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Resultados das análises das explicitações e verbalizações dos

4.2 Instrumento de pesquisa: Sequência Didática

4.2.9 Resultados das análises das explicitações e verbalizações dos

S

Analisamos qualitativamente as verbalizações dos alunos em relação às explicações dadas sobre o emprego das regularidades ortográficas do tipo contextual, foco em nosso estudo, efetuados por eles ou pela pesquisadora. Todas

as vinte crianças participaram da entrevista. As respostas foram categorizadas a partir das categorias apresentadas por Pessoa (2007):

 Explicitação: Foi aceita como explicitação qualquer tipo de resposta que mostrasse um conhecimento sobre a regra, através de verbalização ou não. Dessa forma, estabelecemos dentro dessa categoria as seguintes subcategorias:

Explicitação Verbal Direta (EVD) – a criança verbaliza de imediato a regra conforme encontrada na gramática utilizando ou não os termos gramaticais especiais, tais como “sílaba tônica”, “sílaba átona”, “consoante”, entre outras;

Explicitação Verbal Após Manipulação (EVAM) – a criança verbaliza a regra após escrever ou pensar em outras palavras dentro da mesma regra discutida.

Explicitação sem Verbalização (ESV) – a criança não verbaliza a

regra, porém consegue demonstrar um conhecimento explícito no momento em que é capaz de escrever de forma correta outras palavras, dentro da mesma regra enfocada.

 Ausência de Explicitação (AE) – a criança não demonstra conhecimento explícito (verbal ou não) sobre a regra, pelo menos durante a entrevista.

Assim como Pessoa (2007), defendemos que os conhecimentos dos alunos poderiam ser avaliados e medidos, também, pelas indicações de explicitações. Por isto, concordamos que a Explicitação Sem Verbalização, de certa forma, indica um nível de explicitação, pois percebemos que a criança é capaz de manipular a regra, mesmo não sendo capaz de verbaliza-la. A seguir, apresentaremos extrato de algumas entrevistas exemplificando cada uma das categorias, com as devidas adaptações para este estudo.

Explicitação Verbal Direta – EVD

Aluno 3: CORPO.

Pesquisadora: Você escreveu com um ou dois R? Aluno 3: Com um.

Pesquisadora: Por que é que você escreveu com R? Aluno 3: Porque se eu não colocar fica COPO.

Pesquisadora: E porque você escreveu com um R, não poderia ser dois?

Aluno 3: Não, porque aqui está terminando a palavra, não! ... a sílaba que diga e não tem outra vogal para colocar dois R.

Explicitação Verbal Após Manipulação – EVAM

Pesquisadora: 8, como foi que tu escreveu a palavra HENRIQUE Aluno 8: HENRIQUE.

Pesquisadora: Quais foram as letras? Aluno 8: E-N-R-R-I-Q-U-E

Pesquisadora: E a palavra ISRAEL? Aluno 8: I-S-R-R-A-E-U

Pesquisadora: Esse som do R é forte ou é fraco? Aluno 8: Forte, por isso é com dois R

Pesquisadora: Escreve a palavra CARRINHO

Aluno 8: Ôxe! Essa é muito fácil. É com dois R (escreve CARRINHO) Pesquisadora: Poderia ser com um?

Aluno 8: Não porque fica CARINHO (falando /r/)

Pesquisadora: Agora, dá uma olhada nessa palavra que tu escreveu. Onde estão os dois R?

Aluno 8: No meio.

Pesquisadora: No meio ...

Aluno 8: No meio da palavra ... tem duas vogais

Pesquisadora: Certo. Este som do R na palavra CARRINHO é o mesmo que a palavra HENRIQUE?

Aluno 8 (lê as palavras em voz baixa): É

Pesquisadora: Se o som é forte nos dois, então porque um é com dois R e o outro com um?

Aluno 8: Por que está no meio de vogais. Pesquisadora: tem certeza?

Aluno 8: Ôxe!

Pesquisadora: Lembra de uma regra que conversamos

Aluno 8: Eita! Era mesmo ... é forte e não tem vogal ... é N ... N e as outras eu esqueci ... é mesmo! É R.

Explicitação Sem Verbalização – ESV

Pesquisadora: 9, soletra pra mim como tu escreveu essa palavra. Aluno 9: P-R-I-N-C-E-S-A

Pesquisadora: E esta palavra? Aluno 9: S-A-N-D-R-A

Pesquisadora: Nas duas palavras você escreveu com um R, porquê? Aluno 9: Por que é, tia.

Pesquisadora: E FRAQUEZA, como você escreveu? Aluno 9: F-R-A-Q-U-E-Z-A

Pesquisadora: Olha, 2 escreveu assim FRRAQUEZA. Aluno 9: Está errado.

Pesquisadora: Por que está errado? Aluno 9: Não pode.

Pesquisadora: 5 escreveu assim SANDA. Aluno 9: Está errado também.

Ausência de Explicitação – AE

Pesquisadora: Que palavra foi essa que tu escreveu? Aluno 6: GUITARRA

Pesquisadora: Diz letra por letra Aluno 6: K-I-T-A-R-A

Pesquisadora: E essa palavra aqui? Aluno 6: CARROÇA

Pesquisadora: Não estou entendendo tua letra, soletra pra mim. Aluno 6: C-A-R-O-S-A

Pesquisadora: Tu apagou tanto que rasgou, por isso não estava entendendo. Por que tu apagou?

Aluno 6: Por que eu não sabia como escrever Pesquisadora: Que parte da palavra?

Aluno 6: Sei lá ... acho que é com dois S. Pesquisadora: E aqui ... pode colocar dois R?

Aluno 6: Acho que pode ... deixa eu ver ... pode não, pode não. Pode. Pesquisadora: Pode ou não?

Aluno 6: Acho que não. Estou certo.

Abaixo serão analisadas as respostas dadas pelas crianças durante as entrevistas clínicas quando questionadas sobre suas escritas nos ditados de palavras 1 e 2.

O quadro 9 contempla as categorias e a quantidade de explicitações dadas pelas crianças para cada regra foco de nossa pesquisa.

Quadro 9 – Tipo e quantidade de explicitações produzidas pelas crianças da Escola S em relação às correspondências fonográficas contextuais

Regularidades Contextuais

EXPLICITAÇÕES

EVD EVAM ESV AE

EC EC EC EC 1 2 1 2 1 2 1 2 R brando 0 8 0 2 10 0 0 0 em encontro consonantal 0 4 0 3 10 3 0 0 em início de palavras 1 10 0 0 8 0 1 0 em final de sílaba 2 8 1 1 4 1 3 0

depois das letras N, L ou S 0 4 0 4 6 2 4 0

forte entre vogais 2 6 2 4 1 0 5 0

Total 5 40 3 14 39 6 13 0

Legenda: EC: Entrevista Clínica inicial e final; EVD: Explicitação Verbal Direta; EVAM: Explicitação Verbal Após Manipulação; ESV: Explicitação Sem Verbalização; AE: Ausência de Explicitação

Ao observarmos o quadro 9 é possível perceber que existe uma tendência das crianças explicitarem o conhecimento sobre o uso do R em seus vários contextos mesmo que não consiga verbaliza-la independente do domínio ortográfico.

Em relação à categoria EVD quando comparamos o início e o final da pesquisa, percebemos um aumento no quantitativo de estudantes com facilidade em verbalizar diretamente algumas regras principalmente o R em início de palavras, o R brando e o R em final de sílaba. Observemos o exemplo no extrato a seguir sobre esta evolução nos dois momentos da pesquisa:

Extrato 22 EC 1

Pesquisadora: Que palavra é essa? Aluno 2: LARANJA (falando /r/)

Pesquisadora: Você escreveu com um R ou com dois? Aluno 2: Com um.

Pesquisadora: Porquê? Aluno 2: Por que é! (sorrisos)

Pesquisadora: E a palavra BARONESAS? Aluno 2: Também foi com um.

Pesquisadora: E XÍCARA? Aluno 2: Com um, também. Pesquisadora: E CACHORRO?

Aluno 2: CACHORRO-quente, essa é fácil. Com dois.

Pesquisadora: Porque nas outras palavras você disse que era com um R e nesta última você disse que era com dois?

Aluno 2: Tia, eu sei que CACHORRO é com dois R eu vejo ... as outras eu sei que não é com dois.

EC2

Pesquisadora: Próxima palavra. Aluno 2: PERU (falando /r/)

Pesquisadora: Então, você escreveu como? Aluno 2: P-E-R-U

Pesquisadora: Vamos supor que 1 escreveu P-E-R-R-U, o que você diria pra ele? Aluno 2: Que estava errado porque o som é fraco e tem que ser com um ... com dois ia ficar PERRU

Na categoria EVAM o emprego do R precedido das consoantes N, L ou S foi a regra com o maior número de estudantes que apresentou este tipo de explicitação seguido do uso da regra do R em encontro consonantal. O emprego do R em início de palavras foi a única regra em que as crianças não verbalizaram após manipulação.

Em relação à categoria ESV percebemos a redução no quantitativo de estudantes que explicitaram sem verbalizar principalmente no emprego do R brando (de 10 para 0), R em início de palavras (de 10 para 3) e R em encontro consonantal (de 8 para 0).

A Ausência de Explicitação por parte dos alunos ocorreu principalmente no uso do R forte entre vogais (de 5 para 0), R precedido das consoantes N, L ou S (de 4 para 0) e R em final de sílaba (de 3 para 0). Observemos um exemplo no extrato a seguir sobre a evolução do aluno 1 que a princípio não compreendia o emprego do R forte entre vogais e ao final demonstrou um conhecimento explícito verbal:

Extrato 23 EC1

Pesquisadora: Que palavra é essa? Aluno 1: VARREU

Pesquisadora: Diz pra mim letra por letra Aluno 1: V-A-R-E-L

Pesquisadora: E essa daqui? Aluno 1: CARROÇA

Pesquisadora: Como foi que tu escreveu? Aluno 1: C-A-R-O-S-A

Pesquisadora: Poderia ser com dois R? Aluno 1: Poderia.

Pesquisadora: Mas e aí, o certo é com um ou com dois R? Aluno 1: Acho que é com dois.

Pesquisadora: Por que foi eu quem escrevi?

Aluno 1: Não, é com um mesmo. Tá certo é com um.

Aluno 1: GUITARRA

Pesquisadora: É com um R ou com dois? Aluno 1: Com dois.

Pesquisadora: E a palavra GUERRA? Aluno 1: Com dois.

Pesquisadora: Posso escrever com um?

Aluno 1: Até pode, mas ia ficar errado ... o som é forte, tem que ser dois R ... ia ficar GUERA (falando /r/)

Entre as categorias que envolvem algum tipo de explicitação do conhecimento (EVD, EVAM e ESV), a princípio, encontramos uma quantidade maior de explicitação do tipo ESV, independente do desempenho ortográfico. Este dado sugere que existia um conhecimento explícito sobre as regras que possibilita uma manipulação das mesmas, porém a dificuldade em relacionar o conhecimento com a forma de verbalização dificultava a criança a afirmar o porquê do uso de determinado grafema. Porém, ao término da pesquisa, percebemos que o conhecimento explícito das crianças passou a ser verbalizado diretamente (EVD) ou após manipulação (EVAM).

A partir de agora, seguindo o mesmo percurso de abordagem apresentada sobre a aplicação e a análise da sequência didática, discutiremos sobre os jogos.