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O processo de inovação numa perspectiva de aprendizagem interactiva em multi-contextos – uma tentativa de síntese

Parte I – Inovação, Conhecimento e Redes

1. Génese do Processo de Inovação

1.3. O processo de inovação numa perspectiva de aprendizagem interactiva em multi-contextos – uma tentativa de síntese

O processo de produção de conhecimento, por parte de cada empresa, pode ser formalizado como o resultado da interacção entre as actividades internas de investigação e de aprendizagem, o acesso ao conhecimento externo afecto a diversos contextos e a sua efectiva utilização (Antonelli, 2001). Em termos gerais, nenhum agente económico tem capacidade técnica e cognitiva para deter a totalidade do conhecimento existente num determinado momento do tempo e, em termos particulares, a totalidade de conhecimento de que necessita para prosseguir e concretizar as actividades inerentes ao seu processo de inovação. Deste modo, o conhecimento está fragmentado e disperso por uma miríade de agentes com capacidades de aprendizagem, competências e recursos altamente diferenciados. Os agentes têm necessidade de complementar a sua base de conhecimento interno, resultante da exploração e do aproveitamento da aprendizagem organizacional inerente ao seu contexto interno, com o conhecimento que se encontra nos diversos contextos externos. Neste sentido, o objectivo das empresas é a produção de combinações específicas de conhecimento que lhes permita desempenhos económicos baseados em níveis elevados de eficiência dinâmica. O conhecimento específico de cada empresa e o seu grau de importância para essa empresa depende de um conjunto alargado de factores, nomeadamente o seu ramo de actividade, a sua estratégia de mercado (mais dependente de inovações radicais ou incrementais) e o território a que pertence. Do ponto de vista interno, o conhecimento da empresa é condicionado e, em grande parte, determinado pela trajectória de desenvolvimento da empresa e pela natureza dos factores de qualificação técnicos e humanos associados. Esta combinação depende da inter-relação entre: processos de aprendizagem internos às empresas que permita a acumulação de conhecimento tácito; actividades internas formais de investigação e desenvolvimento que permitam a acumulação de conhecimento codificado; acesso a conhecimento tácito, experiência e competências na envolvente externa sob a forma de externalidades; e, recombinação do

stock de conhecimento codificado existente na envolvente externa (Antonelli, 2001).

Pode, então, afirmar-se que as fontes de conhecimento relevantes para a empresa construir o seu conhecimento ultrapassam o seu contexto interno de aprendizagem, alargando-se a contextos que, dependendo das necessidades de conhecimento das empresas e das suas trajectórias específicas de desenvolvimento e competitividade,

podem ultrapassar a circunscrição territorial regional ou nacional. A componente externa é mais alargada do que apenas a consideração do seu contexto territorial de âmbito local e/ou regional. O acesso territorial e transterritorial do conhecimento, por via das diversas redes e dos diferentes mecanismos de interacção, é uma fonte importante de conhecimento externo, dependendo das empresas e dos seus objectivos, como se verá em maior detalhe nos capítulos dois e três deste trabalho.

Importa destacar neste processo dois tipos de mecanismos essenciais: de criação de conhecimento e de disseminação de conhecimento. Os primeiros, internos às organizações, podem tomar duas formas: a criação espontânea de conhecimento, feita a partir essencialmente de conhecimento tácito e por via de processos de tentativa e erro (de experiência) e por via da mobilidade laboral; e a criação intencional de conhecimento, feita a partir do desenvolvimento de actividades de I&D operando, sobretudo, pela via da acumulação do conhecimento codificado. Os segundos, externos às organizações, podem tomar a forma de processos de socialização do conhecimento de natureza informal e/ou de processos mais formais, assumindo muitas vezes uma natureza contratual, associados à troca, aquisição e absorção de conhecimento. A socialização do conhecimento faz-se por via da construção de redes sociais locais, do acesso ao mercado de trabalho regional e das diversas associações e redes sócio- profissionais. Por outro lado, as actividades de aquisição, troca e absorção de conhecimento fazem-se por via da dinâmica de interacção entre empresas e das diversas formas de cooperação institucional (empresas, universidades, laboratórios de investigação). Conforme afirma Pavitt (2005: 109), há uma multiplicidade de aspectos contingentes subjacentes aos processos de inovação: as bases de conhecimento de que dependem as oportunidades de inovação, as relações entre as teorias científicas e as concomitantes práticas tecnológicas, a diversificação das bases de conhecimento, grau de centralização e modos de regulação, relações e redes que necessitam de ser desenvolvidas exploradas, etc. Os dois únicos aspectos que se mantêm genéricos e suficientemente estáveis nos processos de inovação são a necessidade de coordenar e integrar diferentes tipos de conhecimento especializado e a necessidade de aprendizagem sob condições de incerteza.

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A figura 1.3.1 procura integrar os diferentes elementos de uma abordagem sistémica da inovação, fazendo da articulação entre diferentes formas de conhecimento e de processos de aprendizagem os elementos de referência mais relevantes.

Figura 1.3.1 – Abordagem sistémica ao processo de inovação: o conhecimento como referência

Contexto Externo Contexto Interno Combinação Específica de Conhecimento Tácito Codificado Aquisição, Troca e Absorção Socialização Criação

Intencional EspontâneaCriação

1. Interacção entre Empresas 2. Cooperação Institucional (empresas, laboratórios, instituições de ensino superior) 1. Redes sociais 2. Mercado de Trabalho 3. Redes Profissionais 1. Experiência, tentativa e erro 2. Mobilidade de trabalho interna I&D Interno

Fonte: Adaptado de Antonelli (2001: 39)

Em síntese, este primeiro capítulo teve como objectivo a compreensão da génese do processo de inovação. Caracteriza-se essencialmente pelo reconhecimento de que a inovação é um processo de natureza interactiva, cumulativa, colectiva e localizada. Por outro lado, o conhecimento é o recurso determinante desse processo que ganha eficácia como resultado da articulação, por via de diversos processos de aprendizagem e coordenados por diferentes mecanismos de governança, de conhecimento expresso na forma tácita e codificada. Esta combinação específica de conhecimento resulta, por sua vez, da integração e da complementaridade das bases de conhecimento inerentes ao contexto interno e ao contexto externo das organizações.

2. Abordagens Teórico-Conceptuais das Dinâmicas de Inovação