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PARA NÃO FINALIZAR: O SONHO POR UMA ESCOLA SÉRIA E ALEGRE É POSSÍVEL!

No documento EDUCAÇÃO BÁSICA E PESQUISA VOLUME 1 (páginas 39-42)

Será realmente possível criar uma escola que seja séria, competente, dedicada, democrática e, ao mesmo tempo, prazerosa e alegre? Como, afinal, educar(-se) com seriedade e alegria com as classes populares da escola pública? Evidentemente que essa pergunta requer mais que uma resposta, mesmo porque as possíveis respostas fazem emergir outras perguntas.

Mesmo assim, ousamos arriscar alguns apontamentos: os processos de ensino-aprendizagem com seriedade e alegria requer a (re)(des)construção da imagem que temos da escola, com suas muitas regras, paredes e muros por toda parte. Requer, também, um olhar que enxergue para além do óbvio, do dito, do que está posto e pré-estabelecido.

Ir para além do espaço institucionalizado da escola, da sala de aula, obviamente, exige maior envolvimento, comprometimento e seriedade dos professores com o desenvolvimento do seu trabalho. Trabalho este que, porque sério e competente, seja capaz de conhecer a realidade de cada educando para, a partir dela, atribuir sentido e significado aos conhecimentos sistematizados, exercitando sempre o diálogo problematizador sobre a forma e os conteúdos a serem abordados. Uma escola que não negue as emoções, a afetividade, a corporeidade, os desejos, a alegria, a leveza em nome de uma cientificidade que impõe o medo, a memorização, a punição; que dicotomiza corpo e mente, razão e emoção, seriedade e alegria.

Assim, o professor competentemente sério, rigoroso, que desenvolve sua atividade docente com comprometimento, diálogo, afetividade e alegria, em suas aulas “[...] consegue, enquanto fala, trazer o aluno até a intimidade do movimento do seu pensamento. Sua aula é assim um desafio e não uma ‘cantiga de ninar’. Seus alunos cansam, não dormem. Cansam porque acompanham as idas e vindas de seu pensamento [...]” (FREIRE, 1998, p. 96).

Esses movimentos não se constituem em ações simples e imediatas; exigem muito dos estudantes, mas principalmente dos professores. Aí identificamos uma fragilidade: acreditar, muitas vezes, que só os estudantes precisam estar

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Joze Medianeira dos S. de Andrade Toniolo, Celso Ilgo Henz DIALOGICIDADE E AFETIVIDADE NA EDUCAÇÃO BÁSICA...

permanentemente abertos a aprender. Por vezes, alguns docentes acreditam que sabem o suficiente e o que é melhor para os estudantes; que são capazes de mensurar quanto vale cada um deles na hora da avaliação; que sabem quem são aqueles nos quais se deve investir e aqueles que já “não tem mais jeito”; que sabem a melhor forma de ensinar, utilizando a metodologia mais adequada, enfim, que sabem muito!

Entendemos que educar(-se) com alegria e seriedade implica uma tomada de consciência, onde os professores se reconhecem como seres inacabados com responsabilidades profissionais específicas mas, permanentemente, aprendizes do novo e do diferente também nas aulas com os estudantes. E esses desafios aprendentes da docência os impulsionam a lançar novos olhares sobre o ensinar, o aprender, as metodologias, as crianças, os adolescentes, os jovens, a escola pública.

Junto a este sentir/pensar/agir (HENZ, 2003) talvez deva vir outro, com ainda mais força: a certeza e a necessidade de que é preciso continuar aprendendo para ser um professor melhor do que vem sendo. Com Freire (2000, p. 37),

sonhamos com uma escola que, sendo séria, jamais vire sisuda. A seriedade não precisa ser pesada. Quanto mais leve é a seriedade, mais eficaz e convincente é ela. Sonhamos com uma escola que, porque séria, se dedique ao ensino de forma competente, mas dedicada, séria e competentemente ao ensino, seja uma escola geradora de alegria. O que há de sério, até de penoso, de trabalhoso, nos processos de ensinar, de aprender, de conhecer não transforma esse que fazer em algo triste. Pelo contrário, a alegria de ensinar/

aprender deve acompanhar professores e alunos em suas buscas constantes.

Essa boniteza em ensinar-aprender se consolida no respeito aos saberes dos educandos, no reconhecimento da sua identidade cultural, na disponibilidade para as vivências dialógico-afetivas, da abertura para o novo, no envolvimento e seriedade com que o professor conduz o seu trabalho, na escuta sensível e olhar aguçado aos anseios de cada educando, ajudando-os a olhar a sua realidade e perceber possibilidades para além dela.

Poderíamos aqui indicar muitas possibilidades para concretizar uma ambiência dialógico-afetiva séria e alegre; não obstante, buscamos evitar um caráter prescritivo, deixando como desafio a confiança na capacidade de cada escola, com seus professores e estudantes, descobrir caminhos e horizontes possíveis para torná-la um espaço-tempo, onde se possa (com)viver e ensinar-aprender com alegria e seriedade.

Reafirmamos a afetividade/amorosidade e a dialogicidade como dimensões constituidoras do desenvolvimento do ser humano na sua inteireza e como componentes antropológicos e pedagógico-políticos nos processos de

ensino-aprendizagem; afinal, “lido com gente e não com coisas” (FREIRE, 1998, p. 163). Por lidar com gente, educar com seriedade e alegria requer uma prática afetivo-dialógica que reconheça e valorize a alteridade de todos. Por ser séria, é comprometida, rigorosa, competente com as crianças, adolescentes e jovens da escola pública para que ingressem e permaneçam na escola, tendo a possibilidade de reconhecerem-se nesreconhecerem-se espaço, (re)construírem-reconhecerem-se e reconhecerem-ser mais homens e mulheres rigorosos e competentes, sem perder a leveza e a alegria de ser/estar no/com o mundo e as pessoas.

REFERÊNCIAS

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Papirus, 2005.

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FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 17. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.

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São Paulo: Paz e Terra, 1998.

_______. A educação na cidade. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2000.

_______. Extensão ou comunicação? 16. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2013.

_______. Pedagogia da tolerância. 3. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2014.

GALEANO, Eduardo. O livro dos abraços. 2. ed. Porto Alegre: L&PM, 2014.

HENZ, Celso Ilgo. Razão-emoção crítico-reflexiva: um desafio permanente na capacitação de professores. 2003. Tese (Doutorado em Educação) - Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2003.

JOSSO, Marie-Chistine. Caminhar para si. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2010.

MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. 4. ed. São Paulo: Cortez; Brasília, DF: UNESCO, 2001.

NIDELCOFF, Maria Teresa. Uma escola para o povo. 3. reimpressão. São Paulo:

Brasiliense, 2004.

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STRECK, Danilo R. Rigor/rigorosidade. In: STRECK, Danilo R.; REDIN, Euclides;

ZITKOSKI, Jaime (org.). Dicionário Paulo Freire. 2. ed., rev. amp. 1. reimp. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2010.

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RELAÇÕES ENTRE O PÚBLICO E O PRIVADO NA EDUCAÇÃO

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