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CAPÍTULO 2 IMPESSOALIDADE

2.6 Legislação brasileira

2.6.9 Parcerias voluntárias

Recentemente foi publicada a Lei nº 13.019/14, denominada Lei das Parcerias Volun- tárias. Regula parcerias entre a Administração Pública e entidades do terceiro setor (chama- das pela Lei de organizações da sociedade civil). Todos os repasses de verbas públicas e benefícios a tais entidades deverão respeitar as diretrizes dessa lei. A lei deu ênfase maior a determinados princípios (dentre os quais o da impessoalidade) e deu vida ao instituto do chamamento público (espécie de procedimento licitatório). Ao contrário das Organizações Sociais, que podem ser contratadas sem licitação, as OSCIPs e demais entes do terceiro setor terão que se submeter a esse novo regramento.

O objeto da lei veio descrito no art. 1º e diz com: “normas gerais para as parcerias voluntárias, envolvendo ou não transferências de recursos financeiros, estabelecidas pela União, Estados, Distrito Federal, Municípios e respectivas autarquias, fundações, empresas públicas e sociedades de economia mista prestadoras de serviço público, e suas subsidiári- as, com organizações da sociedade civil, em regime de mútua cooperação, para a consecu- ção de finalidades de interesse público; define diretrizes para a política de fomento e de colaboração com as organizações da sociedade civil; e institui o termo de colaboração e o termo de fomento”.

De se ver que a Lei nº 13.019/14 se aplica a todas as esferas de governo (Federal, Estadual e Municipal), trabalha conceitos e, de acordo com o art. 2º, considera:

I - organização da sociedade civil: pessoa jurídica de direito privado sem fins lucrativos que não distribui, entre os seus sócios ou associados, conse- 208 Lucas Rocha Furtado (Obra citada, p. 186-187) critica severamente as entidades de apoio:

“Mais uma vez, o propósito subjacente à criação dessas entidades de apoio não tem nada de digno. A verdade, mais uma vez, é uma só: foram criadas as (mal)ditas fundações de apoio – como entidades privadas, porém com fundos que lhe foram ilegalmente transferidos pelas próprias universidades federais – para intermediar as contratações das universidades, burlando a lei de licitação.

(...)

São igualmente utilizadas para burlar regras de concurso público: em vez deste, a universidade firma con- vênio com sua fundação de apoio para fornecimento de mão de obra. Não bastassem essas irregularidades, são ainda utilizadas essas entidades para violar regimes de dedicação exclusiva a que se submetem inúme- ros professores”.

lheiros, diretores, empregados ou doadores, eventuais resultados, sobras, excedentes operacionais, brutos ou líquidos, dividendos, bonificações, par- ticipações ou parcelas do seu patrimônio, auferidos mediante o exercício de suas atividades, e que os aplica integralmente na consecução do respectivo objeto social, de forma imediata ou por meio da constituição de fundo patrimonial ou fundo de reserva;

VII - termo de colaboração: instrumento pelo qual são formalizadas as parcerias estabelecidas pela administração pública com organizações da sociedade civil, selecionadas por meio de chamamento público, para a con- secução de finalidades de interesse público propostas pela administração pública, sem prejuízo das definições atinentes ao contrato de gestão e ao termo de parceria, respectivamente, conforme as Leis nos 9.637, de 15 de maio de 1998, e 9.790, de 23 de março de 1999;

VIII - termo de fomento: instrumento pelo qual são formalizadas as parce-

rias estabelecidas pela administração pública com organizações da socieda- de civil, selecionadas por meio de chamamento público, para a consecução de finalidades de interesse público propostas pelas organizações da socie- dade civil, sem prejuízo das definições atinentes ao contrato de gestão e ao termo de parceria, respectivamente, conforme as Leis nos 9.637, de 15 de maio de 1998, e 9.790, de 23 de março de 1999;

XI - comissão de monitoramento e avaliação: órgão colegiado da admi-

nistração pública destinado a monitorar e avaliar as parcerias celebradas com organizações da sociedade civil nos termos desta Lei, composto por agentes públicos, designados por ato publicado em meio oficial de comuni- cação, sendo, pelo menos, 2/3 (dois terços) de seus membros servidores ocupantes de cargos permanentes do quadro de pessoal da administração pública realizadora do chamamento público;

XII - chamamento público: procedimento destinado a selecionar organi- zação da sociedade civil para firmar parceria por meio de termo de colabo- ração ou de fomento, no qual se garanta a observância dos princípios da isonomia, da legalidade, da impessoalidade, da moralidade, da igualdade, da publicidade, da probidade administrativa, da vinculação ao instrumento convocatório, do julgamento objetivo e dos que lhes são correlatos; Confira-se que a lei tem aplicação em relação às OSCIPs (Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público). Sobre princípios e diretrizes relacionados à impessoalidade, me- recem destaque estas normas da novel legislação:

Art. 5o O regime jurídico de que trata esta Lei tem como fundamentos a gestão pública democrática, a participação social, o fortalecimento da soci- edade civil e a transparência na aplicação dos recursos públicos, devendo obedecer aos princípios da legalidade, da legitimidade, da impessoalidade,

da moralidade, da publicidade, da economicidade, da eficiência e da eficá- cia, além dos demais princípios constitucionais aplicáveis e dos relaciona- dos a seguir:

IV - o direito à informação, à transparência e ao controle social das ações públicas;

Art. 6o São diretrizes fundamentais do regime jurídico de fomento ou de colaboração:

II - a priorização do controle de resultados;

V - o estabelecimento de mecanismos que ampliem a gestão de informação, transparência e publicidade;

No texto legal sobressai o instituto do chamamento público. A administração pública pode fazer transferências voluntárias de recursos para organizações da sociedade civil com o objetivo de que sejam realizados planos de trabalho em regime de mútua cooperação.

A organização da sociedade civil que receberá tais transferências será selecionada por meio de um procedimento nominado “chamamento público” e, após escolhida, deverá cele- brar um “termo de colaboração” ou um “termo de fomento” com a administração pública.

Guardadas as devidas diferenças, esse chamamento público funcionará como se fosse uma licitação, um processo seletivo (competitivo) para escolher a organização que melhor poderá executar o projeto.

Esse é o ponto mais importante da Lei, considerando que essa seleção pública busca evitar a escolha das ONGs que irão receber os recursos com base em interesses pessoais e preferências políticas/ideológicas.

Ao contrário das leis que instituíram as Organizações Sociais e as Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público, a Lei de Parcerias Voluntárias, ao estabelecer a regra do chamamento público, cria um novo marco de impessoalidade na organização e na ação administrativa.

Tal conclusão fica mais clara quando focado o sistema de responsabilidades e san- ções previsto na lei. As organizações da sociedade civil que descumprirem os termos da parceria firmada ou praticarem outros ilícitos poderão sofrer sanções administrativas e até responder por ato de improbidade administrativa.

Aliás, a Lei nº 13.019/14 acrescentou os seguintes incisos aos artigos da Lei de Improbidade Administrativa:

Art. 10.

VIII - frustrar a licitude de processo licitatório ou de processo seletivo para celebração de parcerias com entidades sem fins lucrativos, ou dispensá-los indevidamente;

XVI - facilitar ou concorrer, por qualquer forma, para a incorporação, ao patrimônio particular de pessoa física ou jurídica, de bens, rendas, verbas ou valores públicos transferidos pela administração pública a entidades pri- vadas mediante celebração de parcerias, sem a observância das formalida- des legais ou regulamentares aplicáveis à espécie;

XVII - permitir ou concorrer para que pessoa física ou jurídica privada uti- lize bens, rendas, verbas ou valores públicos transferidos pela administra- ção pública a entidade privada mediante celebração de parcerias, sem a ob- servância das formalidades legais ou regulamentares aplicáveis à espécie; XVIII - celebrar parcerias da administração pública com entidades priva- das sem a observância das formalidades legais ou regulamentares aplicá- veis à espécie;

XIX - frustrar a licitude de processo seletivo para celebração de parcerias da administração pública com entidades privadas ou dispensá-lo indevidamente;

XX - agir negligentemente na celebração, fiscalização e análise das presta- ções de contas de parcerias firmadas pela administração pública com enti- dades privadas;

XXI - liberar recursos de parcerias firmadas pela administração pública com entidades privadas sem a estrita observância das normas pertinentes ou in- fluir de qualquer forma para a sua aplicação irregular.”

Art. 11.

VIII - descumprir as normas relativas à celebração, fiscalização e aprova- ção de contas de parcerias firmadas pela administração pública com entida- des privadas.

A nova lei traduz uma mentalidade mais consentânea com a principiologia constitucio- nal, sendo perceptíveis os influxos que recebeu do princípio da impessoalidade.