• Nenhum resultado encontrado

A EXPERIÊNCIA DO ESTÁGIO NO OLHAR DOS ACADÊMICOS

No documento Layout Livro Covid (páginas 55-58)

ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM EM TEMPOS DE COVID-19 VIA ATENDIMENTO REMOTO: RELATO DE EXPERIÊNCIA

3.1 A EXPERIÊNCIA DO ESTÁGIO NO OLHAR DOS ACADÊMICOS

O atendimento remoto realizado pelos acadêmicos possibilitou a eles a habilidade de se reinventar enquanto profissionais diante dos desafios impostos pela pandemia, fazendo com que eles pudessem se sentir, impelidos e desafiados a rever conceitos tradicionais, bem como ampliarem as possibilidades interativas e de atuação da prática profissional do enfermeiro para os diferentes espaços e contextos.

Após o término do estágio remoto, os acadêmicos elaboraram um relatório onde puderam relatar como foi a vivência com essa prática e, mediante os relatos, pode-se perceber que a experiência foi desafiadora e transformadora, pois identificou-se uma carência muito grande de informação nos pacientes e que as notícias falsas - fake news sobre o Covid-19, faziam com que eles não conseguissem muitas vezes diferenciar o verdadeiro do falso sobre a doença e, muitas vezes, ao tomarem atitudes erradas, colocando-se em risco.

De acordo com Allcott e Gentzkow (2017) “fake news” pode ser definida como “artigos noticiosos que são intencionalmente falsos e aptos a serem verificados como tal, e que podem enganar os leitores”, isto é, notícias falsas (ALLCOTT; GENTZKOW, 2017). Os achados de Neto et al. (2020) afirmam que com o avanço tecnológico, muitas dessas notícias falsas são veiculadas pelas redes sociais de forma acelerada, provocando uma onda de comportamentos que não condizem com as instruções fornecidas pelas autoridades de saúde.

Em pesquisa realizada no banco de dados do Ministério da Saúde, no período de pandemia, foram encontrados 70 registros de notícias falsas que tematizavam desde assuntos referentes às informações fornecidas pelas autoridades de saúde, medidas profiláticas, de tratamento até a vacinação contra o coronavírus. É notório que todas essas notícias interferem no comportamento das pessoas e acredita-se que haja interesses econômicos e políticos na propagação das mesmas, a fim de colocar em xeque a confiabilidade do SUS (NETO et al., 2020).

Os acadêmicos ao realizar um atendimento individual, rotineiro e continuado, puderam se sentir úteis no cumprimento do papel do profissional enfermeiro, que foi perceptível a importância do atendimento integral, ao ouvir os relatos do paciente, buscando-se sempre identificar as suas necessidades afetadas , fossem elas físicas ou psicoemocionais, pois, às vezes, na correria do atendimento presencial e devido a superlotação das unidades, o ouvir é

esquecido e o atendimento rotineiramente, se limita a resolver problemas físicos de saúde, deixando de lado a parte psicoemocional.

Na maioria das vezes, o número de profissionais de enfermagem é reduzido nos serviços de saúde, o que justifica o curto tempo em que o profissional possui para ouvir o paciente.

Contudo, muitos dos pacientes entendem essa realidade, mas revelam também que o fato de serem ouvidos é de extrema importância pois sinaliza o nível de acolhimento e tratamento no qual recebem (CAMILLO; MAIORINO, 2012).

Em estudo realizado a fim de avaliar o entendimento de graduandos de enfermagem quanto ao ato de ouvir e sua importância no cuidado de enfermagem, evidenciou que para ser um bom ouvinte é necessário disposição para escutar e suprimir ideias pré-existentes para que o paciente tenha liberdade de se expressar e que o ato de ouvir se traduz como uma tarefa árdua a ser realizada devido às particularidades tanto de quem ouve como de quem é ouvido (CAMILLO; NÓBREGA; THÉO, 2010).

Em meio a um período turbulento como o de pandemia, o isolamento social não foi o único cuidado que as pessoas deveriam ter. Sabe-se que a população em geral é muito mais suscetível a desenvolver problemas relacionados a saúde mental e o novo coronavírus além de muito agressivo e altamente perigoso no âmbito físico, afeta grandemente o aspecto emocional, uma vez que cotidianos e rotinas foram rompidos, vínculos de uma vida toda foram afastados, causando as mais diversas consequências psicoemocionais, o que se reforça ainda mais a necessidade do atendimento holístico (MORETTI; GUEDES-NETA; BATISTA, 2020).

Ainda segundo a percepção dos acadêmicos, a experiência possibilitou enxergar aquilo que não pode ser visível fisicamente, pois através do contato telefônico, pode-se observar no tom da voz dos pacientes, o estado emocional e até mesmo perceber que após os esclarecimentos e as mensagens de apoio fornecidos, eles demonstraram estar mais confiantes e seguros.

A implementação do teleatendimento no Brasil ampliou o registro e acesso aos usuários com protocolos criados para o manejo clínico do Covid-19 na resposta a dúvidas e maneiras de prevenção do vírus. Deste modo, o uso da tecnologia de comunicação foi uma grande aliada na continuidade do atendimento aos pacientes da atenção básica e proporcionou uma ampliação do cuidado caracterizando-se como uma ferramenta auxiliadora na prestação dos serviços de saúde, trazendo benefícios para o usuário e para a equipe de enfermagem (BOTELHO et al., 2020).

O teleatendimento realizado por estudantes, juntamente com professores e profissionais

ferramenta que ajudou a desafogar um sistema público de saúde que antes mesmo era abarrotado, unificando a prestação do cuidado e evitando procuras desnecessárias a unidades de saúde desde a atenção primária até a alta complexidade, monitorando, gerenciando e reduzindo incertezas e ansiedades intensificadas de pacientes, através de esclarecimentos com informações embasadas cientificamente, usando como pilares a ética e o respeito a população (AMÂNCIO et al., 2020; ARAÚJO; ARRUDA, 2020).

Foi nítida a formação do vínculo durante o tempo em que, diariamente os pacientes receberam atendimentos, pois primeiramente vivenciaram uma situação talvez nunca vivida, onde diariamente por quase 30 dias, um profissional de saúde entrava em contato com eles para saber como estavam, suas dúvidas e queixas. Nesse sentido, eles, em sua grande maioria, ficavam super empolgados durante os atendimentos e verbalizavam sempre que já aguardavam o próximo contato.

Eles revelaram uma necessidade muito grande de serem ouvidos, sentiam-se importantes e poderiam sanar as suas dúvidas, teriam a quem recorrer caso ocorresse algo fora do comum e dessa forma a cada ligação o vínculo formado era fortalecido. No entanto, ao final do estágio quando o vínculo precisou ser rompido, alguns pacientes demonstraram tristeza pelo simples fato de não poderem mais receber as ligações diárias, muitos deles inclusive verbalizaram o desejo e a curiosidade de conhecer pessoalmente o acadêmico que o acompanhou, após passar o período da pandemia.

Grande parte dos pacientes atendidos durante a pandemia eram idosos, e o estabelecimento do vínculo foi de grande valia, principalmente entre a família, pois essa interação possibilitou compreender os reais problemas e necessidades dos mesmos (BRUNELLO et al., 2010), cabendo ressaltar que, a família, neste caso, tem grande importância no compartilhar das experiências, pois é participante do cuidado domiciliar (SILVA; VICENTE;

SANTOS, 2014).

Os achados de Marinho et al., (2017), em seu estudo, demonstraram que o acolhimento e o vínculo foram as tecnologias leves mais utilizadas entre os profissionais de sua amostra, evidenciando que a enfermagem é consciente da importância das relações enquanto tecnologia de trabalho pois é fundamental para o fortalecimento do processo de humanização no atendimento.

O vínculo é indispensável no contato do profissional de saúde e usuário, pois quanto mais adequado for o vínculo melhor será o resultado do atendimento prestado. Deste modo, é preciso estabelecer um vínculo responsável e positivo, estreitando relações com o outro de maneira saudável e construtiva ao longo do acompanhamento, com o intuito de barrar qualquer padrão

paternalista que interfira na relação profissional-usuário e que corrompa a ideia inicial de competência terapêutica (SANTOS; MIRANDA, 2016).

O processo de humanização foi extremamente presente e importante nesta modalidade de atendimento de enfermagem, dado que muitas vezes os pacientes eram contatados apenas para saber sua clínica e acabava por se passar muitos minutos em uma consulta de enfermagem remota sanando dúvidas, fornecendo orientações e oferecendo apoio psicológico ao ouvi-los pois essa é a essência da enfermagem. Mais do que deter o conhecimento técnico-científico, é estar presente e cuidar mesmo que à distância, ter sensibilidade e empatia para se colocar no lugar do outro.

Por fim, o estágio remoto pode proporcionar para o indivíduo o cuidado integral e humanizado e, para o acadêmico, todas as barreiras físicas impostas, não foram suficientes para quebrar a conexão entre profissional-paciente. Foi possível ouvir suas histórias, aconselhar, orientar no cuidado e ajudar cada um, o que contribuiu para o entendimento da essência da Enfermagem: o cuidado holístico, até mesmo quando não se podia ter o contato físico, mas apenas ouvir e sentir a voz do paciente. Sendo assim, as limitações não puderam barrar a empatia, o compartilhamento de conhecimentos, o cuidado e o amor ao próximo, principalmente para os que se tornaram ainda mais frágeis nesse tempo de pandemia.

No documento Layout Livro Covid (páginas 55-58)