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É de extrema relevância a compreensão de que em nosso contexto social contemporâneo, em uma sociedade pautada pelo trabalho enquanto balizador da vida em sociedade, o emprego passou a ser uma preocupação recorrente na vida da grande maioria dos jovens, seja por necessidades socioeconômicas, seja pelo desejo do reconhecimento social, próprio de tal etapa do desenvolvimento. Dessa forma, o emprego, em especial o primeiro emprego, torna-se fator de fundamental importância para a concretização de projetos de vida, acesso a bens de consumo e aspectos culturais, sendo de forma ainda mais aprofundada, fator primordial para a construção da identidade desse jovem (MONTEIRO; VALE, 2011).

A inserção de jovens no mercado de trabalho brasileiro vem sendo um grande desafio ao longo de toda a história do país. Desde a República Velha até a atualidade as relações de classes permeiam tal inserção, não sendo novidade o fato de que jovens pertencentes às famílias com melhores condições socioeconômicas possuem melhores condições educacionais o que em muito facilita o acesso a trabalhos mais qualificados, restando aos jovens em vulnerabilidade socioeconômica apenas ocupações que lhes permitam a subsistência (SANTOS; GIMENEZ, 2015).

Trevisan e Veloso (2007), apontam que as faixas etárias mais jovens são as mais afetadas pelo desemprego. Tal fato se deve em virtude da disparidade entre as vagas ofertadas e o perfil profissional do jovem, tendo em vista que o mercado de trabalho tem exigido maior capacitação e experiência, excluindo desse modo os jovens que não se enquadram nos requisitos estipulados. O Boletim Mercado de Trabalho, elaborado pelo IPEA, identificou que em 2016 a população na faixa etária entre 14 e 24 anos apesentou uma média de desemprego três vezes maior que a da população adulta. Sendo assim, no período avaliado, 27,2% dos jovens encontravam-se desempregados, já os adultos, na faixa etária entre 25 a 59 anos, apresentaram o índice de 9,1% de desemprego (IPEA, 2017).

Dados da PNAD referentes ao primeiro trimestre de 2016 indicam que a desocupação aumentou exponencialmente entre os jovens com até 24 anos, a pesquisa informa ainda o crescimento de desocupados entre 14 e 17 anos, o qual chegou a 37,9%, aumento de 80,5% em relação ao último ano. Tais dados expressam o fato de que o Brasil possui mais que um terço da população jovem entre 14 a 17 anos em situação de desemprego, sendo tais dados sinais alarmantes do quadro de desemprego apresentado atualmente em nosso país. Ainda, a PNAD de 2007 apresentou que apenas 15,8% da população jovem brasileira vivia em famílias com renda per capta superior à 2 salários mínimos mensais, o que significa dizer que 84,2% da população jovem brasileira vivia com menos de 2 salários mínimos mensais de renda per capta e, dentre essa população, 30,4% viviam com menos de meio salário mínimo per capta, enquadrando-se nos parâmetros de pobreza (RODRIGUES, 2017).

Se você visita as intermináveis filas dos postos do Sistema Nacional de Emprego (Sine), verá nelas uma multidão de jovens de ambos os sexos, com seus rostos tristes, porque sabem que no fim da fila não haverá a vaga e se houver, ele será incapaz de preenchê-la, pois deveria atender às exigências de boa qualificação, que ele não tem, enfrentar um dificílimo processo seletivo, por causa do alto número de candidatos, para concorrer a um baixo salário (EMEDIATO, 2003, p. 1).

Conforme Pochmann (1993) com as modificações o mundo do trabalho que se estabelecem atualmente, os índices de desemprego tendem a aumentar cada vez mais pois, os trabalhos que garantiam maior estabilidade sofreram redução considerável, tanto em nível de Estado quanto privado, assim, a insegurança se mostra como uma constante nas relações de trabalho atuais, acompanhada por condições precárias de trabalho, o aumento das terceirizações e subcontratações as quais tornam-se cada vez mais presentes com as atuais modificações nas legislações trabalhistas. Com o acelerado fechamento de postos de trabalho, a competitividade alimentada por um mercado que exige cada vez mais qualificação para menos benefícios, e a insuficiência de renda se aproximando da realidade de um número cada vez maior de famílias, os trabalhos informais, mesmo que precários, toram-se uma alternativa de renda.

Os projetos socioeducativos abarcam, desse modo, uma população de crianças e jovens que passam gradativamente a se tornar “estatística” e, em muitos momentos, tristes estatísticas. Afinal, o que fazer com uma população de jovens trabalhadores que não é mais absorvida pelo mercado? O que fazer com uma população desesperançosa com seu futuro, que surge nos índices estatísticos como a população mais violenta, que mais consome drogas, principalmente álcool? (ZUCCHETTI; MOURA; MENESES, 2014, p. 162).

Moura e Possato (2012) indicam duas tendências presentes na população juvenil brasileira em relação ao mercado de trabalho, sendo um grupo de jovens os quais possuem boas condições socioeconômicas e deste modo investem em mais anos de escolarização e

qualificação, postergando a entrada no mercado de trabalho com vistas a que esta se dê em colocações mais favoráveis no futuro. Em contrapondo, outro grupo de jovens os quais em geral são pertencentes a famílias em vulnerabilidade socioeconômica, acabam por antecipar a entrada no mercado de trabalho, muitas vezes deixando em segundo plano a conclusão da educação básica, submetendo-se a subempregos visando contribuir financeiramente nas despesas da família.

O Relatório Trabalho Decente e Juventude, produzida pela OIT (2013), expõe o fato de que a situação de desemprego é identificada em proporções expressivamente maiores entre os indivíduos com níveis educacionais mais baixos. Assim, Oliveira (2000) salienta que o lugar que comumente é reservado para jovens pobres nas divisões do mercado de trabalho caracteriza-se por ocupações de baixa qualificação, pautadas pelo trabalho manual e precário, pago com remuneração reduzida, quando não, o próprio desemprego.

Há ainda a questão da experiência a qual é uma das primeiras barreiras na inserção no mercado de trabalho constituindo-se enquanto paradoxo pois, os jovens necessitam de experiência para conseguir uma oportunidade de emprego, contudo, precisam trabalhar para ter tal experiência, e deste modo, jovens que não são absorvidos por programas de aprendizagem profissional ou estágios que fomentam a inserção no primeiro emprego, visando qualificar o jovem e preparar o mesmo para o mundo do trabalho, acabam por buscar a iniciação laboral em subempregos (MOURA; POSSATO, 2012). Em relação a barreira que a falta de experiência impõe aos jovens, Carolina na entrevista após a conclusão do curso de aprendizagem profissional enfatizou que por mais que ela tenha a experiência do curso, muitos lugares exigem mais do que isso para a contratação, não oportunizando novas experiências. Refere:

Quando eu fiz o curso me falavam que era uma ótima oportunidade, que por já ter a carteira assinada na minha idade seria muito fácil conseguir emprego depois do curso. Mas estou procurando emprego há meio ano e não acho nada.

Oliveira (2000) aponta para o fato de que a bibliografia sobre as questões de jovens e mercado de trabalho em geral retratam o jovem como coadjuvante no orçamento doméstico pois em geral, os jovens são pensados enquanto filhos e filhas e não enquanto responsáveis familiares. Assim, a autora indica que, mesmo que em menor número, não se pode invisibilizar os jovens que, tendo em vista o desemprego dos responsáveis, acabam por encarrar a responsabilidade de prover o lar, ainda, há os jovens que já constituíram uma nova unidade doméstica, e deste modo, são responsáveis pelo sustento de si e em alguns casos dos filhos e cônjuge, sendo que tais situações são identificadas especialmente em relação a jovens

em vulnerabilidade socioeconômica. Conforme relato da jovem Sofia, na entrevista após o curso:

Eu acho que faltou conhecer mais a realidade dos jovens, porque tinha muita gente lá com dificuldade, e não era pensado nisso, tinha colegas que era o salário do curso que sustentava a casa.

Importante destacar que as questões percebidas na atualidade brasileira, com a diminuição de direitos trabalhistas, a partir da reforma trabalhista, a qual permite terceirizar inúmeras atividades laborais, ampliando a exploração do trabalho. O congelamento de gastos públicos, e o desmantelamento do sistema de seguridade social por meio da proposta de reforma da previdência, a qual dificulta ainda mais o acesso a benefícios previdenciários, em especial aos mais pobres, entre outros, são um panorama que amplia as questões de vulnerabilidade social, impactando especialmente a parcela populacional já tão vulnerabilizada e violentada como a juventude periférica. Compreende-se assim que tais medidas se constituem enquanto um desmonte de políticas públicas e violação a direitos sociais já antes conquistados pelo povo brasileiro (JACQUES, 2019; GREGORI; VERONESE, 2019).

Um claro exemplo desse movimento mostra-se como a Lei 13.467, de 13 de julho de 2017, conhecida como Reforma Trabalhista, que acarreta em uma maior flexibilização e precarização do trabalho, ao regulamentar, por exemplo, a terceirização e o trabalho intermitente, isso é, contratação de trabalhos de forma não contínua. Esses são apenas dois exemplos das alterações dessa reforma, que tende a ampliar, ainda mais, a precarização do mundo do trabalho, o que atinge diretamente as juventudes, uma vez que esse segmento social se mostra como o que mais vem sofrendo com a dinâmica laboral das últimas décadas em todo o globo, especialmente, em países com o desenvolvimento capitalista dependente, como é o caso do Brasil (SCHERER; PERONDI, 2018, p. 115).

Ainda segundo os autores Monteiro e Vale (2011), a não inclusão do jovem no mercado de trabalho não fará referência apenas ao desemprego do mesmo em aspectos puramente econômicos, mas sim, sendo o trabalho compreendido enquanto experiência de extrema importância para o desenvolvimento do indivíduo, a dificuldade no acesso e permanência no mercado de trabalho, ou a inclusão de forma inadequada, torna-se uma influência bastante negativa para a construção de identidade desse sujeito.