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Vedação de atribuição de nome de pessoa viva a bem público

CAPÍTULO 2 IMPESSOALIDADE

2.6 Legislação brasileira

2.6.11 Vedação de atribuição de nome de pessoa viva a bem público

Dando concretude especial ao princípio constitucional da impessoalidade, a Lei nº 6.454/77, com a (confusa) redação dada ao art. 1º pela Lei nº 12.781/13, proíbe, em todo o território nacional, “atribuir nome de pessoa viva ou que tenha se notabilizado pela defesa ou exploração de mão de obra escrava, em qualquer modalidade, a bem público, de qual- quer natureza, pertencente à União e às pessoas jurídicas da administração indireta”. Proí- be também a inscrição dos nomes de autoridades ou administradores em placas indicadoras de obras ou em veículo de propriedade ou a serviço da Administração Pública direta ou indireta (art. 2º).

Todas as proibições até aqui mencionadas estendem-se às entidades que, a qualquer título, recebam subvenção ou auxílio dos cofres públicos federais (art. 3º) e a infração à lei acarreta ao responsável a perda do cargo ou função pública e, quando caso, a suspensão da subvenção ou auxílio (art. 4º).

A Lei Estadual da Paraíba (nº 5.998/94), em seu art. 1º, preconizou que “fica proibido atribuir nome de pessoa viva a bem público, de qualquer natureza, pertencente ao Estado da Paraíba ou às pessoas jurídicas da Administração indireta”. E pune com a perda do cargo ou da função pública os responsáveis pelo descumprimento da norma (art. 4º).

A Constituição da Bahia, no seu art. 21, veda expressamente “a utilização de nome, sobrenome ou cognome de pessoas vivas, nacionais ou estrangeiras, para denominar cidades, localidades, artérias, logradouros, prédios e equipamentos públicos de qualquer natureza”.

Em artigo220 sobre o tema, Antonio Pessoa Cardoso (Desembargador do TJ/BA), assi-

219 Como por exemplo, as alíneas “e”, “g”, “h”, “j” e “l”, do inciso I, do art. 1º.

nala que o desrespeito à impessoalidade, em casos que tais, implica improbidade administra- tiva, nos termos do art. 8.429/92. Confira-se:

“(...).

As regras constitucionais, artigo 37, foram incorporadas implícita ou ex- plicitamente às leis estaduais, leis orgânicas dos municípios, leis de orga- nizações judiciárias dos tribunais, buscando diluir a projeção da imagem individualista do administrador que insiste em trilhar o caminho oblíquo do golpe e da fraude com o uso de recursos do erário público para sua satisfação pessoal.

A impessoalidade e a moralidade inserem-se na ordem difusa e seu desres- peito aponta ato de improbidade administrativa, atrelado à sobrevivência da democracia; legitima, portanto, a atuação do Ministério Público, que, em muitos estados tem tomado a iniciativa de notificar os infratores ou ingres- sar com ação civil pública para obrigar os agentes públicos a respeitarem a Constituição federal, Constituições estaduais e leis ordinárias; o procedi- mento cinge-se a estrito zelo à ordem jurídica, art. 5º, inciso I, da Lei Com- plementar n. 75/93, aplicada subsidiariamente às promotorias dos estados, na forma do art. 80, Lei n. 8.625/93 (Lei Orgânica do Ministério Público dos Estados).

O uso de nomes de pessoas vivas em prédios públicos é típico ato de improbidade, porque atentatório à administração pública e cercado de mai- or gravidade, porque propaganda ostensiva e permanente. O descaso cons- titui preocupação de toda a instituição pública, porque os atos administrati- vos daí emanados não são imputáveis ao funcionário, mas ao órgão público, em nome de quem age o executivo.

A infração é punida expressamente pela Lei 8.429/92 e consubstancia-se na suspensão dos direitos políticos e perda da função pública, além de indisponibilidade dos bens e ressarcimento ao erário, sem prejuízo da ação penal.

(...)”.

O autor registra o esforço desenvolvido pelo Ministério Público para a reversão do quadro de desrespeito ao princípio da impessoalidade na vertente específica de proibição do uso de nome de pessoa viva em bens públicos:

“(...).

Justiça Federal, em ação civil pública requerida pelo Ministério Público, determinou que fosse removido o letreiro com o nome do Senador José Sarney do Fórum do Tribunal Regional do Trabalho/MA. A decisão alcança outros prédios, inclusive fóruns, com nomes de pessoas vivas no Estado. Em Sergipe, o juiz da Comarca de Japaratuba julgou procedente Ação Civil Pública que questionava a colocação dos nomes de políticos em prédios públicos do distrito de Pirambu. Determinou-se a remoção das inscrições, porque em afronta aos princípios constitucionais.

O Promotor das cidades de Sorriso, de Nobres e outros municípios de Mato Grosso, notificaram os prefeitos locais para substituírem os nomes de pes- soas vivas em prédios públicos.

Em Santa Catarina, o município de Indaial teve de retirar os nomes de pes- soas vivas de prédios públicos, resultado de sentença em ação civil pública requerida pelo Ministério Público.

Na Bahia, a Resolução do Tribunal de Justiça de n. 08/2002 estabelece no artigo 1º: ‘Fica proibido, em todo o âmbito estadual, dar nome de pessoas vivas a bem público, de qualquer natureza, pertencente ao Poder Judiciário’. Eventuais denominações dadas anteriormente continuam violando a Lei 6.545/77 e a Constituição de 1988.

Através de ação civil pública, no ano passado, a Promotoria da comarca de Iguaí conseguiu fosse retirado de um prédio público o nome de pessoa viva. No Rio de Janeiro, a pedido do Sindicato dos Advogados, o Corregedor Geral da Justiça do Trabalho, Ministro Rider de Brito, impediu, em abril/ 2004, a colocação do nome do presidente do TRT/RJ na inauguração do prédio da Justiça Trabalhista. A placa com o nome do homenageado foi encoberta com tarja e posteriormente retirada.

A motivação do Corregedor para o ato moralizador deu-se nos seguintes termos:

‘Considerando o estatuído nos preceitos legais/constitucionais supratrans- critos (art. 37, da Constituição e Lei 6454/77), tem-se que a Resolução Ad- ministrativa nº. 6/2004 do Órgão Especial do TRT da Primeira Região, que conferiu o nome do atual Presidente daquela Corte ao novo prédio das Va- ras do Trabalho do Rio de Janeiro, vulnera o princípio da moralidade admi- nistrativa e contraria de forma inequívoca a norma prevista no § 1º do artigo 37 CF/88, por importar manifesta promoção pessoal de autoridade vincula- da ao Poder Judiciário Trabalhista.’”

“(...).

A entrega ao povo de qualquer obra, originada de um dos três Poderes, não justifica a fraude; afinal, os governantes devem submeter-se às leis e não servir-se delas para realização de ambições pessoais. O servidor é elevado à função pública exatamente para construir estradas, prédios, escolas, fóruns, monumentos, etc; a execução dessas tarefas implica no simples cumpri- mento do dever, sem significar favor algum ao cidadão; a lei não autoriza, mas, pelo contrário, proíbe autopromoção à custa do dinheiro público. Os nomes de magistrados, de políticos e de profissionais vivos nas obras públicas tornam as leis descartáveis, profanadas pelo “jeitinho” brasileiro que só acomoda a vaidade dos poderosos.”

Tem-se, ainda, a Resolução nº 140/2011, que proíbe a atribuição de nomes de pessoas vivas aos bens públicos sob a administração do Poder Judiciário, a ser objeto de análise no item 2.7.4 (infracitado).