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Os inquéritos ICS e APEME dão-nos valores de desempenho dos can- didatos nos debates, mas não sabemos o que isso significa para os inqui- ridos. De facto, o que é «ganhar» um debate? A apreciação pode resultar

Quadro 2.12 – Recordação de notícias na TV relativas aos candidatos

(em percentagem)

Vaga Cavaco Mário Manuel Jerónimo Francisco

Silva Soares Alegre de Sousa Louçã

11 a 20 de Novembro de 2005 35 46 23 18 14

5 a 21 de Dezembro de2005 27 37 24 21 21

10 a 17 de Janeiro de 2006 40 39 37 29 26

Média das 3 vagas 34 41 28 23 20

da escolha prévia do indivíduo, da simpatia partidária, da performance do candidato no debate, das suas posições políticas, mas principalmente do seu estilo pessoal, como referem Lang e Lang (2002).

O inquérito APEME permite comparar o nível de assistência aos de- bates com a opinião de desempenho. Não há uma relação directa total entre o nível de assistência aos debates de cada candidato e o nível de agrado pelo desempenho de cada um. Só o primeiro e o último lugares – Cavaco e Jerónimo – coincidem na ordenação. Soares foi o segundo a chamar espectadores, mas o quarto na apreciação de desempenho, tro- cando de posições com Louçã. Encontramos um indício de expectativas de gratificação da audiência não concretizadas no caso de Soares e ultra- passadas no caso de Louçã.

A comparação da percepção de desempenho nos debates com os re- sultados eleitorais revela semelhanças em traços gerais, nomeadamente na coincidência entre a votação em Cavaco e a opinião sobre o seu de- sempenho (quadro 2.14). Os outros candidatos, dois a dois (Alegre/Soa- res e Jerónimo/Louçã) também se agrupam de acordo com o traço grosso dos resultados eleitorais. Todavia, há diferenças importantes no caso de Alegre, Louçã e Jerónimo. Alegre e Jerónimo tiveram uma votação elei- toral mais alta do que o apreço pelo seu desempenho. Louçã, por seu lado, teve um desempenho nos debates muito superior ao resultado elei- toral. Tal como nas legislativas, Jerónimo teve uma performance nos de- bates inferior ao voto, o que parece indicar uma certa opção fixa de voto que ultrapassa o representante nos debates (o PCP, ou o que ele repre- senta para os eleitores, «antes de» ou «acima» de Jerónimo). Visto de outro modo, pode dizer-se que Louçã é o candidato que sai dos debates com uma imagem política mais positiva quando comparada com a sua repre- sentatividade eleitoral. Já nos debates legislativos Louçã tivera uma opi-

Quadro 2.13 – Índices de notoriedade dos candidatos nas notícias da TV no total das três vagas e nos períodos dos debates

e índice de desempenho nos debates

Total Períodos Debates dos debates Cavaco Silva 120 131 166 Mário Soares 85 87 105 Manuel Alegre 126 134 121 Jerónimo de Sousa 115 116 85 Francisco Louçã 112 127 145

Quadro 2.14 – Resultados oficiais das eleições, desempenho nos debates em geral (em percentagem)

e índice de desempenho nos debates em particular e posição relativa

Resultados oficiais ICS APEME

Candidato Votação Desempenho debates Índice Venceu debates

Cavaco Silva 50,5 50,7 166 – 1.º 4

Francisco Louçã 5,3 11,2 145 – 2.º 3

Jerónimo de Sousa 8,6 4,7 85 – 5.º 0

Manuel Alegre 20,7 13,6 121 – 3.º 2

Mário Soares 14,3 12,4 105 – 4.º 1

Fontes: Resultados oficiais CNE, painel ICS e inquérito APEME.

nião de desempenho que quase duplicava o voto no BE, mas, em termos gerais, essa opinião não tem correspondência nas opções de voto.

No mesmo quadro 2.14 acrescentámos o índice baseado no estudo APEME relativo à percepção de desempenho. Este índice é significativo, pois é construído para cada candidato a partir das respostas dos inquiri- dos na noite do debate e nas noites seguintes.6O índice mostra que a

apreciação do desempenho nos dias dos debates e dias seguintes coincide em boa parte com a opinião pós-eleitoral do painel ICS, excepto no se- gundo lugar de Louçã, muito acima dos dois candidatos socialistas (tal enviesamento a favor de Louçã poderá resultar de o inquérito APEME ter sido feito apenas nas regiões urbanas de Lisboa e Porto). De acordo com os inquiridos, Cavaco teve o melhor desempenho nos quatro de- bates em que participou, Louçã em três, Alegre em dois, Soares em um e Jerónimo em nenhum. As piores avaliações de candidatos em debates específicos foram as de Jerónimo e de Soares contra Cavaco (59% e 53%, respectivamente, com saldos negativos de 47% e 28%). Em três debates houve mais inquiridos inclinados para um empate (Cavaco-Alegre, Soa- res-Jerónimo, Alegre-Jerónimo) do que os que se inclinaram para um ou para o outro candidato.

Os resultados apontam para alguma discrepância entre o voto e a opi- nião do desempenho nos debates; numa parte do eleitorado que viu de- bates a opinião prévia, a opinião geral dos inquiridos sobre os candidatos ou ainda outros factores poderão ter prevalecido no momento do voto. Podemos considerar a hipótese de que, em geral, a opinião sobre o de-

6Cinco em todos os debates, excepto nos dois últimos, em que as questões só foram

sempenho resulta dessa opinião prévia. Ao mesmo tempo, deve consi- derar-se o caso singular de Louçã como uma indicação de que o bom desempenho nos debates poderá ter resultado numa subida em Dezem- bro de 2005 da intenção de voto, mas apenas numa pequena parte dos que exprimiram essa opinião.

Cavaco, com 166, obtém o índice mais elevado nos debates. O eleito- rado considerava, em geral, que Cavaco seria o ganhador das eleições. Esse facto pode detectar-se, no painel ICS, na percepção de pouca proba- bilidade ou até improbabilidade de uma segunda volta (62,5%) ou no facto de 57,5% terem decidido o seu voto mais de um mês antes das elei- ções (e dessa parte do eleitorado 61,1% terem votado Cavaco, enquanto os outros candidatos só solidificaram o voto em períodos mais próximos das eleições). Mais de um mês antes das eleições (no período em que se realizaram os debates televisivos) já tinham decidido o seu voto seis em cada dez eleitores, sendo que mais de metade deles tinha optado por votar em Cavaco Silva. A indecisão foi mais forte entre os eleitores de Alegre, Soares e também Louçã. No índice que criámos Louçã aproximou-se da nota de Cavaco. Alegre beneficia de um confortável terceiro lugar, bas- tante acima do seu contendor na mesma área política, Soares. Jerónimo tem uma pontuação muito baixa nos debates, mas ela é compensada pela apreciação nas notícias em geral, como vimos. Este índice não dá directa- mente conta das opiniões negativas nos debates, que foram muito altas no caso de Soares (39%, em média), logo a seguir a Jerónimo (41%).

A percepção de desempenho só em parte corresponde ao voto expresso no painel ICS. Cavaco é o candidato que obtém a maior apreciação positiva nos debates por parte do seu eleitorado: 74,5%. Segue-se Louçã, com 64,7% dos seus eleitores a darem-lhe o melhor desempenho nos encontros. Os outros três candidatos tiveram uma apreciação de desempenho do seu elei- torado sempre inferior a metade dos votos que obtiveram. Dos votantes em Soares, 42,9% acharam que ele teve o melhor desempenho; dos que vota- ram em Alegre, apenas 36,7% o acharam o melhor performer nos debates; e Jerónimo ficou em último nesta relação entre o desempenho e o voto, com apenas 28,6% dos que nele votaram a considerá-lo o candidato de melhor desempenho, opinião que teve de partilhar com os seus eleitores que deram o primeiro lugar nos debates a Cavaco (quadro 2.15).

Cavaco ficou em segundo lugar entre os outros eleitorados ou mesmo empatado em primeiro entre os eleitores de Jerónimo. Mesmo entre os que votaram Jerónimo e Louçã considerou-se que Cavaco teve melhor desempenho do que candidatos ideologicamente mais próximos. Pode- mos adiantar duas interpretações: sendo o inquérito pós-eleitoral, alguns

inquiridos tenderam a indicar o candidato que venceu como o melhor nos debates; se tomarmos a resposta pelo seu valor facial, parte desses eleitorados achou que de facto Cavaco «ganhou» os debates, sendo pos- sível que se originasse uma concomitante probabilidade maior de voto no candidato que se considerou vencedor dos debates (Schrott 1990). Mas as fontes não chegam para confirmar esta hipótese.

Desempenho nos debates e intenção de voto