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5.1-Abordagem metodológica

5.2 Tipo de Pesquisa

do PARFOR com o objeto de ensino destes, ou seja, a Língua Portuguesa, na perspectiva de perceber o que eles experimentam no espaço escolar, o modo como interpretam as experiências linguísticas e como estruturam o mundo social em que vivem.

5.2 Tipo de Pesquisa

O objeto empírico desta pesquisa está fundamentado na vivência com os respondentes, ao analisar suas falas por meio de entrevista, seus escritos, via diário de campo e seus questionários .Durante toda trajetória desta investigação, utilizou-se a linguística como o aspecto coletivo e virtual da linguagem, enquanto que o da análise de conteúdo é a fala, isto é, o aspecto individual e em ato da linguagem. Desse modo, a linguística trabalha numa língua teórica, vista como um conjunto de sistema que a autoriza.

Por outro lado, a análise de conteúdo trabalha a fala, quer dizer, a prática da língua realizada por emissores não identificáveis. A linguística estabelece o manual do jogo da língua; a análise de conteúdo tenta compreender os jogadores ou ambiente do jogo num momento determinado, com o contributo das partes observáveis. Como linguística se apenas se ocupa das formas e da sua distribuição, a análise de conteúdo toma em consideração as significações, eventualmente a sua forma e a sua distribuição com índices formais e análise de concorrência.

É o trabalhar da fala e as significações que diferenciam a análise de conteúdo da linguística, embora a distinção fundamental resida noutro lado. A linguística estuda a língua para descrever o seu funcionamento. A análise de conteúdo procura conhecer aquilo que esta por trás das palavras sobre as quais se debruça. A linguística é um estudo da língua, a análise de conteúdo é uma busca de outras realidades por meio das mensagens. Foi nessa direção que esta pesquisa direcionou-se. Por meio da semântica realizou-se o estudo do sentido das unidades linguísticas, as quais funcionaram, portanto, com o material principal da análise de conteúdo: os significados. Descreveu-se, no entanto, os universais do sentido linguístico em nível da língua e não apenas das falas no momento das entrevistas.

A análise de conteúdo, por seu lado, visou o conhecimento de variáveis de ordem psicológica, sociológica, histórica, por meio de um mecanismo de análise de dados, a partir de indicadores reconstruídos, por uma amostra de mensagens dos respondentes.

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A análise do discurso foi eventualmente utilizada tal como a análise de conteúdo, com unidades linguísticas superiores à frase, ou seja, com os enunciados . Mas como o seu objetivo revela da mesma dimensão que o objetivo puramente linguístico do qual ela deveria por extensão – formular as regras de encadeamento das frases, quer dizer, ao fim e ao cabo descrever as unidades (as macrounidades que são os enunciados) e a sua distribuição – tornou-se difícil situá-la na contiguidade (e mesmo no lugar) a análise do conteúdo.

Alguns aspectos da abordagem etnográfica foram delineados nessa investigação a fim de compreender dois níveis de análise; o primeiro, foi o nível macro baseado no enquadramento descritivo analítico de descrição densa, apresentado por Geertz (1989), e formulada por Ryle (1949) os quais puderam contribuir, para compreender de maneira mais ampla e qualitativa, o universo a ser pesquisado, sem perder de vista a complexidade da relações de poder; o segundo, foi o nível micro baseado no enquadramento analítico das interações face a face, nos momentos da entrevista e dos questionários.

As dimensões foram exploradas dialeticamente, a priorizar a dimensão particular, que se articula com a geral, ressignificado-a e retornando ao particular. Para que essa dialética ocorresse, foram utilizadas as inferências e hipóteses progressivas (Hammesley, 1994:79) pois através destes recursos, o movimento dialético reflexivo de questionamento do objeto se fez presente e o processo de construção do significado alcançou qualidade e validação.

Essa pesquisa foi um processo guiado preponderantemente pelo senso questionador e imersão na ambiência de sala de aula dos professores-cursistas pela pesquisadora. Deste modo, a utilização de técnicas e procedimentos de pesquisa não seguiram padrões rígidos ou pré-determinados, mas, sim, o que a pesquisadora desenvolveu a partir do trabalho de campo no contexto social da pesquisa. As técnicas foram reformuladas para atenderem à realidade do trabalho dos respondentes em sala de aula. Nesta perspectiva, o processo de pesquisa se deu determinada explícita ou implicitamente pelas questões propostas pela pesquisadora.

Alguns pontos da etnografia, como uma breve abordagem de investigação científica, trouxeram algumas contribuições para o campo desta pesquisa qualitativa/quantitativa, o que não pode ser asseverado como caráter etnográfico. Esta investigação científica partiu do estudo das desigualdades a exclusões sociais: primeiro, por preocupar-se com uma análise dialética da cultura, isto é, a cultura não foi vista como um mero reflexo de forças estruturais da sociedade, mas como um sistema de significados mediadores entre as estruturas sociais, a

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linguagem e a ação humana; segundo, por introduzir os respondentes com uma participação ativa e dinâmica no processo modificador das estruturas sociais, em suas salas de aula.

O objeto desta pesquisa é considerado como agência humana na qual é imprescindível o ato de fazer sentido nas contradições sociais; e terceiro, por revelar as relações e interações ocorridas no interior da escola, de forma a abrir apresentar as lacunas do processo de escolarização (Mehan, 1992; Erickson, 1986). Assim, o sujeito, historicamente fazedor da ação social, contribui para significar o universo pesquisado, exigindo uma constante reflexão e reestruturação do processo de questionamento do pesquisador.

Este estudo científico perpassou pela: pesquisa social, observação participante, interativa e analítica do comportamento dos professores-cursistas. Compreendeu o estudo, pela observação direta por um período de dois anos, das formas costumeiras do viver dos 24 professores em exercício. Este período se fez necessário para que a pesquisadora pudesse entender e validar o significado das ações dos/as participantes, de forma que este fosse o mais representativo possível do significado que as próprias pessoas pesquisadas dariam a mesma ação, evento ou situação interpretada.

O marco conceitual com o qual se significou este estudo empírico foi o interacionismo simbólico (Schütz, 1962; Park e Burgess, 1921; Blumer, 1937; Thomas, 1927), especialmente, nas análises do processo de socialização, entendido como uma negociação constante que não se limitou ao vínculo social. O interacionismo simbólico representa uma das principais escolas de pensamento da sociologia e tem como característica incorporar a reflexividade na análise da ação (Mead, 1934), Assimilado pelo pensamento sociológico como parte da psicologia social, o interacionismo simbólico é largamente representado nos estudos do cotidiano e da interação face a face (Giddens, 1997: 286). Nesse contexto, foram utilizados alguns princípios básicos que orientaram este estudo:

-Os professores-cursistas agiram a partir do sentido que elas atribuíam às situações, às outras pessoas e aos objetos;

-A significação foi construída socialmente, neste sentido, o social está em cada um; -A interação foi processo de construção formadora de ambientes entre as pessoas; -Os atores sociais foram agentes ativos da elaboração de esquemas interpretativos, análises e categorias que não se tornaram definitivos nem apriorísticos;

-O significado dado pelos participantes foi ressignificado em função da situação e do contexto;

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-Os contextos sociais pela perspectiva do interacionismo simbólico não são estáticos, eles contem sua história, seus valores, seus riscos e seus limites, com a necessidade de uma devolutiva dos resultados para eles acerca da observação realizada, para saber como eles a interpretam.

-Para entender o significado do caráter pessoal aplicado à pesquisa qualitativa fez-se necessário unir os aspectos empíricos estudados a partir do interesse comparativo e a conexão histórica entre eles.

-Estabeleceu-se relações de proximidade com os respondentes, transcreveu-se textos, mapeou-se histórias de vida, elaborou-se um diário, descreveu-se as informações com densidade e fidedignidade.

-Apresentou-se significado às perspectivas imediatas que os respondentes tiveram em termos dos quais os eventos, fatos, ações e contextos foram produzidos, percebidos e interpretados, e sem os quais não existem como categoria cultural.

Toda descrição desta pesquisa dependeu das qualidades de observação, de sensibilidade, da linguagem utilizada, do conhecimento do contexto estudado, da interação prévia estabelecida pela pesquisadora. Em microanálise, ao mesmo tempo em que se dá ênfase ao significado das formas de envolvimento do comportamento que sofre uma transcrição verbal e não-verbal. Olhares, pausas, tom de voz, detalhes da interação, revestidos de significados, tornam-se objeto da microanálise (Erickson e Mohatt, 1982; Erickson, 1992; Kendib 1977).

Antes de trabalhar a utilidade destes conceitos na prática da pesquisa se fez necessário explicar a natureza dos termos aplicados, por meio da interação, Interação como processo que ocorre quanto pessoas agem, em relação recíproca, em um contexto social. Este conceito implicou, portanto, uma distinção entre ação e comportamento, que inclui tudo que o indivíduo faz. Ação é um comportamento intencional baseado na ideia de como outras pessoas e situações sociais e, baseando-nos nelas, foram elaboradas ideias sobre as expectativas, os valores, as crenças e atitudes que a ela se aplicam. Com esta base, resolveu-se agir de maneira que os termos terão os significados que transmitem (Mead, 1943; Schütz, 1962; Weber, 1921; Woods, 1992).

Concorda-se neste estudo com Geertz, quando explica que o conceito de cultura é semiótico, como tal, não é um poder, alguma coisa que pode ser atribuída casualmente aos

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fatos sociais, aos comportamentos, às instituições ou aos processos, visto que cultura é contexto, onde esses fatos, comportamentos, instituições, podem ser descritos de forma inteligível, com densidade (Geertz,1989;24).

Considerar cultura como contexto, implica ampliar o entendimento dos professores- cursistas entendimento quanto ao relativo a contexto, com um local, o background de uma cena, aquilo que é parte integrante do fato, do evento. Cultura é a forma como o homem significa o seu mundo a partir da teia de signos e símbolos criados e tecidos ao longo de sua história (Weber, 1921; Geertz, 1989; Erickson, 1987).

Na abordagem dialética da análise dos questionários, evitou-se o estudo isolado de um fragmento da fala, destacado do que esta significa para os respondentes e para as outras pessoas dentro do contexto. Precisou-se observar em detalhe a ação verbal e não-verbal na cena em que ocorre a interação e o evento de fala (Kendon, 1977). A preocupação foi com a totalidade, pois esta influencia as partes em si mesma e em cada outra parte do todo.

Nesta investigação científica notou-se que a interação é um movimento porque existe outra atividade acontecendo a cada instante, concomitante um determinado tempo da história no cotidiano. O contexto existe, e isto é importante de ser apontado, mas é relevante ainda saber a recorrência desta conjuntura em relação ao objeto de estudo. Saber quando o contexto aparecerá novamente, seu padrão de reiteração, foi parte fundamental da aprendizagem da análise sociocultural.

A questão que envolve a identificação de um contexto, já explorada em alguns estudos interpretativos, envolve um tipo característico de problema apresentado na pesquisa como uma pessoa pode usar apropriadamente uma forma de interação social que se torna imprópria em outro contexto.

Assim pode-se reportar ao entendimento da dialética de organização de uma cena interativa na pesquisa, como a interação muda de momento para momento, de contexto para contexto é vista como um sistema flutuante, não fixo, portanto, difícil de significar.

A tentativa foi atribuir significado ao local pela narrativa descritiva, por meio de termos os mais próximos possíveis daqueles usados pelos professores-cursistas. Termos que eles usariam se lhes fossem permitido falar. Fazer isso é diferente de escrever protocolos de fala, nos quais se desenvolve uma interação com grande detalhe do comportamento do que as pessoas mesmas.

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A narrativa de uma cena interativa deve levar em conta o modo como se apresentam os atores e a perspectiva deles. Para isso, é importante se conhecer o significado local da ação. Ao tentar escrever sobre o outro, de uma maneira em que o ponto de vista dele seja considerado, estamos tocando um ponto frágil da utilização da pesquisa qualitativa: o sentido das maneiras de organização dos outros, de um modo que a abordagem não seja comprometedora, invasora, discriminatória, opressora ou excludente.

Os dados empíricos desta pesquisa esteve voltado com mais interesse pela proposta qualitativa do que pelo procedimento de coleta de dados. Um instrumento de pesquisa não constitui necessariamente um método de pesquisa. Portanto, enfatizou-se os problemas de conteúdo e o tema da investigação proposto, tanto quanto ou mais que os procedimentos utilizados por ela, a fim de visualizá-lo Em em sua totalidade e ter propósitos bem definidos.

Neste estudo empírico, combinou-se uma análise detalhada de comportamentos dos professores-cursistas, seus significados no dia a dia de interação social. Foi analisado também o contexto social em que o comportamento dos respondentes está inserido. A análise da interação face a face foi uma das formas de procedimento que se escolheu para realizar esta tarefa. Primou-se pela postura de ser específico sem ser abstrato, ser empíricos sem ser positivistas, mas rigorosos na descrição minuciosa dos dados (Erickson, 1988:67). Esta pesquisa envolveu:

-um extensivo trabalho por um longo período de tempo de campo num determinado local;

-um cuidadoso registro sobre os acontecimentos ocorridos neste espaço: notas de campo, registros de arquivos e documentos, vídeos, fichas;

-uma análise indutiva dos dados, iniciando do particular para o geral e voltando ao particular de maneiro enriquecida;

- uma relação dialética entre objetividade e subjetividade;

-uma reflexão analítica destes documentos colhidos no campo e registros do significado numa densa e detalhada descrição, usando vinhetas narrativas, citações de entrevistas, descrições de lugares e situações observadas, descrições estatísticas e gerais em forma de gráficos e falas;

-uma interpretação de dados em múltiplos níveis; uma preocupação com a influência da historia na leitura e interpretação dos dados;

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Neste procedimento analítico, a pesquisadora delineia sua linha de questionamento, os temas que passam a pertencer ao corpo do trabalho. Estes temas podem mudar a resposta ao caráter distinto de um evento ocorrido no local da pesquisa.

Segundo André (1995: 28), alguns procedimentos da pesquisa etnográfica foram tomados como bússola para a caracterização desta investigação, que tem na observação participante, na entrevista e na história de vida seus meios para que fosse definido o tipo de pesquisa qualitativa.

A observação participante inicia-se com o princípio de que o pesquisador tem sempre um grau de interação com a situação estudada, afetando-a e sendo por ela afetada. As entrevistas têm a finalidade de aprofundar as questões e esclarecer os problemas observados. Os questionários são usados no sentido de contextualizar o fenômeno, explicitar suas vinculações mais profundas e completar as informações coletadas através de outras fontes.

A observação participante como uma metodologia de investigação pressupõe que é somente através da imersão no cotidiano de uma outra cultura que o(a) antropólogo(a) pode chegar a compreendê-la (Caldeira apud Santos, 2005: 13).

Na observação participante de pesquisa qualitativa, os investigadores adentram o mundo dos sujeitos observados, tentando entender o comportamento real dos informantes, suas próprias situações e como constroem a realidade em que atuam.

Segundo Moreira (2002: 52), a observação participante é conceituada como sendo “uma estratégia de campo que combina ao mesmo tempo a participação ativa com os sujeitos, a observação intensiva em ambientes naturais, entrevistas abertas informais e análise documental”.

5.3. Local e sujeitos

No sentido de elucidar o locus desta pesquisa apresenta-se o PARFOR, na modalidade presencial que é um Programa instituído para atender o disposto no artigo 11, inciso III do Decreto nº 6.755, de 29 de janeiro de 2009 e implantado em regime de colaboração entre a Capes, os estados, municípios o Distrito Federal e as Instituições de Educação Superior – IES, do Brasil. O universo desta pesquisa envolveu 37 sujeitos do Programa PARFOR, mas apenas 24 professores-cursistas em exercício deram retorno, sendo três do sexo masculino e 21 do