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3.5 O CONTEXTO DOS BENS REVERSÍVEIS NO SETOR DE TELECOMUNICAÇÕES – A

3.6.1 Posição da Anatel sobre os bens reversíveis

A Anatel começou a tratar da reversibilidade de bens na concessão desde os idos de 2001, na Análise nº 006/2001, do Gabinete do Conselheiro Antônio Valente. Nela a Anatel pondera, ainda sobre os termos do Serviço Móvel Celular, então operado como concessão, que “os bens reversíveis são definidos como aqueles essenciais à continuação do serviço", tais como antenas, transceptores etc. Mencione-se, outrossim, no mesmo ano, o caso da solicitação pela Telesp para “terceirização de atividades de processamento de dados e alienação de bens associados a essas atividades e de imóvel que abrigava uma central telefônica” (Análise nº 061/2001 – Gabinete do Conselheiro Luiz Perrone). O Conselheiro relator, no que tange à alienação de bens para esse fim, afirmou que “na escritura de compra e venda do imóvel seja inserida cláusula contendo o ônus da reversão imposta à área onde se encontra implantada a central telefônica, inclusive, quanto a alienações sucessivas. Assim fica assegurada a reversibilidade de bem gravado no Contrato de Concessão e, consequentemente, garantida a continuidade dos serviços”. Em 2009, outra concessionária solicitou autorização para alienação de bem imóvel, o qual foi concedida por ser o bem “dispensável à continuidade e atualidade do serviço prestado em regime público”.554 Finalizando essa linha de precedentes, cite-se o caso, em 2010, em que se fez a distinção entre 555“quais imóveis seriam essenciais à prestação do SIFC ou seja, quais seriam hospedeiros de infraestrutura indispensável ao SIFC e quais seriam hospedeiros de prédios administrativos”.

Os precedentes sobre bens reversíveis continuaram nessa linha até aproximadamente o ano de 2011, quando se começou a alterar o entendimento antes exposto. Um caso ilustrativo

553 Idem, ibidem, pp 87-88. 554 Análise nº 645/2009-GCER. 555 Análise nº 513/2010/GCAB.

é o do pedido de reconsideração interposto da Telemar Norte Leste (atual Oi) contra decisão da Anatel que lhe havia aplicado multa por onerar um bem imóvel sem autorização da Agência. Eis as palavras do relator do caso 556:

Quanto ao argumento da empresa de que os imóveis em que estariam localizados os equipamentos de telefonia que, segundo entendimento da Telemar, seriam os únicos bens essenciais à prestação do STFC, dada a indispensabilidade desses bens para a prestação do serviço, entendo que tal argumento não merece prosperar. Isso porque a argumentação da empresa não prevê o fato de que se vier a perder o imóvel em que os equipamentos estão localizados, deverá efetuar adaptações em sua rede, o que poderá causar interrupções no serviço considerado essencial, afetando, por conseguinte a continuidade do STFC. Ademais, a condição de reversível ou não foi definida pela Administração Pública e somente a esta caberá dizer se tal bem deixou de ter tal condição. Não é demais destacar que no próprio Regulamento de Controle de Bens Reversíveis consta a reversibilidade de bem imóvel.

Essa visão caminha no sentido de afirmar que o patrimônio da Concessionária que seja utilizado, de uma forma ou de outra, para a prestação do serviço, é reversível. De forma semelhante, decidiu-se em outro caso de ano de 2001, que o “fato de existir no imóvel infraestruturas e equipamentos que são indispensáveis à prestação do STFC [...], implica, necessariamente, que o imóvel, enquanto abrigar esses equipamentos, deve ser considerado bem reversível, nos termos do Contrato de Concessão”.

De forma mais clara ainda, a visão patrimonialista encontra-se na Análise nº 329/2012, também do Conselheiro Jarbas Valente, segundo o qual “é em razão da necessidade de garantia da continuidade na prestação do serviço, além da de evitar a dilapidação do patrimônio, que existe a vedação da oneração de bens reversíveis sem anuência prévia da Anatel”. Torna-se cada vez mais patente a linha argumentativa, de vinculação da continuidade da prestação do serviço com o patrimônio da concessionária (evitar a dilapidação).

O caso paradigmático e que consolidou es visão na Anatel foi relatado pelo Conselheiro Rodrigo Zerbone557. Seu argumento principal girou em torno da importância do bem para o valor econômico da concessão de longo prazo558. Assim, a partir de 2012, começou a imperar na Anatel, mais claramente, a concepção patrimonialista da concessão,

556 Análise nº 307/2001, do Gabinete do Conselheiro Jarbas Valente. 557 Análise nº 131/2012.

558 Análise 131/2012-GCRZ, de 09/03/2012. Disponível em:

afetando a classificação de bens reversíveis, independentemente da função real desempenhada pelo bem na concessão.

Destarte, a reversão, nessa visão, está jungida ao patrimônio da concessionária, e não à necessidade de se cumprir o postulado da continuidade. O caso tratava justamente da venda de uma sede administrativa da empresa Telefônica, concessionária de STF no Estado de São Paulo (o conhecido caso Martiniano, no setor), que terminou sendo vetada pela Anatel. O viés patrimonialista ficou claro, ainda, quando a Procuradoria pretendeu limitar o uso de bens de terceiros pela concessionária, alegando risco de despatrimonialização. Ademais, segundo o consignado na própria decisão da Anatel, devem-se avaliar os bens da concessionária sob dois pontos de vista: um funcional e outro patrimonial, é dizer, deve-se considerar a “natureza, função e relevância do bem” juntamente à relevância econômica original do bem para a “atratividade da concessão” e os “efeitos da evolução patrimonial sobre a eficiência da concessão e sobre a modicidade tarifária”.

Já em 2015, o conselheiro Igor Freitas propôs uma revisão dos critérios adotados pela Anatel para classificação dos bens reversíveis. Por meio da Análise nº 5/2015-GCIF, de 6/3/2015559, entendeu que a reversibilidade está indissociavelmente ligada à imprescindibilidade para a prestação do serviço concedido e que bens puramente administrativos não são necessários para a continuidade do serviço, descabendo falar em reversão desses ativos. Até o presente momento, uma definição final ainda não foi tomada, estando em curso na Agência uma avaliação pela área técnica.

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