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Produções musicais sobre o libreto de La Pace fra la Virtù e la Bellezza

2 METASTASIO E O LIBRETO DE LA PACE FRA LA VIRTÙ E LA BELLEZZA

2.6 Produções musicais sobre o libreto de La Pace fra la Virtù e la Bellezza

Schodterer, em seu trabalho sobre as produções vienenses da serenata LPVB nos anos de 1738 e 1739, elenca diversas produções posteriores envolvendo o libreto de Metastasio (Schodterer, 2011, pp. 63-64). Ao longo deste doutoramento outras produções foram acrescentadas a esta lista, e na tabela abaixo estão reunidas informações atualizadas sobre a utilização do libreto de LPVB (tanto quanto me foi possível averiguar), desde o ano de sua criação até meados do século XIX:

43 Local e ano de

apresentação

Designação e destinação Compositor

Viena, 1738 Festa di camera per musica escrita para a comemoração do

onomástico da arquiduquesa Maria Teresa da Áustria.

Luca Antonio Predieri Viena, 1739 Serenata a cinque voci escrita para a comemoração do

onomástico da arquiduquesa Maria Teresa da Áustria.

Antonio Bioni Modena, 1746 Divertimento da camera escrito para uma celebração não

especificada envolvendo a Princesa de Modena,

Andrea Adolfati Brunsvique, 1751 Reapresentação da obra de Pedieri (1738) no aniversário

da Princesa Philippine Charlotte von Preussen.

Luca Antonio Predieri São Petersburgo,

1766

Componimento drammatico per musica escrito para a

comemoração do aniversário da subida ao trono da imperatriz Catarina II.

Baldassare Galuppi Lisboa, 1777 Componimento drammatico per musica escrito para a

comemoração do aniversário de D. Maria I.

David Perez Lisboa, 1779 Reapresentação da obra de Perez (1777) na comemoração

do aniversário de D. Maria I.

David Perez Roma, 1779 [?] Cantata a cinque voci escrita para ocasião ignorada. Antonio Boroni Madri, meados

do século XIX

Cantata a 4 voci, escrita por ocasião do fausto Imeneo

(casamento) entre Dª. Mª. Cristina de Borbone e Ferdinando VII.

Francesco Piermarini

Tabela 1: Produções musicais sobre o libreto da serenata LPVB, de Pietro Metastasio, de 1738, ano de sua criação, até meados do século XIX.

As duas primeiras vezes que o libreto foi posto em música tiveram como destinação a comemoração do onomástico da arquiduquesa Maria Teresa, em Viena. Na já mencionada performance de 1738 a música ficou a cargo do bolonhês Luca Antonio Predieri (1688-1767). No ano seguinte o libreto foi posto em música pelo compositor veneziano Antonio Bioni (1698-1739). Nessas duas produções o texto manteve sua configuração original (Schodterer, 2011, pp. 116-118; p. 143).

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Figura 8: Folha de rosto das Opere Drammatiche de Pietro Metastasio e página inicial do libreto de LPVB, impressas em 1747 por Giuseppe Bettinelli, em Veneza.

Apesar de se tratar de um libreto direcionado a uma personalidade singular, o conteúdo político do libreto fez com que o texto de Metastasio fosse utilizado na homenagem a outras pessoas, ainda que um pouco modificado. Este é o caso da produção de 1746, para uma celebração não especificada nas fontes documentais, envolvendo a Princesa e Duquesa de Modena, Maria Teresa Cybo-Malaspina. Para essa produção um abade, chamado Leporati, realizou algumas modificações no texto, sendo a mais significativa a eliminação do papel de Marte, o que levou à redistribuição de suas falas para os outros personagens (Adolfati, 1746). A música desta produção foi escrita pelo compositor veneziano Andrea Adolfati (1721 ou 1722-1760).

Em 1751 a música de Predieri escrita em 1738 para LPVB foi reapresentada no aniversário da Princesa Philippine Charlotte von Preussen, na cidade de Brunsvique. O libreto desta produção encontra-se na coleção de manuscritos da Herzog August Bibliothek, em Wolfenbüttel.

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Dentre as quatro obras dramáticas que o compositor Baldassare Galuppi escreveu na Rússia, o libreto de Metastasio foi utilizado na comemoração da subida ao trono da imperatriz Catarina II (1729-1796), celebração ocorrida em 26 de junho de 1766.40 Não há como ser mais explícita a escolha deste tema para referendar a posição política da imperatriz, que havia ocupado o trono através de um golpe de estado contra seu marido (Ritzarev, 2016, pp. 81-82).

Sobre uma produção dos anos de 1770 poucas informações subsistem, além daquelas contidas no libreto ainda preservado. Entre estas informações estão uma data – 1779, e um local – Roma. O libreto traz também o nome do compositor, Antonio Boroni, maestro

di capella da Basílica de São Pedro, e o nome dos cantores que tomaram parte na

performance. Parece que esta produção homenageou mais de uma pessoa, talvez duas irmãs romanas, pois nos trechos do libreto onde originariamente aparece o nome de Teresa, ele é substituído pela expressão Ninfe del Tebro [Ninfas do Tibre]. Outra modificação no libreto é que, após o dueto de Vênus e Palas, o texto é consideravelmente encurtado (Metastasio, 1779).

Figura 9: Páginas iniciais do libreto de LPVB, editado em Roma em 1779 por “Il Casaletti”.

40 Na versão de Galuppi, o título da obra apresenta uma pequena variação: La Pace tra la Virtù e la Bellezza

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As produções lisboetas de 1777 e de 1779 serão abordadas detalhadamente no próximo capítulo.

Por fim, a produção madrilena de LPVB altera substancialmente o texto do libreto, suprimindo dois personagens (Amore e Marte) e acrescentando outro (Alcide), além de conferir maior relevo à participação do coro. O compositor da música para esta adaptação foi o Francesco Piermarini (? – 1873), professor de canto da rainha Maria Cristina de Bourbon, um dos fundadores do Conservatório Real de Madri e seu primeiro

diretor. Este libreto está depositado na Real Biblioteca, em Madri

(www.realbiblioteca.es).

Além das utilizações integrais (ou quase integrais) do libreto, pelo menos um de seus trechos foi utilizado de forma isolada. Trata-se do dueto de Vênus e Palas, Odi l’aura que

dolce sospira, que foi posto em música por L. van Beethoven (1770-1827) como um dueto

para soprano e tenor – Lebens-Genuss, sendo o quinto número da coletânea Vier Ariette

und ein Duett, Op. 82. A publicação desta canção em 1816 apresenta o texto tanto em

italiano quanto em alemão, sendo que a versão em alemão não se trata de uma tradução do texto metastasiano, mas sim de um poema sobre outra temática escrito pelo Dr. Chr. Schreiber (Beethoven, 1863).