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3) Práticas de orientação e assistência – Caracterizam-se por atividades de orientação aos familiares e crianças hospitalizadas, quer seja de forma individual ou através de

3.1 RITOS DE INICIAÇÃO EM PESQUISAS

Para falar do método deste trabalho, senti necessidade de retomar minha itinerância e desenhar rituais em pesquisa os quais vivenciei, que auxiliaram a refletir no doutorado, a respeito de uma opção metodológica que atendesse tanto os meus interesses emocionais, como intelectuais, para condução deste trabalho.

Meu interesse por pesquisa surgiu em 1987 na Graduação. Consegui uma bolsa de Iniciação Científica do CNPq para estudar Educação Infantil. A pesquisa foi realizada nos moldes mais tradicionais da sociologia. O objetivo era estudar a concepção dos pais de alunos sobre as creches públicas e as creches particulares em Campinas. Naquela época, não se discutia implicação, não se pensava em dialogar esses conceitos com os “sujeitos”. Aquela pesquisa de certa forma estava voltada somente para constatar. Também não se pensava em restituição e em divulgação do que se escrevia. Alguns poucos setores da Universidade estudavam os movimentos de educação popular, os movimentos sociais, e, de forma geral, na educação, poucos pesquisadores preocupavam-se em trocar conhecimentos com a classe popular. É preciso destacar que nesse trabalho, os “sujeitos” das pesquisas não eram encarados como pessoas, e sim como objetos distanciados. Nesse processo, minha aproximação ocorria somente com a entrevista determinada e fechada. A questão da restituição escrita do trabalho também não era uma tarefa simples de ser realizada. Era tudo escrito à mão e re - escrito, passado a limpo para as orientadoras avaliarem. Aliás, duas orientadoras de atenção exemplar: Ivani Pino e Ana Lúcia Goulart de Farias, que muito me motivaram e incentivaram a estudar. Mas, não posso deixar de relatar que, naquela época, apesar da motivação, as condições materiais não eram ideais. Perdia-se noites e noites de sono datilografando o trabalho sem saber se ele seria colocado em algum canto da biblioteca para alguém conhecer ou mesmo consultar.

Em 1990, durante a pesquisa de mestrado, novamente me ocupei da Educação Infantil. Encontrei uma orientadora muito parceira, professora Zilma de Moraes Ramos de Oliveira que o tempo todo foi além de uma grande educadora, uma excelente companheira. Durante dois anos de coleta de dados, foram realizadas muitas gravações em vídeo de vários episódios. Minha presença com a câmera no princípio, incomodava, mas com o tempo fui ficando tão presente, que muitas vezes era como se estivesse ausente. Mas esse processo era

negociado diariamente. Para me tornar um “membro” daquela comunidade tive que gravar muitos eventos, acontecimentos, aniversários, só não casamentos. Muitas atividades, que hoje percebo que ficaram na obscuridade, revelavam aspectos significativos que poderiam ter sido abordados. A restituição das análises da pesquisa foram feitas após a defesa da dissertação. Em uma espécie de compromisso particular, levei um exemplar da dissertação e re-apresentei as conclusões para as educadoras que não acreditavam que realizavam aquelas ações com as crianças. Mas a socialização dessa pesquisa ocorreu mesmo em outros contextos, outras universidades, outras Cidades, mas muito pouco para aquela comunidade.

Depois vieram muitas “andanças” e mudanças de cidades. Nesse processo, já fui interpretada por muitas pessoas como alguém desterritorilizada, “avoada’, sem raízes e matizes. Mas, quando se muda muito, começa a se pensar e reparar o jeito que se vive em cada lugar. Nesse processo, se aprende muito sobre as diferenças, mas também leva-se um tempo para entender a lógica de cada lugar, suas pessoas e suas crenças.

Nos primeiros anos na Bahia, principalmente na Pós-Graduação, era uma grande indefinição. Para conseguir um local para realização da pesquisa de campo, fiz uma verdadeira peregrinação percorrendo hospital em hospital, pedindo para realizar a pesquisa. Os amigos que me acompanharam muito se solidarizaram e muito me ajudaram. Foram momentos de tensões e indagações constantes. Até que consegui chegar à Cidade Baixa no Hospital Irmã Dulce. Encontrei pessoas doces que compreenderam o meu desejo de pesquisar e comigo quiseram se solidarizar. Caminhamos em um processo de muitas trocas e negociações. Com o tempo, fui conhecendo melhor as pessoas, vivendo, aprendendo.

Na Pós-Graduação, depois de muito tempo ter sido tratada como diferente, falante, para alguns ser considerada irritante, encontrei um amigo, o Antenor, e um outro professor- amigo, grande parceiro e meu orientador, Roberto Sidnei Macedo, que entenderam a minha linguagem e compreenderam que eu estava lidando com um contexto plural. Sentiam e sabiam o que é viver e ser multicultural. Roberto Sidnei me apresentou a etnopesquisa que estava voltada para buscar compreender uma maneira diferente e crítica de se pensar educação. Uma outra visão. Gostei muito das discussões e suas implicações que geraram em mim constantes inquietações. O grupo do seminário da disciplina foi muito especial. Com os amigos: Ligia, Sandra, Lourdes, Isabel e Manuel, lemos muito, discutimos bastante e fomos nos auto constituindo e nos auto gerindo. Os conceitos da etnopesquisa em um processo de intermitente interação, ao mesmo tempo que esses conceitos se auto definiam, em poucos segundos, também se auto dissolviam. E, como atrizes e atores sociais, construímos, partilhamos conhecimentos, fomos nos auto regulando em nossas apreciações e

informações. A cada encontro, os conceitos instituídos se tornavam instituintes e se imbricavam em um movimento constante de tensões, contradições, divergências e ajustes em um processo de reflexibilidade e indexabilidade. Foi uma construção coletiva muito especial mediada por outros companheiros como Roberto Sidnei, Sérgio Borba, Sônia Sampaio, Felipe Serpa, Alan Coulon, René Lourau, René Barbie, parceiros mais experientes, excelentes interlocutores que não estiveram presentes fisicamente em nossos encontros, mas com certeza, intermediaram muitos dos nossos debates, embates, nossos pensamentos, nossas mentes!