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CAPÍTULO III APORTE TEÓRICO

3.1 A Criatividade

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40 desses a respeito à Criatividade, os quais, nesse contexto, são: 1) gênio; 2) artista e 3) inspiração. Dessa maneira, emerge uma visão da pessoa criativa, como sendo gênio, artista ou apenas inspiradas.

1) O mito que diz respeito à criatividade como algo a ser direcionada apenas para gênios, carrega e estimula a impressão de que não devemos trabalhar a criatividade com qualquer indivíduo, e que apenas os gênios possuem capacidades criativas. Para contestar esse mito, deve-se levar em consideração o papel de proporcionar a criatividade para todos os indivíduos, sem distinção alguma de suas capacidades.

2) O mito que trata a Criatividade como advindo de um artista, induz o pensamento sobre a criatividade apenas vinculado à arte, excluindo a possibilidade de ver a criatividade em outras dimensões e contextos. Esse mito passa uma visão de que apenas os artistas com determinado dons, podem ser criativos ao realizarem atividade inovadoras, diferentes e interessantes.

3) O mito tratado como inspiração, retrata a Criatividade apenas como algo que passa a existir sem que o indivíduo perceba, ou seja, transmitindo a ideia que somente pessoas inspiradas podem realizar atividades criativas.

Encarar a Criatividade a partir de ideias estereotipadas estimulam o pensamento de que pessoas comuns não são capazes de realizar atividades criativas e que apenas as pessoas superdotadas conseguem realizá-las. Para contradizer a ideia da existência de mitos, é importante salientar que a Criatividade “existe em todas as pessoas (com diferentes níveis e estilos) e é uma capacidade transversal a todas as áreas de conhecimento” (VALE, 2015, p.40). Além disso, segundo Vale (2015):

Estes mitos não correspondem à realidade já que não é necessário ser gênio, louco ou criança para ser criativo. Por outro lado, limitativo associar a criatividade apenas como uma pintura, a música, a escrita ou outra arte, pois a criatividade pode ser encontrada em qualquer atividade humana, desde as ciências, aos negócios, à educação, e todas necessitam de pessoas criativas para progredir (VALE, 2015, p.40).

Pensar na Criatividade, embasando-se nesses mitos, também contribui na construção do pensamento que: pessoas criativas já nascem com capacidade inata da criação, impedindo a visão de que a Criatividade pode ser despertada em qualquer indivíduo. As concepções de que Criatividade é um mito “desencoraja as pessoas de uma discussão sobre como usam a sua criatividade e como é que se pode desenvolver” (VALE, 2015, p. 40). Assim, pode ocasionar

41 uma limitação ao se pensar, por exemplo, na Criatividade para a realização de atividades no contexto da sala de aula ou em pesquisas.

A partir disso, falar de Criatividade é, de certa forma, uma tarefa complexa, pois ainda estão em construção as possibilidades de superar os desafios, os quais são: 1) combater à ideia que a Criatividade não é um mito e 2) encorajar, motivar e estimular novas pessoas a despertarem também suas Criatividades nas realizações de tarefas inovadoras. Portanto, motivação e estímulo são um dos pilares para que a Criatividade exista, pois se o indivíduo não “estiver envolvido e não desejar participar de uma determinada atividade, a sua produção criativa poderá ser afetada, visto que no processo criativo observa-se a conjugação de aspectos afetivos e cognitivos” (GONTIJO, 2015, p.16).

A partir dessa perspectiva, para desenvolvimento desta pesquisa, concordamos com Morais (2015) que “ser criativo associa-se ainda a processos cognitivos. Há formas de pensar, de processar mentalmente as informações também típicas, mais facilmente executáveis, tomando as pessoas criativas” (p.4). Desse modo, a Criatividade passa a tratar-se de processos cognitivos, os quais as pessoas desenvolvem a partir de estímulos e motivações, efetivando-se como uma característica cuja suas origens e raízes estão fortemente ligadas à psicologia.

Assim, de acordo com Gontijo (2007):

Os processos cognitivos dizem respeito aos processos psicológicos envolvidos no conhecer, compreender, perceber, aprender e etc. Eles fazem referência à forma como o indivíduo lida com estímulos do mundo externo: como o sujeito vê e percebe como registra as informações e como acrescenta as novas informações aos dados previamente registrados (ALENCAR; FLEITH, 2003 apud GONTIJO, 2007, p.45).

Dessa forma, do ponto de vista da Psicologia, a Criatividade pode ser entendida como resultados dos processos cognitivos que levam uma pessoa motivada ou estimulada a realizar atividades criativas. Porém, definir o que de fato é a criatividade ainda é um fator de grandes discussões em pesquisas que tenham se desenvolvido abordando essa perspectiva, pois o

“conceito de criatividade é multifacetado, pelo que têm surgido diferentes caracterizações”

(VALE, 2015, p.10).

A Criatividade “segundo a etimologia da palavra, vem do verbo creare que significa originar, gerar, formar e tem na sua origem a dimensão de nascimento e transformação”

Cavalcanti (2006, apud PINHEIRO, 2012, p.18). Por outro lado, o Dicionário Michaelis Língua Portuguesa, de 1998, define a Criatividade como: 1) Qualidade ou estado do ser

42 criativo e 2) Capacidade de criar (MICHAELIS, 1998, p.609). Já o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa de 2001 traz a seguinte definição de Criatividade:

1) Qualidade ou característica de quem ou do que é criativo; 2) inventividade, inteligência e talento, natos ou adquiridos, para criar, inventar, inovar, quer no campo artístico, quer no científico, esportivo etc.; 3) capacidade que tem o falante de produzir e compreender um número imenso de enunciados, mesmo aqueles que não tinham sido por ele ouvidos ou pronunciados anteriormente (HOUAISS; SALLES, 2001, p. 868).

O Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, de 2008, também aponta a Criatividade como: 1) Talento para criar; 2) inventar; 3) inovar; 4) inventividade (HOUAISS, 2008, p.

201). Por sua vez, o Dicionário online Aurélio de Português define a Criatividade como: “1) Capacidade de criar, de inventar; 2) Qualidade de quem tem ideias originais, de quem é criativo; 3) Capacidade que o falante de uma língua tem de criar novos enunciados sem que os tenha ouvido ou dito anteriormente” (FERREIRA, p.268).

Desse modo, pela etimologia da palavra e pelas definições e caracterizações de alguns dicionários, percebe-se que a Criatividade não possui somente o significado de algo

“inovador” ou de “algo novo”, mas também traz o significado de “capacidade”, pela qual leva o indivíduo a criar e inventar, além de abordar por essência a Criatividade como uma qualidade que o indivíduo pode adquirir ao se mostrar criativo. Portanto, não existe uma definição única e específica da Criatividade, pois enquanto uns autores abordam como uma característica psicológica que pode ser estimulada, outros abordam como perfil inato de cada indivíduo.

Assim, segundo Vale (2015) “não há uma única descrição de criatividade, mas pode-se afirmar que começa com a curiosidade” (p. 41). Tal curiosidade pode ser despertada por estímulos e motivações, levando o indivíduo à exploração e experimentação. Em complementação, Morais (2015) define que “Criatividade é então esta co-incidência, esta co- existência necessária de fatores que implicam, na sua maioria, a relação do indivíduo com o meio e que podem ser mutáveis nesse indivíduo” (MORAIS, 2015, p.4). Esse fator também pode ser definido por Vieira (2015), como:

criatividade envolve: a capacidade de ver as coisas de uma nova forma; aprender com experiências passadas e aplicar esta aprendizagem a novas situações; resolver problemas recorrendo a abordagens não tradicionais; ir mais além do que a informação que nos foi concedida; criar algo único e original (VIEIRA, 2015, p.32).

43 A partir de alguns apontamentos sobre o tratamento da Criatividade como sendo direcionada apenas para gênios Vale (2015) conclui que:

a criatividade está intimamente relacionada com o conhecimento profundo e flexível dos conteúdos de diferentes domínios. É frequentemente mais associada com longos períodos de trabalhos e reflexão do que com insights rápidos e excecionais, e é sensível às influências dos processos e experiências de ensino adequados (VALE, 2015, p. 41).

Nessa direção, determinados autores tentam definir a Criatividade como algo oriundo do produto dela, ou seja, definem a Criatividade como sendo o processo pelo qual leva uma pessoa ser criativa, tal que, “para ocorrer a criatividade têm de estar simultaneamente presente diferentes dimensões na interação de quem cria com o cenário em que o produto é criado”

(MORAIS, 2015, p. 3). A partir disso, o autor também evidencia a intensa relação entre os processos cognitivos, nos quais as atividades criativas são realizadas, apontando a motivação como um dos principais fatores da interação processual, pela qual a Criatividade é desenvolvida.

Alguns autores apontam a Criatividade sustentada nas condições originais que o indivíduo cria ou propicia, de tal forma que a “Criatividade implica originalidade, mas o inverso não é verdadeiro. Criatividade acontece na duplicidade exigente da originalidade com a eficácia” (MORAIS, 2015, p. 4). O autor aponta, que quando uma pessoa é criativa, por essência, também já se torna original, isso porque cada indivíduo é único, por isso, sua atividade criativa será sempre diferente e, portanto, original.

A partir dos apontamentos de alguns autores a respeito da caracterização, significado ou definição da Criatividade, é possível observar que essa é passiva de obter dois conceitos importantíssimos, os quais podem assegurar que um indivíduo pratique a criatividade com a finalidade de ser criativo. Um deles é a originalidade e o outro é a motivação.

Alguns autores como Vale (2015), Gontijo (2015), Pinheiro (2012) e Morais (2015), falam sobre as peculiaridades da Criatividade em relação a um conjunto de características que podem ser notadas em pessoas criativas, como: ser curioso, observador, investigador, autoconfiantes, sempre querer conhecer algo novo, pensar nas possibilidades e em outros fatores. Essas características dão o aspecto de que ser criativo não é simplesmente fazer fotocópias. Isso tudo também tem relação com envolvimento e motivação.

Pessoas criativas possuem uma visão de mundo mais ampla (VALE, 2015). Elas possuem a versatilidade de ultrapassar as fronteiras de outros conhecimentos, de procurar soluções novas para problemas de seu interesse, e de preocupar-se com contextos que lhes são peculiares. A autora Macedo (2006) também aponta essa ideia de fronteira como uma forma

44 de se ver a “fronteira no qual interagem diferentes tradições culturais e em que se pode viver de múltiplas formas” (MACEDO, 2006, p. 287). Nessa perspectiva, ultrapassar as fronteiras de outros conhecimentos, a nosso ver, é apontar para as questões da interdisciplinaridade, da contextualização e transversalidade. Nesse sentido, essa perspectiva aponta que a integração de uma ciência a outra pode favorecer a questão do indivíduo em ultrapassar as fronteiras do seu conhecimento rompendo as barreiras que os impedem de pensar totalmente diferente do tradicional. Além disso, essa ideia torna-se um dos pilares para o desenvolvimento da Criatividade como uma das alternativas de inovar, inventar, criar e praticar algo novo e realizar atividades criativas.

No documento UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ (páginas 39-44)