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Perfil dos passageiros utilizadores das companhias aéreas de baixo custo

Parte VI – Conclusões, contributos e recomendações

3. O conceito low cost e a sua relação com as low cost carriers 1 Introdução

3.8. Perfil dos passageiros utilizadores das companhias aéreas de baixo custo

Pretende-se, neste ponto, até pelo interesse para a própria investigação, perceber o perfil dos passageiros utilizadores das companhias aéreas de baixo custo. Mais uma vez os dados são escassos, com maior preocupação dos diferentes trabalhos científicos na caracterização das diferenças entre modelos de negócio (companhia aérea tradicional versus companhia aérea de baixo custo), entre tráfego de lazer e tráfego business e nas suas diferentes motivações, nos fatores que afetam os passageiros na escolha de uma companhia low cost, na duração da viagem, na duração da estada, entre outros.

Como referido por Dobruszkes (2013), devido à falta de um leque alargado de estudos sobre os passageiros low cost e as suas motivações de viagens, é impossível afirmar com precisão quais os “drivers” que podem moldar a procura por voos low cost e qual o tráfego induzido pelas low cost carriers (p. 77). Do mesmo modo, Ferrer-Rossell et al. (2014) afirmam que “few studies have focused explicitly on the air traveller segment”, tendo os autores apenas identificado três trabalhos científicos (o mais antigo de 2008) relacionados com o perfil dos clientes nas companhias aéreas de baixo custo (p. 115).

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A relação entre companhias aéreas de baixo custo e a escolha do modelo de alojamento ajudaria – e muito – a uma melhor caracterização do mercado e a um enquadramento conceptual mais robusto, com posterior ligação à realidade das cidades de Lisboa e Porto, situação que, pela quase inexistência de informação, fica bastante mais comprometida.

A razão tarifária, tal como já tecido em alguns dos trabalhos apresentados na Tabela 6, é a principal motivação para os passageiros que utilizam as companhias aéreas de baixo custo. Como refere Minghetti, citado em Siciliano e Vismara (2007), “O típico passageiro low cost tem uma baixa propensão a gastar.”.

Do mesmo modo, O’Connell e Williams (2005) constataram que a tarifa foi a principal razão pela escolha de uma companhia aérea de baixo custo. Quase 90% dos clientes da Ryanair identificaram que essa foi a principal razão para a escolha da companhia aérea, valor que supera os 90% na Air Asia (aproximadamente 65% na Air Lingus e de pouco mais de 30% na Malaysia Airlines). Quanto ao alojamento utilizado os autores verificaram que 31% dos passageiros na Ryanair ficou em hotéis, enquanto quase 49% dos clientes da Air Asia preferiu estalagens, alojamento local, bed & breakfast ou hostels.

Também Martinez-Garcia e Royo-Vela (2010) apuraram, na segmentação dos utilizadores de voos low cost em aeroportos secundários e que permitiu caracterizar quatro clusters de viajantes (price-sensitive travellers, destination and flight-conscious travellers, non-sensitive and business travellers e educational and second residence travellers) que o preço baixo é, geralmente, a característica mais valorizada num voo, pelos price-sensitive travellers (o segmento de maior representatividade com 45,5%). Neste cluster, a principal motivação são as tarifas baixas, não se valorizando outros fatores de escolha, exceto o preço e tendem a escolher alojamento de categoria mais baixa (hotéis de uma ou duas estrelas e guesthouses). Esse segmento evidencia igualmente que 42,9% dos clientes têm menos de 24 anos, 38,36% são estudantes, 81,2% viaja em férias e 10,35% para visitar familiares ou amigos. A quase metade dos inquiridos (44,84%) tem uma duração de viagem entre 4 a 7 dias, sendo, neste caso, a viagem para a Costa Espanhola (43,62%) o principal destino, seguido de Barcelona com 36,8%. O tipo de alojamento preferido são os hotéis de 1 e 2 estrelas e as guesthouses (20,38%) e os apartamentos alugados (16,85%).

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Ferrer-Rossell et al. (2014), com base no estudo realizado em 2010, em 23 aeroportos espanhóis (EGATUR – Encuesta de gasto turístico) concluíram que 49% dos turistas viajaram sem pacote turístico utilizando uma low cost carrier.

Calvé et al. (2015), no estudo levado a cabo sobre Reus (Espanha), verificaram que mais de 60% dos “low-cost loyal tourists” em alojamento registado e quase 70% em alojamento não registado afirmaram que o preço tinha sido a principal razão para decidirem voar para o aeroporto de Reus.

Para Mason e Alamdari (2007), a expectativa para os leisure passengers é que a tendência de preços baixos se mantenha. Quando os preços variam, os passageiros das companhias aéreas de baixo custo são mais sensíveis à mudança de destino, porque o preço é o maior fator na sua escolha. Edwards (2009), num estudo preliminar em 100 inquiridos à chegada a Birmingham (Reino Unido), 18 dos quais de avião, concluiu que a principal razão para a escolha de uma companhia aérea era o custo (11 respostas), sendo os demais fatores difusos na escolha (serviço, horário – 2 cada; acessibilidade, serviço direto, conveniência – 1 cada).

Davison e Ryley (2010) concluíram que a maioria dos participantes no estudo levado a cabo (preferências dos turistas das East Midlands, no Reino Unido, para destinos de companhias aéreas low cost) são price sensitive, pelo que, um aumento de 50 libras esterlinas no preço levaria a que 62% deixasse de voar. Do mesmo modo, Chiou e Chen (2010), num estudo sobre os fatores que influenciariam as intenções dos passageiros, concluíram, relativamente aos passageiros utilizadores da low cost Spring Airlines (primeira LCC na China) que os “passengers are far more sensitive to price than service.” (p. 228).

Também Turner (2003) apurou que os passageiros viajando numa companhia aérea de baixo custo, na rota entre Londres e Amesterdão, indicaram a tarifa como a principal razão de escolha. Na mesma rota, passageiros viajando em companhias tradicionais apontaram o tempo de voo como o principal fator.

No entanto, a sensibilidade tarifária deixou de ser um fator apenas para os passageiros turísticos, sendo igualmente relevante para o mercado business. Chang e Sun (2012), Martinez-Garcia, Ferrer-Rossell e Coenders (2012) e Mason (2000) verificaram que o preço começa a liderar nas preferências de ambos os segmentos. No caso do estudo de

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Martinez-Garcia et al. (2012), numa escala de 1 a 5, o preço apresentou, inclusive, um valor médio de 4,30 para o mercado business e 4,28 para o mercado leisure. Também Dresner (2006) concluiu não haver grandes diferenças nas razões de escolha de determinado aeroporto (no caso em apreço Baltimore-Washinghton International, nos E.U.A.) com a proximidade do aeroporto e tarifas mais baratas a serem os principais fatores de escolha e com equilíbrio de preferências entre o tráfego de lazer e de negócios.

Rebollo e Baidal (2009) constataram que os utilizadores das companhias tradicionais (para Espanha) preferem, de forma clara, hotéis, percentagem que é muito menor para os utilizadores de companhias aéreas de baixo custo, os quais tendem a utilizar casa de familiares e amigos (17%), casas partilhadas (12,7%) ou casas alugadas (11,6%).

No estudo de Graham e Dennis (2010), relativo à entrada das companhias aéreas em Malta, foi possível identificar que houve um crescimento do turismo jovem, mais próspero mas menos utilizador de hotéis, com uma maior proporção a utilizar unidades de self-catering e em visita a familiares e amigos.

No entanto, estudos mais recentes empreendidos por Lin e Huang (2015) evidenciam que a escolha de uma companhia aérea de baixo custo deve ser vista como uma decisão multi-critério e que os vários fatores envolvidos são independentes. Assim sendo, os investigadores constataram que, no que ao serviço diz respeito, os principais fatores valorizados pelos passageiros não são apenas tarifas económicas, mas também outros atributos ao nível da segurança, fiabilidade e atitudes do pessoal. Mesmo assim, é reconhecido que “(…) cheap fare are clearly the greatest advantage for LCCs in terms of attracting passengers (...)” (Lin & Huang, 2015, p. 8).

São igualmente escassos os estudos levados a cabo pelas cidades/aeroportos sobre o perfil do passageiro low cost, embora, neste caso, Lisboa seja uma exceção através dos relatórios efetuados, por período Iata e desde 2005, aos passageiros que viajam neste modelo de negócio.

Mesmo fazendo parte integrante do capítulo 7, o último relatório disponibilizado pela ATL (2015) mostra que, em termos globais (o relatório possui informação detalhada por destino/companhia aérea), 98,2% dos inquiridos afirmaram que o preço foi o principal motivo da escolha da companhia aérea (89,8% no verão 2014 – ATL, 2014).

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O levantamento exaustivo da ligação entre companhias aéreas de baixo custo e turismo, pela importância para a investigação, permitiu, por um lado, constatar a ligação existente entre estas duas realidades, com as low cost carriers a dar um forte impulso para o desenvolvimento do turismo. A análise aos diferentes trabalhos científicos publicados mostra como o tema está em franca expansão e, acima de tudo, deixou de estar circunscrito aos mercados maduros da América do Norte e Europa para apresentar evidências nos restantes mercados mundiais, sendo o fator preço a variável de eleição para a preferência deste tipo de companhias aéreas.