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Superior Tribunal de Justiça

CAPÍTULO 2 IMPESSOALIDADE

2.7 Jurisprudência

2.7.2 Superior Tribunal de Justiça

O Superior Tribunal de Justiça também se ocupa com muita frequência do tema da impessoalidade.

Mesmo não detendo a competência constitucionalmente assegurada para conhecer e julgar recursos extraordinários em sentido estrito (art. 102, inciso III, da CF/88), por violação direta ao texto constitucional, que é do Supremo Tribunal Federal, o Superior Tribunal de Justiça interpreta a impessoalidade tanto no contexto da exegese da legislação infraconstitu- cional quanto no âmbito de outros processos tendentes à veiculação de matéria constitucio- nal, a exemplo do mandado de segurança.

Confiram-se alguns balizamentos hermenêuticos do princípio da impessoalidade na jurisprudência do STJ:

a) A revogação de outorga de permissão de execução de serviço de radiodifusão sonora, sem motivação, ato ou processo administrativo que decline as razões pelas quais não se pode prosseguir na execução do serviço fere o princípio da impessoalidade (Mandado de Segurança nº 16.616/DF, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima);

b) A Comissão de Concurso, posteriormente à publicação do edital, não pode alte- rar os critérios de definição da pontuação de títulos, principalmente após a apre- sentação dos mesmos (Recurso em Mandado de Segurança nº 40.956/MG, Rel. Min. Mauro Campbell Marques);

c) Diante de investidura precária, tabelião que se investiu no cargo por delegação do poder público não tem direito à exclusão da serventia do rol das vagas dispos- tas no edital de concurso público (Agravo Regimental em Mandado de Seguran- ça nº 39.822/SC, Rel. Min. Herman Benjamin);

d) Caracteriza ato de improbidade administrativa a promoção pessoal em propa- ganda institucional, sendo necessária a presença de dolo ao menos genérico e dispensável a demonstração da ocorrência de dano para a Administração Públi- ca ou enriquecimento ilícito do agente, nos termos do art. 11, da Lei nº 8.429/ 92 (Agravo Regimental no Recurso Especial nº 1.368.125/PR, Rel. Min. Humberto Martins);

e) Padece de nulidade insuscetível de convalidação o ato de remoção ex officio de servidora aprovada e nomeada em concurso público para localidade específica,

sem a devida motivação (Recurso em Mandado de Segurança nº 29.206/MG, Rel. Min. Campos Marques - Desembargador Convocado do TJ/PR);

f) Em tema de licitação, o princípio da impessoalidade obsta que critérios subje- tivos ou anti-isonômicos influam na escolha dos candidatos exercentes da pres- tação de serviços públicos (Recurso Especial nº 1.384.138/RJ, Rel. Min. Humberto Martins);

g) Não havendo previsão editalícia para a realização de novo teste de aptidão física, no caso de incapacidade temporária, fica obstada a pretensão de realização de segundo exame (Agravo Regimental em Mandado de Segurança nº 28.375/MS, Rel. Min. Rogério Schietti Cruz);

h) Em matéria de concurso público, o sigilo e a subjetividade do exame psicológico tornam-no nulo (Agravo Regimental em Mandado de Segurança nº 29.645/AC, Rel. Min. Rogério Schietti Cruz);

i) Ilegítimo o pedido de submissão a nova prova oral em concurso público porque isso equivaleria a conferir privilégio a candidato reprovado, em detrimento de outros com notas individuais até melhores, mas que também não lograram êxito (Recurso em Mandado de Segurança nº 41.785/RS, Rel. Min. Humberto Martins); j) A alegação de suspeição requer comprovação prévia e evidente de vínculos pessoais (Recurso em Mandado de Segurança nº 43.800/ES, Rel. Min. Humberto Martins);

k) Se não há lei ou regulamento impondo que, na licitação na modalidade convite, deva ser enviada Carta-Convite às pessoas que participaram de procedimento anterior (Tomada de Preços), com objeto semelhante, não há falar em ofensa ao princípio da impessoalidade (Agravo Regimental no Recurso Especial nº 1.306.817/AC, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho).

Sobre a questão do nepotismo, interessante a tese fixada no Agravo Regimental em Mandado de Segurança nº 44.242/MA, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, em que a Se- gunda Turma do STJ, na esteira da Resolução/CNJ nº 07 e da Súmula Vinculante nº 13, do STF, asseverou que:

“a vedação ao nepotismo decorre da interpretação dos princípios constituci- onais da moralidade, impessoalidade, isonomia e eficiência, norteadores da

temática dos provimentos dos cargos públicos, não requerendo regra explí- cita de qualquer esfera federativa (cf. REsp 1200125/RS, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, DJe 15/06/2012; ADI 3745, Rel. Min. DIAS TOFFOLI, Tribunal Pleno, DJe 01/08/2013), o que desaconselha, por si só, a criação de outras formas de se permitir (excepcionar) a nomeação para cargo comissionado de pessoa com relação próxima de consanguinidade com magistrado já investido, sob pena de sub- verter o intuito moralizador das normas aplicáveis, em ofensa irremediável à Constituição Federal”.

Já no Mandado de Segurança nº 16.179/DF, da relatoria do Min. Ari Pargendler, a Primeira Seção do STJ, propugnando total transparência da Administração Pública quanto à concessão de passaportes diplomáticos, entendeu que o nome de quem recebe um passaporte diplomático emitido por interesse público não pode ficar escondido do público.

Ao julgar o Recurso Especial nº 1.286.466/RS, da relatoria da Min. Eliana Calmon, a Segunda Turma do STJ entendeu que a prática de assédio moral – “mais do que provocações no local do trabalho (sarcasmo, crítica, zombaria e trote), é campanha de terror psicológico pela rejeição” – enquadra-se na conduta prevista no art. 11, caput, da Lei nº 8.429/92, “em razão do evidente abuso de poder, desvio de finalidade e malferimento à impessoalidade, ao agir deliberadamente em prejuízo de alguém”. Segundo o acórdão, a partir do enquadramento de assédio moral como ofensa à impessoalidade, objetiva-se “coibir, punir e/ou afastar da atividade pública os agentes que demonstrem caráter incompatível com a natureza da ativi- dade desenvolvida”252.

Ao julgar o Recurso Especial nº 1.114.254/MG, da relatoria do Min. Sérgio Kukina, a Primeira Turma do STJ entendeu que desde que caracterizado o dolo, “no mínimo genérico”, na irregular veiculação de propaganda institucional em que atreladas as realizações do Muni- cípio ao seu então Prefeito, é de ser considerado ofendido o princípio da impessoalidade, com configuração de ato doloso de improbidade administrativa, nos termos do art. 11 da Lei nº 8.429/92.

Já está enfocada na jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça a distinção entre interesse público primário e secundário. A Corte faz uso da diferenciação para justificar,

252 Segundo o voto da Ministra Eliana Calmon, o então Prefeito de Canguçu/RS, motivado por sentimento de vingança, em razão de denúncia feita por servidora pública municipal ao Ministério Público, acerca da existên- cia de dívida municipal, teria imposto a ela “castigo” consubstanciado no afastamento de suas funções e na obrigatoriedade de permanecer por três dias na sala de reuniões.

por exemplo, a atuação do Ministério Público como custus legis, cabível apenas em face do primeiro.