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A AQUISIÇÃO DO DOM DA CURA: O DOM VEM DE DEUS

5.5 Transferência ou continuidade do dom?

O dom não espera nada em retribuição; quem diz dom diz gratuidade. Ora há retribuição no sistema do dom. E essa verificação é o grande motivo do espanto de Mauss e, desde então objeto central dos estudos sobre o dom. Então, ou bem existe o dom não é gratuito, ou bem que o dom não existe. (GODBOUT, 1992:249)

Temos demonstrado que no universo religioso o Dom é entendido como “dádiva divina” e adquire um caráter diferenciado daquele descrito por Mauss nas sociedades primitivas, por surgir relacionado ao aspecto da graça.129 No contexto da cura religiosa a dádiva não aparece como “obrigação” explícita, mas a necessidade de retribuição faz parte de uma regra moral implícita nas relações cotidianas das pessoas envolvidas. Aquele que recebe “o Dom” deve retribuí-lo de forma tal que não demonstre superioridade ou orgulho pela função: “o Dom não lhe pertence”. A retribuição deve ser simples e ao mesmo tempo regrada pela disposição para “ajudar a quem recorrer”. “Fazer o bem, sem olhar a quem”, é uma frase

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Conforme temos introduzido no decorrer desse trabalho, Marcel Mauss (1950) que tratou do estudo da dádiva nas sociedades „arcaicas‟ definiu o dom enquanto dádiva que implica no ato de dar, receber e retribuir. Mauss se preocupou também em demonstrar que a “coisa” que circula adquire algo particular que ele determinou “Hau” – o espírito da coisa que circula. O hau da coisa em movimento irá definir o valor do laço estabelecido entre os diferentes segmentos da relação. Cria-se uma espécie de laço, “o valor do laço que se chama também troca simbólica” (GODBOUT, 1992). Neste caso, o valor do laço é o valor simbólico que se prende com o dom, que está ligado àquilo sob a forma de Dom.

comum entre os curadores. Já a pessoa curada pode retribuir sua “dádiva” da cura de diferentes maneiras através de objetos para o altar; trazer velas, flores, perfumes, alimentos, “cuidar do ambiente dos encontros”, dentre outros.

Refletir sobre a aquisição do Dom no interior do catolicismo e por meio da “transmissão” de uma pessoa à outra, traz o desafio de entender os fatores que envolvem a relação social de transmissão. Esses fatores dizem respeito a um caráter especial de mediação: a da conexão entre a matéria e o espírito que, em si, sinaliza a realização de um contato entre mortos e vivos, apontando para um elo entre o catolicismo e o espiritismo. Posso até falar de um espiritismo “atípico”, pois difere da forma como se propaga a relação dos mortos com os vivos na doutrina espírita. Defendemos que aqui se trata de um hibridismo religioso particular em torno dos processos de aquisição do dom enquanto graça divina. Prevalece a idéia de que o “Dom vem de Deus”; porém, no caso sob análise a “transmissão” entra em cena como ação divina com as “almas santas”. Juntos estas compõem a nota principal do elemento “herança” no processo constitutivo do Dom.

Entre os devotos da Capela, Jacinto teve “acesso” a muitas capacidades do seu avô na continuidade de sua missão. Eles não se conheceram - Jacinto veio ao mundo seis anos após a morte do seu avô, mas herdou muitas qualidades do avô que estão presentes na sua trajetória de curador.130 Há relatos sobre as particularidades no Dom, mas também sobre heranças de sofrimento: dos hábitos alimentares, das expressões de comunicação, com grandes semelhanças na forma como ele procede nas celebrações e conduz a pregação. Os fiéis dizem também que identificam sinais físicos em Jacinto que o antigo curador possuía.131 Se a presença dessas semelhanças era um “consolo” para os devotos, para a família era motivo para temer as consequências. O pai de Jacinto, Miguel Avelino, que acompanhou cada passo do seu pai, reagiu para evitar que o filho procedesse com a missão.

Entretanto, Jacinto faz a sua escolha e procede. E fora da proximidade genealógica entre “doador x receptor”, o que se faz importante não provém apenas do pertencimento familiar, mas da amplitude que esse laço promove em relação aos períodos históricos, contextos, práticas e crenças. Sob “as mãos” de Jacinto surge a possibilidade de estabelecer

130 Os romeiros relataram alguns acontecimentos que envolvem Jacinto desde o seu nascimento com seu avô.

Dizem que a mãe de Jacinto sofria para dar a luz enquanto o pai foi procurar ajuda. Ficaram poucas pessoas em casa aguardando chegar a ajuda. Enquanto estavam na sala, sentiram um barulhinho da porta que se abria; e ouviram um arrastar de sandálias semelhantes ao passos do antigo curador. Observaram mas não viram nada e ficaram esperando que fosse o pai que tinha voltado. Pouco tempo após este sinal, escutaram o choro de uma criança e era Jacinto que havia nascido. Um nascimento tranquilo e sem dificuldades diante do sofrimento que sua mãe estava passando.

131 Notando-se que esses sinais não são fixos em Jacinto, e foram visto logo no inicio de sua missão apenas por

elos religiosos e sociais entre três gerações distintas: a do primeiro curador do período de 40 a 60, a da geração de Jacinto que surge na segunda metade da década de 60, bem como com o contexto atual e suas possíveis adaptações e ressignificações.

Conhecidos foram lá e disseram: Miguel Avelino tem um menino que é mesmo que está vendo o avô. Ele reza e transmite assim as espécies do avô: a voz, a palavra tudo!

Quando foi um dia eu disse: vou lá visitar a capela e limpar a capela. E eu nem me lembrava que Jacinto, que essa pessoa, tinha dito isso a mim. Que quando a gente chegou lá e varreu a capela limpou todinha! Aí eu fui à casa de seu Miguel, e o quando cheguei lá encontrei Jacinto. Aí eu falei com ele. Quando eu falei com ele. O Jacinto tinha um sinal que ele tinha na minha mente o sinal que ele (o antigo curador) tinha. Jacinto tava com ele.

Ai eu cheguei... ele perguntou “Tu que és Tel é?” Eu disse é sou eu mesma. Aí ele começou a conversar comigo e eu fui pedir pra ele rezar meu menino: faça uma cura nele... Que esse menino é tão medonho... Dá tanto trabalho! Ai ele rezou e disse: “traga ele aqui outra vez!” Ao quando foi outra vez eu fui com ele lá. Quando eu cheguei lá Jacinto já estava nas conversas, no assunto do finado José, ai eu conheci tudinho, o assunto que ele estava era o assunto do finado José.

(Maria das Neves, também chamada „Tel‟)

A história de “revelação” entre avô e neto surge quando Jacinto, aos 12 anos, tem uma visão com seu avô. Jacinto conta que havia se realizado uma missa no local e um dia depois o avô “se apresentou” para ele. Jacinto descreve detalhes desta revelação: “Eu estava em meu quarto, sentado numa rede e observava uma imagem de Jesus ressuscitado que estava à minha frente. Essa imagem foi tomando forma de algo vivo; e, foi nesse momento que vi a pessoa do meu avô”.132

“Houve o encontro e houve conversa”. “Ele se apresentou e disse o nome”. Jacinto afirma que não se espantou nem teve qualquer reação de estranhamento, mas teve muitos questionamentos. Buscava apoio nas conversas com sua mãe, que interpretava os fatos e lhe falava a respeito. Ele reagia com as possibilidades que os fatos sugeriam e às vezes discutia, não acreditava, não queria aceitar. Porém, os “encontros” com seu avô se repetiam. Ele já sabia o horário e o lugar. Curiosamente, as visitas do seu avô aconteciam nos períodos marcados por intervalos de sofrimento, seja dele, seja de sua mãe. Foi num desses contatos que ele ficou sabendo que iria realizar uma cura num doente que residia na sua casa.

132 Neste sentido, Jacinto Avelino vivenciou uma experiência muito singular que o colocou em um plano de

contato entre o plano terrestre e o mundo espiritual de uma forma muito especial e até certo ponto desafiante para análise sociológica. Espiritualmente Jacinto vivenciou uma seqüência de etapas marcadas por “visitas” espirituais. Segundo ele relata, O espírito do avô que, tomando forma humana o visitou. Mais que um contato, ergueu-se um segredo, constituiu-se uma missão cujo trabalho se iniciava para ele que ainda criança, não entendia muito bem o que se passava. Entretanto, não foi difícil perceber que deveria dar continuidade a um trabalho interrompido com sua passagem para outro mundo. Para o atual curador essas visitas não eram freqüentes. Havia intervalo, de meses, entre uma visita e outra. No entanto, esse intervalo foi caracterizado por sinais pouco desejados e por algum tempo bastante incompreendidos na família: doenças sem solução médica.

Posteriormente ficou claro que esta pessoa era sua mãe, e que esta seria a primeira cura que ele ia realizar.

O modo como esse curador relata “sua revelação” com o avô, revela alguns aspectos importantes e até sua visão cosmológica. Primeiro, traz a presença de Jesus que faz o elo com o avô morto, legitimando o contato entre avô falecido e neto. É um contato normalmente inaceitável na doutrina católica, mas institui uma situação significante da construção do mito originário dos poderes de Jacinto no âmbito da cura. O fato de ter sido sua mãe a primeira pessoa curada por ele é outro elemento importante na relação em que, a primeira cura se realiza no interior da família e depois se estende ao “espaço sagrado”.

Na medida em que Jacinto inicia e constrói sua missão, o contato com o avô continua, mas modifica-se para uma presença enquanto “orientação”. Inicialmente Jacinto foi “testado” também por pessoas que procuravam o local. Ele entendia que umas queriam lhe por à prova e ele se sentia perturbado; outras que ele descreve como “pessoas negativas” não faziam bem ao ambiente. Diante desse quadro ele sentia que seu avô, “por se tratar de um ser de luz”, não permanecia no local. Mas destaca que o acompanhamento do avô continuava presente através da intuição. Para ele, esse acompanhamento era um “cuidado”; sem este cuidado haveria desfalque na sua “preparação” de curador e poderia acarretar muito sofrimento para ele. O sofrimento viria como imediata recompensa, ele afirma.

Novamente, temos a referência ao sofrimento como “passaporte” para a maturidade do Dom, revelando também a ambigüidade com que este sofrimento é tratado. Para Jacinto o sofrimento pode ser minimizado, mas é vivido como forma de “purificação interior” ou sinalização após um “deslize” ou algo que o curador deixou passar despercebido. Nesse sentido, “o sofrimento não é um castigo divino, e deve ser aceito como “instrução”.

Existem dois caminhos: o bem e o que sobrará é o mal; um mal.... A gente chora, nada, porque tem que chorar do mal mesmo; mas, é esse mal que chama para o caminho certo. Existe cobrança por causa de suas falhas. Existe sofrimento que sempre vai existir; existe perturbação que sempre vai existir; mas moderada; você vai suportar. Existe aquele sofrimento; mas só que é o sofrimento benéfico. É como se fosse o pão e o castigo. Ele vai te ensinar o caminho benéfico. Você irá se tocar de suas coisas.

Através do sofrimento vem o entendimento.

Quanto mais bem a gente está mais prevenindo deve ficar. Ficar prevenindo! Sintonia; preparação. Tomar muito cuidado com o que vai falar com as pessoas que vai atender; não dá para falar com tanta segurança. “Do jeito que existe luz em trevas existem trevas em luz”.

“Trevas na luz”, nas palavras do curador quer dizer conhecer o pecado e não sair dele. Receber a graça de Deus, mas continuar escravizado por aquele pecado. “Isso na luz é trevas”. E acrescentou: “Você pode salvar o mundo e consumir-se a si próprio”; “Cuidar muito dos outros, mas não de si próprio”.

Se a “presença” espiritual do seu avô representasse “assistência”, para Jacinto a tradução dessa presença “o sofrimento” era real. Vivendo um momento crucial em sua vida, diante de pessoas com problemas que ele não queria ou podia atender, decidiu procurar Frei Damião. Frei Damião lhe possibilitou uma época de paz e foi através dele que Jacinto obteve a primeira comunhão. Posteriormente Frei Damião se tornou seu orientador espiritual.

Com a idade de 14 anos, aproximadamente entre 1984 e 1986, Jacinto realizou a cura na sua mãe. Ele não sabe muito bem como explicar esta primeira cura.

Eu rezei ela aqui em casa e daí por diante eu peguei a ir pra Capela, comecei a ir. E ela começou mesmo doente começou me acompanhando, não sabe? Acompanhava-me pra Capela e ela foi se recuperando aí. Assistia o terço, foi se recuperando, ela adquiriu os movimentos novamente. Retornou os movimentos dela quase tudo completo, tudo perfeito. E, quando eu rezei ela ali um dia, eu disse a ela que ela só iria viver oito anos. Ela tinha oito anos de vida com saúde. E realmente ela teve sete anos de saúde depois do AVC e um ano foi só decadência mesmo. Foi só adoecendo, adoecendo, adoecendo... E quando completou o ciclo dos oitos anos ela faleceu.

(Jacinto)

A cura de sua mãe traz outros elementos sugestivos das capacidades de Jacinto: por um lado, o acesso à cura, por outro os métodos utilizados. Ele nem tinha consciência da ação, “apenas a rezou e ambos rezaram o terço”; e por outro lado, o primeiro sinal indicador de suas supostas capacidades de vidência. Ele reconheceu que ela viveria apenas oito anos e este foi exatamente o tempo que ela permaneceu viva.133

Definindo a si próprio Jacinto compara-se a um “instrumento”, que “necessitaria estar preparado” e afinado para poder ser utilizado. Essa condição “requer uma disposição pessoal e um Dom que o sujeito esteja preparado, quer sofra, quer não sofra a pessoa precisa vivenciá- la”. “Não existe como fugir”. “Não se está sozinho também”. “Há muita orientação oculta”. “Isto pode representar um Dom muito especial, muito delicado e por outro lado muito frágil”. Perguntei então o porquê da fragilidade? Ele respondeu que para ser um curador, nos princípios que ele segue, é preciso uma preparação constante. O curador pode estar forte e

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Quando se trata da vidência em relação ao tempo de vida de alguns doentes o curador nem sempre “tem a permissão” de informar. Em conversas pessoais ele me disse que esse é um assunto que ele escolhe bem a quem comunicar.

fragilizar o corpo, se ele não estiver preparado. Oração e jejum são argumentos importantes da preparação, mas há também outra condição: na missão da cura o curador não dispõe de autonomia. Jacinto enfatizou: “A gente não determina nada! Não tem dia e não tem hora!”, demonstrando que “o dom da cura não pertence ao curador”.

“Preparação” para os curadores é sinônimo de oração, de jejum, somados a abstinências, não apenas do alimento, mas a abstinência do corpo - da carne. O jejum deve ser efetuado pelo menos uma ou duas vezes por semana. Para os curadores dessa descrição há uma espécie de “mortificação do corpo”. Tudo que for exagero carnal deve ser moderado, disse-me o curador.

Jacinto segue o conselho de Frei Damião, assim como seu avô, de rezar com freqüência o Terço a Nossa Senhora: “Terço com muita fé”. Frei Damião também os aconselhou a não dar ouvidos aos comentários negativos, a “não se importar” com os fatos contrários, a “seguir a missão sem olhar pra trás” e de não escutar o que lhe fosse dito sob forma de acusação.

Jacinto reafirma que o caminho não foi tão simples como deve aparentar. Quando os obstáculos suprimiam suas forças ele recorria a frei Damião. Das falas de Frei Damião Jacinto tirava orientações:

Olhe vá pra casa; reze seu terço com muita fé, reze o terço pra Nossa Senhora que lá não tá acontecendo nada demais, o que tá acontecendo lá é a religião de Avelino. Vá pra casa reze com muita fé.

Desse tempo pra cá a família silenciou, acabou. Ninguém mais disse mais nada, ninguém mais falou; ninguém mais fez uma crítica... Embora ainda tenha pessoas que ainda não depositam muita crença. (Jacinto cita trechos das conversas com o frade)

Como acontece ao conjunto dos curadores, Jacinto entende que o Dom não lhe pertence e que ele não a alcançou por escolha própria. Ele demonstra total convicção de sua função de “intermediador” da cura, quando afirma que “a cura vem de Deus”.

Atua enquanto regra fundamental e é comum a todos os curadores escutados nesta pesquisa, que “o Dom deve opor-se a recompensas materiais”. Ele deve ser posto a serviço de quem quer que o procure, uma postura que reflete também a dádiva pela via da “generosidade” (GODBOUT, 1992).

“O dom não espera nada em retribuição”; para Godbout quem diz dom diz gratuidade. O grande espanto e verificação de Mauss segundo Godbout (1992:249) é que há retribuição no sistema de dom. “Então, ou bem que o dom não é gratuito, ou bem que o dom

não existe. A pergunta desse autor é de onde provém a gratuidade do dom?” A idéia de gratuidade inerente ao dom faz com que a retribuição seja inesperada e estranha.

No âmbito da cura, para compreender as dádivas divinas na construção dos dons é preciso interpretar como se constituem os atos o dar, receber e retribuir enquanto elementos caracterizadores do paradigma da dádiva (MAUSS, 1950). As dádivas vão além de sua representação física; elas se inserem num plano de significação ampla denominado por Martins (2006) de “ação sobresimbólica”.

Elementos como “sofrimento” e “renúncia” adquirem conotações particulares na perspectiva da “descoberta e aprimoramento” do Dom na esfera religiosa, e exigem uma postura de relativização para sua compreensão. Se na esfera religiosa o Dom surge inicialmente como “portador de qualidade sobrenatural”, essa suposta característica não inibe que na prática ele denote consequências importantes em torno do “social”.

Como regra, todo curador passa por um processo de iniciação. Diferem a nomenclatura e a forma de intervenção que vão denominar “o perfil” do curador. No catolicismo fala-se de “sintonia” ou contato e na esfera do espiritismo, de “incorporação”. No âmbito da cura religiosa, a mediunidade é importante e aparece em dupla face: naqueles que a desenvolvem e utilizam no processo de cura; e naqueles que não a desenvolvem e que vêem nos espaços de cura um lugar de conforto para os problemas que dela decorrem.

Dessa forma, mesmo diferenciados, curadores transitam numa esteira de semelhanças e poucas diferenças. O hibridismo na esfera da formação religiosa se estende à esfera das práticas de cura. Todos compartilham certos sinais de vidência, de audiência e de linguagem. Uns se destacam mais em um ponto que em outro; alguns poucos demonstram habilidades exemplares diante dos três níveis. O Dom na esfera da cura religiosa constitui um universo marcado por “mistérios”, reservas, limites e fronteiras, por vezes acessíveis, outras vezes, submersas em um campo de significação próprio.

CAPÍTULO VI

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