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5.1-Abordagem metodológica

5.4 Procedimentos Metodológicos

5.4 Procedimentos Metodológicos

Como pesquisadora, optei pelo estudo qualitativo porque parti do pressuposto que a interpretação do mundo real deve-se ao caráter hermenêutico da tarefa de pesquisar sobre a experiência vivida dos seres humanos. Para Moreira (2002: 50-1), a tarefa de “dupla hermenêutica” justifica-se pelo fato de os investigadores lidarem com a interpretação de entidades que, por sua vez, interpretam o mundo que as rodeiam. O autor ainda elucida que os objetos de estudo das ciências humanas e sociais são as pessoas e suas atividades, considerando-os “não apenas agentes interpretativos de seus mundos, mas também compartilham suas interpretações à medida que interagem com outros e refletem sobre suas experiências no curso de suas atividades cotidianas”.

A fundamentação deste estudo alicerçou-se no arcabouço teórico de estudiosos que tratam da pesquisa na formação de professores, no sentido de tecer as malhas da teoria- prática, do ensino-pesquisa e da relação pedagógica, a fim de produzir de maneira singular um conhecimento sobre ensinar, pesquisar e aprender, que ocorre nos espaços da sala de aula.

Esta prerrogativa delineou a escolha dos instrumentos usados nesta pesquisa, considerados de fundamental importância para a coleta de dados descritivos, reconstruídos, interpretados e depois transcritos em forma de textos que evidenciaram os olhares dos sujeitos quanto às questões propostas.

Apoiada em Rodwell (1993:34), em anotações de aula, elencou-se os seguintes princípios que validam a postura da pesquisadora que se adaptou a esta pesquisa durante sua execução:

-A investigadora teve como responsabilidade pessoal a avaliação cuidadosa dos princípios emitidos pelo campo da pesquisa e pode analisá-los baseados no parâmetro ético que caracteriza sua pesquisa.

-Teve como responsabilidade pessoal a aceitação cuidadosa dos princípios emitidos pelo campo da pesquisa e pelo tratamento ético dos participantes da pesquisa.

-A prática ética exigiu que a investigadora informasse aos participantes sobre todos os aspectos de pesquisa que podem influenciar a vontade de participar.·A prática ética da pesquisa requereu liberdade.

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-A coleta de dados foi um processo de trocas, negociações de pontos de vista que geraram conflitos. Entretanto, as informações obtidas sobre os participantes da pesquisa, durante o curso da investigação, foram confidenciais.

Quanto aos instrumentos e técnicas de coleta e análise de dados consultamos Triviño (1993), André (1978, 1983 e 1993), Ludke e André (1986) e Chizzotti (1995).

Especificamente, André (1978:29) afirma que:

As técnicas utilizadas pelo pesquisador são muito similares às empregadas por outros pesquisadores, como por exemplo, a observação sistemática e a entrevista. Entretanto há grande diferença entre eles quanto aos momentos à situação em que estas técnicas são usadas. O pesquisador etnográfico pode fazer observações e entrevistas em citações as mais variadas. (André, 1978:10)

Não se pode desconsiderar a questão da subjetividade dos dados. Vários autores consideram a importância da intuição e da subjetividade de qualquer pesquisador no tratamento do objeto a ser pesquisado, Chizzotti (1995); Ludke e Andre (1986), ao tratar da subjetividade do pesquisador no processo de pesquisa, enumeram duas tendências:

a) Uma mais tradicional que rejeita os julgamentos do pesquisador;

b) Outra, mais equilibrada, que reconhece a indissociabilidade entre valores pessoais e processo de pesquisa.

A opção em registrar as marcas que a experiência profissional estabeleceu nos professores-cursistas permitiu apreender do objeto de estudo desta pesquisa a procura de instrumentos de coleta de dados que trabalham com a flexibilidade de dados obtidos e consideram as marcas subjetivas que se relaciona com o objeto. Entretanto, se por um lado esse prisma de ação colabora para resgatar o processo histórico da pesquisa, interfere, bruscamente, na delimitação, exigindo uma postura resistente, como pesquisadora, ao relato de história de vida desses sujeitos.

A escolha pelos instrumentos, técnicas e métodos para se empreender na análise dos dados foi menos traumática, quando se compreendeu que o referencial teórico que define este estudo repercute na natureza e na qualidade dos tratamentos dos dados levantados, principalmente quando a pesquisadora encontrou-se envolvida com o objeto a ser pesquisado.

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Quanto a forma como os dados foram tratados, Chizzotti (1995:85) esclarece que as técnicas utilizadas no tratamento observaram a consistência interna, a transferência a outras fontes e a credibilidade de sua elaboração. Sobre as técnicas de pesquisa comenta:

A pesquisa qualitativa pressupõe que a utilização dessas técnicas não deve construiu um modelo único, exclusivo e estandardizado. A pesquisa é uma criação que mobiliza a acuidade inventiva do pesquisador, sua habilidade artesanal e sua perspicácia para elaborar a metodologia adequada ao campo de pesquisa, aos problemas que enfrenta com as pessoas que participam da investigação. O pesquisador devera, porem, expor e validar os meios e técnicas adotadas, demonstrando a cientificidade dos dados colhidos e dos conhecimentos produzidos. (Chizzotti, 1995: 85)

A teoria da pesquisa cresceu quando se gestou em condições de produção dados resultantes de um percurso (com)partilhado com ideias complementares, como também paradoxais ao objeto da pesquisa. Desta forma, os conceitos teóricos modularam a abordagem metodológica, e esta abordagem foi atravessada pelas relações que se estabelecem com o objeto pesquisado, singularizando-o para a produção de um novo conhecimento, que a tarefa de investigação científica exige e permite.

o pesquisador deve, preliminarmente, despojar-se de preconceitos, predisposições para assumir uma atitude aberta a todas as manifestações que observa, sem adiantar explicações nem conduzir-se pelas aparências imediatas, a fim de alcançar uma compreensão global dos fenômenos, Essa compreensão será alcançada com uma conduta participante que partilhe da cultura, das práticas, das percepções sociais por eles atribuídas ao mundo que os circunda e aos que realizam... O pesquisador deve manter uma conduta participante: a partilha substantiva na vida de nos problemas das pessoas. (Chizzotti, 1995: 82)

Nesta pesquisa, denominada qualitativa e quantitativa, a pesquisadora é inclinada a buscar, na literatura sobre métodos e técnicas de investigação, argumentos do enfoque qualitativo a ser impresso neste estudo, com o desejo de trabalhar um paradigma de análise que desse conta de depreensão das realidades de forma objetiva, a considerar as marcas históricas do sujeito/objeto. Metodologicamente, pode-se apontar o paradigma interpretativo, pois este concebe o indivíduo como um sujeito social, em constante interação.

Nesse caso, envolvida no processo desta pesquisa na qual me insiro como sujeito, busco nas trocas de pontos de vista, a superação de algumas dúvidas. Por outro lado, outras

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persistem e, a cada dúvida discutida, o conhecimento se sedimenta, compondo novos tijolos a serem alicerçados pelo olhar da pesquisa.

Nesse enfoque, buscou-se dialogar com a heterogeneidade de pontos de vistas sobre a constituição de sujeitos de uma pesquisa. Durante o processo etnográfico elencaram-se alguns argumentos que possibilitaram encontrar o que foi assinalado na trilha do estudo desenvolvido, o qual pautou-se na reflexão sobre a relação linguagem e educação, na emergência de um paradigma crítico na formação de professores em exercício do PARFOR.

A concepção pragmática se opõe radicalmente a idéia de que a língua seja apenas um instrumento para transmitir informações; ela coloca em primeiro plano o caráter interativo da atividade de linguagem, recompondo o conjunto da situação de enunciação, etc, aspectos estes que vão inteiramente ao encontro das opções da A.D. (Maingueneau, 1989: 32)

Nesse cenário, houve necessidade de um aporte teórico subsidiado pela Análise do Discurso, como referencial para uma abordagem de pesquisa, que esclarece alguns pressupostos acerca dos professores-cursistas como sujeitos desta pesquisa, a saber:

-O sujeito é pensado na engrenagem de funcionamento dos enunciados.

-O discurso é uma manifestação ideológica. Não é apenas transmissão de sentidos, mas efeitos de sentidos entre seus participantes.

-O sujeito se constitui ao inserir-se em lugar social determinado.

Nesta pesquisa, tornou-se possível utilizar a análise do discurso como um instrumento linguístico que expõe pontos capazes de propiciar a compreensão do objeto de estudo, uma vez que esta se apoia em manifestar o dito e o silêncio dos discursos e, também, como uma produção ideológica. Igualmente, a análise do discurso trata da linguagem em uma abordagem pragmática, isto é, como uma forma de ação entre os sujeitos, em um certo contexto. Essa premissa converge para os postulados que foram elencados neste estudo, a imprimir novas configurações.

A análise do discurso considera os sujeitos em uma perspectiva situacional. Desta forma, aponta para a preocupação de enfocar professores-cursistas como sujeitos na educação, no papel que estes ocupam nas situações escolares. Professor e aluno não são apenas sujeitos da educação. Eles estão na educação, com suas marcas linguísticas impregnadas. Assumir a análise do discurso como elemento para o método de análise de dados baseia-se em sua

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premissa de não atribuir sentido literal à linguagem, sem creditar sentido a priori, convergindo para a exigência do princípio êmico da abordagem qualitativa, pois: “Não há um sentido e suas margens, há só margens” (Orlandi, 1988: 27).

A titulo de sistematização esquematizo os itens de uma metodologia de pesquisa, a ser utilizada, respaldada em Lofland, apud Triviños (1993).

Segundo essa ultima fonte, um fenômeno social é constituído pelas categorias de atos, atividades, significados, participação, relações e situações, posto que:

Os atos seriam situações que se desenvolvem em uma situação cujas características principais, em relação ao tempo, estariam apresentados por sua brevidade. Esta poderia ser medida em horas, minutos, segundos. As atividades. Estão representadas por ações em uma situação mais ou menos prolongada e que poderiam ser estudadas através de dias, semanas, meses. Os significados. Manifestam-se através das produções verbais das pessoas envolvidas em determinadas situações e que comandam as ações que se realizam. A participação. É p envolvimento do sujeito ou adaptação do mesmo a uma situação em estudo. As relações. Surgem no intercâmbio que se produz entre várias pessoas que atuam numa mesma situação simultaneamente e toma as características das interações. As situações. Estão constituídas pelo foco em estudo pela unidade que se pretende analisar.” (Triviños, 1993: 126)

As categorias deste estudo apresentam-se nas práticas discursivas da sala de aula como práticas sociais que se ressignificam ao longo do tempo em que ocorrem e são constituídas:

-Das falas que se configuram em discurso de sala de aula, pois são enunciações situadas em tempo e espaço experienciados por indivíduos em papéis socialmente marcados.

-Da situação em que ocorrem essas práticas: no caso a sala de aula, como um espaço físico e como o acontecimento da aula.

-Das condições de produção em que essas práticas se dão: condições tidas como as marcas que o contexto linguístico e extralinguístico possibilitam.

-Dos significados que essas práticas assumem para se categorizarem como práticas de sala de aula.

A direção pela análise do discurso foi definida pelas configurações que o objeto de pesquisa assimilou no processo da pesquisa e constituiu-se em um componente da metodologia dos dados sem desconsiderar os elementos que definem o objeto. Como abordagem discursiva, a análise do discurso como suporte metodológico exigiu particularizar

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a visão dos sujeitos da pesquisa. Daí, contextualizam os sujeitos na educação, no espaço de sala de aula. Também essa abordagem discursiva considera a historicidade do fenômeno educacional, relacionando-se com o modo definição de vários conceitos teóricos deste estudo. Com encontro em Bourdieu (1989), após registro dessas ideias, uma identidade com o meu pensar, aproprio-me do seu discurso para construir, nos espaços de incompletude de minha linguagem, uma síntese do meu pensamento.

a construção do objeto, pelo menos na minha experiência de investigador não é uma assentada, por uma espécie de ato teórico inaugural, e o programa de observação ou de análises por meio do qual a operação se efetua não é um plano que se desenhe antecipadamente, à maneira de um engenheiro: é um trabalho de grande fôlego, que se realizada pouco a pouco, por retoques sucessivos, por toda uma série de correções, de emendas sugeridos por o que se chama de oficio, quer dizer, esse conjunto de princípios práticos que orientam as opções ao mesmo tempo minúsculas e decisivas.

5.5 Entrevistas

Essa técnica de coleta de dados é um dos principais instrumentos usados nas pesquisas das ciências sociais, desempenhando papel importante nos estudos científicos. Segundo Ludke e André (1986: 34), a grande vantagem dessa técnica em relação às outras “é que ela permite a captação imediata e corrente da informação desejada, praticamente com qualquer tipo de informante e sobre os mais variados tópicos”. Conforme Moreira (2002: 54).

A entrevista pode ser definida como “uma conversa entre duas ou mais pessoas com um propósito específico em mente”. As entrevistas são aplicadas para que o pesquisador obtenha informações que provavelmente os entrevistados têm.

A estrutura da entrevista levará em consideração as respostas colhidas pelo pesquisador e tem a finalidade de aprofundar as questões e esclarecer os problemas observados, mediante a análise de conteúdo. Os documentos oficiais do PARFOR serão usados no sentido de contextualizar o fenômeno, explicitar suas vinculações mais profundas e completar as informações coletadas através de outras fontes.

Para André (1995: 28), os sujeitos pesquisadores e os documentos serão a base que sustentará os resultados desta pesquisa, pois a escolha dos entrevistados já está vinculada à necessidade de compreender o referencial simbólico, o espaço escolar, os códigos e as

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práticas de um universo cultural específico, que não apresenta contornos muito bem definidos, ou seja, o PARFOR. De um modo geral, pesquisas de cunho qualitativo exigem a realização de entrevistas, quase sempre longas e semiestruturadas.

Nesses casos, a definição de critérios segundo os quais foram selecionados os sujeitos que vão compor o universo de investigação foi algo primordial, pois interferiu diretamente na qualidade das informações a partir das quais será possível construir a análise e chegar à compreensão mais ampla do problema delimitado. A descrição e delimitação da população base, ou seja, dos sujeitos a serem entrevistados, assim como o seu grau de representatividade no grupo social em estudo, constituem um problema a ser imediatamente enfrentado, já que se trata do solo sobre o qual grande parte do trabalho de campo será assentado, segundo Duarte (2002: 141).

As questões alavancadas nas entrevistas deram o suporte necessário para que o perfil dos sujeitos, sua atuação no espaço-tempo educativo no qual estão inseridos, suas conclusões sobre as contribuições que o curso agregou ao cotidiano de cada professor-cursista dentre outros que perpassaram por modificações causadas pelo surgimento de outras indagações.

Sendo assim, a entrevista semiestruturada aconteceu “a partir de um esquema básico, porém não aplicado rigidamente, permitindo que a pesquisadora faça as necessárias adaptações” (Ludke e Andre, 1986: 34). Além das entrevistas realizadas, em dias alternados, se configurou na qualidade das informações, o respeito à disponibilidade dos professores- cursistas, e a qualidade verificada nos depoimentos. À medida que se colheu os depoimentos, foram levantadas e organizadas as informações relativas ao objeto da investigação e, dependendo do volume e da qualidade delas, o material de análise tornou-se cada vez mais consistente e denso (Duarte, 2005: 144).

5.6 Coleta e análise dos dados

Após o planejamento e a coleta das fontes necessárias para o processo de investigação, a análise dos dados aconteceu a parte mais minuciosa e laboriosa da pesquisa, por ser uma tarefa individual que exigiu sensibilidade, reflexão, organização, leitura e visão crítica da pesquisadora. Para que a constatação de todos os elementos relacionados à realidade da temática pesquisada fosse demonstrada, fez-se mister um confronto com o referencial teórico