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4.2 Instrumento de pesquisa: Sequência Didática

4.2.2 Primeiro encontro

Por ser o primeiro encontro, alguns esclarecimentos foram realizados para tornar os estudantes cientes das etapas da pesquisa. Assim, neste dia foram informados que participariam de alguns encontros e durante estes momentos realizariam algumas atividades. Na ocasião, foi entregue um caderno de anotações (caderno de regras ortográficas confeccionado para cada aluno) para registrarem o que achassem interessante durante a aula. Firmou-se um acordo de que as atividades seriam realizadas em duplas, mas que eles não poderiam escolher o colega, a pesquisadora indicaria as duplas. Usamos como critério de formação de duplas o desempenho ortográfico, assim cada dupla seria formada por uma criança de alto desempenho ortográfico e uma criança de baixo desempenho ortográfico, indicadas por meio de sorteio.

O objetivo traçado para este primeiro encontro foi identificar quais eram as ideias iniciais que as crianças apresentavam sobre a regra do uso do R e RR, para atingi-lo não houve intervenção da pesquisadora quanto aos erros e/ou os acertos durante as respostas das atividades, apenas realizou provocações para contribuir nas discussões e reflexões, assim ouviu as hipóteses e transcreveu no quadro branco para posterior debate.

Para iniciar as atividades selecionamos na biblioteca da Escola S um livro paradidático que tivesse no mínimo dez exemplares e, ainda, que nele pudéssemos encontrar palavras que contemplassem as regularidades contextuais foco de nosso estudo, assim, utilizamos a obra “A cigarra e a formiga”. Uma vez selecionado, distribuímos para cada estudante, realizamos a leitura e discutimos um pouco sobre a história.

Em seguida, as crianças realizaram, individualmente, um ditado de frases que compõe o poema “Sem barra” (vide Anexo 01), tal poema sintetiza o conteúdo da fábula e algumas das palavras existentes contemplam alguns contextos de aplicação da regra do R tais como em final de sílaba (FORMIGA / FORMIGUEIRO), entre vogais (/r/: SERIA / INTEIRO - /R/: CARREGA / CIGARRA) e em encontro consonantal (TRABALHO / DISTRAI).

Na sequência, com o objetivo de promover uma reflexão entre as crianças sobre o conhecimento que cada uma possuía a respeito do uso do R ou RR, foi solicitado a elas que consultassem a sua dupla e comparassem a escrita das palavras (vide plano de atividade 01 APÊNDICE B). Observemos um exemplo de como ocorreu este momento:

Extrato 01

Aluno 6: 5 não errou nada!

Pesquisadora: Como é que você sabe que ele não errou? Você corrigiu? Aluno 6: Sim.

Pesquisadora: E você 5, corrigiu o de 6? Aluno 5: Vi

Pesquisadora: Ele errou? Aluno 5: Sim.

Pesquisadora: O quê?

Aluno 5: Ele colocou sem BARO. (falando /r/)

Pesquisadora: Como assim? Não entendi. Diz pra mim letra por letra. Aluno 5: Ele escreveu C-E-N-B-A-R-O.

Pesquisadora: 6, a palavra que você escreveu foi ... Aluno 6: Sem barra.

Pesquisadora: 5, você disse que ele errou, e onde é que está o erro? Aluno 5: Ele errou no ... no C ...

Pesquisadora: Por quê? Aluno 5: Era com S. Pesquisadora: Ah!

Aluno 5: E no R ... ali ... era dois

Pesquisadora: E ... porque você diz que é com dois R?

Aluno 5: Porque ... porque se não fica ... (abaixa a cabeça e sorri

envergonhado)

A partir do extrato 01 pudemos perceber que o aluno 5 aponta e corrige a escrita de duas palavras realizadas pelo aluno 6, uma delas diz respeito ao uso de irregularidades ortográficas, no caso o “som do S” em início de palavras. A outra refere-se ao uso do R forte entre vogais, no caso a palavra BARRO. Também vimos que o aluno 5 embora consiga identificar o erro de escrita não consegue verbalizar o porquê de a palavra ser escrita com dois R, fato ocorrido, também, em conversa com as outras duplas. Ainda sobre este aluno, vale ressaltar que apresentou dificuldade no uso desta regra ao responder o ditado de palavras 1, conforme veremos mais adiante.

Durante a correção o aluno 6 em momento algum discordou das colocações feitas por sua dupla. Tal reação não ocorreu, apenas, nesta dupla, mas também com todas as outras onde os alunos (6, 7, 8, 9 e 10), nomeado em nossa pesquisa, como baixo desempenho não contestavam as correções e nem discordavam da sua dupla, que era um aluno com alto desempenho ortográfico, elas tendiam a não responder as perguntas feitas pela pesquisadora ou a afirmar que as palavras corrigidas estavam corretas. Estas reações levam-nos a pensar que talvez as crianças de baixo desempenho não tinham segurança nas suas respostas e, por isto, quando alguém dizia que estavam erradas tendiam a não discordar pela falta de clareza.

A fim de identificar nos conhecimentos prévios e a partir dos conflitos gerados durante a comparação das escritas as hipóteses que as crianças tinham sobre o uso do R, a pesquisadora, com o grande grupo, direcionou questionamentos a um integrante da dupla, vejamos um trecho deste momento no extrato 02:

Extrato 02

Pesquisadora: O que foi que aconteceu? Aluno 5: Ele esqueceu do R.

Pesquisadora: Soletra pra mim. Aluno 5: F-O-M-I-G-U-E-I-R-A

ENQUANTO A PESQUISADORA ESCREVE NO QUADRO Aluno 8: Ele quase acertava.

Pesquisadora: Por que ele quase acertava? Aluno 8: Por que faltou o R.

Pesquisadora: Onde?

Aluno 8: F – O – R – MIGUEIRO

Pesquisadora: E por que é que tem que ter o R? Aluno 8: Porque se não fica FOMI

Pesquisadora: E por que é que aqui não pode ser com RR? Aluno 8: Pode não!

Aluno 5: FÓR (enfatiza o som da vogal)

Pesquisadora: Por que 8, você disse pode não!

Aluno 8 (não responde a pergunta, olha para os demais colegas e sorri). TODOS FAZEM SILÊNCIO

Aluno 2 (em um tom de voz bem baixinho): Porque não pode ficar três consoantes juntas?

Pesquisadora: Vocês ouviram o que 2 acabou de dizer? Repete, por favor. Aluno 2: Porque se não vai ficar três consoantes juntas?

AS DEMAIS CRIANÇAS SE ENTRE OLHAM E ALGUMAS FRANZEM A TESTA, DEMONSTRAM NÃO TEREM ENTENDIDO O QUE A COLEGA ACABARA DE FALAR

Pesquisadora: Quais são as três consoantes? Aluno 2: FO-R-R-M

Pesquisadora: Vamos escrever para ver como é que fica? (escreve no quadro) F- O-R-R-M-I-G-U-E-I-R-O

Aluno 7: Está em inglês. Aluno 4: Ô tia, é com dois?

Pesquisadora: Como foi que você escreveu? Aluno 4 (sorri): Ô tiaaa

Pesquisadora: O que é que você acha? Aluno 4: Não sei. Acho que é com um.

Pesquisadora: Por que você acha que é com um? Aluno 4: Sei lá.

O extrato 02 apresenta um diálogo sobre o emprego R em final de sílaba. Nele podemos observar que os alunos 2, 4, 5 e 8 ao discutirem com a pesquisadora revelaram em suas respostas terem ciência de que a palavra FORMIGUEIRO foi escrita errada pelo aluno 6 e fazem a correção oralmente. Quando indagados sobre a possibilidade de ser inserido dois R, eles não conseguiram justificar as suas afirmações. Apenas o aluno 2 levantou uma hipótese para o uso de um R no final de sílaba: Porque não pode ficar três consoantes juntas.

Outra regra investigada neste momento foi o emprego do R forte entre vogais. Para esta, as crianças, também, demonstraram pouco domínio, observemos o extrato a seguir:

Extrato 03

Pesquisadora: Vamos lá conversar sobre algumas palavras deste ditado. 6, como foi que você escreveu a palavra CARREGA?

Aluno 5: Tia, ele escreveu igual a mim.

Pesquisadora: Certo. Então, vamos ver. Como foi? Aluno 6: C-A-R-E-G-A

Pesquisadora: Mais alguém escreveu assim, fora 5 e 6? Aluno 8: CAREGA? (lê como /r/)

Pesquisadora: O que foi 8? Aluno 8: Não ... Nada. Pesquisadora: Está certo? Aluno 8: Não.

Pesquisadora: Então venha aqui, se não está certo, corrija. Como é o certo? Mostra pra gente.

Aluno 8 (escreve no quadro): CARREGA. Pesquisadora: Que foi que aconteceu aí? Aluno 6: O R.

Aluno 7: Os dois R.

Pesquisadora: Obrigada, 8. Então, o que 8 fez está certo? Aluno 3: Está errado. É o contrário.

Pesquisadora: Como assim?

Aluno 3: Porque se eu colocar com dois R vai ficar CAREGA (falando /r/) e se escrever com um R só vai ficar CARREGA!

Pesquisadora: E você 5, o que acha do que 8 escreveu? Aluno 5: Sei não, tia.

Pesquisadora: Quem escreveu igual a 6?

APENAS OS ALUNOS 1, 3, 5 e 7 LEVANTARAM A MÃO Pesquisadora: Quem escreveu igual a 8?

LEVANTARAM A MÃO OS ALUNOS 2, 4, 9 e 10

Pesquisadora: E agora, com tantas escritas, qual de fato é a certa? Quando é que eu sei que se escreve com R ou com RR?

Aluno 8: E eu sei! Aluno 5: E como é? Alunos 3 e 7: Sei lá!

O trecho apresentado no extrato 03 nos revelou que em se tratando do uso do R forte entre vogais, ao que parecia, dos dez alunos, quatro (2, 4, 8 e 9) demonstraram fazer o uso correto desta regra, pelo menos na palavra investigada, porém ressaltamos que os alunos 4 e 9 no ditado de palavras 1, como veremos a diante, não demonstraram domínio sobre esta regra.

Os alunos 5 e 7, por exemplo, demonstraram não ter conhecimento da regra, pois oscilavam em suas respostas. E, os alunos 3 e 6 que ao serem questionados sobre a escrita da palavra CARREGA, permaneceram afirmando que a escrita deveria ser com apenas um R. Esses quatro últimos alunos, também, não

apresentaram domínio sobre o uso do R forte entre vogais no ditado de palavras 1, dado que abordaremos no tópico sobre análise dos resultados.

A partir do extrato 03, também foi possível perceber que mesmo a pesquisadora direcionando as perguntas, as crianças ora respondiam uma pela outra ora completava e corrigia de acordo com o seu conhecimento. As hipóteses foram registradas pela pesquisadora no quadro branco para posterior conversa.

Ao final do primeiro encontro destacamos que algumas crianças embora apresentassem domínio de escrita com o uso de determinadas regras, não verbalizaram a nenhuma delas.