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RELATO DA EXPERIÊNCIA DOS ALUNOS DO 9º ANO DO CENTRO DE EDUCAÇÃO MUNICIPAL (CEM)

No documento EDUCAÇÃO BÁSICA E PESQUISA VOLUME 1 (páginas 160-164)

Para a execução do projeto, inicialmente, foi realizada uma expedição investigativa à comunidade Pró-Morar, um conjunto habitacional situado próximo da escola, para observação da realidade e das condições e disposição do lixo no local. Para os alunos, essa experiência foi muito satisfatória e extremamente importante, à medida que lhes possibilitou obter um panorama geral da condição da comunidade em questão, além de conferir a aquisição de conhecimentos e habilidades necessárias para o exercício da cidadania almejado pelo referido programa. A experiência de ensino e aprendizagem vivida pelos alunos durante grande parte do ciclo educativo era pautada na pedagogia tradicional, na qual a relação dos discentes com a comunidade local era visto de forma distante. Dessa forma, os educandos partiram rumo à aquisição de uma postura crítico-reflexiva da aprendizagem. A estratégia permitiu o contato direto dos adolescentes com alguns conteúdos específicos, muitos deles até então desconhecidos. Gerou oportunidade para refletir o assunto trabalhado, tendo facilitado o desencadeamento de novos questionamentos. Simultaneamente aos diálogos explicativos com os adolescentes, surgiram novas dúvidas que iam sendo esclarecidas pela professora orientadora do projeto enquanto ia-se anotando todos os novos questionamentos aparecidos no transcorrer dos trabalhos. A estratégia facilitava a exposição de dúvidas consideradas pelos próprios adolescentes como de difícil expressão. Os recursos didáticos adotados em cada fase de execução foram selecionados segundo o critério da adequação à atividade a ser desenvolvida naquele dia.

Fig. 1 - Entrega de panfletos informativos

Fonte: Arquivo pessoal.

Após o encerramento das excursões investigativas, foi realizada a roda de conversas com o grupo de adolescentes para exposição das dúvidas. De acordo com um estudo recente, só é possível formar um cidadão crítico, reflexivo e político a partir desses princípios. Nesse sentido, os alunos que participaram do PUFV acreditam que esse programa ofereceu capacitação pedagógica para o domínio do saber e, sobretudo, proporcionou-lhes domínio de diversas competências, visando à formação de habilidades necessárias para a aquisição do conhecimento.

Diante da enorme quantidade de entulhos nas ruas, em frente às residências, surgiu a ideia de realizar ações para transformar essa comunidade em um lugar mais limpo, agradável e saudável para se viver. As atividades desenvolvidas pelos alunos foram:

a) participação da elaboração do projeto escrito, através da atualização bibliográfica sobre o conteúdo a ser abordado;

b) elaboração das estratégias a serem utilizadas no processo ensino e aprendizagem;

c) participação de aulas teóricas;

d) acompanhamento docente nas aulas teórico-práticas e participação ativa do planejamento e desenvolvimento de atividades com a comunidade, bem como participação em seus processos de avaliação.

Fig. 2 - Visitação nas residências da comunidade

Fonte: Arquivo pessoal.

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Angéli do Prado Casagrande CONSTRUÇÃO DO PROJETO INTERDISCIPLINAR DE COMBATE À DENGUE...

Realizou-se a gravação de um telejornal informativo intitulado “Quem não se comunica o mosquito pica”, com reportagens e entrevistas dentro da própria comunidade para apresentação na escola através de um seminário. O desenvolvimento dessas atividades foi vista pelos alunos como um desafio, gerando expectativas e ansiedades. Eles perceberam que a tarefa de abordar membros da comunidade local exigia mais do que conhecimento teórico sobre o conteúdo, pois demandava capacidade para interagir de forma dialógica com os sujeitos e habilidade para reter a atenção dos mesmos. As atividades foram planejadas buscando seguir uma didática reflexiva que estimulasse o senso crítico do aluno, promovesse o diálogo aluno-comunidade e permitisse que os alunos desenvolvessem suas competências na análise, avaliação, investigação, argumentação, discussão e construção do conhecimento. Sabe-se que uma das tarefas mais importantes da prática educativo-crítica é dar condições ao aluno em suas relações interpessoais, para tornar-se um ser social e histórico, pensante, comunicante, transformador e criador. Durante o desenvolvimento do projeto, foram disponibilizados aos alunos diversos materiais fornecidos pela Secretaria Municipal de Saúde, como panfletos que foram distribuídos pelos alunos nas visitas aos moradores. A fiscalização municipal doou uniformes para a patrulha e realizou palestras e intervenções na comunidade e, por fim, o setor de serviços urbanos enviou caminhões e pessoal para o recolhimento dos entulhos nas ruas da comunidade.

Fig. 3 - Entrega de panfletos informativos

Fonte: Arquivo pessoal.

Na etapa final, os alunos criaram um grupo no Whatsapp com o nome do projeto, do qual fazem parte pessoas da comunidade, alunos, professores e membros dos serviços envolvidos na manutenção das ações implantadas, como agentes epidemiológicos, fiscais municipais e secretários. Neste grupo são trocadas

informações sobre a dengue, números da doença no município e na região, dicas de prevenção e os moradores notificam casos de acúmulo de lixo e ocorrência de possíveis focos de mosquitos para que sejam tomadas as medidas cabíveis em cada situação. Durante essa fase, as experiências dos educandos foram bastante diversificadas, tais como: acompanhamentos na comunidade, gravações, visitas à Prefeitura Municipal, contato com as diversas tecnologias empregadas na execução do projeto, tais como câmeras de vídeo e smartphones.

Perceber os alunos buscando aplicar seus conhecimentos teórico-práticos para discutir, analisar e intervir junto às famílias foi extremamente gratificante. Acreditando que o professor exerce o papel de estimular o desenvolvimento intelectual do estudante e facilitar a aprendizagem, procurei, no transcorrer do projeto, sanar as dúvidas que surgiram, incentivando-os a buscarem as respostas de suas perguntas por meio da literatura e da experiência para depois discutirem a solução, visando assegurar uma intervenção realmente efetiva. Enquanto educadora, procurei fomentar que os estudantes conseguissem obter a formação almejada sabendo pesquisar e selecionar as informações, e aprendendo a pensar de forma associativa. Assim, eles teriam a consciência de que o conhecimento é essencial para desenvolver o cuidado numa comunidade em situação vulnerável como é o caso da Pró-morar. Ao finalizar o estudo, os alunos puderam perceber que uma educação de qualidade não pode consistir unicamente na “transmissão” de conhecimentos professor-aluno, e sim se orientar na formação de indivíduos capazes de buscar seu próprio aprendizado.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao visualizar o processo educativo dentro de um contexto maior, torna-se evidente que alguns assuntos relativos à dengue e às questões de saúde pública como o saneamento básico chamaram a atenção dos adolescentes, visto o interesse demonstrado por eles. Ao conduzir o presente projeto também pode-se ressaltar que a grande problemática enfrentada por estes adolescentes situa-se na esfera socioambiental, em especial, na falta de expectativas positivas em relação às melhorias na qualidade de vida da comunidade local. Reitera-se que a iniciativa de elaborar um material informativo para promoção de saúde e combate à dengue contextualizado socioculturalmente foi uma experiência construtiva, gratificante e viável. O conhecimento adquirido nesta experiência impulsiona os educandos a prosseguirem nesse caminho e a enfrentarem novos desafios, em prol da construção de vivências participativas.

Integrar o Programa A União Faz a Vida tornou-se uma oportunidade ímpar para o desenvolvimento e capacitação dos educandos do Centro de Educação Municipal.

Esse é, sem dúvida, um dos passos iniciais para a construção de um novo ensinar.

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Angéli do Prado Casagrande CONSTRUÇÃO DO PROJETO INTERDISCIPLINAR DE COMBATE À DENGUE...

Para atender às novas perspectivas da prática docente na educação, é necessário habilitar os alunos para a formação de pensamentos críticos, reflexivos e, sobretudo, criativos. A escola deve contribuir para formar sujeitos capazes de comprometerem-se com a construção de uma prática enriquecedora. Para isso ocorrer, é exigida a construção de uma preparação pedagógica eficiente. Nesse sentido, o Programa A União Faz a Vida, inquestionavelmente, exerce grande importância na formação de cidadãos qualificados, pois abre espaço para que estes se desenvolvam buscando estratégias para a implementação de uma nova proposta pedagógica.

REFERÊNCIAS

ORTEGA, R.; DEL REY, R. Estratégias educativas para a prevenção da violência.

Brasília, DF: UNESCO: UCB, 2002.

PROGRAMA A UNIÃO FAZ A VIDA. Disponível em: http://www.auniaofazavida.com.

br/oprograma_principios. Acesso em: 27 abr. 2018.

No documento EDUCAÇÃO BÁSICA E PESQUISA VOLUME 1 (páginas 160-164)