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4.2 Instrumento de pesquisa: Sequência Didática

4.2.3 Segundo encontro

Como ocorrido no encontro anterior, foi realizado o sorteio para a formação das duplas. Como o aluno 10 havia faltado neste dia as atividades foram realizadas por três duplas (alunos 2 e 9; 3 e 7; 4 e 6) e um trio (alunos 1, 5 e 8).

No primeiro momento, coletivamente, relembramos as atividades e as respostas informadas pelas crianças durante o primeiro encontro. Em seguida, iniciamos o trabalho com a intenção de provocar nos alunos a observação e a identificação da diferença sonora ao escrevermos palavras utilizando a consoante R ou o dígrafo RR (vide plano de atividade 02 APÊNDICE C). Para isto, solicitamos a observação das seguintes palavras CARINHO / CARRINHO / CARETA / CARRETA / CARO / CARRO / ARANHA / ARRANHA e comparassem o som produzido por elas. Durante este momento, realizamos algumas provocações, tais como: O que

diferenciou nessas palavras? Onde está a letra R? Isso, a vogal A e a vogal A nas duas palavras, estão vendo? Agora olha pra cá ... O que temos aqui? A vogal I e a vogal I, certo? Por que é que tem que ter um ... e por que é que tem que ter dois?

Vejamos no extrato 04 a seguir alguns exemplos de respostas:

Extrato 04 Exemplo 01:

Pesquisadora (escreve no quadro branco as palavras e pergunta): O que diferenciou essa palavra (aponta para CARINHO) dessa (CARRINHO)?

Aluno 9: É que uma tem um R a outra tem dois.

Aluno 7: Ah! Tia, eu sei o que é ... é que tem um R num e dois R no outro.

Pesquisadora: Bem, olha pra estas palavras aqui (aponta para as palavras

CARINHO - CARRINHO) onde está o R?

Aluno 8: No meio!

Aluno 1: No meio da palavra.

Exemplo 03:

Pesquisadora: Por que é que tem que ter um ... e por que é que tem que ter dois? Aluno 8: Porque se não mudar fica a mesma palavra. Tem dois R ... porque tinha CARETA e agora CARRETA. Muito fácil!

Aluno 3: Por que estava CARO e era CARRO.

Aluno 5: Ô tia, ARANHA é um animal e ARRANHA é ...

Conforme os exemplos trazidos no extrato 04, podemos perceber claramente que as crianças ao comparar as duplas de palavras identificavam a posição da consoante R, a diferença de escrita e a distinção entre os significados. Após este momento de observação, identificação e reflexão foi entregue às crianças uma ficha com uma atividade para ser realizada em dupla onde deveriam completar cinco frases com as palavras estudadas. Ao término, um aluno de cada dupla era selecionado para responder no quadro a uma das cinco frases e justificar suas escolhas.

Embora as crianças conseguissem produzir o som do R fraco e do R forte ao pronunciar as palavras solicitadas durante a atividade, percebemos desde o primeiro encontro que algumas não demonstravam domínio no uso correto da regra, desta forma, continuando com o objetivo de auxiliar as crianças à refletirem sobre o contexto de aparecimento desta letra, a pesquisadora propôs às crianças que lessem as palavras que seriam por ela escrita no quadro branco (ARANHA / GORILA / CANGURU / GARRAFA / CORRIDA) e comparassem o som produzido pela letra R. Ao apresentar, isoladamente, e solicitar a leitura destas palavras, percebemos que nenhuma das dez crianças apresentaram dificuldade neste comando, todavia quando levadas a realizar comparações entre palavras as dúvidas logo surgiam, vejamos um exemplo no extrato a seguir:

Extrato 05

Pesquisadora: Olha só, que palavra é essa? ALGUNS ALUNOS: ARANHA.

Pesquisadora: E que palavra é essa? ALUNOS: GORILA.

Pesquisadora: O som desse R em ARANHA é igual ou diferente em GORILA? Aluno 8: É diferente.

Aluno 5: É a mesma coisa.

Pesquisadora: 8, você disse que era diferente, porquê? Aluno 8: Porque ... ARANHA o R é no começo ... e ... Aluno 6: É no meio!

Aluno 3: Não tem nada a ver

Pesquisadora: 3, porque não tem nada a ver? Aluno 3: Independe .. o som é igual.

No primeiro momento de reflexão do som do R nas palavras ARANHA e GORILA, algumas crianças erraram ao dar a resposta. Observando o exemplo trazido no extrato 05, o aluno 8 afirma que o som é diferente e justifica a partir da posição silábica. Em contrapartida, os alunos 3 e 5 discordam do colega.

É interessante ressaltar que em atividades anteriores, conforme pode ser visto no exemplo trazido no extrato 03 que aborda o uso do R forte entre vogais, o aluno 8 corrige, corretamente, tanto na pronúncia como na escrita a palavra ditada pelo aluno 6. Ainda neste mesmo extrato, o aluno 3 corrige de forma incorreta o que o colega acabara de explicar. Ou seja, com as oscilações ficou evidente a falta de domínio destas crianças sobre o uso das duas regras em questão.

Diante desta situação, a pesquisadora relembrou a primeira atividade realizada neste dia chamando a atenção e discutindo sobre o som que a consoante R fazia nas palavras utilizadas para o preenchimento das frases. Na sequência, retomou fez algumas provocações:

Extrato 06

Pesquisadora: 6, o som do R nesta palavra (aponta para CORRIDA) é o mesmo que nestas palavras (aponta para ARANHA / GORILA / CANGURU)?

Aluno 6: É

Aluno 8: Entendi!

Pesquisadora: Tu entendeu o quê 8?

Aluno 8: Não é igual não porque uma tem um R e a outra dois R. Pesquisadora: Então lê pra mim (aponta para a palavra GARRAFA) Aluno 8: GARRAFA

Pesquisadora: Suponhamos que eu retire este R, como é que fica? Aluno 8: GARAFA

Aluno 7: Entendi!

Pesquisadora: Entendeu o quê, 7? Aluno 7: Que é diferente.

Aluno 3: Tem sons diferentes.

Pesquisadora: Esse grupo de palavras ... (circula as palavras ARANHA / GORILA /

CANGURU)

Aluno 3: Não vai existir essas palavras.

ARRANHA.

O fragmento do extrato 06 aborda o momento de comparação entre os sons /r/ e /R/ nas palavras. Nele observamos que à medida que as perguntas eram sendo feitas, as crianças respondiam e elas mesmas davam indícios de construção do conhecimento, como foi o caso dos alunos 3, 7 e 8 que perceberam a diferença sonora da consoante R no conjunto das palavras.

Por fim, em se tratando do R entre vogais, a pesquisadora, junto com todos os alunos, retoma a discussão e faz uma sistematização da aplicação desta regra:

Extrato 07

Pesquisadora: 9, que palavra é essa aqui? Aluno 9: CORRIDA

Pesquisadora: E essa? Aluno 9: GARRAFA

Pesquisadora: 9, quando você leu essas duas palavras o som do R é igual ou diferente?

Aluno 9: Igual

Pesquisadora: Vocês perceberam que tanto a letra R ... e o RR ... ambas estão sempre no meio de vogais?

Aluno 8: É ...

Aluno 1: Daí eu já sabia.

Aluno 5: Ô tia, tia, tia! É mesmo porque no ARANHA tem dois A, no GORILA tem um O e um I, no CANGURU tem dois U, na GARRAFA tem um A e outro A!

Pesquisadora: Então, se a gente sabe que vai ficar entre vogais o que é que vai dizer pra gente quando é que eu uso R ou RR?

Aluno 3: Por que se a gente colocar, tipo GORILA ... aí vai ficar GORRILA.

Pesquisadora: Isso, 3, se você vai escrever e não sabe, pronuncia com um R e depois com dois, a palavra vai ter sentido? O som está correto? Lembra que conversamos, se for para ficar forte devemos escrever com ...

Algumas crianças: Dois R!

Pesquisadora: Muito bem. E se for um som mais fraco, quando está entre vogais? Todos (gritam): Um!

Aluno 6: O CARRO fica CARO ... forte ... fraco. Aluno 8: Eh! 6 mandou bem!!!!

Durante o momento de sistematização em grande grupo, podemos perceber alguns avanços quando comparados com as hipóteses e as respostas dadas no início das atividades, incluindo o primeiro encontro, isto porque como vemos no extrato 07, de todas os alunos, o 3 responde coerentemente a pergunta, fato que em questionamentos anteriores isto não ocorre, conforme já discutido. O aluno 5 parece

ter percebido, só neste momento, que nas palavras trabalhadas o R e o RR estavam entre vogais.

Outro destaque refere-se ao aluno 6, pois ouve toda a discussão, constrói uma frase, embora utilize duas palavras já estudadas durante os encontros, aponta corretamente a intensidade do som da consoante R em cada uma. Informamos que esta criança foi a que apresentou o maior índice de erros no ditado de palavras 1, dado que será apresentado posteriormente.

Visto que nem todas as crianças participavam da discussão, foi solicitado aos estudantes que respondessem, individualmente e com suas palavras, no caderno de regras ortográficas a seguinte questão: depois de tudo o que estudamos

sobre estas cinco palavras, o que você pode dizer em relação ao uso do R ou RR?

Embora a solicitação tivesse sido feita para que realizassem sozinhos, as crianças pediram para responder primeiro com o colega e depois transcrever para o caderno. Vejamos as conclusões dos alunos no quadro 4 a seguir:

Quadro 4 – Sistematização da regra de uso do R entre vogais escrita pelos alunos – Escola S

Alunos 1, 5 e 8

Eu uso R nas palavras corretas.

Eu uso dois R por causa da palavra.

Porque quando usamos um R só fica mais fraco e quando

usamos dois R fica mais forte.

Alunos 2 e 9

Agente sabe que tem um R ou dois R. Ex: canguru ou canguru

fica sem sentido e não existe cangurru.

Alunos 3 e 7

Porque quando usamos um R o som fica mais fraco e quando

usamos dois R fica mais forte.

Alunos 4 e 6

Com R faz a diferença sem ele não existe essa palavra. Ex:

cangurru não tem sentido.

Como podemos observar no quadro 4, os alunos 1, 5 e 8 sistematiza o uso do R entre vogais afirmando que utiliza a consoante em palavras corretas e os dois R dependendo da palavra, porém não explicam como isto acontece, já na terceira sentença demonstram chegar em um consenso e informam que a usa a partir do som que ela produz, conclusão que, também, os alunos 3 e 7 apresentaram. Acreditamos que essas crianças, em suas respostas, pretenderam se aproximar ao máximo da conversa que ocorreu minutos antes, ratificando suas colocações. Já os pares de duplas (alunos 2 e 9 / 4 e 6) optaram por explicar o uso desta regra através de exemplos, da mesma forma que apresentaram durante a conversa com o grande grupo, ou seja, essas duplas fizeram uso do sentido como critério para sistematizar.

Observando as sistematizações dos alunos conforme o quadro 04 e comparando com as verbalizações apresentadas nos extratos 06 e 07, percebemos que os alunos 1 e 8 demonstram um pouco mais de propriedade sobre o assunto e, talvez, isto tenha contribuído para o consenso na sistematização, pois no momento da explicitação estas crianças apresentaram domínio no que falavam quando comparadas com o aluno 5.

No extrato 07, quando questionados sobre o uso do R ou RR, o aluno 3 responde com exemplos (GORILA / GORRILA), o que interpretamos que ele analisará a partir da sonoridade que a letra irá apresentar na palavra, mas acreditamos que ao realizar a atividade junto com o colega, no caso o aluno 7, este último o ajudou a transformar o exemplo em uma sentença.

Nas atividades e reflexões descritas até o momento buscou-se abordar o som /r/ e /R/ entre vogais. A fim de continuar o trabalho com o R forte, desta vez em início de palavras, a pesquisadora escreve no quadro CIGARRA / RAZÃO e pergunta: O som da letra R nessas duas palavras é igual ou diferente? Vejamos a resposta:

Extrato 08

ALGUMAS CRIANÇAS: Iguais.

Pesquisadora: Se o som é igual, então, por que a palavra CIGARRA é escrita com dois R e a palavra RAZÃO é com um só?

Aluno 2: É porque ... (sorrisos, abaixa a cabeça envergonhado) é porque a palavra não pode começar com dois R.

PESQUISADORA REGISTRA NO QUADRO A OBSERVAÇÃO DO ALUNO 2 Aluno 3: Por quê, 2?

Aluno 2 (não responde)

Pesquisadora: O que 2 disse é verdade?

AS CRIANÇAS DEMONSTRAM DÚVIDAS OLHAM UMAS PARA AS OUTRAS, ALGUMAS SACODEM OS OMBROS

Algumas crianças leram em voz alta as duas palavras. A maioria delas perceberam a semelhança sonora, porém não souberam responder a pergunta feita pela pesquisadora, com exceção do aluno 2, conforme pode ser verificado no extrato 08. Mesmo respondendo de imediato, as crianças por desconhecerem a regra que o colega acabara de falar e, talvez, por esta criança não ter dado mais explicações sobre o assunto, como solicitado pelo aluno 3, elas ignoraram a resposta e

trouxeram para a discussão exemplos de palavras em que acreditavam ser escritas com RR no início, observemos a conversa apresentada no extrato 09 a seguir:

Extrato 09 Exemplo 01

Aluno 5: Tia, a palavra RATO.

Pesquisadora: RATO. Como é que se escreve? Aluno 5: Dois R – T – O

Aluno 1: Não! Aluno 3: Não, tia. Aluno 8: Um R, tia. Aluno 7: Um R

Aluno 5: É não! RATO é com um R.

Pesquisadora: RATO é com um R, então isso aqui já não existe mais? Aluno 5: É

Pesquisadora: É isso? Aluno 5: É

Exemplo 02

Pesquisadora: Eu perguntei já que em CIGARRA e RAZÃO a letra R tem o mesmo som porque a palavra RAZÃO é escrita com um R? Aí, 1 disse a palavra RISO, escrita com dois R ...

Aluno 3: SORRISO

Pesquisadora: Ôpa, eu ouvi. Aluno 3: Eu falei SORRISO!

Pesquisadora: E sorriso se escreve com quantos R? Várias crianças: Dois!

Aluno 1: RISO ... SORRISO.

Pesquisadora: Vejam, quando eu digo RISO ... RISADA ... Ela deu uma RISADA. Como é que se escreve RISADA?

Aluno 3: R-I-S-A-D-A Aluno 5: RISOTO, tia!

Pesquisadora: Pois é ... o início tem o mesmo som, mas é escrito com um. Aluno 1: Vamos resolver esse problema!

Pesquisadora: Isso mesmo, eu perguntei porque é que a palavra RAZÃO é escrita com um R se faz o mesmo som que o R em CIGARRA que é com dois?

AS CRIANÇAS OLHAM UMAS PARA AS OUTRAS

Aluno 2 (sorri passando a mão na cabeça): Não pode escrever no começo com dois R!

Pesquisadora: Isso mesmo, foi o que 2 nos disse desde o começo e percebemos com as palavras que 5 e 1 nos disse que de fato não tem palavras e nem pode. Ok?

Os diálogos apresentados no extrato 09 aborda uma investigação que as crianças fizeram, a partir de seus vocabulários, buscando uma palavra que ao ser escrita iniciasse com dois R. Após uns instantes de silêncio o aluno 5, no primeiro

exemplo, fala a palavra RATO. Levado a refletir sobre a escrita, a pesquisadora solicitou ao mesmo que soletrasse e à medida que escrevia no quadro, os demais colegas o corrigiu, depois de pensar sobre as intervenções ele reconheceu o erro cometido.

Já no segundo exemplo, o aluno 1 apresentou a palavra RISO, mas ao discutir sobre as letras que a compunha, as crianças começaram a fazer associação entre a referida palavra com o vocabulário que possuíam, desta maneira o aluno 3 associa o som /R/ da palavra RISO com a palavra SORRISO. Quando questionadas sobre a quantidade de R nesta segunda palavra, várias crianças respondem corretamente. A partir da intervenção feita pelo aluno 3 outras palavras surgem, dentre elas RISADA e RISOTO, e em todas elas as escritas foram corretas. O que reforça a ideia de que eles possuíam conhecimento sobre a escrita, mas não conseguiam verbalizar a regra.

Como os exemplos haviam se esgotado e as crianças não tinham mais o quê justificar, eles aceitaram o comentário do aluno 2 ocorrido no início da atividade. Percebendo que as crianças desconheciam esta regra, a pesquisadora solicitou que fizessem o registro nos respectivos cadernos de regras ortográficas.

Como estávamos vivenciando o segundo encontro e, querendo identificar o que os alunos havia compreendido, ao término desta conversa, foi solicitado que respondessem em duplas a seguinte pergunta: De acordo com o que estudamos até

o momento, converse com sua dupla e formule regras para escrever palavras usando o R ou RR. Vejamos as respostas de cada dupla:

Quadro 5 – Sistematização da regra de uso do R ou RR escrita pelos alunos – Escola S Alunos

1, 5 e 8

Proibido usar no começo de frase.

Porque se escrever com dois R fica mais forte. Alunos 2 e 9

Porque o R e o RR faz a diferença. Ex: girafa se colocasse

com dois R ia ficar girrafa ia ficar muito estranho.

Alunos 3 e 7 Proibido usar RR no começo da frase.

Alunos 4 e 6 Para uma palavra ficar mais forte.

No comando foi solicitado que eles escrevessem sobre tudo o que eles perceberam até o momento da pesquisa, ou seja, poderiam escrever sobre as três regras estudadas, porém como um comando semelhante foi solicitado anteriormente e os mesmos escreveram sobre o R entre vogais, isto nos leva a pensar que, talvez,

o mesmo modelo de pergunta, isto deva ter contribuído para a não extensão do registro de seus conhecimentos fazendo com que eles tenham se detido, apenas, a regra que acabara de ser estudada. Ou ainda, por acharem que já tiveram escrito algo semelhante, optaram por não se estenderem na escrita durante a segunda solicitação.

De acordo com os objetivos traçados para este segundo encontro, acreditamos termos contribuído no reconhecimento e distinção dos sons do R entre vogais e em início de palavras, por outro lado e a partir da última sistematização apresentadas pelas duplas, conforme quadro 05, percebemos que as justificativas por escrito sobre o uso do R entre vogais precisavam ser retomadas.