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Servidores públicos federais

CAPÍTULO 2 IMPESSOALIDADE

2.6 Legislação brasileira

2.6.5 Servidores públicos federais

A Lei nº 8.112/90 dispõe de normas relevantes relativas à impessoalidade. No art. 10, por exemplo, está vertida a norma que impõe a realização de concurso público, como regra geral, na esteira do art. 37, inciso II, da CF/88.

Segundo o dispositivo mencionado, “a nomeação para cargo de carreira ou cargo isolado de provimento efetivo depende de prévia habilitação em concurso público de provas ou de provas e títulos, obedecidos a ordem de classificação e o prazo de sua validade”.

A regra do concurso público para provimento dos cargos na esfera do Poder Público materializa de forma plena o princípio da impessoalidade, na medida em que há o estabeleci- mento de critérios objetivos para o ingresso nas carreiras públicas. Afasta a possibilidade de favorecimentos na escolha de servidores e seleciona os indivíduos mais aptos à prestação do serviço. Constitui, portanto, regra que concretiza a impessoalidade na esfera da organização

administrativa.

São exemplos de institutos voltados à obtenção de uma organização administrativa naturalmente mais impessoal, no regime da Lei nº 8.112/90:

a) Gratificação por encargo de curso ou concurso (arts. 76-A); b) Licença para capacitação (art. 87);

c) Afastamento para estudo ou missão no exterior (arts. 95 e 96);

d) Afastamento para participação em programa de pós-graduação stricto sensu no país (art. 96-A);

e) Concessão de horário especial ao servidor estudante (art. 98);

f) Direito a matrícula em instituição congênere para o servidor estudante que mu- dar de sede no interesse da administração (art. 99).

O primeiro instituto (gratificação por encargo de curso ou concurso) estimula o servi- dor a se engajar em ambiente propício ao aprendizado em sentido amplo. Atuando como instrutor em cursos de formação, como membro de bancas examinadoras, na aplicação e na fiscalização de provas ou na logística de preparação e realização de concurso, o servidor

convive e tem contato direto com pessoas que buscam valorização profissional e logram ganhos profissionais e pessoais, com reflexos na sua carreira e no seu dia a dia de servidor.

A licença para capacitação pode ser gozada pelo servidor após cada quinquênio de efetivo exercício de cargo efetivo, com a respectiva remuneração, por até 3 (três) meses, para participar de curso profissional. Além de prêmio pela assiduidade, o instituto permite ao servidor dar azo ao melhoramento de sua capacitação. Bem exercitado, o instituto traz refle- xos na qualidade dos serviços197.

Na mesma linha de raciocínio, os afastamentos para estudo ou missão no exterior (item “c” supracitado) e para participação em programa de pós-graduação em sentido estrito. Por meio dos dois tipos de afastamento, para fins de estudos, o servidor carreia meios mate- riais de evoluir como pessoa e se tornar mais capacitado e habilitado para a prestação de serviço público de maior qualidade.

A concessão de horário especial para o servidor estudante é forma legislativa inteli- gente. Propicia a conciliação de interesses e, ao mesmo tempo, projeta uma atuação futura mais enriquecida pelos valores e ensinamentos angariados nos estudos.

Da mesma forma, há o direito a matrícula em instituição congênere para o servidor estudante que mudar de sede no interesse da administração. A interrupção dos estudos é prejudicial ao servidor e à administração. Resolve o dilema de, em nome do interesse públi- co, pressuposto da mudança de sede, sacrificar-se outro interesse público no incremento que os estudos proporcionam na qualidade dos serviços públicos prestados pelo servidor que estuda e se mantém atualizado e mais bem preparado para o dia a dia da administração.

O princípio da impessoalidade, no âmbito da Lei nº 8.112/90, também se projeta no regime disciplinar. Há deveres e proibições voltadas ao desiderato constitucional. Podem ser referidos, por exemplo, entre os deveres (art. 116):

a) Levar as irregularidades de que tiver ciência em razão do cargo ao conhecimento da autoridade superior ou, quando houver suspeita de envolvimento desta, ao conhecimento de outra autoridade competente para apuração (inciso VI); b) Tratar com urbanidade as pessoas (inciso XI);

c) Representar contra ilegalidade, omissão ou abuso de poder (inciso XII).

197 Na redação original, ou seja, antes da redação determinada pela Lei 9.527/97, a licença era dada sema a exigência de submissão a curso de capacitação profissional. O dispositivo atual parece bem mais inteligente, fomentando benefícios para o servidor e também para a Administração.

Dentre as proibições (art. 117), algumas têm clara conexão com a impessoalidade, como por exemplo as de:

a) Opor resistência injustificada ao andamento de documento e processo ou execu- ção de serviço (inciso IV);

b) Promover manifestação de apreço ou desapreço no recinto da repartição (inciso V);

c) Coagir ou aliciar subordinados no sentido de filiarem-se a associação profissio- nal ou sindical ou a partido político (inciso VII);

d) Manter sob sua chefia imediata, em cargo ou função de confiança, cônjuge, com- panheiro ou parente até o segundo grau civil (inciso VIII);

e) Valer-se do cargo para lograr proveito pessoal ou de outrem, em detrimento da dignidade da função pública (inciso IX).

As proibições acima transcritas buscam estabelecer um padrão ético de comporta- mento do servidor público. Nessa perspectiva, materializam o princípio da impessoalidade na esfera da ação administrativa.

Os deveres e proibições exemplificados convergem esforços para que a atuação ad- ministrativa seja moldada pelo interesse público primário. Para que não haja, no exercício das funções, espaço para atuações voltadas à satisfação de interesses outros, alheios àqueles plasmados em benefício da coletividade, banindo-se atuações, confessadas ou não, com base em subjetivismos, ódios, rancores, perseguições e preferências pessoais nada republicanas.

Ainda na Lei nº 8.112/90 é possível encontrar dispositivos voltados à impessoalidade em normas relativas ao processo administrativo disciplinar, como no instituto do afastamen- to preventivo (art. 147), que estimula uma apuração menos infensa a subjetivismos, livre de influências. No processo disciplinar propriamente dito, são relevantes os arts. 148 (sobre a processualização da apuração da responsabilidade), 149 (sobre a composição da comissão de sindicância ou inquérito, a ser composta de três servidores estáveis, dela não podendo parti- cipar cônjuge, companheiro ou parentes próximos do acusado) e 150, no sentido de que “a Comissão exercerá suas atividades com independência e imparcialidade, assegurado o sigi- lo necessário à elucidação do fato ou exigido pelo interesse da administração”.

Note-se que no campo disciplinar existe forte preocupação legislativa com a necessi- dade de que a apuração de responsabilidade se dê em ambiente processual, com objetividade, independência e imparcialidade.