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Produtos de apoio e ajudas da vida diária

Além da ajuda pessoal de terceiros, uma pessoa com deficiências e incapacidades pode fazer-se valer de ajuda de produtos para a realização das suas Actividades da Vida Diária (AVD). Estes produtos, até 2007 chamados de “ajudas técnicas”, dão agora pelo nome de Produtos de Apoio (PA) e definem-se como:

“Qualquer produto (incluindo dispositivos, equipamentos, ins- trumentos, tecnologia e software), especialmente produzido ou geralmente disponível, para prevenir, compensar, monitori- zar, aliviar ou neutralizar as incapacidades, limitações das acti- vidades e restrições na participação.”

Norma ISO 9999 (Organização Mundial de Saúde, 2004, p. 154)

Dentro da vasta gama de PA existentes, os mais conhecidos são os exemplos de ajuda à mobilidade, como as cadeiras de rodas, as muletas ou os andarilhos e as ajudas ao banho, como os apoios de braços e os bancos de banheira. No entanto, dentro dos vários exemplos existentes de PA há classificações distintas que é importante perceber. Segundo a ISO 9999:2007, usada à data de hoje para enquadrar o valor de comparticipação do Estado Português, os PA dividem-se em 10 classes:

04 - Produtos de apoio para tratamento clínico individual

8 Tradução livre: “A reali-

zação das actividades da vida diária tem influência na auto-estima, na identi- dade pessoal, no sentido de dignidade e de perten- ça e no que se enten- de como importante ou significativo.”

24 Deficiência, Dependência e Produtos de Apoio

05 - Produtos de apoio para treino de competências 06 - Ortóteses e próteses

09 - Produtos de apoio para cuidados pessoais e protecção 12 - Produtos de apoio para mobilidade pessoal

15 - Produtos de apoio para actividades domésticas

18 - Mobiliário e adaptações para habitação e outros edifícios 21 - Produtos de apoio para comunicação e informação

24 - Produtos de apoio para manuseamento de objectos e dispositivos 30 - Produtos de apoio para actividades recreativas

Estas classes dividem-se ainda em subclasses e divisões. Assim, no caso da classe “04 – Produtos de apoio para tratamento clínico individual”, uma subclas- se poderá ser “04 03 – Auxiliares de terapêutica respiratória” e, dentro desta subclasse, uma das possíveis divisões será “04 03 09 – Nebulizadores” (Instituto Nacional para a Reabilitação, 2009a; Portugal, 2009) (Figura 1.2).

Figura 1.2 Representação

de classes, subclasses e divisões dos produtos de apoio. Classe 04 Produtos de apoio para tratamento clínico individual Subclasse 04 03 Auxiliares de terapêutica respiratória Divisão 04 03 09 Nebulizadores

A classe 05 inclui todos os PA que servem para treino de competências como ajudas para treino de Língua Gestual ou ajudas para treino de Braille. A classe 06, dentro das ortóteses inclui desde ajudas para os membros superiores e inferio- res a ajudas para a coluna cervical; nas próteses estão incluídas igualmente pró- teses para os membros superiores e inferiores até outras próteses que não dos membros como cabeleiras, próteses de nariz, sapatos adaptados, entre outros. Importa aqui traçar algumas considerações sobre ortóteses e próteses.

Ortóteses são PA que ficam justapostos ao corpo para ajuda, correcção ou com- pensação de funcionalidade motora de um órgão de forma a corrigir a sua altera- ção morfológica. As próteses, no entanto, são dispositivos que substituem parte do corpo (um membro ou um órgão) que foi destruída ou gravemente afectada.

Produtos como ajudas para calçar meias, ganchos para abotoar, assentos de sanita elevados ou cadeiras de banho são todos PA incluídos na classe “09 - Produtos de apoio para cuidados pessoais e protecção”. Os produtos da clas- se 12 são os que já mencionámos atrás, como as cadeiras de rodas e as bengalas, incluindo também partes destes equipamentos como rodas, pneus e travões. A classe 15 engloba desde as ajudas para comer até às ajudas para cozinhar, como

25 Deficiência, Dependência e Produtos de Apoio instrumentos para auxiliar a pesar ou a cortar. As adaptações para edifícios como camas articuladas, elevadores para camas, corrimãos ou rampas estão agrupa- dos dentro da classe 18. A classe 21 inclui desde ajudas ópticas e ajudas relacio- nadas com o computador até ajudas para desenhar e escrever manualmente. A classe seguinte inclui instrumentos de manuseio como teclados e ratos até aju- das globais para preensão. Finalmente, na classe 30 estão os produtos para acti- vidades de recreio como brinquedos, jogos ou instrumentos para artesanato.

Em Portugal o Sistema Nacional de Saúde (SNS) prevê o financiamento de PA através de prescrição médica. Este sistema começou por funcionar em regime hospitalar, em que as pessoas eram acompanhadas por equipas de profissionais no sentido de avaliar quais as suas necessidades em termos de PA, que eram providenciados pelo próprio hospital, sendo também os beneficiários instruí- dos para aprenderem a usar e praticarem o uso do PA prescrito. Nos anos 90 foi acrescentado a este sistema de prescrição, atribuição e financiamento o chamado “Sistema Supletivo de Atribuição e Financiamento de Ajudas Técnicas” que prevê a inclusão na rede de outros organismos que não os hospitais. Estes organismos são entidades privadas ou públicas que prestam serviços de saúde, de emprego e formação profissional, de reabilitação e de solidariedade social, como centros de reabilitação, centros distritais do Instituto da Segurança Social, associações, clí- nicas e hospitais privados. Todos os anos o Instituto Nacional para a Reabilitação (INR), em conjunto com o Ministério Trabalho e da Solidariedade Social, publica em Diário da República o montante dos subsídios a atribuir a cada uma das ins- tituições participantes acompanhado da lista homologada de PA e dos formulá- rios para prescrição, atribuição e financiamento de PA. O montante destinado ao financiamento de PA advém dos orçamentos do Instituto da Segurança Social, I.P. e do Instituto do Emprego e Formação Profissional, I.P. Neste Sistema Supletivo de Atribuição e Financiamento de Ajudas Técnicas/Produtos de Apoio há entida- des que só são prescritoras, outras que são prescritoras e financiadoras e enti- dades apenas financiadoras (Portugal, 2009). Para obter financiamento é obri- gatória a prescrição e a presença do PA a prescrever na lista homologada pelo INR. No Centro de Reabilitação Profissional de Gaia (CRPG), por exemplo, uma equipa multidisciplinar trata da atribuição de PA: um terapeuta ocupacional faz a avaliação das necessidades junto do cliente e comunica-as depois ao médico do CRPG que faz a prescrição através do preenchimento do formulário próprio para atribuição de PA destinado aos centros de emprego/reabilitação, enviando-a ao INR.

Dentro dos PA todas as ajudas de pequeno porte usadas para realizar as activi- dades quotidianas como comer, vestir, tomar banho ou cozinhar são conhecidas na literatura como “ajudas da vida diária” (daily living aids ou aids to daily living, em inglês) (para uma breve história deste tipo de produtos, consultar Anexo III). Este termo é muito utilizado sobretudo pelos vendedores deste tipo de produtos.

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As ajudas da vida diária estão geralmente divididas em: ajudas para comer; aju- das para vestir; ajudas de auto-cuidados; ajudas para o banho; ajudas para escre- ver; ajudas para cozinhar; ajudas para ler; ajudas de alcance e ajudas de lazer. Na lista homologada pelo Estado português, estas ajudas podem ser encontra- das dentro dos grupos 04 19, 09 09, 09 12, 09 36, 09 51, 15 03, 15 09, 21 24, 24 18, 24 21 e 24 27:

- Ajudas para comer: são todos os PA que auxiliam as pessoas durante a refei- ção, desde o segurar nos copos e beber ao cortar a comida no prato e levá-la à boca (Figura 1.3);

- Ajudas para vestir: todos os PA que ajudam à realização de tarefas relacio- nadas com a roupa, como ganchos para ajudar a vestir casacos, ganchos para botões e fechos de correr, dispositivos para ajudar a calçar meias, calçadeiras para os sapatos ou cordões elásticos (Figura 1.4);

- Ajudas de auto-cuidados: relacionam-se com o lavar os dentes ou pentear- se e incluem dispositivos como escovas e pentes de cabelo de cabos longos ou ajudas para retirar a pasta dos dentes da embalagem (Figura 1.5);

- Ajudas para o banho: incluem ajudas como esponjas de cabo comprido e adaptado ou espelhos de aumento (Figura 1.6);

- Ajudas para escrever: destinadas a pessoas com deficiências motoras nos membros superiores e que por isso necessitam de sistemas de pega adapta- dos às suas necessidades. Entre eles estão vários tipos de canetas com cabos grossos ou com suportes de pulso, por exemplo (Figura 1.7);

- Ajudas para cozinhar: incluem produtos para auxiliar a descascar e cortar legumes, para fixar panelas no fogão, para ajudar a verter líquidos ou a medir, assim como ajudas para lavar a loiça (Figura 1.8);

- Ajudas para ler: vão desde sistemas de lupas de aumento até suportes para prender livros na posição aberta (Figura 1.9);

- Ajudas de alcance: são sistemas de auxílio ao alcance vertical (em prateleiras ou no chão, por exemplo) (Figura 1.10);

- Ajudas de lazer: incluem dispositivos para segurar cartas de jogo, ajudas para jardinagem, ajudas para jogar bilhar, entre outros (Figura 1.11).

Por contemplarem as ajudas para comer, vestir ou higiene pessoal, as ajudas da vida diária apresentam-se como fundamentais para a procura de independên- cia, já que todos os domínios que acabámos de elencar são respeitantes às ABVD – actividades a partir das quais se avalia o grau de dependência (Mahoney & Barthel, 1965). Sob o ponto de vista da aceitação e uso por parte de pessoas com deficiências e incapacidades, este tipo de ajudas foram já avaliadas como sendo as que apresentam o maior potencial para a entrada no consumo dito generalis- ta e aquelas que podem mais facilmente beneficiar de uma abordagem do Design

Figura 1.3 Colher da OXO

Good Grips.

Figura 1.4 Ajuda para

apertar botões (fabricante desconhecido).

Figura 1.5 Pente de cabo

comprido da Swereco.

Figura 1.6 Escova de cos-

tas da Swereco.

Figura 1.7 Ajuda para

escrever da Homecraft.

Figura 1.8 Tábua de corte

27 Deficiência, Dependência e Produtos de Apoio Inclusivo (Coleman, 2006).