4.2 Instrumento de pesquisa: Sequência Didática
4.2.4 Terceiro encontro
O terceiro encontro foi planejado com o objetivo de auxiliar as crianças no reconhecimento, distinção e aplicação da consoante R nas seguintes posições dentro de uma palavra: início de sílabas precedido das consoantes N, L ou S, final de sílaba e em encontro consonantal.
Seguindo a rotina realizada nos encontros anteriores, iniciamos com o sorteio para formação das duplas ficando assim decidido: alunos 1 e 10; 2 e 9; 3 e 6; 4 e 7; 5 e 8.
Ciente de que em relação ao uso do R em início de sílaba precedido das consoantes N, L ou S foi a segunda regra que impôs maior dificuldade para as crianças, principalmente para os alunos 2, 6, 8 e 10, conforme será visto no tópico sobre a análise do desempenho ortográfico dos alunos nas regularidades contextuais nos DP 1 e DP 2, a pesquisadora apresentou vários exemplos de palavras discutindo detalhadamente cada uma, desta forma iniciou escrevendo no quadro a frase: O cachorro está EN__AIVECIDO. À medida que escrevia as crianças se dividiam quanto à pronúncia do R na palavra destacada:
Extrato 10
Pesquisadora: Uns estão dizendo ENRAIVECIDO (falando /r/) e outros ENRAIVECIDO (falando /R/)
Aluno 2: Tia, é ENRA... ENRAIVECIDO (falando /r/)
Aluno 1: Não! Não existe palavra com um R que faz o mesmo som de ... Alunos 5 e 3: ENRAIVECIDO (falando /R/)
Aluno 7: ENRAIVECIDO (falando /r/)
Pesquisadora: 1, você disse que não era ENRAIVECIDO (falando /r/) por quê? Aluno 1: Não é ENRAIVECIDO (falando /r/) porque todas as coisas são ... é possível.
Aluno 2: Tia ... tia ... tia, mas não pode porque se fosse ENRAIVECIDO teria dois R (falando /R/)
Das crianças que participaram do diálogo apresentado no extrato 10, os alunos 2 e 7 pronunciavam a palavra ENRAIVECIDO fazendo o som /r/, desta forma subentendia-se que deveria ser preenchida com um R. Discordando desta afirmativa, o aluno 1 contesta, porém não apresenta argumentos. Diante disto, o aluno 2 aproveita a oportunidade e justifica sua escolha ao afirmar que se fosse
ENRAIVECIDO (falando /R/) teria dois R. Situação em que o aluno 1 demonstrou
refletir sobre o que a colega acabara de apontar e volta a ler a palavra das duas formas, ainda sobre este aluno, embora no ditado de palavras 1 não tivesse apresentado dificuldade nesta regra, pudemos perceber que o mesmo não conseguia verbalizá-la. Já os alunos 3 e 5 embora tivessem pronunciado a palavra fazendo o som /R/ não justifica sua resposta.
Diante disto, a pesquisadora trouxe a palavra ENRIQUECER (vide plano de atividade 03 APÊNDICE D) para discussão e, novamente, as opiniões se divergiram quanto ao preenchimento da lacuna, a maioria das crianças afirmaram que deveria ser com um R, exceto os alunos 2 e 7, por outro lado todos pronunciaram fazendo o som /R/ comparando com a palavra ENRAIVECIDO. Neste momento de euforia, foi solicitado que observassem a posição da letra R:
Extrato 11
Pesquisadora (referindo-se a palavra ENRIQUECER): Vamos observar. Onde está o R? Que letra vem antes da letra R?
Aluno 7: N!
Pesquisadora: Na palavra ENRAIVECIDO que letra vem antes do R? Aluno 3: N!
Aluno 1: Que nem àquela lá, por isso é com um R. Eu entendi! Eu entendi! Aluno 3: EN-RAI-VE-CER .... É com um R só!
Aluno 5: Eu num disse!
O Aluno 3 SE LEVANTA E BATE NA MÃO DO ALUNO 5
Pesquisadora: Olha, aí! Na hora em que a gente for colocar um R ou dois R ... 5 sabia que era com um R, mas não sabia explicar o porquê. 3, no ato em que eu perguntei ele associou. Se eu pedi para prestarem a atenção na letra que vem antes é ela quem vai determinar, em alguns casos, se é com um R ou com dois R. Aluno 1: Por isso que eu falei ... vê ... ali.
Pesquisadora: A letra N?
Aluno 1: Não! Como é o nome? Pesquisadora: O quê, 1? Aluno 5: Uma consoante ...
Aluno 1: Isso, tem uma consoante e uma vogal.
Pesquisadora: Outra coisa que ele falou ... é uma consoante e uma vogal. (sublinha a consoante N e a vogal A).
Com o objetivo de auxiliar as crianças na percepção na semelhança da escrita das palavras, visto que a maioria delas demonstrou ter a certeza de que a palavra ENRIQUECER é escrita com apenas um R, a pesquisadora solicitou a observação das duas palavras (ENRAIVECIDO – ENRAIVECER) e localizassem a posição da consoante R. De imediato os alunos 1, 3 e 5 fizeram a correspondência e disseram como deveria ser feita a notação da primeira palavra.
O mesmo procedimento de observação de escrita foi dado para as palavras ISRAELITA e GUELRA.
Extrato 12 Exemplo 01
Pesquisadora: E que palavra é esta (escreve no quadro ISRAELITA). Onde está o R? Quem é que vem antes do R?
ALGUMAS CRIANÇAS GRITAM: S!
Aluno 1: Ô tia, Se tivesse dois R ... não ia dar não. Pesquisadora: E porque é que não ia dar?
Alunos 1 e 2: Porque não pode ficar três consoantes juntas. AS CRIANÇAS FICAM EM SILÊNCIO
Pesquisadora: Então olha só. Na primeira palavra percebemos que temos a letra N, na segunda palavra temos a letra S. Se eu tiver um espaço para preencher nós devemos colocar ...
Aluno 7: Um R só, tia.
Exemplo 02
Pesquisadora: E uma outra palavra que eu vou trazer, não sei se vocês conhecem, mas mesmo assim eu vou escrever é ... (escreve no quadro GUELRA). Pois bem, vamos analisar essa palavra. Onde está o R?
VÁRIAS CRIANÇAS RESPONDEM: No final! Pesquisadora: Quem está antes do R?
Alunos 1, 5, 6 e 8: O L. Aluno 2: Consoante.
Pesquisadora: Então, da mesma maneira que fizemos com o N e com o S vamos fazer com o L. O que é que a gente pode concluir?
Aluno 1: Ah!
Pesquisadora: Eu vou usar sempre um R quando que letras estiverem antes dela? Aluno 3: Consoantes.
Pesquisadora: Quais são essas consoantes? Aluno 8: N!
Aluno 1: L ... GUELRA Aluno 2: S
Nessa regra em estudo, as crianças demonstraram insegurança sobre o assunto e, por isto, acreditamos que tal situação tenha provocado a diminuição das contribuições nos momentos de discussão. No exemplo 01, apresentado no extrato 12, quando questionadas sobre a localização da consoante R algumas crianças respondem, porém apenas os alunos 1 e 2 arriscam-se em manter o diálogo. Chamamos a atenção para o trecho: Ô tia, Se tivesse dois R ... não ia dar não / E
porque é que não ia dar? / Porque não pode ficar três consoantes juntas. Embora
saibamos que existem palavras notadas com três consoantes juntas, tais como a palavra TRANSFORMAÇÃO, o que estas crianças quiseram dizer era que não poderia ficar três consoantes juntas quando fosse para notar com o RR. Este tipo de resposta foi dada pelo aluno 2 e adotada pelas demais crianças com este sentido, assim, tornou-se recorrente até o final da pesquisa.
As crianças desconheciam a palavra GUELRA, diante disto, houve um momento de conversa para explicação e informação sobre este órgão, na sequência houve o diálogo conforme o exemplo 02 apresentado no extrato 12. Não muito diferente do exemplo 01, após o momento de identificação da localização do R, a pesquisadora ressalta que da mesma maneira que eles preencheram as lacunas, com um R, onde havia a consoante N, da mesma forma deveriam fazer quando existir a consoante S ou L.
Com outras palavras, a regra foi dada e explicada as crianças. Como a participação foi mínima, inclusive dos mais envolvidos, a pesquisadora direciona questionamentos a fim de identificar o que de fato as crianças haviam compreendido, desta maneira inicia um diálogo:
Extrato 13
Pesquisadora: 6, nesta palavra (escreve no quadro HON__ADA) é com um ou dois R?
Aluno 6 (fica calado) Pesquisadora: 4? Aluno 4: Com dois. Pesquisadora: 8? Aluno 8: Um.
Pesquisadora: 10? Aluno 10: Dois.
ADS05: Que palavra é essa?
Pesquisadora: Vai tentando ler. 10, porque você concorda com 4? Aluno 10: Ela está certa.
Aluno 1: Eu não vou dizer de novo. É um! Pesquisadora: 9?
Aluno 9: Um.
Aluno 3: Eu concordo com 8.
Aluno 2: Tia, a senhora disse que se tiver N, L ou S é com um R. Mas se ficar com um vai ficar HONRA (falando /r/), aí, eu concordo com 4, assim, estou em dúvida. Eu sei que não pode ficar dois R antes do N, do L ou do S, mas eu concordo com 4 porque ...
Alunos 6 e 8: Porque é amiga.
Aluno 2: Porque se não vai ficar HONRA (falando /r/) Aluno 6: Que menina inteligente!
Ao serem questionadas sobre o preenchimento da lacuna na palavra HON_ADA, todas as crianças responderam a pergunta feita pesquisadora com exceção do aluno 6. Os alunos 1, 3, 8 e 9 concordaram que a palavra deveria ser escrita com R. Já os alunos 2, 4 e 10 opinaram contrariamente, conforme podemos ver no extrato 13.
Este foi mais um momento interessante porque o ponto de conflito e gerador de discussão deu-se quando o aluno 2 trouxe para a conversa a seguinte reflexão:
Tia, a senhora disse que se tiver N, L ou S é com um R. Mas se ficar com um vai ficar HONRA (falando /r/), aí, eu concordo com 4, assim, estou em dúvida. Eu sei que não pode ficar dois R antes do N, do L ou do S, mas eu concordo com 4 porquê ... / Porque se não vai ficar HONRA (falando /r/)
Diante do exposto, a pesquisadora aproveita a situação e passa a explorar a sonoridade do R na palavra em questão, no caso HONRADA. Inicia registrando no quadro as duas possibilidades com as respectivas justificativas trazida pelo aluno 2 e questiona: Veja, quando vocês pronunciam a palavra HONRADA ... HON-RA-DA
... a segunda sílaba é forte ou é fraca? Algumas crianças respondem que é forte.
Então, ela prossegue: Isso, é verdade ... para ficar forte tem que ter ... O aluno 4 responde dois R. Neste momento, o aluno 2 retruca e outras crianças fazem contribuições, observemos o extrato 14 a seguir:
Extrato 14
Pesquisadora: Aí .... entra o conflito. Poxa! Eu sei que para a palavra ficar forte eu tenho que coloca dois R, como em CARRO, CARRUAGEM...
Aluno 6: CARROÇA.
Aluno 1: Só porquê ... tem uma vogal.
Pesquisadora: Só porque tem vogal ... E aí entra na dúvida de 2: se ele tem que ficar forte, tem que ter dois R, mas tia, eu percebi que nas palavras que a senhora colocou não pode. Aí, 2, você vai para a regra que foi essa que acabamos de descobrir, porque senão você se confunde. E que regra foi essa?
Aluno 3: Se tiver com N, L ou S ... não adianta. É com um R só!
Pesquisadora: Na palavra HONRADA o R é forte, mas tem as duas vogais? Está entre as duas vogais como vimos em outro encontro?
AS CRIANÇAS (gritam): NÃO!
Aluno 2: Eu sei que vai ficar com um R, mas como se pra ficar forte tem que ter dois?
Pesquisadora: Justamente por conta da letra que vem antes, veja H-O-N ... esta letra é N ... é consoante e depois é vogal. Primeiro de tudo: Teve a letra N, em seguida a regra é clara, deve-se colocar um R. Outro ponto que podemos destacar e lembrar só se escreve RR entre vogais. Tem duas vogais aqui?
Aluno 2: Não.
Como podemos observar no extrato 14, o aluno 2 de imediato ressalta que numa palavra escrita com dois R não se pode ficar com três consoantes juntas. Aproveitando esta observação e tentando sanar a dúvida, a pesquisadora relembrou a sonoridade e escrita do R entre vogais e propôs que a mesma passasse a utilizar a regra que há minutos foi estudada. Compreendendo o problema em questão, o aluno 3 decide ajudar o aluno 2 sistematizado: Se tiver com N, L ou S ... não
adianta. É com um R só!
O aluno 2 por um instante parece aceitar que a escrita da palavra HONRADA deva ser com um R, mas ainda não aceita que seja escrita desta forma apresentando o som /R/. Percebendo isto, é feito um trabalho de análise da escrita da palavra enfatizando que todas e quaisquer lacunas onde haja a consoante N, deve-se preencher com um R.
Depois de todo este momento, a pesquisadora retoma apresentando outros dois exemplos de palavras. Pelo que foi vivenciado, as crianças demonstraram em suas respostas parecer terem entendido a regra, principalmente o aluno 1. Observemos:
Extrato 15 Exemplo 01
Aluno 2: GENRO?
Aluno 3: É com um R só. Pesquisadora: Porquê?
Aluno 3: Porque a regra diz não pode três consoantes juntas. Pesquisadora: Além disso temos que ...
Aluno 1: É N! Ai meu Deus! É N! De novo? Minha gente! N, L ou S é R e pronto.
Exemplo 02
Pesquisadora: Vamos ver esta outra palavra (escreve no quadro a palavra
EN__UGADA)
Aluno 3: É com um R só.
Pesquisadora: 9, 3 disse que é com um R. E você? Aluno 9: Com um.
Pesquisadora: Porquê?
Aluno 9: ENRUGADA ... ENRUGADA ... um R. Porque tem um N na frente.
Ao final desta atividade, solicitou-se às crianças que anotassem em seu respectivo caderno de regras ortográficas a regra que terminaram de estudar.
A atividade a seguir foi planejada a fim de contemplar a regra de uso do R em dois contextos: final de sílaba e em encontro consonantal.
A pesquisadora escreveu no quadro branco três frases com lacuna de uma palavra em cada sentença (a) Janaina vai pegar um (GARFO) para comer
macarronada; b) Eu ouvi alguém bater na (PORTA); c) Vou comprar (CARVÃO) para o churrasco), e selecionou três crianças, uma de cada vez, para participar da
atividade. Vejamos nos exemplos trazidos no extrato a seguir como ocorreu este momento:
Extrato 16 Exemplo 01
Pesquisadora: Janaina vai pegar um garfo para comer macarronada Aluno 7 (escreve): Ôxe! Que palavra difícil (sorrisos). GAFO.
Pesquisadora: Todos concordam com a escrita de 7? Algumas crianças: Sim!
Outras crianças: Não!
Pesquisadora: 8 porque você não concorda? Aluno 8: Porque é com U.
Pesquisadora: 4, o que você acha?
Aluno 4: Ah! .... tia ... eu acho que é com R. Pesquisadora: Como assim com R?
Aluno 1: Eu não vou nem dizer.
Aluno 4: Assim ... a gente fala GAFO, mas falta o R ... é GAR.
Pesquisadora: Ah! Entendi, é GAR-FO. E não pode ser com dois R? Aluno 4: Num sei... pode não, não tem a outra vogal.
Aluno 6: Sei não, tia.
Exemplo 02
Pesquisadora: Vamos lá ... 6, a sua frase é a segunda (Eu ouvi alguém bater na porta).
Alunos 1, 2, 3 e 9: Ah! Essa é muito fácil.
Aluno 6 (escreve no quadro): PORTA! Acertei!!!!!
Exemplo 03
Pesquisadora: 9, vou comprar carvão para o churrasco.
Aluno 9: Hum .... CA ... CAVÃO (apaga e escreve) CRAVÃO (apaga novamente): CRAVÃO. Pronto.
Pesquisadora: 9, você escreveu a palavra duas vezes o que te fez ter dúvidas? Aluno 9: Num sei ... tem que ter R?
Conforme podemos verificar no extrato 16 identificamos três situações distintas quanto ao uso do R em final de sílaba: omissão, escrita correta e troca de posição da consoante. Este momento foi proporcionado, apenas, para verificar algumas escritas e ouvir as explicações das crianças sobre o uso desta regra, por isto ao término das escritas a pesquisadora não intensificou nos desdobramentos. Após responderem por escrito e verbalmente as perguntas, elas voltaram a sentar junto de sua dupla.
Em seguida, cada dupla, recebeu um cartão escrito a palavra URSOS. O comando dado foi para que observassem e identificassem as letras que estavam antes e após a consoante R. Na sequência a pesquisadora fez alguns questionamentos, dentre eles: a letra que está antes do R faz parte do grupo de
consoantes que acabamos de aprender nas palavras ENRAIVECIDO,
ENRIQUECER, ISRAELITA e GUELRA, por exemplo? O som produzido pela letra R é o mesmo nessas palavras? Como é esse som? Onde está a letra R? Separem essa palavra em sílabas. O que vocês puderam perceber? Para todas estas
perguntas elencadas as crianças não tiveram dificuldade em responder, pois de imediato identificaram a diferença sonora da consoante R nos casos solicitados. Observemos no extrato a seguir algumas das respostas:
Extrato 17
Aluno 1: Não, tia. Porque não tem nem N, nem L e nem o S! Aluno 3: Isso mesmo. Nenhuma das três.
Aluno 6: Mas tem o R!
Pesquisadora: Isso mesmo, 6. Já que todos perceberam isso, o som desse R é igual ao das palavras com N, L ou S?
Aluno 9: Não.
Aluno 6: Ôxe, nada a ver.
Aluno 7: Hum ... ENRAIVECIDO (falando /R/) .... UR-SOS. Totalmente diferente.
Seguindo a mesma orientação foi entregue outros dois cartões com as palavras METRÔ e CRAVO. Desta vez, a comparação deveria ser feita com a palavra URSOS. Durante a análise realizada pelas duplas, a pesquisadora fez algumas perguntas: O R está no mesmo lugar nas três palavras? Que letras estão
antes e depois? Separe em sílabas e observem como vai ficar. Quando separarem, leiam sílaba por sílaba, o som ficou igual? O que mudou? Pensem e escrevam alguns exemplos.
As crianças identificaram sem dificuldades a localização da consoante R. Quando solicitadas a fazerem a separação silábica das três palavras e compararem os resultados, elas conseguiram perceber que a letra R ficava acompanhada de uma vogal enquanto que nas outras duas ficava junta de uma consoante e de uma vogal. Diante disto, a pesquisadora buscou enfatizar o som produzido por elas, observemos os comentários quanto a este assunto:
Extrato 18
Pesquisadora: Então gente depois que vocês fizeram a separação silábica, como ficou o som do R?
Aluno 2: Ele mudou, tia.
Pesquisadora: Como assim mudou? Ficou como?
Aluno 7: Tia, vendo assim não tem comparação porque um fica com a vogal e ... Aluno 3: O outro com vogal mais uma consoante.
Pesquisadora: Certo, mas e o som?
Aluno 1: UR ... fica um pouco fraco se a gente não se ligar nem sabe que tem, mas é UR-SOS.
Aluno 5: E o outro é mais forte igual a ME-TRA-LHADORA.
Pesquisadora: 5, você disse que o som é mais forte e falou outra palavra METRALHADORA. Como se escreve esta palavra?
Aluno 5: M-E-T-R-A-L-A-D-O-R-A Aluno 1: Eita!
Aluno 5: Não, tia. É ME-TRA-L-H-A-D-O-R-A
Pesquisadora: Como estamos falando do R em METRÔ e CRAVO, e você nos disse METRALHADORA, afirmando que ele era forte, então porque não é com dois R, já que vimos que quando é para ficar forte tem que ser com dois R?
Aluno 7: Porque só tem uma vogal.
Aluno 2: Só pode colocar RR com duas vogais. Pesquisadora: E você, 9 o que acha?
A princípio mesmo a pesquisadora questionando sobre o som produzido pela consoante R, as crianças tendiam a responder sobre a diferença na escrita das palavras, conforme destaque feito pelos alunos 3 e 7, no extrato 18. Após intervenção da pesquisadora, as crianças refletem sobre o som, inclusive, associando a outra palavra, como foi o caso do aluno 5, exemplificando com a palavra METRALHADORA. Ao citarem sobre o som do R forte, a pesquisadora provoca a reflexão sobre o uso do RR, porém eles logo afirmam que só se usa RR quando tiver entre vogais.
Para finalizar, a pesquisadora solicita que respondam a seguinte pergunta no caderno de regras ortográficas: Que conclusão vocês chegaram sobre o R
nesses casos? Observemos as sistematizações dos alunos quanto a estes
assuntos:
Quadro 6 – Sistematização da regra de uso do R em final de sílaba e em encontro consonantal escrita pelos alunos – Escola S
Alunos 1 e 10
Se tirar o R fica sem sentido, tipo BARSA vai ficar BASA e
não pode. E o outro é como METRÔ ... consoante e vogal, a consoante já tem, não pode mais duas com R e fica tremido como 5 disse ... METRALHADORA.
Alunos 2 e 9
Porque se tirar o R a palavra fica sem sentido. Ex: usos tem
que ter o R sem ele ia ficar muito estranho.
E não pode três consoantes juntas.
Alunos 3 e 6 Proibido colocar RR quando tem consoante e vogal porque
não pode as três juntas.
Alunos 4 e 7 Porque a palavra fica mais forte ... tem que ter o R ... e treme a
língua.
Alunos 5 e 8 É com um R só quando faz igual a ME-TRA ... ME-
TRALHADORA.
E se tirar o R fica errado feito FOMIGA.
Quando comparamos as escritas do início desta atividade com as sistematizações feitas pelos estudantes percebemos alguns avanços, dentre elas a percepção do aluno 7 em relação ao uso do R em final de sílaba, pois no primeiro momento afirmou que a palavra deveria ser escrita sem a consoante (GAFO) ao término ressalta a importância desta letra.
A última atividade deste dia foi planejada a fim de sistematizar o conteúdo abordado durante os três encontros ocorrendo a partir das respostas de algumas charadas selecionadas pela pesquisadora. Foi entregue a cada dupla uma charada
onde deveriam conversar entre si e falar para o grande grupo a pergunta. Ao responder, a pesquisadora fazia questionamentos envolvendo a regra que é foco de nossa pesquisa, vejamos um trecho de como ocorreu este momento:
Extrato 19 Exemplo 01
Aluno 5: Estou no início da rua, no fim do mar e no meio da cara? Pesquisadora: Qual é a resposta?
Aluno 8: NARIZ.
Pesquisadora: Todos concordam?
Aluno 2: Hã? Não, tá errado. É A letra R!
Pesquisadora: Vamos lá, presta atenção nas perguntas que eu vou fazer. 2, escreva a palavra rua e cara.
Aluno 2 (escreve no quadro): RUA - CARA
Pesquisadora: Por que a palavra RUA se escreve com um R?
Aluno 2: Porque nenhuma palavra pode começar com dois R no início. Pesquisadora: Porque a palavra CARA é com um R só?
Aluno 2: Porque senão vai ficar CARRA. (falando /R/) Pesquisadora: Esse R de CARA é forte ou fraco? Aluno 2: Fraco.
Pesquisadora: Para ele ficar forte eu preciso fazer o quê? Aluno 2: Colocar mais um R!
Exemplo 02
Pesquisadora: Qual é a sua charada?
Aluno 10: Alice vive no país das ... maravilhas (falando /r/) Pesquisadora: Ok. Escreva o que falta
Aluno 10 (escreve no quadro): MARRAVILHAS. Pesquisadora: 1, você viu a resposta dele. Aluno 1: Sim.
Pesquisadora: E o que foi que aconteceu?
Aluno 1: A resposta está certa, mas ele escreveu errado. Pesquisadora: Então, explique a ele como é o certo. Aluno 1: É porque tu botou com dois, mas é um. Pesquisadora: Mas 1, porque que é com um? Aluno 1: Porque é o certo.
Pesquisadora: Já que com um é o certo, então lê pra ele com dois, como ele escreveu.
Aluno 1: MARRAVILHA ... e é MARAVILHA ... tu entendeu? RA ... RA (falando
/r/)... e não RRA. (falando /R/)
Pesquisadora: 10, você conseguiu entender? Aluno 10 (fica calado)
Pesquisadora: Olha, a resposta é MARAVILHA, como você disse, mas vamos ver a escrita: MA-RA .... lembra da palavra BA-RA-TA que já falamos aqui?
Aluno 10 (balança a cabeça com gesto de compreensão)
Pesquisadora: Então, quando escrevemos BA-RA-TA, esse RA é com um ou dois R?
Pesquisadora: Veja ... esse som do R em BA-RA-TA é o mesmo que em MA-RA- VILHA
Aluno 10: É.
Pesquisadora: Então, você escreveu certo? Aluno 10: Não.
Pesquisadora: Então, é a mesma coisa que 1 estava explicando pra gente.
Exemplo 03
Pesquisadora: 3, venha para o quadro. 6, leia a charada de vocês. Aluno 6: Complete o nome do conto “Cachinhos dourados e os três ...” Aluno 3 (escreve no quadro): USOS
Pesquisadora: 3 escreveu ... lê aqui em voz alta. Aluno 3: USOS
Pesquisadora: 6 está escrito certo? Aluno 6: Tá.
Pesquisadora: Se estamos estudando o uso do R e do RR porque que na tua palavra não saiu nem R nem RR?
Aluno 4: Ô tia, e se colocar um R aqui? (aponta para entre as letras U e S) Alunos 6 e 7: UR ....
Pesquisadora: 3, escreve como 4 falou. Aluno 3 (escreve no quadro URSOS)
Pesquisadora: Olha, agora vamos lá ... 4 você pensou e disse que era com um R, porque não com dois?
Aluno 4: Porque ... ia ficar UR.... Aluno 3: URRUSO (falando /R/)
Aluno 4: Porque o certo é com um R, se ficar com dois fica errado.