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Como já havia realizado toda a experiência com o Grupo de Jovens no CRAS, jovens os quais ainda não haviam tido a oportunidade de participar de um curso de aprendizagem 5 É uma associação civil, de direito privado, sem fins lucrativos, de assistência social beneficente, educacional e cultural e autossustentável, que tem como missão desenvolver iniciativas socioassistenciais e socioeducativas que promovam a capacitação e a inserção dos jovens ao mundo do trabalho. Ver mais em http://www.cieers.org.br

profissional, e contribuíram com suas reflexões a respeito dos trabalhos informais que executaram e suas expectativas frente ao primeiro emprego, senti a necessidade de ter contato com os jovens que já estivessem imersos nesse processo de aprendizagem, já tendo realizado a parte teórica do curso, estando em processo de adaptação ao ambiente de trabalho nas empresas contratantes.

Assim, dei início a experiência de campo, na LEFAN, instituição parceira, a qual já havia feito contatos por meio do Grupo de jovens do CRAS, e tendo em vista que a instituição faz parte da rede de serviços socioassistenciais do município, com a qual, devido ao trabalho como psicóloga do CRAS, mantive contato frequente desde o início de minha atuação profissional. Ao fazer contato com a LEFAN, solicitei espaço para realizar a experiência de grupos de reflexão com os jovens participantes do programa de aprendizagem profissional ofertado pela instituição, sendo tal experiência aprovada pela coordenação, e deste modo pude dar início ao contato com os jovens e a pesquisa documental.

Ao longo da pesquisa, foi possível contar com a ampla colaboração da instituição, a qual se mostrou em todos os momentos engajada em sua missão, por meio dos educadores que compunham o programa de aprendizagem profissional, mantendo uma relação próxima com os alunos, e relatando com frequência a preocupação frente a situações de vulnerabilidade que se apresentavam nas trajetórias sociais dos aprendizes, buscando auxiliar os mesmos na superação de suas demandas. Entende-se que a instituição se dedica para executar um programa de aprendizagem em consonância com as legislações, possuindo diversos programas e projetos para além da aprendizagem profissional, tendo deste modo influência direta na superação de diversas situações de vulnerabilidade social apresentadas por inúmeras pessoas beneficiadas pelas ações desenvolvidas pela Lefan.

Assim, esta pesquisa não busca de forma nenhuma apontar irregularidades na instituição, nem mesmo desqualificar os serviços prestados por seus colaboradores, e sim, mostrar como um programa de aprendizagem profissional, o qual é apenas uma amostra dos diversos programas similares que são desenvolvidos no município, e em todo o território nacional, pode representar um grande fator de promoção da inclusão social e superação de vulnerabilidades presentes nas trajetórias dos jovens em situação de vulnerabilidade socioeconômica. Porém, pode também retroalimentar e agravar situações de vulnerabilidade ao realizar inclusões excludentes, quando atua de forma desarticulada com outras políticas públicas e não busca conhecer as demandas dos jovens, focando em atender as demandas do mercado, e não desenvolver o pensamento crítico e potencialidades dos jovens, não respeitando suas pluralidades, ao executar suas ações sem analisar os resultados e os impactos nas trajetórias desses jovens.

Deste modo compreende-se que o programa de aprendizagem profissional desenvolvido pela Lefan, se mostra sim como uma ótima ação desenvolvida regionalmente em prol dos jovens munícipes, como apontado por muitos jovens ao longo da pesquisa e observado ao longo das intervenções no campo, sendo transparente em seus processos ao abrir as portas da instituição para a realização desta pesquisa, e buscando sempre a excelência em seus serviços prestados a partir de uma constante avaliação sobre suas ações. Porém, assim como a grande maioria dos programas, apresenta pontos a serem aprimorados visando cada vez mais a efetividade nas ações de inclusão produtiva e redução das desigualdades sociais,

Assim a organização do trabalho se deu da seguinte forma:

 Setembro/2018 – Contato com a instituição, levantamento de dados históricos, estrutura da instituição, cursos ofertados.

 Outubro e novembro – transcrição dos encontros, tabelamento de dados coletados, pesquisa documental aos cadastros dos alunos.

Seguiu-se, assim, o seguinte cronograma de encontros e seus protocolos de pesquisa nos grupos de reflexão que foram sendo estruturados.

Outubro:

04.10 – Grupo A – Conhecer o contexto dos jovens, vivências, o desejo por uma atividade laboral. O que mudou durante a experiência no programa?

11.10 – Grupo B – Conhecer o contexto dos jovens, vivências, o desejo por uma atividade laboral. O que mudou durante a experiência no programa?

18.10 – Grupo A – Mercado de trabalho, acesso às empresas, percurso do curso na unidade x empresa, desafios, ansiedades, frustrações. O que planejo para após a conclusão do curso? Me sinto preparado? Me percebo diferente de como era antes de iniciar no programa?

25.10 – Grupo B – Mercado de trabalho, acesso às empresas, percurso do curso na unidade x empresa, desafios, ansiedades, frustrações. O que planejo para após a conclusão do curso? Me sinto preparado? Me percebo diferente de como era antes de iniciar no programa?

Novembro:

01.11 – Grupo A – Encerramento do Grupo, reflexão sobre os principais temas suscitados ao longo dos encontros.

08.11 – Grupo B – Encerramento do Grupo, reflexão sobre os principais temas suscitados ao longo dos encontros.

Tal cronograma se deu visando atender ao objetivo da pesquisa. Ou seja, ao longo da ocorrência dos grupos de reflexão com os jovens participantes dos programas de aprendizagem profissional, foi possível identificar suas percepções sobre a interrelação de sua inserção no programa com as oportunidades de inclusão/exclusão social. O roteiro de conversas e entrevistas acima descritas foram apenas disparadoras para os diálogos com os distintos grupos de jovens uma vez que, como veremos ao longo dos capítulos, muitos outros assuntos foram trazidos pelos meus parceiros da pesquisa, os quais expuseram suas demandas, pensamentos, motivações e expectativas ao longo dos encontros, apresentando deste modo dados que enriqueceram a pesquisa.

Ainda, no mês de junho de 2019, foram realizadas 4 entrevistas com jovens egressos do programa de aprendizagem, buscando compreender o impacto da aprendizagem profissional em suas trajetórias sociais, como será apresentado ao longo dos capítulos.

Figura 2: Lefan, fachada e interior

Fonte: Arquivo pessoal da autora

A Lefan, instituição sede da pesquisa, foi fundada em 7 de setembro de 1965. Ao longo dos mais de 50 anos de existência desenvolve atividades na área da assistência social com a missão de promover a Vida e Paz buscando resgatar a dignidade humana e os valores seguidos por São Francisco de Assis. A Entidade é mantida pela Associação Literária São Boaventura (Editora São Miguel) e presta serviços de forma gratuita, planejada, permanente e

contínua. Investe seus recursos na multiplicação de ações transformadoras, com foco no fortalecimento e protagonismo da família, atendendo crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos que se encontram em situação de vulnerabilidade e risco social (FOLDERS LEFAN, 2018).

A sede está estabelecida na Rua General Mallet, nº 33, bairro Rio Branco, Caxias do Sul, Rio Grande do Sul. A Lefan possui como missão “acolher, resgatar e promover as famílias necessitadas através da educação e da Assistência Social”. Possui enquanto visão “desenvolver, promover e executar projetos educacionais e de assistência social que estimulem e exercitem o desenvolvimento individual e coletivo, objetivando qualidade de vida”. Ainda, possui enquanto valores a “acolhida; comprometimento; Mística Franciscana7 e competência” (FOLDERS LEFAN, 2018).

Na época da pesquisa a instituição atendia por meio de projetos sociais desde a criança até o idoso, oferecendo cursos profissionalizantes com encaminhamento para o mercado de trabalho, atendimento jurídico, psicológico, nutricional, odontológico e serviços de podologia. Além disso oportunizava a formação da aprendizagem profissional de adolescentes e jovens para inserção no mercado de trabalho (FOLDERS LEFAN, 2018).

Ressalta-se que em grande parte o espaço oportunizado pela instituição se deu devido ao fato de que a entidade ao longo deste segundo semestre de 2018 passou por uma reestruturação, perdendo grande parte de sua equipe pelo corte de subsídios governamentais. Deste modo, a realização de grupos de reflexão com os jovens, os quais frequentavam a instituição apenas uma vez por semana (passando os demais dias nas empresas contratantes), foi uma forma de compensar a falta de equipe disponível e para que a partir destes grupos de reflexão fosse possível acompanhar as vivências dos jovens em relação a adaptação no ambiente de trabalho, auxiliando os mesmos nas ressignificações e planejamentos de futuro para além do curso.

A entrada em campo, se deu de forma diversa da minha entrada anterior no pré-campo a qual se deu por meio da formação de um grupo de jovens no qual tive papel central, e principalmente tendo em vista que ele ocorreu a partir da elaboração de um projeto do CRAS onde já era meu campo de atuação profissional diário. Durante meu pré-campo fui responsável por organizar as atividades dos jovens assim como a sua formação na modalidade de grupo reflexivo desde seu planejamento até o enceramento.

Por outro lado, no grupo de aprendizagem profissional da Lefan, os jovens que participaram da pesquisa encontravam-se realizando a segunda metade do seu curso de 7 Mística Franciscana: Para os irmãos que o Senhor nos dá, numa demonstração de solidariedade, o

formação, com um vínculo formado entre eles ao longo de um convívio diário na referida instituição de mais de meio ano.

Tendo em vista esses fatores, foi necessário negociar minha entrada em campo no interior da instituição e entre os jovens, apresentando os objetivos da pesquisa e buscando a aprovação de ambos para que fosse possível minha presença em seu contexto. Assim, como referem Rocha e Eckert (2008):

Para o(a) etnógrafo(a) “entrar em campo” significa tanto a permissão formal do “nativo” para que ele disponha de seu sistema de crenças e de práticas como objeto/tema de produção de conhecimento em antropologia, quanto o momento propriamente dito em que o(a) antropólogo(a) adquire a confiança do(a) nativo(a) e de seu grupo, os quais passam a aceitar se deixar observar pelo(a) etnógrafo(a) que passa, por sua vez, a participar de suas vidas cotidianas.

Após contato com diversas instituições por meio das reuniões do Fórum da Serra Gaúcha de Aprendizagem Profissional, e palestras realizadas como voluntária por meio da Coordenadoria da Juventude de Caxias do Sul, nas instituições formadoras ao longo do segundo semestre de 2018, percebi um universo vasto de possibilidades para a realização da pesquisa. Assim, conhecendo a realidade das instituições, foi estabelecido dois critérios para seleção da instituição que seria o foco dessa pesquisa, sendo tais critérios: (1) trabalhar exclusivamente com jovens em situação de vulnerabilidade socioeconômica; (2) incluir os jovens no mercado de trabalho ao longo do curso, possibilitando além da aprendizagem teórica, a aprendizagem prática e a vivência real do primeiro emprego em suas possibilidades e dificuldades.

A Lefan foi, portanto, a única instituição que permaneceu após a aplicação dos dois critérios estabelecidos para a pesquisa que originou esta dissertação, pois outras instituições como as unidades do Projeto Pescar, o CIEE RS, o Centro Profissionalizante para a Cidadania Murialdinas São José, o SENAI, o Instituto Elisabetha Randon e a Escola de Formação Profissional Marcopolo com as quais a pesquisadora entrou em contato, trabalham com público de rendas familiares variadas, não exclusivamente com vulnerabilidade socioeconômica.

Como se pode constatar, mesmo sendo a baixa renda familiar um dos critérios estipulados nos editais de inscrição em projetos formação profissional para jovens vivendo em situação de vulnerabilidade socioeconômica, ele não se torna obrigatório ao longo do processo de seleção, e desse modo existem jovens frequentando os programas de formação que não se enquadram nos critérios desta pesquisa.

Diferentemente dos demais o Centro de Formação Profissional Murialdo, o qual trabalha exclusivamente com público em vulnerabilidade socioeconômica, realiza o curso em

sua totalidade apenas na instituição de aprendizagem, mas não incluindo os jovens em atividades práticas de trabalho nas empresas contratantes, o que descartou tal instituição como um espaço possível para realização da pesquisa, tendo em vista a relevância para este trabalho de conhecer o ponto de vista dos jovens sobre o primeiro emprego.

Assim, considero a experiência com o Grupo de Jovens do CRAS (pré-campo) e com os grupos de reflexão do Programa de Aprendizagem Profissional da Lefan e posteriormente as entrevistas com os jovens egressos como experiências fundamentais as quais me auxiliaram na elaboração desta dissertação.