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POSSIBILIDADES E LIMITAÇÕES

No documento EDUCAÇÃO BÁSICA E PESQUISA VOLUME 1 (páginas 66-69)

EDUCAÇÃO MODERNA E FRAGMENTAÇÃO DE SABERES:

POSSIBILIDADES E LIMITAÇÕES

Débora Paz Menezes1 Nilton Cézar Rodrigues Menezes2

Resumo

As teorias são sistemas conceituais que têm na sua essência a completude e, a incompletude, uma face aberta à renovação. O modo como a educação se estrutura contribui para a separação do conhecimento em conteúdos cada vez mais fragmentados. Reconhecendo que tal visão fragmentada é nociva à formação, teóricos têm proposto outros conceitos como forma de atenuar essa fragmentação restabelecendo vínculos entre as disciplinas. Como sujeitos ativos na educação, os professores são essenciais para o sucesso desse processo. Ao denunciar a insuficiência dos princípios tácitos na estrutura organizacional, influenciando atitudes e um modo de pensar, este trabalho de reflexão constitui-se num princípio de corpo teórico, busca o resgate do sistema conceitual, responsável para outra sistematização, no momento em que é lançado ao mundo sofre o jogo das ações e interações e segue direções inesperadas.

Palavras-chave: Fragmentação dos saberes. Educação moderna. Saberes.

1 Débora Paz Menezes- Graduada em Comunicação Social Habilitação Jornalismo pela Universidade de Santa Cruz do Sul- UNISC, e Mestra pelo Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade de Santa Cruz do Sul- UNISC. Integrante do grupo de pesquisa LinCE - Linguagem, Cultura e Educação, vinculado a linha de pesquisa Aprendizagem, Tecnologias e Linguagem na Educação e integrante do Grupo de Estudos Poéticos: Educação, Linguagem e Infâncias.

Atualmente coordenadora pedagógica e docente no Centro de Ensino Superior Riograndense- CESURG, em Rio Pardo, Estado do Rio Grande do Sul.

2 Nilton Cézar Menezes- Doutorando na formação/Doutor em Educação na linha de pesquisa:

Aprendizagens, Tecnologias e Linguagem na educação, bolsista PROSUC/CAPES, com a respectiva orientação da Profª Drª Nize Maria Campos Pellanda, no Grupo de Pesquisa Ações e Investigações Autopoiéticas - GAIA, pela Universidade de Santa Cruz do Sul - UNISC. Licenciado em Filosofia e Pedagogia, graduado em Educação Física e Especialista em Ciência do Movimento Humano pela Universidade Federal de Santa Maria, Especialista em Gestão Pública pelo Instituto Federal, Ciência e Tecnologia de Santa Catarina, Especialista em Docência na Educação Profissional de Nível Técnico, Especialista em Docência do Ensino Superior pela Universidade Católica Dom Bosco de Mato Grosso do Sul -MT e Mestre em Educação pela Universidade do Oeste de Santa Catarina. Atualmente servidor da Universidade Federal do Pampa - UNIPAMPA em Bagé, Estado do Rio Grande do Sul.

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1 INTRODUÇÃO

A Modernidade caracteriza-se como um período de muitas mudanças no âmbito do conhecimento, com momentos em que as afirmações passaram a serem questionadas, onde os dogmas foram problematizados e a sociedade passou a ver-se de maneira diferente. Assim, o ser humano da modernidade, por natureza um ser inquieto, começou a ser guiado pela razão, passou a enxergar a vida com seus próprios olhos. Houve uma mudança conceitual que terminou desembocando numa grande crise de paradigmas que afetou e vem afetando diretamente todas as instituições sociais. Também a igreja perdeu posição de controladora dos homens e do cosmos. O Estado foi relativizado, gerando uma crise de hegemonia do poder e a escola tornando-se uma ilha cercada por um mar de novas informações. Dessa forma, a Modernidade firmou-se por um momento de ruptura do ser humano com as instituições e as antigas formas de saber. O mundo passou a ser percebido sem a intervenção de Deus: como as coisas funcionam, sem Deus.

Nesse contexto, o ser humano moderno é tido pela racionalização, intelectualização e, sobretudo, por seu desencantamento e afastamento do mundo metafísico-religioso. Consideramos que esse ser humano descobriu-se e passou a se entender como sujeito histórico, consequentemente como um ser capaz de ler seu próprio mundo e, acima de tudo, capaz de intervir nele. Essa postura de ser histórico-cultural deu ao ser humano, como sujeito pensante, a “capacidade” de encontrar real significação para a sua existência. Isto se tornou possível porque, a partir da relação do indivíduo com o mundo, ele se descobriu como um ser em si, de múltiplas relações, precisando encontrar o próprio homem nos fundamentos da nova ordem. A racionalização do conhecimento tirou o ser humano da condição passiva de recebedor do conhecimento para a de sujeito produtor do conhecimento, do saber dado para o saber criado e recriado.

Dentre as grandes expressões referidas quanto à instituição do pensamento moderno, sem dúvidas está René Descartes. Em razão disso, surge o questionamento:

Qual a posição de Descartes em relação à Educação? Respondendo: embora ele tenha vivido no final da época renascentista e, provavelmente, ter tido acesso às inspirações clássicas, Descartes, em sua obra, não fez nenhuma menção direta à educação. Entretanto, o seu sistema filosófico foi de uma radicalidade ímpar para a educação, tanto que, suas orientações dominaram toda a conjuntura da Modernidade, influenciando as diferentes ciências e atingindo todos os campos de saberes, inclusive as áreas pedagógicas e educacionais.

A “Idade Moderna foi marcada por uma tendência de pensamento que ousou apostar na razão, em oposição aos dogmas do período medievo, que a antecederam”

(ABBAGNANO, 2009, p. 34). Para além das críticas e do grande fomento renovador foi se instaurando e delineando uma concepção positiva, uma visão original do universo que se tornou a estrutura fundamental de todos os sistemas filosóficos

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Débora Paz Menezes, Nilton Cézar Rodrigues Menezes EDUCAÇÃO MODERNA E FRAGMENTAÇÃO DE SABERES...

da modernidade. “Esta base comum do pensamento moderno foi aquilo que com propriedade se chamou de racionalismo” (GAMBRA, 2007, p. 24).

Os sistemas filosóficos se estruturaram a partir de um mesmo eixo, ou seja, um esquema básico que orientou a ciência em uma determinada direção fundamental, legitimado pelo pensamento racionalista, que se utiliza da razão, como a referência central, na aquisição do conhecimento adequado, completo, verdadeiro e perfeito das coisas da natureza, numa visão concreta e real do universo. Por esta perspectiva, podem-se observar duas características marcantes do pensamento moderno: a primeira foi à redução dos sistemas superiores e mais complexos da realidade em níveis inferiores mais simplificados visando à decomposição das partes, até alcançar as inscrições matemáticas que evidenciam um caráter puramente racional; e a segunda foi instituir de forma incisiva a noção de progresso, no qual a humanidade deveria lançar-se, tendo como meta avançar sempre. Logo, o fomento intelectual que se instaurou na Modernidade decorreu do resultado daquilo que já havia começado no período renascentista. Descartes, com sua obra Discurso do Método (1637), procurou um caminho seguro, um método que repousa na intuição racional e na dedução, cujo modelo é a inteligibilidade da matemática. E também Isaac Newton, com a sistematização da mecânica, as leis do movimento e a teoria gravitacional dos corpos.

Os contemporâneos de Descartes recusaram a mera especulação, a adoção de concepções anteriormente elaboradas, pouco credíveis e, lançaram-se curiosos e também ávidos na busca de saberes e conhecimentos verdadeiros, procurando aliar os dados da experiência às construções racionais que ganhou delineamento com os experimentos científicos. Foi nesse contexto epistêmico que a personalidade de Descartes (1596/1650 – séculos XVI e XVII) marcou de forma incisiva e implacável a passagem do Renascimento para a Idade Moderna.

Doutra forma, Descartes desconfiava de tudo, considerava provisoriamente falso o conhecimento existente e sentia falta de um sistema que organizasse o fundamento seguro de todo o saber humano. A partir daí, empreendeu um percurso e elaborou a sua própria filosofia, explícita no método dubitativo, perspectivando a construção de uma ciência e de um saber que oferecessem à razão as devidas garantias.

Porque para ele o primeiro resultado da razão é a ciência e, em específico, a ciência matemática, sobre a qual se edifica a descoberta do método. A razão, todavia, não tem identificação como um todo com o seu método, mas tem participação da própria natureza dos elementos: tais elementos são racionais só na proporção em que possuam clareza e evidência.

A clareza e a evidência dos elementos conhecidos (das ideias) constituem a condição preliminar de todo o procedimento racional. A intenção de Descartes era legitimar as verdades filosóficas como se prova um princípio matemático, ou seja, aplicar o método matemático à reflexão filosófica, usando para isto a razão científica

que seria a única coisa capaz de nos levar a um conhecimento seguro, pois nada nos garante que nossos sentidos são confiáveis. Então, ele idealizou um método baseado na razão e na certeza, a fim de construir a base do conhecimento verdadeiro e propôs um novo sistema de pensamento, no qual seus escritos sobre metafísica serviriam para preparação de uma filosofia universal, capaz de conceber bases sólidas para a construção do conhecimento “exato” e “autêntico”, sendo este orientado por um caminho definido, que é precisamente o do racionalismo. Foi assim, que este filósofo emergiu como protagonista da radical mudança na configuração de um novo paradigma que dominou os Tempos Modernos em contraposição à obscuridade do medievo, tendo a razão científica como a grande luz.

2 CONDIÇÕES HUMANAS RESULTANTES DA EDUCAÇÃO MODERNA

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