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3 PÓS-TUDO: OS CONTEXTOS DE UM MUNDO EM ESPIRAL

3.4 PÓS-MASSIVO: COMUNICAÇÃO HORIZONTAL E INFLUÊNCIA

A evolução tecnológica, e o surgimento de novas mídias em que o jornalismo se insere, também são importantes para a história da atividade como um todo. Ao postular como o jornalismo sobreviveu a todas essas mudanças tecnológicas, Kovach e Rosenstiel (2014) identificam o papel que o jornalismo ocupou quando esteve no seu auge:

No seu melhor momento, o jornalismo sobreviveu porque proveu algo único à cultura: informação independente, confiável, precisa e compreensível que os cidadãos necessitavam para produzir sentido a partir do mundo ao seu redor. Um jornalismo que entrega outra coisa senão isso subverte a cultura democrática. É isso que ocorre quando governos tomam controle das notícias, como se fez na Alemanha Nazista ou na União Soviética. Vemos isso hoje em dia em locais como Singapura, onde as notícias são controladas para encorajar o capitalismo e desencorajar a participação na vida pública (KOVACH; ROSENTIEL, 2014, p. 4, tradução nossa).

Acontece que, como vimos, a mudança desta vez não é apenas tecnológica. O surgimento da internet transformou a sociedade e também os indivíduos. São interfaces novas a cada dia, dinâmicas sociais, códigos de conduta e, muito importante, novas formas de organizar a mente e o tempo.

Sua mente está concentrada no conteúdo interativo da mídia em rede – postando uma resposta a um artigo, mantendo três conversas de mensagens instantâneas ao mesmo tempo –, mas ele também está exercitando músculos cognitivos ao interagir com a forma da mídia: aprendendo os truques de um novo cliente de e-mail, configurando adequadamente o software de bate-papo, descobrindo como se orientar depois de instalar um novo sistema operacional. (JOHNSON, 2012, posição 1382)

65 “In the architecture of an autocratic political regime, the media system is considered a mean of indirectly controlling political life, reinforcing influence, and protecting the interests of powerful elements in society (Tettey 2010: 277). The media are perceived as an essential and natural tool in the consolidation and extension of the hegemonic power of the ruling elite, by dominat- ing media agendas, media narratives, and topics of debate within the public domain (Hadland 2012: 117). (FIGUEIRAS; RIBEIRO, 2013, p.521-522)”

Hoje, mais de 20 anos desde a popularização da internet, ainda estamos descobrindo de que maneiras ela alterou o cotidiano. Portanto, era de se esperar que esse novo cenário provocasse crises em diversos mercados, sacudisse o establishment. Não apenas os negócios existentes tiveram que aprender a se adaptar – o dono da padaria que aprendeu a usar Uber Eats –, mas também novos negócios surgiram – bom, o próprio Uber Eats. Algumas empresas sucumbiram e outras se transformaram. O mercado da música, como sabemos, ainda busca ressignificação depois do tsunami que o atingiu quando um adolescente americano resolveu montar um serviço de troca de arquivos, quebrando assim as grandes e hegemônicas gravadoras. No entanto, a maior transformação trazida pelo Napster naquele momento, se olharmos para trás, não foi uma mudança no produto – música –, mas na relação do público com os valores simbólico e real daquele produto. E isso também ocorreu com a informação.

Talvez por encarar as mudanças da sociedade como meras atualizações tecnológicas, como veremos no próximo capítulo, os responsáveis pelas grandes empresas jornalísticas – em especial as que incluem impressos – tenham caído com tanta força no abismo que, hoje percebemos, há muito tempo os separa de seus públicos. A tempestade perfeita que atualmente devasta redações não começou abruptamente, não tem origem única e, muito menos, é “culpa da internet”. Com efeito, tem origem na forma como os próprios empresários do ramo do impresso lidaram com seus investimentos em momentos de bonança, e também depois, ao observar uma transformação social – e tecnológica – a caminho:

Mas, diferente da televisão, cujos líderes da indústria estavam constantemente reinvestindo o lucro em pesquisa e desenvolvimento, onde uma nova tecnologia como a recepção por cabo foi encarada em todo o seu potencial e oportunidade, o mundo dos jornais se contentou em enviar o seu tesouro para Wall Street, análises apaziguadoras e grandes acionistas. Não houve investimento em programação, nem se considerou de modo inteligente novos ou transformadores modelos de circulação, não houve reflexão para outra coisa senão como maximizar o ganho no curto prazo (SIMON, 2011, posição 1142, tradução nossa66)

No entanto, há aspectos do funcionamento da rede mundial e do modo como essa ferramenta se desenvolveu, bem como as características das empresas que com ela surgiram e a falta de regulamentação por parte dos estados, que transformam a relação do público com duas coisas muito caras ao jornalismo: acesso à informação e sua disseminação em larga escala.

Essa transformação pode ser vista de diversas formas. Por exemplo, com um olhar crítico, Dominque Wolton (2010) provoca a diferenciação entre informação e comunicação, de

66 “But unlike television, in which industry leaders were constantly reinvesting profits in research and development, where a new technology like cable reception would be contemplated for all its potential and opportunity, the newspapering world was content to send its treasure to Wall Street, appeasing analysts and big-ticket shareholders. There was no reinvestment in programming, no intelligent contemplation of new and transformational circulation models, no thought beyond maximized short-term profit.”

modo a desarticular a crença de que uma é sinônimo da outra. Wolton (2010, p.31) denuncia uma exagerada confiança nas tecnologias da informação:

Repensar as relações entre informação e comunicação implica, antes de tudo, “destecnologizar” a questão da comunicação e lembrar que a tecnologia indiscutivelmente facilita a comunicação humana, basta olhar um século para trás, mas isso já não é suficiente. A midiatização da transmissão e a interação não produzem necessariamente um sistema de comunicação. Sim, as tecnologias progrediram consideravelmente permitindo melhorar as comunicações sociais. Não, elas nunca serão suficientes para resolver as aporias existenciais da comunicação humana ou, então, estamos caminhando para “solidões interativas”.

Para Wolton, o foco grande tem sido muito nas revoluções tecnológicas e pequeno nos indivíduos. Muitas vezes, a tecnologia é apresentada como uma solução para um problema que, de acordo com o autor, é de outra ordem:

Nas democracias, as redes sociais são uma extensão da lógica de expressão, o que, na teoria, é positivo. Mas se todo mundo se exprime, quem escuta o outro? Na prática, as redes sociais são o "low cost" da democracia, porque resume a ação política ao problema da expressão, quando o grande desafio é conhecer e agir (WOLTON, 2017).

Por outro lado, Manuel Castells (2012) observou diversos movimentos contra-hegemônicos que se formaram e saíram às ruas em diferentes países entre o final da primeira e o início da segunda década dos anos 2000. Difusos e descentralizadas, essas manifestações – Primavera Árabe, Occupy Movement, Jornadas de Junho de 2013, por exemplo – se organizaram em uma “rede de redes”, de acordo com o autor, e eram formadas por indivíduos que encontravam conexões dentro e fora da internet. Castells observa o papel da tecnologia aqui também como catalisadora de ações individuais, parte do contexto, da causa de do formato em que esses movimentos em particular ocorrem: “As tecnologias de rede são significativas porque elas provêm a plataforma para essa prática contínua e expansiva de rede que evolui com as formas mutantes do movimento (CASTELLS, 2012, p.223, tradução nossa67).

Para Castells – e essa é a visão que adotamos aqui, as tecnologias são moldadas pelo ser humano, como também os moldam, em uma troca constante. A sociedade em que vivemos, em que as redes sociais exercem um papel importante, tem características adquiridas a partir dessas tecnologias, bem como produziu essas ferramentas para colocar em prática alguns de seus anseios. A tecnologia – e seus mitos – não é o centro nem a margem, mas parte desse sistema complexo em que a sociedade evolui hoje.

A tecnologia e a morfologia dessas redes de comunicação moldam o processo de mobilização e, desse modo, de mudança social, igualmente como um processo e como um resultado. Nos últimos anos, a comunicação em larga escala tem vivenciado profundas transformações tecnológicas e organizacionais, com o crescimento do que eu tenho chamado de auto-comunicação de massas, baseadas em redes horizontais de

67 “Networking Technologies are meaningful because they provide the platform for this continuing expansive networgking practice that evolves with the changing shape of the movement.”

interações, comunicação multidirecional na internet e, ainda mais, em redes de comunicação sem fio, a hoje predominante plataforma de comunicação em todo lugar everywhere (Castells 2009; Castells et al. 2006; Hussain and Howard, 2012; Shirky 2008). Esse é o novo contexto, no coração da sociedade em rede como uma nova estrutura social em que os movimentos sociais do século XXI estão sendo formados (CASTELLS, 2012, p. 221, tradução nossa68).

Citado por Castells acima, Clay Shirky (2011) também descreve esse momento de comunicação em rede e as transformações sociais decorrentes desse movimento. O autor fala da Cultura da Participação, decorrente das possibilidades trazidas pelas ferramentas tecnológicas atuais.

Mas o uso de uma tecnologia social é muito pouco determinado pelo próprio instrumento; quando usamos uma rede, a maior vantagem que temos é acessar uns aos outros. Queremos estar conectados uns aos outros, um desejo que a televisão, enquanto substituto social, elimina, mas que o uso da mídia social, na verdade, ativa.[...] Esse fazer e compartilhar é sem dúvida uma surpresa, comparado ao comportamento anterior. Mas o puro consumo da mídia nunca foi uma tradição sagrada; era apenas um conjunto de acasos acumulados, acasos que estão sendo desfeitos à medida que as pessoas começam a empregar novos mecanismos de comunicação para realizar tarefas que a antiga mídia simplesmente não pode fazer (SHIRKY, 2011, posição 205).

Neste momento, escolhemos jogar luz na transformação da produção e, com isso, recorremos a André Lemos (2010). O autor analisa a relação entre os meios de massa e os meios pós-massivos e o desenvolvimento dos espaços urbanos.

A evolução do binômio cidade-comunicação acompanha o desenvolvimento das tecnologias de comunicação. Se as cidades da era industrial constituem sua urbanidade a partir do papel social e político das mídias de massa, as cibercidades contemporâneas estão constituindo sua urbanidade a partir de uma interação intensa (e tensa) entre mídias de função massiva e as novas mídias de função pós-massiva (LEMOS, 2010, p.157).

Usaremos aqui as definições de função massiva e função pós-massiva, cunhadas pelo autor, para explicar um pouco das dinâmicas que envolvem os meios de comunicação e seus públicos na atualidade. Mais do que um “meio de comunicação de massa” e um “meio de comunicação pós-massiva”, veículos de diferentes meios podem exercer, nas dinâmicas que se encontram hoje, funções massivas e pós-massivas, de acordo com o autor. Para Lemos (2010, p.157), a função massiva é aquela exercida quando um meio ou veículo de comunicação é central no fluxo de informação e tem o controle editorial focado em si. Isso, claro, impacta

68 “The technology and morphology of these communication networks shape the process of mobilization, and thus of social change, both as a process and as na outcome. In recent years, large scale communication has experienced a deep technological and organizational transformation, with the rise of what i have called mass self-communication, based on horizontal networks of interactive, multidirectional communication on the Internet and, even more so, in wireless communication networks, the now prevalent platform of communication

everywhere (Castells 2009; Castells et al. 2006; Hussain and Howard, 2012; Shirky 2008). THis is the new context, at the core of the network society as a new social structure in which the social movements of the twenty-first century are being formed.”

diretamente o modelo de negócio dessa empresa: “Busca-se, para manter as verbas publicitarias, sempre o hit, o sucesso de ‘massa’, que resultará em mais verbas publicitarias e maior lucro”. (LEMOS, 2010, p.157).

Aqui cabe uma ressalva. As descrições de funções massivas e pós-massivas dadas pelo pesquisador, ainda que façam completo sentido mesmo quando aplicadas hoje, foram cunhadas em 2010, antes do fenômeno das assinaturas digitais como modelo de negócio hegemônico entre os grandes jornais digitais – e do qual falaremos no próximo capítulo. Entretanto, entendemos que esses modelos de negócio por assinaturas, ainda que deem uma falsa impressão de estar em oposição ao modelo por publicidade, no sentido de que parecem uma prática menos “massiva” e mais “personalizada”, geram um comportamento por parte dos veículos muito próximo daquele acompanhado em modelos de negócio baseados em publicidade. Correndo o risco de adiantar aqui alguma coisa da conclusão deste trabalho, mas apenas para não deixar o leitor sem esse entendimento, ocorre uma certa “massificação” dos assinantes digitais, que a priori seriam tratados como indivíduos. O digital sempre deu uma impressão de individualização – customização e personalização são conceitos muito caros a esse meio. No entanto, não é o que se verifica nesse modelo de negócio em particular. Por isso, acreditamos seguirem válidos os conceitos de “função massiva” e “função pós-massiva” cunhados por Lemos (2010), ainda que a transformação modelo de negócio de hits para o de assinaturas possa dar a impressão contrária. Voltaremos a esse assunto nos próximos dois capítulos, bem como na conclusão desta tese. Do mesmo modo, os produtores de conteúdo para redes sociais – como YouTubers – usam modelos de negócio baseados em número de hits (audiência geral), muitas vezes, e recebem dinheiro de publicidade. Isso faz deles veículos de função massiva? Acreditamos que não necessariamente, porque a forma como os YouTubers lidam com seu público, de alta taxa de interação, está mais próxima da ideia de função pós-massiva. Ao mesmo tempo, alguns desses players têm muitos seguidores – audiências por vezes maiores que de canais de TV aberta. Aqui é crucial, portanto, a compreensão de Lemos de que o mesmo veículo pode cumprir função ora massiva, ora pós-massiva. E o público hoje está habituado e exige isso. Essa é, definitivamente, uma grande transformação na forma como os jornais devem lidar com seus públicos, conforme veremos.

Regressando às definições propostas, por outro lado, a função pós-massiva, é quando o polo da transmissão já não é mais ocupado exclusivamente pelo veículo ou pela mídia em questão:

As mídias de função pós-massiva, por sua vez, funcionam a partir de redes telemáticas onde qualquer um pode produzir informação, “liberando” o polo da emissão, sem necessariamente haver empresas e conglomerados econômicos por trás. As funções

pós-massivas não competem entre si por verbas publicitárias e não estão centradas sobre um território específico, mas virtualmente sobre o planeta. O produto é personalizável e, na maioria das vezes, insiste em fluxos comunicacionais bidirecionais (todos-todos), diferente do fluxo unidirecional (um-todos) das mídias de função massiva. As mídias de função pós-massivas agem não por hits, mas por “nichos”, criando o que Chris Anderson (2006) chamou de “longa cauda”, ou seja, a possibilidade de oferta de inúmeros produtos que são para poucos, mas que, pela estrutura mesma da rede, se mantêm disponíveis (LEMOS, 2010, p.158).

Desse modo, vemos que, com a internet – e, em especial, as redes sociais –, o público passa a tomar para si o poder de produzir e, talvez mais importante, disseminar informação, até mesmo em larga escala, como no caso de grandes influenciadores digitais. O YouTuber Whindersson Nunes, por exemplo, tinha, em março de 2020, 38,8 milhões de inscritos no seu canal69, com cada vídeo somando cerca de 20 milhões de visualizações – o mais popular tem quase 60 milhões. Em outras redes sociais, o humorista também tem um público grande, 14,5 milhões no Twitter70 e 38,9 milhões no Instagram71. É possível chamar um público desse tamanho de nicho, mesmo em um país de mais de 200 milhões de pessoas, como o Brasil? Para efeitos de uma comparação “grosso modo”, o Jornal Nacional, um dos programas mais assistidos da TV aberta brasileira, teve audiência média de 20 milhões de pessoas (são dados que consideram mais de um indivíduo por aparelho ligado) por edição na primeira semana de março de 2020 (DADOS DE..., 2020). É claro que aqui devemos considerar que essa audiência do Jornal Nacional é ao vivo, ao passo que um vídeo de YouTube tem vida útil muito mais extensa, mas aqui usamos esses exemplos apenas para demonstrar como é difuso o limite entre função massiva e função pós-massiva no ecossistema atual – ou, mesmo, as noções de “mídia de nicho”.

Se na cidade industrial os meios de massa configuram o espaço urbano (a imprensa, o rádio, o telefone e a televisão foram e ainda são fundamentais para definir relações de trabalho, de moradia, a constituição dos subúrbios e enclaves urbanos), na cibercidade contemporânea estamos vendo se desenvolver uma relação estreita entre mídias com funções massivas (as “clássicas” como o impresso, o rádio e a TV), e as mídias digitais com novas funções que chamaremos aqui de “pós-massivas” (internet, e suas diversas ferramentas como blogs, wikis, podcasts, redes P2P, softwares sociais e os telefones celulares com múltiplas funções) (LEMOS, 2010, p.157).

Há, ainda, uma outra característica central na diferença entre as funções massivas e pós-massivas para Lemos (2010, p.158) que devemos enfatizar aqui, a relação com a audiência: “Mais do que informativas, como as mídias de massa, as mídias pós-massivas vão criar processos mais comunicativos, por troca bidirecional de mensagens e informações entre

69 Informações averiguadas no próprio canal de YouTube de Whindersson Nunes. Disponível em: <https://www.youtube.com/user/whinderssonnunes>. Acesso em 13 de março de 2020.

70 Twitter @whindersson. Disponível em: < https://twitter.com/whindersson>. Acesso em: 13 de março de 2020.

71 Whindersson Nunes no Instagram. Disponível em: <https://www.instagram.com/whinderssonnunes/?hl=pt>. Acesso em: 13 de março de 2020.

consciências”. Essas funções massivas e pós-massivas vão sendo exercidas pelos veículos de comunicação de diferentes meios. No entanto, o público também faz as vezes de veículo de comunicação através das redes, se transformando em fonte de informação para o seu grupo de seguidores, que pode ser tão pequeno quanto a sua família e seus amigos próximos, ou tão grande como o do – hoje profissional, mas no início de sua carreira apenas um jovem estudante do interior do Piauí – Whindersson Nunes.

Essa nova configuração comunicacional, mais rica, já que nos oferece cada vez mais funções massivas e pós-massivas, vai causar uma crise e alguns impactos importantes para a configuração das novas relações sociais e comunicacionais (crise do copyright, “jornalismo cidadão”, software livres, trocas de arquivos em redes P2P, etc.). A cultura “pós-massiva” das redes, em expansão, mostra os impactos socioculturais das tecnologias digitais em um território eletrônico móvel em crescimento planetário. A cibercultura instaura assim uma estrutura midiática ímpar (com funções massivas e pós-massiva) na história da humanidade, onde, pela primeira vez, qualquer indivíduo pode produzir e publicar informação em tempo real, sob diversos formatos e modulações, adicionar e colaborar em rede com outros, reconfigurando a indústria cultural (LEMOS, 2010, p. 159).

Quando ocorre essa liberação do polo da emissão vários fenômenos diferentes se seguem. Um deles é um olhar mais cuidadoso para a audiência. Hoje, os modelos de negócio se fixam muito em dinheiro vindo dos leitores – por assinaturas ou outras formas de crowdfunding – e a temperatura de um assunto é tirada muito através dos comentários nas redes sociais.

O jornalismo focado na audiência não é algo novo. Mídias eletrônicas como rádio e televisão têm na audiência um critério há muitos anos.

No noticiário televisivo são potencializados, preferencialmente, os valores emotivos, espetaculares, com a intenção de aumentar indiscriminadamente a audiência, com base na convicção de que as emoções fáceis, elementares, exercem uma poderosa atração sobre as más (VIZEU, 2002, p. 9).

Entretanto, a audiência que interessava – e em muitos casos segue – era a da representação dos números. Em rádio e televisão existe uma tradição da pesquisa de audiência, mas os dados coletados sobre essas pessoas eram meramente de idade, classe social, hábitos de consumo e preferências gerais de emissoras. As produções jornalísticas, em especial, nunca foram interessadas nas questões mais profundas de seus públicos. Quem dizia o que era ou não notícia eram os jornalistas, com a escolha de formato, aí sim, mais adequada a cada público-alvo. Mas o importante aqui é: o desenho desse público se dava muito mais a partir de algumas informações e números muito generalizantes em relação às audiências.

Na comunicação massiva, o sujeito pode escolher como e que tipo de informação receber, mas não pode dialogar já que tem pouca possibilidade de emissão e de circulação de informação. Na maioria dos casos, o acesso à informação acontece por