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4. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA PARTE II

4.2. QUALITY BY DESIGN

4.2.10. PLANEJAMENTO DE EXPERIMENTOS

O planejamento de experimentos pode ser entendido como um procedimento no qual alterações propositais são feitas nas variáveis de entrada de um processo ou sistema, de modo que se possam avaliar as possíveis alterações sofridas pela variável resposta, como também as razões dessas alterações (MONTGOMERY, 2009).

O planejamento de experimentos consiste em um experimento projetado, podendo ser um ensaio ou uma sequência de ensaios onde são aplicadas modificações

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deliberadas ou estímulos nas variáveis de entrada (inputs) do processo ou sistema, de modo que seja possível observar e identificar seus efeitos nas respostas ou nas variáveis de saída (outputs). O processo ou sistema de transformação, representado na FIGURA 39 é sensível à ação combinada ou não de máquinas, métodos, pessoas e outros recursos que transformam o material de partida em produto acabado, com especificações estabelecidas.

FIGURA 39: MODELO GENÉRICO DE UM PROCESSO OU SISTEMA FONTE: MONTGOMERY, 2009

Algumas das variáveis de processo (x1), x2). . . , xp são controláveis, enquanto outras( z1, z2, . . . , zq) são não são possíveis de controlar (também chamadas de ruídos). MONTGOMERY (2009) ressalta que os objetivos do experimento podem incluir:

1) Determinar quais são as variáveis críticas x para a variável de resposta y; 2) Determinar os valores da variável crítica x para que a variável de resposta y se mantenha próxima ao valor nominal;

3) Determinar os valores da variável crítica x para que a variável de resposta y tenha mínima variabilidade;

4) Determinar os valores da variável crítica x para que os efeitos das variáveis incontroláveis z na variável de resposta y sejam minimizados.

5) Dessa forma, métodos de planejamento de experimentos podem ser utilizados tanto no desenvolvimento do processo ou no seu aprimoramento ou na solução de problemas do processo, para melhorar seu desempenho ou ainda para torná-lo robusto ou insensível às fontes externas de variabilidade. Um planejamento adequado permite a redução da variabilidade de resultados, de custos, de tempo dos processos, conformidade mais próxima da nominal e melhoria do rendimento.

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CALADO & MONTGOMERY (2005) destacam que entre as aplicações do planejamento de experimentos podemos encontrar:

1) Avaliação e comparação de configurações básicas de projeto; 2) Avaliação de diferentes materiais;

3) Seleção de parâmetros de projeto;

4) Determinação de parâmetros de projeto que melhorem o desempenho de produtos.

5) Obtenção de produtos que sejam mais fáceis de fabricar, que sejam projetados, desenvolvidos e produzidos em menos tempo, que tenham melhor desempenho e confiabilidade que os produzidos pelos competidores.

O planejamento de experimento possui como principais benefícios, segundo UNTERLEIDER (2006) e BONDUELLE (2000):

• Redução do tempo de desenvolvimento do produto;

• Amparo na busca do melhor projeto de processo, assegurando a qualidade final do produto;

• Aumento da satisfação do consumidor com o produto;

• Redução do número de variáveis do produto e do processo;

• Suporte na descoberta de ajustes das variáveis de processo com maior influência na saída do processo;

• Redução de custos de desenvolvimento de produtos e processos;

• Diminuição da sensibilidade do produto e do processo com relação às variações de fabricação e às variações ambientais;

• Auxílio na determinação do ajuste do fator ótimo para a melhor performance do processo;

• Apoio no desenvolvimento de novos processos e tecnologias de fabricação;

• Melhoria da produtividade do processo, a confiabilidade do produto e a capacidade do processo.

• Diminuição do número de ensaios;

• Estudo de um número considerável de fatores;

• Detecção das interações entre os fatores;

• Detecção dos níveis ótimos

• Melhoria da precisão dos resultados;

• Otimização dos resultados.

As experiências devem ser realizadas sequencialmente. A primeira delas, chamada experimento exploratório ou de peneiramento “screening”, é usada para

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determinar que variáveis são importantes (variáveis críticas). Os experimentos subsequentes são usados para definir os níveis das variáveis críticas identificadas anteriormente, que resultam em um melhor desempenho do processo (CALADO & MONTGOMERY, 2003).

Segundo CALADO & MONTGOMERY (2003), o planejamento permite obter um modelo matemático apropriado para descrever um certo fenômeno, usando o mínimo possível de experimentos. O planejamento experimental permite eficiência e economia no processo experimental e o uso de métodos estatísticos na análise dos dados resulta em objetividade científica nas conclusões.

MONTGOMERY (2009) estabelece as diretrizes para o planejamento de experimentos, sumarizados em sete passos:

1. Reconhecimento e relato do problema – um brainstorm, envolvendo as partes envolvidas no processo a ser estudado (engenharia, qualidade, marketing, cliente, gestor, operação) pode contribuir para a definição do problema e sua solução;

2. Escolha dos fatores e níveis11 – as variáveis de entrada correspondem aos fatores

ou causas do processo, enquanto a variável resposta corresponde ao efeito desse processo. Os fatores podem ser divididos em níveis que correspondem às faixas de valores das variáveis de controle. Por exemplo, se o fator estudado for temperatura, os níveis podem ser 100º, 120º e 140ºC, ou seja, três níveis de verificação;

3. Seleção da variável-resposta – certificar-se de que a variável resposta fornece informação útil sobre o processo em estudo;

4. Seleção do planejamento experimental – envolve considerar o tamanho da amostra, as sequências das corridas (aleatoriedade), o número de réplicas, as restrições dos experimentos e as possíveis interações que possam vir a ocorrer entre os fatores que estão sendo avaliados;

5. Realização do experimento – de vital importância que haja o monitoramento do processo pela equipe ou por um supervisor, para assegurar que não ocorram erros neste estágio, que acabariam por invalidar o experimento;

11 Fatores ou Tratamentos: são as variáveis de controle ou entrada. Níveis: correspondem às faixas de valores das variáveis de controle

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6. Análise dos dados – uso da estatística desempenha um papel central na interpretação dos resultados, contribuindo para que as conclusões sejam objetivas, e não opiniões ou sentimentos. A análise dos resíduos e a verificação da validade do modelo são igualmente importantes;

7. Conclusões e recomendações – os dados avaliados podem subsidiar um plano de ação

Três princípios fundamentam um planejamento de experimentos: replicação, aleatoriedade e blocagem. A realização de experimentos com réplicas possibilita a obtenção do erro experimental (a estimativa desse erro é básica para avaliar se as diferenças encontradas nos dados apresentam significância estatística) e bem como a obtenção de uma estimativa mais precisa do fator em estudo (no caso da média ser usada para estimar o efeito de um fator no experimento.

A aleatoriedade tem o objetivo de eliminar tendências dos experimentos, garantindo a distribuição equânime de todos os fatores não considerados, distribuindo os erros no conjunto. A blocagem visa de aumentar a precisão de um experimento, por meio da comparação entre condições de interesse dentro de um mesmo bloco.

A blocagem é usada, por exemplo, quando uma determinada medida experimental é realizada por dois operadores distintos, possibilitando uma potencial heterogeneidade nos dados.

O planejamento de experimentos pode ser classificado pelo número de fatores experimentais a serem investigados, pela estrutura do delineamento (blocagem, aninhado, superfície de resposta), e pelo tipo de informação às quais o experimento se destina. A TABELA 21 apresenta os principais modelos de planejamento de experimentos relativos a esses critérios de classificação

TABELA 21: CLASSIFICAÇÃO DE PLANEJAMENTOS DE EXPERIMENTOS

COMPLETAMENTE ALEATÓRIO COM UM ÚNICO FATOR

Tipo de aplicação Aplicável quando somente um fator experimental está sendo estudado

Estrutura Básica: um fator é pesquisado distribuindo-se aleatoriamente unidades experimentais para os tratamentos (níveis do fator). Blocagem: nenhuma.

Informações adicionais

Estimativa e comparação dos efeitos do tratamento; estimativa da variância.

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Tipo de aplicação Aplicável quando diversos fatores estão sendo estudados em dois ou mais níveis, e a interação dos fatores pode ser importante.

Estrutura Básica: diversos fatores são pesquisados em vários níveis, realizando-se todas as combinações de fatores e níveis. Blocagem: nenhuma.

Informações adicionais

Estimativa e comparação dos efeitos de diversos fatores; estimativa dos possíveis efeitos de interação; estimativa de variância.

FATORIAL COM BLOCAGEM

Tipo de aplicação Aplicável quando o número de experimentos necessários para o fatorial é muito grande para ser executado em condições homogêneas.

Estrutura Básica: conjunto completo de combinações de fatores e níveis, divididos em subgrupos de forma que as interações de ordem superior são igualadas a blocos. Cada subgrupo constitui um bloco, e todos os blocos são utilizados.

Blocagem: os blocos são normalmente unidades de espaço ou tempo. As estimativas de determinadas interações são sacrificadas para que se possa obter a blocagem.

Informações adicionais

Idem ao fatorial, com exceção do fato de que as determinadas interações de ordem superior não podem ser estimadas.

FATORIAL FRACIONADO

Tipo de aplicação Aplicável quando há muitos fatores e níveis, sendo impraticável a utilização de todos os fatores

Estrutura Básica: diversos fatores são pesquisados em diversos níveis, mas somente um subgrupo do fatorial completo é utilizado. Blocagem: às vezes possível.

Informações adicionais

Estimativa e comparação dos efeitos de diversos fatores; estimativa de determinados efeitos de interação (alguns não estimáveis); determinados delineamentos fatoriais fracionários pequenos podem não fornecer informações suficientes para a estimativa da variância.

ALEATÓRIO COM BLOCAGEM

Tipo de aplicação Aplicável quando um fator está sendo estruturado e o material ou meio experimental pode ser dividido em blocos ou em grupos homogêneos.

Estrutura Básica: cada tratamento ou nível do fator é utilizado em cada bloco. Blocagem: normalmente relacionado somente a uma variável.

Informações adicionais

Estimativa e comparação dos efeitos dos tratamentos livres dos efeitos de blocagem; estimativa dos efeitos de blocagem; estimativa da variância.

INCOMPLETO BALANCEADO COM BLOCAGEM

Tipo de aplicação Aplicável quando todos os tratamentos não podem ser acomodados num mesmo bloco.

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Estrutura Básica: são feitas designações prescritas dos tratamentos para os blocos. Cada par de tratamento aparece no mínimo uma vez no experimento, mas cada lote contém somente um subgrupo de pares.

Informações adicionais

O mesmo que o delineamento com blocagem aleatória, onde todos os efeitos são estimados com igual precisão, e as médias ajustadas para os blocos.

INCOMPLETO PARCIALMENTE BALANCEADO COM BLOCAGEM

Tipo de aplicação Aplicável caso um bloco incompleto exige um número maior de blocos do que o praticável.

Estrutura Básica: designações prescritas de tratamentos para os lotes

Informações adicionais

Idem ao delineamento aleatório com blocagem, mas os tratamentos não são estimados com a mesma precisão.

QUADRADO LATINO

Tipo de aplicação Aplicável quando um fator primário está sendo pesquisado e os resultados podem ser afetados por duas outras variáveis experimentais ou por duas fontes de não homogeneidade. Pressupõe-se a inexistência de interações.

Estrutura Básica: dois agrupamentos cruzados de unidades experimentais são efetuados, correspondendo às colunas e linhas de um quadrado. Cada tratamento ocorre uma vez em cada linha e uma vez em cada coluna. O número de tratamentos deve ser igual ao número de linhas e ao número de colunas. Blocagem: com relação a duas outras variáveis no arranjo bidimensional.

Informações adicionais

Estimativa e comparação dos efeitos do tratamento, livre dos efeitos de duas variáveis blocadas; estimativa e comparação dos efeitos de duas variáveis blocadas; estimativa da variância.

QUADRADO DE YOUDEN

Tipo de aplicação Idem ao quadrado latino, mas não precisa ter o mesmo número de linhas, colunas e tratamentos.

Estrutura Básica: cada tratamento ocorre uma vez em cada linha. O número de tratamentos deve ser igual ao número de colunas. Blocagem: com relação a outras variáveis num arranjo bidimensional.

Informações adicionais

As mesmas do quadrado latino.

ANINHADO

Tipo de aplicação Aplicável quando o objetivo é estudar a variabilidade relativa em vez do efeito médio das fontes de variação. Exemplo para a variância de testes numa mesma amostra e a variância em diferentes amostras.

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Estrutura Básica: fatores são estratos em alguma estrutura hierárquica; as unidades são testadas a partir de cada estrato.

Informações adicionais

Variação relativa em diversos estratos, componentes da variância.

SUPERFÍCIE DE RESPOSTA

Tipo de aplicação O objetivo é o fornecimento de mapas empíricos (diagramas de contorno) ilustrativos de como os fatores sob controle do experimento influenciam a resposta.

Estrutura Os grupos de fatores são vistos como pontos definidores no espaço do fator (que pode ser multidimensional) nos quais a resposta será registrada.

Informações adicionais

Mapas que ilustrem a natureza da superfície de resposta.

DELINEAMENTO DE MISTURAS Tipo de aplicação Idem aos delineamentos fatoriais.

Estrutura Muitas matrizes únicas. Os grupos de fatores são limitados. Os níveis dos fatores frequentemente são percentagens que devem totalizar 100%. São possíveis outros elementos limitadores de níveis de fatores.

Informações adicionais

As mesmas do fatorial. FONTE: UNTERLEIDER, 2006 E VERONA, 2004

O planejamento de experimentos, baseado nesses fundamentos estatísticos, é sem dúvida alguma, uma ferramenta possante para se alcançar condições otimizadas de um processo, desenvolvimento da formulação de produtos dentro das especificações estipuladas ou simplesmente para avaliar os efeitos ou impactos que os fatores têm nas respostas desejadas. O fundamento do planejamento de experimentos propõe ensaios onde fatores e parâmetros são alterados justamente com a finalidade de se observar seus efeitos nas variáveis de resposta, evitando surpresas na etapa da produção. E o conhecimento obtido na etapa do desenvolvimento, de todas as variáveis críticas e suas interações leva a um ramp up12 mais suave e efetivo e a uma produção consistente e flexível.

O planejamento de experimentos encontra-se alinhado com a evolução das ciências farmacêuticas no âmbito industrial e a aplicação prática dos novos conceitos para o controle da produção farmacêutica e dos controles em processo, apoiando os principais aspectos empíricos da implementação do QbD.

12 Termo utilizado para designar as etapas iniciais do processo de fabricação das primeiras unidades dos produtos a serem comercializados (SILLOS, BARBALHO, ROJIC, 2012).

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4.2.11. ILUSTRAÇÃO: EMPREGO DO QBD EM DOIS ELEMENTOS CHAVE