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padrões e factores de exposição Análise descritiva dos padrões de exposição

No contexto das legislativas de 2005, como é que se caracterizou a ex- posição dos portugueses à informação política veiculada pelos órgãos de comunicação social durante a campanha eleitoral? A resposta a esta per- gunta poderá ser abordada através da análise dos dados recolhidos pelo inquérito pós-eleitoral coordenado pelo projecto CEAPP e implemen- tado pelo Centro de Estudos e Sondagens de Opinião da Universidade Católica Portuguesa (CESOP-UCP).8

Notícias, 10 de Fevereiro de 2005), «Dirigentes do PSD acham que Cavaco Silva deveria

dizer em quem votará» (Público, 10 de Fevereiro de 2005), «O silêncio de Cavaco» (Jornal

de Notícias, 11 de Fevereiro de 2005), «Acho que Cavaco vota PSD» (O Independente, 11

de Fevereiro de 2005) e «Cavaco Silva entrou na campanha, armadilha a Cavaco» (Ex-

presso, 12 de Fevereiro de 2005).

8Para a realização deste inquérito pós-eleitoral, o trabalho de campo decorreu entre

5 de Março e 8 de Maio de 2005. A amostra inquirida (2801 indivíduos) foi desenhada no sentido de ser representativa da população portuguesa continental com 18 ou mais anos de idade em Fevereiro de 2005, com base nos métodos de aleatorização e estratifi- cação amplamente utilizados neste domínio. Os dados deste inquérito estão disponíveis para utilização em investigação, sendo acessíveis através de pedido formal à coordenação do projecto CEAPP.

Neste inquérito, os entrevistados foram questionados acerca do seu grau de exposição às notícias sobre política durante a campanha eleitoral.9

A partir destes dados foi criado um índice geral de exposição aos media du- rante a campanha que agrega os dados sobre a exposição à informação po- lítica na televisão, rádio e imprensa.10Como mostra a figura 3.1, cerca de

6% dos inquiridos afirmaram não ter acompanhado as notícias sobre po- lítica nos meios de comunicação durante a campanha, enquanto 28% fi- zeram-no com uma frequência elevada (em média, diariamente ou quase). Temos, assim, uma maioria de 94% dos inquiridos que apresenta algum grau de exposição aos meios de comunicação social para acompanhamento da actualidade política do país, factor que atesta de forma inequívoca a ge- neralização da acessibilidade e da audiência destes meios, bem como o seu papel de transmissão de informação sobre a actualidade.

Fazendo uma análise mais específica por tipo de meio de comunicação social (figura 3.2), verificamos que a televisão apresenta uma proporção

Figura 3.1 – Índice geral de acompanhamento da campanha para

as legislativas de 2005 através dos meios de comunicação social

37% 28%

6%

29%

Nulo (0) Baixo (1-4) Médio (5-8) Elevado (9-12)

9Foram feitas três perguntas: «durante a campanha eleitoral, qual a frequência com que

acompanhou as notícias sobre política nos jornais ou revistas?»; «durante a campanha eleitoral, qual a frequência com que acompanhou as notícias sobre política na rádio?»; «durante a cam- panha eleitoral, qual a frequência com que acompanhou as notícias sobre política na televi- são?». A escala de resposta apresentada era a seguinte: diariamente ou quase todos os dias, três a quatro dias por semana, um a dois dias por semana, com menos frequência, nunca.

10 Este índice varia entre 0 (nenhuma exposição aos media) e 12 (exposição diária ou

quase diária aos três tipos de meios de comunicação social). O seu alfa de Cronbach é de 0,58.

elevada de consumidores diários (ou quase) de informação política du- rante a campanha (69%), que contrasta com os valores referentes à im- prensa (33%) e à rádio (23%). É ainda de salientar que um terço dos por- tugueses afirma nunca ter recorrido aos jornais e às revistas durante a campanha para se informar sobre a actualidade política do país; o mesmo comportamento é observado em cerca de metade dos inquiridos no que diz respeito à rádio. Este panorama permite, assim, destacar o cariz de primazia da televisão enquanto fonte de informação sobre questões da actualidade durante a campanha eleitoral e verificar um papel menos im- portante da imprensa e da rádio. O fenómeno é semelhante ao encon- trado noutros estudos semelhantes, como os que, por exemplo, analisa- ram os padrões de exposição aos meios de comunicação social para recolha de informação sobre a União Europeia.11

Para além do grau de exposição, interessa também perceber até que ponto é que as pessoas confiam na isenção da informação que lhes é for- necida pelo meio de comunicação social mais utilizado durante a cam- panha (jornal ou revista, programa televisivo noticioso e estação de rádio). Tendo em conta a cobertura da campanha eleitoral de Fevereiro de 2005,

Figura 3.2 – Frequência de exposição à campanha para as legislativas de 2005 nos três tipos de media

Nunca Menos de 1 vez/semana 1-4 vezes/semana Diariamente/quase 100% 80% 60% 40% 20% 0% 32,6 21,9 10,0 35,5 23,1 12,4 11,3 53,2 68,6 17,8 5,7 7,9

Jornais/revistas Rádio Televisão

11 V., a título de exemplo, o «Relatório nacional do Eurobarómetro 63», em

verificamos que, no caso dos jornais/revistas e da rádio, o número de in- divíduos que consideram ter havido um enviesamento na cobertura da campanha é muito reduzido – inferior a 7 pontos percentuais. No caso da televisão, a percentagem de inquiridos descrentes da isenção da co- bertura é ligeiramente superior (11,1%), mas ainda residual. Como é na- tural, as taxas de confiança na isenção do produto mais consumido são bastante superiores às taxas de confiança nos meios de comunicação em geral em 2005 (59% para a imprensa, 68% no caso da rádio e 66% no caso da televisão).12

A relação entre o descrédito da isenção dos meios de comunicação social e o grau de exposição não se verifica para todos os media. No caso da rádio e da televisão, os indivíduos descrentes expuseram-se com a mesma intensidade que aqueles que não identificaram enviesamentos na estação ou noticiário televisivo a que mais recorreram {teste t para a rádio = [t(1159) = –1,619; p = 0,106]; teste t para a televisão = [t(2346) = –0,981; p = 327]}. Já no caso dos jornais e revistas, os indivíduos que detectaram falta de isenção expuseram-se, em média, com mais frequên- cia à imprensa escrita [M= 3,36, numa escala de 0 (nunca) a 4 (diaria- mente/quase)] do que os que consideram que o seu jornal ou revista de eleição não foram enviesados no tratamento da campanha (M = 3,01) [t(1512) = –4,561; p = 0,000].

Em suma, o acompanhamento da campanha para as eleições legisla- tivas através dos media caracteriza-se, por um lado, por uma percentagem residual de indivíduos não expostos e também por níveis baixos de des- confiança em relação aos media da preferência dos cidadãos. Os indiví- duos que se expuseram fortemente às notícias veiculadas durante a cam- panha constituem mais de um quarto do total, sendo que a exposição diária (ou quase) é muito mais frequente na televisão do que nos outros meios de comunicação social. Destaca-se ainda o facto curioso de, no que diz respeito à imprensa, as percepções de enviesamento estarem as- sociadas a um nível de exposição mais elevado.