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Dos procedimentos metodológicos à interpretação dos dados

A) O ponto de vista dos/as professores(as)

IV. 3.3.2 Trabalho com pares

A análise permite concluir que a tónica dos efeitos dos projectos desenvolvidos em equipa no trabalho docente é colocada na dimensão afectiva relacional e no trabalho com

pares, nomeadamente nas dinâmicas de partilha e de comunicação que, na opinião dos

docentes, quebram o isolamento profissional. Os excertos seguintes ilustram bem estas ideias:

“Eu acho que permite uma articulação de trabalho, não uma articulação de conhecimentos mas de trabalho. Permite um trabalho articulado um com os outros, permite que os professores trabalhem uns com os outros.” (E1;

“O professor não está tão sozinho, há sempre alguém com quem partilhar ideias ou mesmo quem entre na sala para partilhar trabalho. Penso que todos os alunos são de todos os professores. Ou seja, quando estás a falar de um aluno, todos os professores, sejam da manhã ou da tarde conhecem o aluno e podem ajudar na resolução de problemas.”(E4);

“Toda a planificação é feita em grupo e se não houvesse os projectos havia um individualismo por parte da professora ou professor com a sua turma e assim há um trabalho de equipa” (E5;

“(...) sou uma pessoa com tendência individualista e acabei por ganhar um bocadinho com isto. (...) Agora sinto que ganhei mais abertura. Não digo que fui aceitando as ideias dos outros porque sempre as fui aceitando mas se calhar fiquei com os horizontes mais largos e fiquei com diferentes formas de ver as coisas e de pensar(...) A nível de sala de aula foi o aprender a trabalhar em parceria que é uma situação que eu nunca tinha experimentado(...).“(E8).

Nesta mesma linha de pensamento, consideram que os projectos introduzem mudanças ao nível do trabalho docente nomeadamente ao nível da abertura e da partilha entre os profissionais, assim como o fortalecem o dinamismo, a entreajuda e o convívio entre docentes e discentes, contribuindo para um melhor ambiente de escola.

Apesar de duas entrevistadas considerarem que ao nível da reflexão, ainda poderia haver melhorias: “deveria ser uma reflexão para melhorar mas às vezes sinto que não.”

(E11) e que “...muitas vezes nós falamos, reflectimos mas não sistematizamos (...) tem de haver alguma continuidade”(E1), no entender da maior parte dos/as entrevistados/as, as dinâmicas de reflexão são uma consequência muito positiva da implementação de projectos em equipa:

“De positivo traz o facto de nos obrigar a reflectir, em conjunto, sobre a acção e a tentar melhorar. O que por vezes no nosso dia a dia deixamos para trás ou quando o fazemos é quando vamos no carro e não paramos para o fazer. Assim somos obrigados a fazê-lo, (...)”(E11).

Sublinham assim, as dinâmicas de reflexão, e principalmente o seu impacto nas profissionalidades docentes ao permitir pequenas reformulações e, consequentemente, a melhoria das práticas pedagógicas:

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“Sempre que estamos reunidos, sempre que discutimos, retiramos sempre alguma coisa positiva do que foi reflectido e do que foi analisado, porque a análise é feita em conjunto. Há coisas que se discutem para melhorar. (...).” (E6);

“(...) ao reflectir uma pessoa vê que tem de mudar, vai mudando. Se não reflectisse sobre isso, se não tivesse aquele momento das reuniões para falar sobre isso provavelmente não mudava esses aspectos.” (E12)

“Aprendi a importância de uma planificação “direitinha”. A importância de definir métodos de trabalho, actividades, estratégias, materiais. Aquelas coisas que com os anos de trabalho vamos perdendo o hábito de fazer e não devemos, porque de facto é importante” (E7)

Assim, estes excertos parecem sustentar a ideia de que a reflexão em conjunto possibilitada pelos projectos permite que se procurem e operacionalizem as melhores opções pedagógicas tornando a equipa docente dinamizadora de uma melhoria nos processos de ensino/aprendizagem. Nesse sentido, mais do que resolver pequenos problemas práticos do quotidiano, a reflexão permite a mudança e inovação.

Os/as entrevistados/as realçam, por isso, a importância da reflexão em conjunto sobre a acção e a importância da análise e avaliação do trabalho desenvolvido na sala de aula. Estes excertos sustentam esta ideia:

“Nas reuniões, como estamos todas juntas, acabamos por falar dos conhecimentos que os miúdos adquiriram e por vezes quem estava connosco na sala de aula observa pormenores que a nós nos passaram despercebidos. Isso vai-nos permitir que numa próxima aula possamos modificar a maneira de transmitir o conhecimento ao aluno.” (E2)

“Quando estamos a trabalhar em parcerias também há o hábito de vermos o que os diferentes parceiros estão a dar, o ritmo dos grupos, o que estamos a fazer ou o que deveríamos estar a fazer.. Por exemplo eu e uma colega comparamos, reflectimos, para tentar perceber como os grupos estão a evoluir. Tentando modificar o que é necessário para obter melhores resultados.” (E3)

“Há sempre alguém que está de fora que vê as coisas de outra perspectiva. Ideias novas, diferentes, ou a mesma ideia mas aplicadas de forma diferente, diferentes formas de actuar, diferentes formas de ver o mesmo problema, diferentes horizontes para o mesmo problema e diferentes formas de o resolver.”(E8)

“ O conhecimento dos miúdos não por parte de um elemento mas por parte de vários elementos permite ver outras perspectivas do mesmo aluno, com outros olhos, não é só a tua visão. Não tens só a visão da tua turma e dos teus alunos(...) Quanto maior o ângulo de visão maior o conhecimento que tens do todo e eu acho que isso nos tem ajudado muito com determinados alunos com determinada forma.(...)”( E9)

Estas declarações sublinham, de modo significativo, a importância do olhar do outro sobre o seu próprio trabalho, da comparação dos resultados e das estratégias conjuntas na melhoria das práticas pedagógicas. Neste sentido, e em síntese, os docentes apresentam características de um profissional amplo (Hoyle: 1980), deixando que o seu trabalho seja objecto de reflexão, por si e com os outros, e propondo-se em conjunto pensar em estratégias de hetero-avaliação, com vista à melhoria das práticas pedagógicas.

118 IV. 3. 3. 3 – Satisfação profissional

Apesar de os/as entrevistados/as considerarem positivo e fonte de satisfação o desenvolvimento de projectos inovadores, em equipa, não associam este trabalho a momentos significativos de desenvolvimento profissional. No entanto, este sentido de desenvolvimento profissional parece subentender-se da alusão que fazem aos contextos profissionais caracterizados pela troca e partilha, assim como aos locais socialmente problemáticos, enquanto momentos relevantes no seu crescimento profissional, reconhecendo, nesses contextos, excelentes oportunidades de aprendizagem: “(...) estamos sempre a tentar resolver

problemas. Amadurecemos mais”. (E3)

Nas declarações dos/as entrevistados/as em relação ao seu desenvolvimento profissional é valorizado fundamentalmente o “aprender juntos” (Fullan e Hargreaves: 2000) proporcionado pela realização de projectos em equipa que permite um aperfeiçoamento contínuo e, consequentemente, uma melhoria dos processos de trabalho na sala de aula.

IV.3.3.4- - Uma síntese dos dados relativos à dimensão efeitos dos projectos desenvolvidos