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Mas qual é o papel que os media desempenham actualmente na polí- tica e nas eleições? Construção ou reflexo da política? Na verdade, ainda não existe consenso entre os investigadores, que hesitam entre atribuir um papel determinante aos media nas práticas actuais da política e um papel menor de mero veículo da mensagem política. No entanto, muito se avançou desde a perspectiva predominante até há cerca de cinquenta anos, que se limitava a olhar para a suposta função utilitária da comuni- cação para a política e para os políticos. A ilustrar esta perspectiva, El- dersveld e Janowitz, em 1956, colocaram a comunicação política como um dos três processos de intervenção (juntamente com a liderança e as estruturas de grupo) através dos quais as influências políticas seriam mo- bilizadas e transmitidas entre as instituições governamentais formais, de um lado, e o comportamento eleitoral, do outro.

Seguindo a mesma lógica, em 1968, na International Encyclopedia of So-

cial Sciences, De Sola Pool define a comunicação política de forma restrita

como «a actividade de certas instituições encarregues de difundir infor- mações, ideias e atitudes relativas aos assuntos governamentais» (Gerstlé 1992, 22).

Nestas definições estão presentes os três actores da comunicação política: os políticos, os media e o público-eleitor, mas não se prevê nenhum tipo de interacção entre eles. A mensagem parte do emissor, os políticos, é trans- mitida através de um canal, os media, para os receptores, o público-eleitor. Mas a comunicação política não depende unicamente do estatuto de quem fala, do conteúdo da comunicação e daqueles a quem se destina. Na ver-

dade, a cada momento ela encerra tudo isto. Pelo que um conceito actual de comunicação política terá de incluir os três actores identificados acima, mas terá igualmente de prever algum tipo de interacção entre eles.

Actualmente, a melhor forma de compreender os fenómenos políticos, como as eleições, é considerar o estudo das interacções entre os media, os políticos e o público-eleitor. Por um lado, porque, é inegável a importância que os media têm para os políticos, que, através destes meios, encontraram uma forma de fazer chegar a sua mensagem a um maior número de cida- dãos-eleitores: os media são hoje a maior fonte de informação política para a maioria das pessoas. Por outro lado, a própria definição da paisagem mediática de um país, assim como as condições que os jornalistas encon- tram para o desempenho efectivo da sua profissão, são, em grande medida, enquadradas pela acção dos políticos e pela cultura política do país. Fala- mos, por exemplo, da relação dos jornalistas com as suas fontes de infor- mação política, da liberdade de publicação de todo o tipo de peças noti- ciosas e do enquadramento que é dado a essas notícias.

Além disso, diversos estudos comprovam, como vimos, a impossibi- lidade da neutralidade dos media quando transmitem as mensagens po- líticas (e outras). Desta forma, torna-se cada vez mais indiscutível a im- portância do papel desempenhado pelos media na vida política. Não somente os políticos dispensam uma grande atenção à preparação das suas agendas mediáticas, coadunando a sua agenda com a agenda dos

media, como também os governos, a oposição, os partidos, os candidatos,

adquirem grande parte da sua informação através dos meios de comuni- cação social. Devido a esta tendência, a política viu acentuar, por parte dos seus actores, o objectivo de visibilidade, ou seja, aparecer e transmitir a sua mensagem perante o maior número possível de pessoas.

Em Portugal, a acompanhar esta realidade, os estudos empíricos que se centram nos media e na política têm conhecido um considerável im- pulso nos últimos anos. No que se refere ao estudo da cobertura jorna- lística de campanhas eleitorais, é importante referir o trabalho de Estrela Serrano sobre o estudo das eleições presidenciais de 1976 a 2001 na im- prensa e na televisão (2006) e os de Susana Salgado sobre as eleições le- gislativas de 1999 (2007a) e sobre as eleições legislativas de 2005 e as elei- ções presidenciais de 2006 (2007b). Sobre a opinião nos órgãos de informação, a obra de Rita Figueiras (2005) e, mais recentemente, a sua tese de doutoramento, centradas nos comentadores do panorama me- diático português, fazem uma caracterização deste tipo de colaboradores da imprensa, analisando as suas tendências principais. Felisbela Lopes, por seu lado, que se tem dedicado ao estudo da televisão portuguesa, no-

meadamente O Telejornal e o Serviço Público (1999), na sua tese de douto- ramento sobre a informação não diária de 1993 a 2003, defendida em 2006, salientou que a classe política foi a mais privilegiada nos programas de debate e grande entrevista, mesmo quando o tema não estava relacio- nado com a política. Ainda na área dos estudos televisivos são de men- cionar os trabalhos de Eduardo Cintra Torres.

O n.º 2 da revista Comunicação e Cultura, intitulado «Lobbying e mar- keting político», condensou ainda alguns outros contributos relevantes: o artigo de Rogério Santos sobre a cobertura jornalística de congressos partidários onde são apresentados os resultados da análise de notícias de cinco jornais e revistas, de 1994 a 2001, sobre aqueles eventos políticos, o artigo de Isabel Ferin, que estudou as tendências jornalísticas na cober- tura noticiosa do final do segundo mandato da governação de Cavaco Silva (1994-1995), e ainda o artigo de Paula do Espírito Santo, que apre- senta as conclusões de uma análise de conteúdo dos slogans das eleições presidenciais de 1976 a 2006. Esta última autora também se tem dedicado ao estudo dos cartazes e dos debates televisivos em contexto eleitoral. É de referir ainda o contributo de Estrela Serrano (2002) com um estudo na área das estratégias de comunicação dos políticos portugueses, no- meadamente do presidente Mário Soares.2