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PARTE I – REVISÃO DOS CONTRATOS

1 EVOLUÇÃO: DA CLÁUSULA REBUS SIC STANTIBUS À TEORIA DA

1.3 A revisão por fato superveniente no direito comparado

1.3.3 Países do common law

Importante salientar que serão abordados somente os países mais importantes deste sistema.

Para os ingleses, e em todos os países que seguem o regime common law, não existe uma figura equivalente à cláusula rebus sic stantibus, e nem mesmo excludentes de exigibilidade de cumprimento do contrato por impossibilidade absoluta. Isto é, nem o caso fortuito ou força maior são motivos para o descumprimento dos pactos. No entanto, há a frustration of contract, posteriormente aplicada sob a forma de frustration of adventure, desde

320 De acordo com R. C. van Caenegan, cinco sextos do Código Belga ainda mantém o texto do Código Napoleônico. (CAENEGEM, R. C. Van. Uma introdução histórica ao direito privado. Tradução Carlos Eduardo Lima Machado; revisão Eduardo Brandão. 2 ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999. p. 215).

321 DONNINI, Rogério Ferraz. A revisão dos contratos no código civil e no código de defesa do consumidor. São Paulo: Saraiva, 1999. p. 34-35; RODRIGUES JUNIOR, Otávio Luiz. Revisão judicial dos contratos: autonomia da vontade e teoria da imprevisão. São Paulo: Atlas, 2002. p. 68; . CAENEGEM, 1999, p. 2. 322 DONNINI, Rogério Ferraz. A revisão dos contratos no código civil e no código de defesa do consumidor.

São Paulo: Saraiva, 1999. p. 35; FONSECA, Arnoldo Medeiros da. Caso fortuito e teoria da imprevisão. Rio de Janeiro. Forense, 1958. p. 275-276; RODRIGUES JUNIOR, Otávio Luiz. Revisão judicial dos

contratos: autonomia da vontade e teoria da imprevisão. São Paulo: Atlas, 2002. p. 68-69; CAENEGEM, R.

C. Van. Uma introdução histórica ao direito privado. Tradução Carlos Eduardo Lima Machado; revisão Eduardo Brandão. 2 ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999. p. 66.

a Primeira Grande Guerra323, que desvincula os contratantes quando qualquer fato superveniente à formação do contrato, que não tenha sido causado por nenhum dos contratantes, impossibilite o cumprimento.324 De acordo com os ensinamentos de Harriet Christiane Zitscher:

O direito inglês não distingue entre não cumprimento, mau cumprimento ou mora. O contrato entende-se como promessa de garantia quanto ao cumprimento da obrigação. Portanto, tudo que não é aquele cumprimento estipulado é considerado como quebra da promessa de garantia feita – breach of contract. Só em casos excepcionais, se as circunstâncias mudam substancialmente, o contrato poderá tornar-se dissolúvel em caso de não-cumprimento (frustration). São os casos de extermínio posterior – sem culpa da parte obrigada – do objeto do contrato, da perda da base do negócio, isto é, uma mudança das circunstâncias fáticas fundamentais para a celebração do contrato e, nos contratos de serviço, se o obrigado morrer ou adoecer na maneira que impeça a prestação do serviço .325

A doutrina do frustration of contract surgiu principalmente em 1900 com os “Coronation Cases” quando alugadas janelas para assistir à coroação do Rei Eduardo VII e este não pode comparecer por motivos de saúde.326 Não se adentrará a este episódio nesta altura do trabalho para melhor desenvolvê-lo quando do surgimento das Teorias da Base do Negócio Jurídico.

Os Estados Unidos criaram, no âmbito do direito civil, um Código privado em 1914, a partir de ideias apresentadas pela Association of American Law, denominado Restatement of the Law, que serve de orientação para diversos Estados.327 Em seu § 457 permite a revisão ao estatuir que:

323 OLIVEIRA, Anísio José de. A teoria da imprevisão nos contratos. São Paulo: Leud, 1991. p. 83-84. SIDOU, J M Othon. A cláusula rebus sic stantibus no direito brasileiro. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1962. p. 39.

324 DONNINI, Rogério Ferraz. A revisão dos contratos no código civil e no código de defesa do consumidor. São Paulo: Saraiva, 1999. p. 36-37; AGUIAR JUNIOR, 2004, p. 162-163; FONSECA, Arnoldo Medeiros da.

Caso fortuito e teoria da imprevisão. Rio de Janeiro. Forense, 1958. p. 278-280; RODRIGUES JUNIOR,

Otávio Luiz. Revisão judicial dos contratos: autonomia da vontade e teoria da imprevisão. São Paulo: Atlas, 2002. p. 70-71.

325 ZITSCHER, Harriet Christine. Introdução ao direito civil alemão e inglês. Belo Horizonte: Del Rey, 1999. p. 152.

326 Anísio José de Oliveira afirma que o primeiro caso que originou a frustration se deu em 1863 no caso Caldwell v. Taylor que será relatado no último capitulo deste trabalho, contudo, a grande maioria dos autores entende que embora este caso tenha sido de suma importância para o desenvolvimento da frustration, seu marco maior se deu com os Coronation Cases. (OLIVEIRA, Anísio José de. A teoria da imprevisão nos

contratos. São Paulo: Leud, 1991. p. 83).

327 DONNINI, Rogério Ferraz. A revisão dos contratos no código civil e no código de defesa do consumidor. São Paulo: Saraiva, 1999. p. 37; OLIVEIRA, Anísio José de. A teoria da imprevisão nos contratos. São Paulo: Leud, 1991. p. 82; FONSECA, Arnoldo Medeiros da. Caso fortuito e teoria da imprevisão. Rio de Janeiro. Forense, 1958. p. 280-281; SIDOU, J M Othon. A cláusula rebus sic stantibus no direito brasileiro. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1962. p. 39; RODRIGUES JUNIOR, Otávio Luiz. Revisão judicial dos

[...] quando, depois da formação de um contrato, ocorrem fatos que um dos contratantes não tinha motivo para prever e para a ocorrência do qual dito contratante não contribuiu, no sentido de tornar a execução da promessa impossível, a obrigação do contratante é afastada, a menos que uma intenção contrária tenha sido manifestada e embora já aja ocorrido o inadimplemento por recusa anterior.328

Traz inclusive o conceito de impossibilidade (supervening impossibility) no § 454, facilitando a interpretação do § 457:

Impossibilidade significa não apenas a impossibilidade estrita, mas também a impraticabilidade em virtude de dificuldade extrema não razoável, gastos, danos ou perdas envolvidas.329

Há que se mencionar, também, o Uniform Comercial Code norte-americano, cujo Article 2-615(a) prevê a liberação do devedor se a obrigação se tornar financeiramente impraticável ou se sua execução for excessivamente onerosa.330

328 Tradução de J. M. Othon Sidou em SIDOU, J. M. Othon. A revisão judicial dos contratos e outras figuras

jurídicas. 2. ed. Rio de Janeiro, Forense, 1978. O texto original está em FONSECA, Arnoldo Medeiros da. Caso fortuito e teoria da imprevisão. Rio de Janeiro. Forense, 1958. p. 281.

329 Tradução de J. M. Othon Sidou em SIDOU, J. M. Othon. A revisão judicial dos contratos e outras figuras

jurídicas. 2. ed. Rio de Janeiro, Forense, 1978. O texto original está em FONSECA, Arnoldo Medeiros da. Caso fortuito e teoria da imprevisão. Rio de Janeiro. Forense, 1958. p. 281.

330 FACCHINI NETO, Eugênio. A função social do direito privado. Revista Jurídica, v. 54, n. 349. Porto Alegre: Notadez, Nov. 2006. p. 71.

2 CARACTERÍSTICAS DAS TEORIAS REVISIONISTAS