• Nenhum resultado encontrado

CONTEXTO DA SAÚDE ÚNICA NO BRASIL (ONE HEALTH)

No documento Layout Livro Covid (páginas 104-107)

EPIDEMIA DA COVID-19 E A INSERÇÃO DA SAÚDE ÚNICA NO BRASIL

2. REVISÃO DE LITERATURA

2.3 CONTEXTO DA SAÚDE ÚNICA NO BRASIL (ONE HEALTH)

Considerando o cenário de interação entre a saúde humana, animal e ambiental, o conceito e aplicação de Saúde Única (One Health) é de extrema importância. Nessa perspectiva de Saúde Única, a transdisciplinaridade poderia contribuir na compreensão dos ciclos de transmissão, na busca por mecanismos de prevenção e mitigação da transmissão, além de produzir conhecimento para futuras doenças zoonóticas emergentes, incluindo coronaviroses como o caso de COVID- 19 (AHMAD et al., 2020; BONILLA-ALDANA;

DHAMA; RODRIGUEZ-MORALES, 2020).

Os programas de saúde que visam uma abordagem integrativa para as coronaviroses devem considerar o papel das iniciativas de Saúde Única. Desta forma, estudos e controles das doenças emergentes e zoonóticas podem requerer uma abordagem transdisciplinar que minimizem futuros impactos sobre as sociedades.

de alimentos e das fontes de energia (renováveis ou não) do planeta (GIBBS, 2014;

ZINSSTAG et al., 2020).

O termo foi inserido no meio científico, de forma mais sólida, com o estabelecimento da One Health Initiative Task Force, em 2007, e com a aprovação de uma resolução pela American Medical Association incentivando maior colaboração entre médicos e médicos veterinários. Nos anos seguintes, ocorreram importantes eventos sobre o tema realizados pela OMS, FAO, Banco Mundial, Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e Organização das Nações Unidas (ONU), começaram a recomendar a adoção dos princípios One Health (GIBBS, 2014; AOH, 2017).

São necessários esforços que possam evidenciar a importância das ações multiprofissional e interdisciplinar no combate às doenças em todas as espécies e a necessidade da aproximação desse conceito a todos esses profissionais de saúde.

No Brasil, temos a atenção básica, que se caracteriza por um conjunto de ações de saúde que envolve a promoção, a proteção e a manutenção da saúde em esferas individual e coletiva. Essas ações têm como objetivo desenvolver uma atenção integral que impacte na situação de saúde, autonomia das pessoas e nos determinantes e condicionantes de saúde das coletividades (BRASIL, 2014).

Também foi vista como necessária a inserção do profissional da One Health como gestor dos sistemas de Vigilância Epidemiológica e Atenção Primária (PAUL; BROWN;

RIDDE, 2020). A vigilância de patógenos emergentes deve ser uma ação continuada e programática, e não deve ser realizada pontualmente frente a ocorrência de surtos epidêmicos (OLIVEIRA, 2016).

Atualmente estamos enfrentando a pandemia que gerou vários casos de COVID-19.

Os primeiros casos de (SARS-CoV-2) iniciaram em dezembro de 2019 na cidade de Wuhan localizada na província de Hubei na China (WANG et al., 2020). A referida enfermidade ultrapassou fronteiras, disseminando-se nos diversos continentes e em vários países do mundo, desembarcando no Brasil no final no dia 26/02/2020, com primeiro caso confirmado no estado de São Paulo (BRASIL, 2020a).

Desde o surgimento da doença, diversas questões primordiais foram estudadas por inúmeros pesquisadores, como as que se referiam aos meios de transmissão do vírus por mecanismos diretos (liberação de partículas ao tossir, conversar ou ato de espirrar de pessoas infectadas), quanto indiretos (por objetos contaminados e transmissão aérea) (OPAS, 2020). Houve impacto na saúde e principalmente no cotidiano da população, uma vez que a quarentena é sabidamente uma resposta eficiente para a redução da taxa de

contágio (LAUER et al., 2020). Esse contágio ainda remete dúvidas quando se trata de mecanismos indiretos, para Kampf et al. (2020), o vírus pode permanecer infeccioso em superfícies inanimadas em temperatura ambiente por até 9 dias.

O combate ao coronavírus no país demanda de estratégias diferenciadas em cada região, pois se distribuem de forma distinta nas diferentes regiões do país. Segundo o Painel de casos da doença no Brasil, produzido pelo Ministério da Saúde (BRASIL, 2020b), a região Sul contém o menor índice de mortalidade por 100 mil habitantes (8,7/100 mil hab.) e, em compartida, a região Norte, corresponde à área de maior mortalidade no país (57,3/100 mil hab.).

Para o desenvolvimento de um trabalho assertivo, é necessário que os profissionais que atuam na One Health tenham acesso a sistemas de informação em saúde robustos e interligados entre os diferentes segmentos, que possibilitem o monitoramento das tendências e a sinalização preditiva de situações de urgência, que vão além da emergência do patógeno, mas também das capacidades locais de assistência à população (DIAS, 2020; MENDONÇA, 2020).

Em momentos de crise, cabe ao profissional da One Health identificar a necessidade de intervenções para controlar as situações de ordem psicológica da população. Em uma pandemia, a população pode ficar mais vulnerável, por isso a identificação destes cenários e a proposição de estratégias que minimizem o estresse são de extrema importância (LIMA et al., 2020).

Observa-se que no Brasil, as questões biológicas (investigações relacionadas ao vírus, aos hospedeiros e à biotecnologia) foram os temas mais discutidos como estratégias de One Health, em detrimento das questões sociais, econômicas e comportamentais. Tal observação evidencia a necessidade da adesão de outras classes profissionais (sociólogos, economistas e psicólogos) como protagonistas da aplicação dos conceitos da One Health.

O maior desafio para a aplicabilidade da One Health converge para a prática multiprofissional, aproveitando os diferentes saberes, para solução de problemas que são multicausais. Nesse sentido, a compreensão mais ampla sobre os determinantes de saúde- adoecimento-cuidado deve ser retomada e discutida. A prática multiprofissional é de suma importância para o bom funcionamento da saúde pública e é o principal conceito de saúde única, porém também se torna um desafio, pois existem poucas ações governamentais que garantem essas ações e a não interação entre os conselhos profissionais para amparo legal das atuações dentro de cada profissão. Dessa forma é notório a importância da aplicabilidade

da One Health no contexto pandêmico, onde o Brasil vivencia a COVID-19, sendo observado que a saúde humana, animal, e a sustentabilidade ambiental é indissociável.

No documento Layout Livro Covid (páginas 104-107)