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4 O DISCURSO SOBRE A ARTE COMO FATOR DE INCLUSÃO

4.2 Desenho da pesquisa

4.2.1 Processo de coleta de dados: entrevistas e seleção dos entrevistados

Foram realizadas cinco entrevistas com roteiro impresso (Anexo 03), o qual serviu de guia para orientação das questões, mas que, conforme o desenrolar da conversa, mudava a sequência e duração. “A entrevista não se processa numa relação de ‘sentido único’, não segue uma ordem linear.” (ZAGO, 2003, p. 305). As entretrevistas foram captadas com gravador digital de áudio e foram transcritas na íntegra. No início de cada entrevista o objetivo da pesquisa era novamente esclarecido, mesmo que já tenha sido explicitado no primeiro contato anterior à entrevista. Todas as entrevistas foram agendadas e ocorreram em espaços diferenciados, conforme a preferência das mães pesquisadas: nas escolas em que os filhos estudam, na casa delas e no local de trabalho. Para o registro das entrevistas foi utilizado um gravador digital de áudio da marca Digital Life DL, com 1GB de memória. Para a transcrição das entrevistas foi utilizado o programa Windows Media Player, que possibilitava a escuta através do computador, feita com fones de ouvido para uma maior atenção.

As participantes são todas mães, selecionadas mediante o perfil traçado no princípio da pesquisa: famílias com filho(s) com deficiência matriculados em escolas particulares, fato que reitera as concepções abordadas por Da Matta (1985), inferindo que a educação dos filhos é tarefa das mães. As entrevistas foram feitas com cinco mães, dentre as quais três têm apenas um filho e duas têm quatro filhos. Quatro mães são casadas. Uma mora em um apartamento

com marido e filho. A outra é casada, mas não vive com o marido; mora somente com a filha, pois o marido se encontra trabalhando fora do país. Segundo ela, seu retorno se deveu essencialmente pela procura de uma estrutura adequada de educação à sua filha. A terceira mãe é separada e mora com seu filho. A quarta mãe mora em uma casa com seu marido e seus quatro filhos, sendo que dois são gêmeos. A última mãe entrevistada têm quadrigêmeos e mora em uma casa com seu marido, que viaja durante a semana.

A primeira mãe entrevistada, foi selecionada mediante indicação da diretora da escola, assim como a segunda, o que não ocorreu com a terceira, pois nao houve intevenção da escola, e sim, minha busca pessoal por já ter trabalhado na instituição onde seu filho estuda e recordar do caso e do local de trabalho desta mãe. A quarta mãe foi indicada por uma pessoa conhecida, sendo que a própria mãe entrevistada indicou a quinta participante.

Lahire (1997, p. 77) salienta que o essencial nao é confrontar as "verdades" nas entrevistas, e sim, reconstruir, com base nas informações, a realidade social. Para o autor, não importa saber se os entrevistados falaram a verdade ou não, mas tentar reconstruir relações de interdependências e disposições sociais prováveis através das convergências e contradições entre informações verbais do pai e as fornecidas pela mãe ou pela criança", em consonância com as informações verbais, contextuais ou estilísticas.

O quadro abaixo apresenta o perfil das mães entrevistadas e de seus filhos:

Quadro 03 - Dados de identificação das entrevistadas e seus filhos

Nome32 Idade Profissão Diagnóstico do filho Identificação do filho Idade

Frida 01 42 Professora Síndrome de Down Júlio 8 Anita 02 43 Designer de moda Autista Camila 9 Lygia 03 41 Auxiliar administrativo Deficiência Intelectual Daniel 13 Tarsila 04 37 Coordenadora e empresária Paralisia Cerebral Gustavo e Leandro 8

Fayga 05 41 Fonoaudióloga Paralisia Cerebral Lívia 5

32 Os nomes são referentes a artistas plásticas: Frida Kahlo, Anita Malfatti, Lygia Clark, Tarsila

do Amaral e Fayga Ostrower, escolhidos aleatoriamente para preservar a identidade da pesquisada.

Através do quadro percebe-se que o diagnóstico é variado, com exceção das famílias 04 e 05. A idade dos filhos é próxima, entre cinco e treze anos. A profissão das mães é variada: Frida é professora, Anita designer de moda, Lygia é também professora, mas atualmente trabalha como auxiliar administrativo, Tarsila é formada em Ciências da Computação, no entanto hoje coordena uma escola na qual é proprietária e Fayga é fonoaudióloga. Em termos econômicos, a faixa salarial é variada, sendo que se assemelha entre Frida e Lygia, diferindo apenas de Anita, que é maior, porém é relativamente menor comparada à Tarsila e Fayga, que têm o maior rendimento econômico.

DESCRIÇÃO DA ENTREVISTA Nº 01 Identificação: Frida

Quem foi responsável pelo trâmite da entrevista foi uma amiga, que possui um estabelecimento comercial e tem como cliente a dona de uma escola de Educação Infantil. Esta escola existe há dezoito anos, está localizada em São José e atende a uma clientela distinta, sendo que aposta na inclusão de alunos com deficiência. Fiz algumas tentativas por telefone, e aproximadamente na terceira vez, em dia alternado, consegui contato. Agendamos uma conversa e na ocasião, expliquei detalhadamente do que se tratava, e após cerca de uma hora, Alice, a diretora e proprietária, pensou numa mãe com o perfil, entrando em contato com ela e alguns dias depois, confirmando data e horário da entrevista. No dia da entrevista, Frida compareceu com seu filho, que aguardou em sala de aula enquanto conversávamos. Como a escola estava em reforma, demoramos a iniciar a entrevista, o que foi oportuno para traçarmos um diálogo, que introduziu a conversa. A entrevista ocorreu na sala da direção, com a presença de Alice, que em alguns momentos ausentava-se. Durou cerca de cinquenta minutos. Frida detalhava bastante tudo o que era perguntado. Percebi que em alguns momentos ela acabava fugindo um pouco do questionamento inicial, o que tornou a entrevista um pouco longa pela necessidade de retomar algumas falas.

DESCRIÇÃO DA ENTREVISTA Nº 02 Identificação: Anita

Visitei uma escola indicada pela coordenadora de outra instituição, que sabia que nesta existiam alunos com deficiência. É uma escola de um bairro considerado de elite em Florianópolis, porém, atende apenas até o Ensino Fundamental I, o que a caracteriza como escola de pequeno porte. Conversei com a coordenadora, que prontamente telefonou e agendou uma entrevista para o mesmo dia, cerca de duas horas após. A mãe Anita veio antes do horário estipulado, e assim que eu cheguei à escola ela veio ao meu encontro perguntando se eu era a “moça do mestrado”. Trocamos algumas ideias neste momento, onde pude expor como seria a entrevista. Fomos encaminhadas a uma sala de coordenação, juntamente com Jéssica, que é assistente de educação especial da escola. Ela acompanhou toda a entrevista que foi breve, com duração de aproximadamente vinte minutos. Anita mostrou ser uma pessoa prática, isso ficou claro na sua maneira de responder às perguntas, bastante direta, sem dispersar. Anita é brasileira, mas morava na Espanha há dezessete anos, tendo que retornar ao Brasil em função da educação da filha, enquanto o marido permaneceu na Espanha gerenciando a empresa que possuem.

DESCRIÇÃO DA ENTREVISTA Nº 03 Identificação: Lygia

Com as dificuldades em conseguir pessoas para entrevistar, lembrei-me de um aluno muito comunicativo que tive numa escola que trabalhei há dois anos atrás, o Daniel, que falava muito de sua mãe. Fui ao seu local de trabalho e por sorte a encontrei. Quando fui professora do Daniel conversava bastante com esta mãe, porque não havia um diagnóstico preciso sobre a deficiência dele. Neste primeiro encontro ela relatou que estava contente e aliviada, pois há

cerca de três meses descobrira a deficiência do filho. Conversamos por alguns minutos, trocamos fones e e-mail e marcamos o encontro. A entrevista aconteceu em sua casa e ela havia separado muitas coisas: trabalhos de seu filho, diagnósticos, diplomas, entre outros. A ordem das perguntas foi bastante alternada, pois Lygia respondia às questões conforme discorria sua fala. Eu a interrompi poucas vezes, isto é, ela relatava detalhadamente todas as perguntas, muitas vezes saindo do foco. Poucas vezes ela citou o pai de Daniel, o qual foi casada por quatro anos. Conversamos por cerca de quarenta e cinco minutos.

DESCRIÇÃO DA ENTREVISTA Nº 04 Identificação: Tarsila

No último semestre do desenvolvimento da investigação, houve a necessidade de obter mais pelo menos duas entrevistas. Através da indicação de uma professora, cheguei até Aline, uma pessoa que conhece famílias que possuem filhos com deficiência, pois trabalha com isso. Na ocasião, Aline agendou por telefone meu encontro com Tarsila, que foi realizado em sua escola, que também atende crianças com deficiência. A conversa foi breve, com duração aproximada de vinte e cinco minutos. Curiosamente foi a entrevista mais produtiva, no sentido de organizada, focada e também sucinta. Tarsila demonstrou interesse em ajudar porque acredita na pesquisa acadêmica e suas contribuições, apresentando-me a outros pais que possuem filhos com deficiência, possibilitando a quinta entrevista desta pesquisa.

DESCRIÇÃO DA ENTREVISTA Nº 05 Identificação: Fayga

Por intermédio de Tarsila, conheci Fayga, uma fonoaudióloga que é proprietária de uma clínica de múltiplas especialidades. A entrevista foi realizada no próprio consultório da mãe, tendo duração de aproximadamente quarenta e cinco

minutos. Fayga tem quadrigêmeos e entre eles, Lívia, sua filha com Paralisia Cerebral (PC). Em função da deficiência da filha, buscou no exterior um método diferenciado para estimulação de crianças com PC, o qual trouxe para cá a fim de dar continuidade ao tratamento e possibilitar outras crianças ao tipo de estímulo oferecido por este método. Nossa conversa foi bem detalhada. A própria mãe afirmava que falava demais, porém, não perdemos o foco. Alguns questionamentos foram feitos fora de ordem, o que não prejudicou a coleta dos dados. Ela relatou que o marido viaja durante a semana em função do trabalho, necessário para prover boas condições financeiras à manutenção das especificidades de toda a família. Fayga demonstrou fazer tudo pelos filhos, especialmente por Lívia, incluindo a mudança de cidade em busca de melhores tratamentos e condições de vida para todos.