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Conforme apresentado na Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais (Resolução do CNAS nº 109/2009), o PAIF é um trabalho de caráter continuado, realizado com as famílias em vulnerabilidade, o qual visa fortalecer a função protetiva das famílias, evitando a ruptura dos vínculos familiares, garantindo o acesso a direitos sociais, objetivando assim a melhora na qualidade de vida. O trabalho em PAIF deve articular a rede socioassistencial com as demais políticas como a de educação e saúde, entre outras, ampliando assim o acesso à informação e proporcionando a garantia de direitos às famílias usuárias do serviço (MDS, 2016).

O PAIF vai além de auxiliar as famílias no enfrentamento de vulnerabilidades e riscos, buscando assim identificar e desenvolver potencialidades dos indivíduos, fortalecendo recursos disponíveis das próprias famílias em suas formas de organização, promovendo a inserção social e a articulação com as redes de apoio sociofamiliares. Assim, o CRAS é a referência nos territórios para o acesso aos serviços socioassistenciais da proteção social básica do SUAS, com foco no atendimento a famílias e aos indivíduos, compreendendo as situações de vulnerabilidades vivenciadas de forma abrangente, visando a resolução de forma efetiva das demandas apresentadas (MDS, 2016).

Cabe destacar que as ações do PAIF são desenvolvidas individual e coletivamente, necessitando de planejamento e avaliação técnica para a implementação. Atualmente a Política de Assistência Social busca trabalhar de forma prioritariamente coletiva. Assim, as atividades de caráter coletivo ganham especial relevância, de modo que visam promover o diálogo, e com ele a troca de experiências e valores, colocando em pauta situações vivenciadas por grande parte das famílias, as quais vem afetado os indivíduos e a comunidade, favorecendo a reflexão sobre as vulnerabilidades, riscos e potencialidades encontradas nos territórios. Tal diálogo contribui para o desenvolvimento de projetos coletivos e permite que a própria comunidade tenha protagonismo na busca pela resolução das demandas apresentadas (MDS, 2016).

Escutar a demanda dos usuários do CRAS foi o passo inicial para a elaboração do grupo de jovens, pois a verbalização de preocupações em relação ao futuro dos jovens integrantes das famílias era uma constante ao longo dos atendimentos com os responsáveis familiares, especialmente pelas questões de violência e tráfico de drogas que se faziam presentes no território. De forma complementar ao PAIF são propostos grupos de acompanhamento familiar, os quais visam além do fortalecimento de vínculos sociais, a

prevenção de situações de risco e da ruptura de vínculos familiares e comunitários. Em geral são realizados grupos aproximando indivíduos pela faixa etária, porém existem grupos intergeracionais, grupos de mulheres, grupos por temáticas, entre outros. Favorecendo as trocas culturais e de vivências entre os usuários, desenvolvendo ainda o sentimento de pertença e de identidade (MDS, 2016). Prima-se que a periodicidade dos grupos seja regular, tendo em vista que o objetivo é o fortalecimento dos vínculos e convivência comunitária.

Assim, inicialmente foi proposto a realização de um Grupo de Pais e Filhos no CRAS, sendo convidadas famílias que já traziam relatos de conflitos ao longo do acompanhamento em PAIF, ou mesmo famílias indicadas pelo Conselho Tutelar. Porém, a ocorrência desse grupo não se consolidou tendo em vista que a maior parte dos jovens se negava a comparecer nos encontros, enquanto que os que compareciam se sentiam hostilizados pelos responsáveis familiares que expunham situações íntimas no coletivo. Assim, optou-se por manter o grupo enquanto grupo de pais e responsáveis familiares, sem a presença dos jovens, visando auxiliar os responsáveis na compreensão das juventudes, com orientações sobre comunicação assertiva e acolhendo as demandas trazidas.

Com essa experiência, compreende-se que as atividades necessitam ser planejadas, visando a integração e a criação de situações que favoreçam a reflexão e que estimulem os indivíduos na elaboração, construção e reconstrução de suas histórias, oferecendo aos usuários alternativas emancipatórias para o enfrentamento das demandas que apresentam. Os encontros do grupo buscam possibilitar situações de convivência, favorecendo diálogos e atividades que constituem algumas dessas alternativas (MDS, 2016).

É de extrema importância que o profissional que atua no SUAS saiba articular as ações individuais com as ações coletivas, de modo que ultrapasse o modelo antigo de assistencialismo, o qual prolongava-se apenas em ações cadastrais, estatísticas e concessão de benefícios eventuais. Mas sim, busque atuar de forma que possibilite o protagonismo do indivíduo na superação da situação de vulnerabilidade em que enfrenta, favorecendo o rompimento do ciclo de vulnerabilidade no qual muitas vezes a família se encontram a gerações (MDS, 2009; MDS, 2016).

Desta forma, o PAIF busca desenvolver ações voltadas prioritariamente ao coletivo, tendo em vista que as demandas sociais como a dificuldade de renda que culmina na insuficiência de alimentos, moradia precária, dificuldade no acesso a direitos sociais, entre outras, são vivenciadas na atualidade por inúmeras famílias nos territórios de atendimento dos CRAS. Compreende-se que o trabalho no coletivo possibilita que as famílias possam, a partir da troca de vivências e experiências, refletir sobre a situação em que se encontram e buscar

formas de superar as demandas, tornando-se autônomas e independentes de políticas públicas (MDS, 2016).

A partir desse percurso de implementação de grupos, avaliando a vinculação das famílias e os resultados, foi possível desenvolver o projeto do grupo de jovens. Naquele momento, compreendeu-se que os jovens referenciados ao CRAS necessitavam de um espaço de expressão, escuta e reflexão, com orientações sobre os mais diversos assuntos que perpassam as juventudes, em um ambiente sem julgamentos, e a presença de seus responsáveis familiares acabava por retraí-los. Desta forma, foi apresentada a proposta para os responsáveis familiares para que estes pudessem convidar os jovens para conhecer o grupo, e a partir daí foi possível realizar a experiência de pré-campo já mencionada.

Assim, é possível identificar uma boa ação de articulação da rede socioassistencial tanto no pré-campo quanto no campo, ao passo em que as demandas dos jovens foram identificadas dentro dos territórios, por profissionais que atendem as famílias, e a indicação para a inclusão no curso se deu visando romper com o ciclo de vulnerabilidade muitas vezes presente na realidade familiar há gerações. Porém, muito se tem ainda a avançar e aprimorar na articulação em rede de políticas públicas pois, em muitos casos, houve o encaminhamento, porém, sem uma sequência de acompanhamento para verificar dificuldades e potencialidades desta vinculação ao programa, culminando em situações como o caso dos jovens desligados do programa de aprendizagem da Lefan.

4.3 SERVIÇO DE CONVIVÊNCIA E FORTALECIMENTO DE VÍNCULOS E SUA