge Analytica, empresa que usou dados de usuários do Facebook para direcionar conteúdo falso e exagerado a fim de influenciar eleições em nações como Estados Unidos e Reino Unido.

O cenário de desordem informacional, conforme descrito por Wardle (2017), é um desafio para o jornalismo em duas esferas: se por um lado precisa destacar o seu conteúdo de outros, competir por espaço e atenção com as manchetes sensacionalistas e enviesadas dos sites de desinformação; ao mesmo tempo, é cobrado pela sociedade como importante ator na luta contra esses agentes.

“Na nossa pesquisa, 85% concordaram com a proposição de que a mídia deveria fazer mais para chamar a atenção de mentiras e meias verdades, mas não é claro se essa abordagem funciona com as audiências, e isso pode até estar reforçando a crítica sobre a mídia, tanto da direita quando da esquerda” (NEWMAN, 2020, p. 12).

121 Documentário disponível no catálogo brasileiro do serviço de streaming Netflix até o momento da escrita desta tese. Trailer disponível no canal da Netflix no YouTube. Disponível em:

Figura 15- Pergunta do relatório do Reuters Institute sobre a responsabilidade da imprensa sobre a desinformação

Fonte: NEWMAN, 2020, p. 12122

Os jornais têm sido chamados pela sociedade civil e pelos governos para ajudar na solução ao problema das chamadas fake news. Entretanto, muitas vezes, conforme aferido pela pesquisa do Reuters Institute citada acima, muitas vezes essa “briga contra a desinformação” é vista com receito por pessoas que se identificam com as ideologias representadas por essas peças de desinformação. Se o jornal diz que algo é mentira, muitas vezes, em vez dessa informação acrescentar descrédito à matéria em questão, desacredita o próprio jornal frente a uma parcela da audiência.

Uma alternativa buscada no mundo todo são as práticas de fact-checking (no Brasil, chamadas de checagem), feitas dentro das redações ou mesmo por novas agências especializadas. Entretanto, a pesquisa do Reuters Institute aponta para o fato de que cada vez menos pessoas têm tido acesso a esses conteúdos (NEWMAN, 2020, p.12). De fato, duas críticas contundentes são com frequência feitas à publicação de matérias com fact-checking: a primeira, é que muitas vezes uma pessoa não tem acesso à informação falsa original, apenas à checagem, o que pode confundi-la; além disso, por conta das filter bubbles (PARISER, 2012), muitas pessoas que recebem as fake news jamais ficam sabendo que essas informações eram falsas, é como se a desinformação e a checagem circulassem em mundos diferentes. Um estudo que observou a eficiência dessa prática na Europa traz algumas críticas importantes a esse respeito:

As práticas de disseminação empregadas pela maioria dos checadores não são interativas e são unilaterais, faltando, dessa forma, mecanismos de garantia de atingimento efetivo dos seus objetivos. Há também uma falta de mecanismos de avaliação das fontes de informação (credibilidade, independência, confiabilidade, etc.) e uma grande dependência em expertise humana, somada ao processo de

122 “As mídias noticiosas deveriam fazer mais para denunciar declarações falsas ou com meias-verdades feitas por políticos? Concordo fortemente: 53%. Concordo: 32%. Não concordo nem discordo: 11%. Discordo: 3%. Discordo fortemente: 1%. Q7: Em que nível você concorda com a seguinte frase: As mídias noticiosas deveriam fazer mais para denunciar declarações falsas ou com meias-verdades feitas por políticos. (Tradução nossa).

avaliação subjetivo. A falta de recursos e de consciência dos atores envolvidos a respeito da desordem informacional são o maior problema do fluxo de trabalho dos checadores. Isso aponta para a necessidade de preencher o vácuo entre os objetivos da organização e o entendimento do público de seu próprio papel no cumprimento desses objetivos (PAVLESKA; ŠKOLKAY; ZANKOVA; RIBEIRO & BECHMANN, 2018, p. 23, tradução nossa123)

A questão da energia gasta dentro e fora das redações com fact-checking e a falta de capacidade de averiguar se as iniciativas de fato dão resultado é crítica para os executivos de empresas jornalísticas entrevistados pelo Reuters Institute:

Mesmo entre aqueles que tentam desafiar a falsidade e flagrar distorções, os empresários estão preocupados que o tempo dedicado ao fact-checking possa desviar em recursos e atenção de outras empreitadas jornalísticas. Outros dizem que há com frequência uma linha tênue entre “desmascarar uma declaração e causar percepções de parcialidade”, o que pode prejudicar a confiança frente aos leitores, ouvintes e espectadores. A mídia pode também perceber na nossa própria pesquisa que mostra que o público muitas vezes acredita que não é dado aos políticos (e outras figuras públicas) uma escuta justa, e que a mídia tem uma visão negativa demais dos eventos. (NEWMAN, 2020, p. 13, tradução nossa124).

As plataformas começam a ser mais responsabilizadas pelo conteúdo mentiroso que circula em suas páginas, e seus CEOs se vêem obrigados a tomar algumas atitudes. Entretanto, essas iniciativas são vistas com ceticismo pela indústria das notícias. Apenas 17% dos executivos entrevistados pelo Reuters Institute (NEWMAN, 2020, p. 13) deram créditos aos esforços feitos pelo Facebook em 2018, mesmo que a empresa de Mark Zuckerberg tenha liberado dinheiro para financiar iniciativas de fact-checking, derrubado contas e começado a testar um sistema de alertas, que avisam ao usuário quando o conteúdo que está sendo exibido é falso. Google e Twitter, na mesma pesquisa, receberam mais crédito dos executivos: 34% e 41% respectivamente.

A nota alta do Google reflete um grande número de empresários da imprensana nossa pesquisa que recebem atualmente ou receberam em um passado recente os financiamentos de inovação da plataforma (DNI ou GNI) e que colaboram com a companhia em diversos produtos relacionados a notícias. A nota baixa do Facebook pode refletir uma desconfiança história da imprensa depois de uma série de mudanças

123 “The dissemination practices employed by most of the fact-checkers are non-interactive and one-sided, thus lacking the mechanisms of ensuring the effective fulfillment of their goals. There is also a lack of mechanisms for informaition source evaluation (credibility, Independence, trustworthiness, etc.) and a great reliance on human-expertise, in addition to the subjective evaluation process. Not only there is an absence of automated means for facilitation of the fact-checking processes, but the tools that are employed in some aspect of the work are only occasionally being revised. Lack of resources and insufficient stakeholders’ awareness of the issues related to information disorder are the major problems affecting the fact-checkers’ workflows. This points to the need for bridging the gap between the organization's objectives and the public understanding of its own role in the fulfillment of those objectives.”

124 “Even among those who try to challenge falsehoods and blatant spin, publishers worry that devoting time to fact-checking can divert resources and attention from other journalistic endeavours. Others say that there is often a fine line between ‘calling out a statement and perceptions of partisanship’, which may undermine trust with readers, listeners, and viewers. The media might also take note of our own research which shows that the public often feels that politicians (and other public figures) often don’t get a fair hearing8 and that the media takes an overly negative view of events”

na estratégia do produto que deixaram algumas empresas jornalísticas financeiramente expostas. No último ano, entretanto, o Facebook aumentou o seu comprometimento com o jornalismo, com diversas novas iniciativas de produto, bem como um compromisso de investir em torno de US$ 300 milhões em iniciativas relacionadas a jornalismo nos próximos anos (NEWMAN, 2020, p. 15, tradução nossa125)

Em maio de 2020, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, travou uma batalha com a empresa responsável por um dos seus principais meios de comunicação: o Twitter. No ínterim de uma semana, a plataforma ocultou uma publicação de Trump e assinalou outra como inverídica, incluindo um link para que os usuários tivessem acesso aos “fatos” relacionados ao tema.

Figura 16 - Sinalização do Twitter na conta de Donald Trump

Fonte: TRUMP, 2020126

Críticos à medida adotada pelo Twitter questionam a transparência das ações tomadas pela plataforma, como uma publicação é escolhida para ser checada e quem faz essa checagem, baseado em que critérios (TARDÁGUILA, 2020). Jair Bolsonaro e aliados, que também usam o Twitter para se comunicar, viveram situação semelhante. Em março de 2020, o presidente do Brasil teve uma publicação sobre o Covid-19 apagada (TWITTER APAGA..., 2020). No mesmo mês, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, e o senador Flávio

125 “Google’s higher score is reflective of the large number of publishers in our survey who are current or past recipients of Google’s innovation funds (DNI or GNI), and who collaborate with the company on various news-related products. Facebook’s lower score may reflect historic distrust from publishers after a series of changes of product strategy which left some publishers financially exposed. In the last year, however, Facebook has stepped up its commitment to journalism, with several new product initiatives as well as a commitment to invest around $300m in journalism- related initiatives over the coming years.”

126 Na imagem acima, se lê a publicação de Trump: “Não tem jeito nenhum (ZERO!) de as votações pelo correio serem qualquer coisa menos do que substancialmente fraudulentas. As caixas de correio serão roubadas, os votos serão forjados & ilegalmente impressos & assinados de modo fraudulento. O governador da California está mandando cédulas de votação para milhões de pessoas, qualquer pessoa...”. Logo abaixo, em azul, uma sinalização feita através de um link incluso na publicação pela plataforma escrito “Obtenha os fatos sobre votação pelo correio”. Tradução nossa.

Bolsonaro também tiveram publicações deletadas. A justificativa da empresa de rede social nos três casos foi a violação dos termos de uso da plataforma.

A partir desta investida contra a desinformação e incitação ao ódio e à violência publicadas pelo presidente dos Estados Unidos, o Twitter se colocou no centro de um debate que, ao jornalismo, parece antigo, mas se agrava nos dias de hoje, dada a conjuntura que permite produção e disseminação de massa de conteúdo: os limites da liberdade de expressão127. Esse debate, que é lateral ao ponto que nos propomos a estudar aqui, é outro componente dessa complexa crise da desordem informacional em que o jornalismo se coloca como um dos protagonistas.

4.5.2 Crise de representação e news avoidance

A reputação da mídia noticiosa – a sua habilidade de representar o público para si mesmo – depende da crença que tem a sua audiência de que ela está verdadeiramente reportando o mundo social, não inventando coisas, que ela está descrevendo notícias com base em fatos mais do que representando sua estética ou moral (ALEXANDER, 2016, p. 1, tradução nossa128).

Parte da função do jornalismo é ajudar o público a enxergar a realidade em que vive (TUCHMAN, 1978). Entretanto, observamos nos últimos anos alguma propensão por parte do público em buscar uma realidade que mais combine com a sua ideologia129, conforme vimos no capítulo anterior. Como as notícias se colocam entre essas duas questões? Os jornalistas conhecem seu público a ponto de cumprir o papel de representar a realidade em que essas pessoas vivem? Um bom resumo da necessidade de se conectar com o público foi feito no relatório do Reuters Institute de 2019:

A mídia noticiosa depende da sua audiência ao mesmo tempo por causa da sua importância frente ao público e também para sua sustentabilidade econômica. Não importa quão boa seja uma reportagem, se as pessoas não a valorizarem, é pouco provável que tenha um impacto significativo na opinião ou no conhecimento do público. De modo similar, se as pessoas acharem as notícias decepcionantes, não importa o quão orgulhosos estejam os jornalistas do seu próprio trabalho, as pessoas podem não estar dispostas a pagar por isso como um produto comercial ou mesmo como um serviço público. Elas podem também relutar a defender o jornalismo se

127 No momento em que esta tese é escrita, alguns projetos de lei e uma operação policial são exemplos de investidas contra as chamadas fake news no Brasil. Por se tratarem de iniciativas ainda sem conclusão, decidimos não inclui-las nesta análise sob pena de suprimir desdobramentos que não pudessem ser incluídos.

128 “The reputation of news media – their ability to represent the public to itself depends on the belief by their audiences that they are tryly reporting on the social world, not making stuff up, that they are describing news factually rather than representing it aesthetically or morally”

129 A pesquisa do Reuters Institute (Newman et al., 2019) mostrou um crescimento moderado no uso de sites de informação noticiosa abertamente partidários nos Estados Unidos. No Brasil, foi a primeira vez que se aferiu esse dado, portanto não é possível saber se houve elevação. O site do tipo mais conhecido, entre aqueles citados pelos entrevistados, foi O Antagonista, conhecido por 37% e consumido por 19% dos entrevistados.

líderes políticos tentarem destruí-lo ou intimidá-lo (NEWMAN et al., 2019, p. 48, tradução nossa130).

A pesquisa realizada (NEWMAN et al., 2019, p. 48) identificou como as pessoas avaliam o desempenho do jornalismo na sociedade. No geral, a maioria dos respondentes (62%) disse que as notícias os mantêm atualizados sobre o que está acontecendo, e praticamente metade (51%) sente que o jornalismo os ajuda a compreender o que ocorre no mundo. Esses números são um pouco frustrantes, visto que essas são duas atribuições importantes do jornalismo, se esperava que fossem reconhecidas por parcelas maiores da população. Entretanto, há números ainda mais alarmantes.

Apenas 42% acredita que o jornalismo faz o seu papel de monitorar e escrutinar o poder, o que significa que mais da metade das pessoas não o vê realizando uma de suas mais importantes funções sociais. Como o jornalismo se prova relevante – digno de atenção e dinheiro – se não é capaz de demonstrar às pessoas estar fazendo o seu trabalho?

Outro motivo de alerta é que apenas 29% respondeu identificar os tópicos das notícias como relevantes para as suas vidas. Ou seja: mais de dois terços das pessoas, gente do mundo inteiro, de diferentes idades, situações socioeconômicas e níveis de escolaridade, não pensa que os assuntos cobertos sejam os mais relevantes para elas. Na mesma pesquisa, 39% disse considerar as notícias negativas demais. Aliás, a impressão de que há muita negatividade no noticiário e de que ele não contribui é um dos fatores apontados para o crescimento de um fenômeno chamado de news avoidance131. Para Skovsgaard e Andersen (2020, p. 464-465), ele pode se dar por duas naturezas: intencional ou não-intencional.

A primeira é quando as pessoas conscientemente se desligam do noticiário, atitude motivada, na maioria das vezes, por três razões: julgar que as notícias são muito negativas e contribuem para ansiedade e depressão; achar que não pode confiar nas notícias; e acreditar que haja notícias demais. A segunda, não intencional, tem definição mais complexa. Se refere às pessoas que não evitam o jornalismo conscientemente, mas, em um ambiente cada vez mais rico de opções e demandas para a sua atenção, acabam por escolher consumir conteúdos de

130 “The news media rely on their audience both for their public importance and for their economic

sustainability. No matter how good reporting may be, if people do not value it, it is unlikely to have a significant impact on public opinion or public knowledge. Similarly, if people find news disappointing, no matter how proud journalists may be of their work, people might be unwilling to pay for it as a commercial product or as a public service. They may also be reluctant to back the news media if political leaders try to crack down on them or intimidate them.”

131 Não encontramos tradução consolidada para o conceito de news avoidance. Em uma tradução literal seria algo próximo de “rejeição de notícias”, entretanto, acreditamos que é preciso uma aproximação mais

aprofundada do conceito a fim de encontrar a melhor tradução para o português, que não tem espaço nesta tese. Por isso, escolhemos por manter o termo em uso mais comum, em inglês.

entretenimento ou de outros tipos em detrimento das notícias. Nesse caso, os algoritmos das redes sociais têm papel importante, porque acabam por, pouco a pouco, não entregar mais o noticiário a essas pessoas.

Cerca de 32% das pessoas tem evitado ler as notícias, de acordo com a pesquisa Reuters: “Isso pode se dar porque o mundo se tornou um lugar deprimente, ou porque a cobertura midiática tende a ser implacavelmente negativa – ou uma mistura das duas razões” (NEWMAN et al., 2019, p. 26, tradução nossa132). No Brasil, o índice de pessoas que dizem evitar as notícias foi levemente maior do que a média mundial: 34%, e teve um aumento de sete pontos percentuais em dois anos (NEWMAN; FLETCHER; KALOGEROPOULOS; LEVY & NIELSEN, 2017).

Durante a crise da pandemia do Covid-19, inicialmente foi observado um crescimento no interesse por notícias. No Brasil, por exemplo, foi um aumento de 42% no consumo de sites de informação ou notícias (UCKUS, 2020). Entretanto, essa tendência logo arrefeceu em diversos países. O próprio Reuters Institute acompanha a evolução do interesse por notícias no Reino Unido durante a crise sanitária e apontou um crescimento de 10 pontos percentuais no grupo que evita completamente ou parcialmente as notícias entre abril e maio de 2020 (de 49% para 59%) (KALOGEROPOULOS; FLETCHER & NIELSEN, 2020). Essa crise, que é de representação da realidade, de quanto o jornalismo está sendo evitado pelo público, acreditamos ter origem na relação com a audiência. O jornalismo verdadeiramente se relaciona com o seu público? O enxerga para além dos números de audiência?

O pesquisador C. W. Anderson, em entrevista para o Farol Jornalismo (ANDERSON, 2019) afirmou que, apesar de em grandes jornais a cultura de cliques não ser mais hegemônica enquanto modelo direto de negócio, existe uma lacuna entre essas publicações, como The New York Times e The Guardian, e todas as outras. Para Anderson, nos veículos que chama de “organizações de notícias de elite”, os jornalistas são instruídos a terem visões diferentes do uso desses dados. No entanto, a maioria as redações ainda os utiliza para perseguir o maior volume de cliques.

Então, a questão agora é que talvez isso tenha ido longe demais: jornalistas estão muito dependentes de cliques ou de métricas e tomam muitas de suas decisões por causa dessas coisas. Por outro lado, é importante que os jornalistas saibam o que a audiência quer e o que ela precisa para ser informada. Qualquer jornalista que afirma que não precisa saber o que o público quer ler está se iludindo. Mas o jornalismo, como categoria profissional, precisa tomar decisões por si mesmo a respeito do que considera importante. É isso que faz uma comunidade profissional. É um grupo de