• Nenhum resultado encontrado

O conceito de ação comunicativa: uma contribuição para a consulta de enfermagem.

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2017

Share "O conceito de ação comunicativa: uma contribuição para a consulta de enfermagem."

Copied!
6
0
0

Texto

(1)

O CONCEI TO DE AÇÃO COMUNI CATI VA: UMA CONTRI BUI ÇÃO

PARA A CONSULTA DE ENFERMAGEM

1

Már cia Mar ia Tav ar es Machado2 Glór ia da Conceição Mesquit a Leit ão3 Fr ancisco Ur ibam Xav ier de Holanda4

Machado MMT, Leit ão GCM, Holanda FUX. O conceit o de ação com unicat iva: um a cont ribuição para a consult a de enferm agem . Rev Lat ino- am Enferm agem 2005 set em bro- out ubro; 13( 5) : 723- 8.

Muit as vezes o enfer m eir o possui um a visão m ecanicist a, com pr eendendo o indivíduo a par t ir de um a abor dagem biológica, sem at ent ar par a as dim ensões psicológicas, hist ór icas e cult ur ais. Nesse sent ido, t or na-se n ecessár io u m a ab or d agem em q u e a com u n icação en t r e en f er m eir o e u su ár ios d os na-ser v iços d e saú d e possa ser realizada de form a m ais com preensiva e part icipat iva. Esse est udo t em com o obj et ivo apresent ar os con ceit os sob r e a lin g u ag em e com u n icação n a con su lt a d e en f er m ag em , u t ilizan d o, com o m ar co t eór ico conceit ual, a t eoria da pragm át ica universal de Jürgen Haberm as. Na prát ica cot idiana do enferm eiro, t orna- se im p or t an t e a m ed iação e ad eq u ação d o con h ecim en t o e h ab ilid ad es t écn icas p ar a u m a at u ação ef icaz n o cuidado hum anizado do indiv íduo e colet iv idade. A pr át ica dialógica, por m eio da ação com unicat iv a r eflex iv a e par t icipat iv a do enfer m eir o, é necessár ia par a um a at enção m ais hum anizada.

DESCRI TORES: en f er m agem ; com u n icação; f ilosof ia em en f er m agem

THE CONCEPT OF COMMUNI CATI VE ACTI ON: A CONTRI BUTI ON

TO NURSI NG CONSULTATI ON

Nurses oft en adopt a m echanist view , perceiving t he individual from a biological st andpoint and giving lit t le at t ent ion t o psy chological, hist or ical and cult ur al aspect s. This ev idences t he need for a m or e hum ane appr oach, in w hich t he com m unicat ion bet w een nur ses and healt h ser v ice user s can be achiev ed w it h m or e com prehension and part icipat ion. The aim of t his paper is t o int roduce t he concept s of language and com m unicat ion in nursing consult at ion, using as a t heoret ical and concept ual fram ew ork Jürgen Haberm as’ t heory of universal pr agm at ism . I n nur ses’ ev er y day r out ine, it is im por t ant t o int er m ediat e and adapt k now ledge and t echnical skills w it h a v iew t o effect iv e per for m ance in hum anized car e for indiv iduals and t he com m unit y . The dialogic p r act ice, t h r ou gh r ef lex iv e an d p ar t icip at iv e com m u n icat iv e act ion b y n u r ses, is n eed ed f or m or e h u m an e ca r e.

DESCRI PTORES: nur sing; com m unicat ion; nur sing, philosophy

EL CONCEPTO DE ACCI ÓN COMUNI CATI VA: UNA CONTRI BUCI ÓN

PARA LA CONSULTA DE ENFERMERÍ A

Muchas veces el enfer m er o posee una visión m ecanicist a, com pr endiendo el individuo a par t ir de una apr ox im ación biológica, sin at ent ar par a las dim ensiones psicológicas, hist ór icas y cult ur ales. En ese sent ido, se t or na necesar ia una apr ox im ación m ás hum anizada, donde la com unicación ent r e enfer m er o y usuar ios de los ser vicios de salud pueda ser r ealizada de for m a m ás com pr ensiva y par t icipat iva. Est o est udio t iene com o obj et iv o pr esen t ar los con cept os sobr e el len gu aj e y com u n icación en la con su lt a de en f er m er ía, u t ilizan do com o m arco t eórico concept ual la t eoría de la pragm át ica universal de Jürgen Haberm as. En la práct ica cot idiana del enfer m er o, se t or nan im por t ant es la m ediación y adecuación del conocim ient o y habilidades t écnicas par a una act uación eficaz en el cuidado hum anizado del indiv iduo y de la colect iv idad. La pr áct ica dialogíst ica, a t r av és de la acción com unicat iv a r eflex iv a y par t icipat iv a del enfer m er o, es necesar ia par a una at ención m ás h u m an izad a.

DESCRI PTORES: en fer m er ía; com u n icación ; filosofía en en fer m er ía

1 Trabalho apresent ado na disciplina “ Marcos conceit uais para a prát ica da Enferm agem ”, do Curso de Dout orado em Enferm agem em Saúde Com unitária

da Universidade Federal do Ceará; 2 Enferm eira, Mestre em Saúde Pública, Doutoranda em Enferm agem em Saúde Com unitária, Professor da Faculdade de

Medicina da Universidade Federal do Ceará, e- m ail: m arciat m @secrel.com .br; 3 Enferm eira, Dout or em Saúde Pública, Professor Adj unt o; 4 Doutor em

(2)

I NTRODUÇÃO

U

m a das car act er íst icas da Enfer m agem é

lidar com diferent es quest ões em ocionais não só do client e com o do próprio profissional. Para isso, deve lançar m ão de inst r um ent os básicos da r elação de aj uda tais com o: o diálogo e os procedim entos técnicos capazes de per m it ir ao client e desfr ut ar bem - est ar, com pr eensão de seus pr oblem as e t er r azões par a atingir a cura( 1- 2).

A consult a de enferm agem é um a at ividade independente, realizada pelo enferm eiro, cuj o obj etivo propicia condições para m elhoria da qualidade de vida p o r m ei o d e u m a a b o r d a g em co n t ex t u a l i za d a e p a r t i ci p a t i v a . Al é m d a co m p e t ê n ci a t é cn i ca , o pr ofission al en fer m eir o dev e dem on st r ar in t er esse pelo ser hum ano e pelo seu m odo de vida, a partir da co n sci ê n ci a r e f l e x i v a d e su a s r e l a çõ e s co m o indivíduo, a fam ília e a com unidade.

A co n su l t a é t a m b é m u m p r o ce sso d e interação entre o profissional enferm eiro e o assistido, na busca da pr om oção da saúde, da pr ev enção de d o e n ça s e l i m i t a çã o d o d a n o . Pa r a q u e o co r r a e f i ca zm e n t e a i n t e r a çã o , é n e ce ssá r i o o d e se n v o l v i m e n t o d a h a b i l i d a d e r e f i n a d a d e com unicação, para o exercício da escut a e da ação dialógica.

A fala dialogada está além de um ato técnico e au t om at izado. Par a isso, con v ém ao en fer m eir o adqu ir ir capacidade de com pr een der e en t en der o ser hum ano diante de suas com plexidades, dim ensões am plificadas, sabendo ouvir e, ao intervir, fazê- lo com ações com pr eensiv as e hum anizadas.

O p r o f i ssi o n a l d e e n f e r m a g e m d e v e reconhecer que não pode im por a sua própria realidade aos out ros, sendo necessária a abordagem dialógica que favoreça um r espeit o ao pensam ent o e at it ude

daquele por ele assist ido( 3- 5).

D u r a n t e a co n su l t a é f u n d a m e n t a l a part icipação do assist ido, com preendendo o m odo de e st a r e a g i r n o m u n d o d a q u e l e s q u e e sp e r a m respost as coerent es e eficazes diant e dos problem as que são evidenciados. No ent ant o, verifica- se m uit as vezes im posição do enferm eiro at ravés da concepção de que o dom ínio da verdade reina com o absolut o, coibindo o outro de expor suas em oções e pontos de v ist a.

O en f er m eir o ao est ab elecer u m a r elação so ci a l co m o a ssi st i d o d e v e , u l t r a p a ssa n d o a su p e r f i ci a l i d a d e d e u m a t e n d i m e n t o , p r o m o v e r

acolhim ent o em relação ao que é falado pelo client e, para facilitar a com preensão am pliada de sua história de vida. Nessa relação, algum as caract eríst icas são fundam ent ais, dest acando- se a linguagem v er bal e n ão- v er bal, em qu e a palav r a, apr esen t ada com o sign o, possibilit a in t er - r elação en t r e os dom ín ios, perm it indo avançar na abordagem dos discursos do cot id ian o, d a cu lt u r a e d a ciên cia. Dessa f or m a, procura- se, at ravés do agir com unicat ivo, apreender as m anifest ações da realidade do indivíduo, onde “ o uso da linguagem , sobret udo a verbal, est á sem pre det erm inada pelas condições reais em que o diálogo se e f e t i v a [ . . . ] a p a l a v r a ca r r e g a r á e ssa s t r ê s determ inações: ela procede de alguém , dirige- se para

alguém e procura persuadir”( 6).

Ne st e a r t i g o , p r e t e n d e - se d e st a ca r a cont ribuição do conceit o de ação com unicat iva para a efet iva com unicação a ser est abelecida na consult a d e en f er m ag em . Com o m ar co t eór ico con ceit u al, adot ar- se- á a t eoria da ação com unicat iva de Jürgen Haberm as. O intuito principal é identificar e descrever o processo pelo qual um conj unto de questões m uito específicas vai se form ulando no seio do pensam ento social m oderno, de t al m odo que elas acabarão por co n f i g u r a r u m ca m p o d e q u e st õ e s q u e , m a i s recent em ent e, passou a ser designado de linguagem e com unicação, destacando, nesse processo, algum as d e su as i n t er f aces co m o cam p o d a saú d e e d a co n su l t a d e e n f e r m a g e m . Ha b e r m a s d i f e r e n ci a com por t am ent o de ação. O com por t am ent o é algo que pode ser observado com o um fat o da nat ureza. A ação é um com portam ento intencional norm atizado por regras, ou sej a, por sent idos reconhecidos com o

t al por um grupo ou com unidade( 7). Port ant o, ação é

o com port am ent o orient ado por um sent ido gest ado co m u n i t a r i a m en t e p o r m ei o d e u m p r o cesso d e int er ação lingüíst ica. Enquant o um com por t am ent o puro é um a coisa sim ples, na m edida em que pode ser observado, um a ação é m arcada pelo sent ido e t em que ser com preendida pela herm enêut ica, essa ent endida com o um a visão de m undo que envolve, num único m om ento, o ser que com preende e aquilo

que é com preendido( 8).

(3)

Baseado no que foi descr it o ant er ior m ent e, será aprofundada a t em át ica específica da t eoria da a çã o co m u n i ca t i v a e co m o e ssa p o d e m e l h o r inst rum ent alizar a consult a de enferm agem .

A TEORI A DE AÇÃO COMUNI CATI VA

A ação so ci al t em d u p l a d i m en são : u m a t eleológica, de in iciat iv a in div idu al e in st r u m en t al ( e sco l h a r a ci o n a l ) , q u e b u sca d i a g n ó st i co s e pr ogn óst icos. Ou t r a com u n icat iv a, sim bolicam en t e acordada ent re suj eit os, regrada por norm as sociais

que só têm validade quando reconhecidas com o tal( 7).

Quando na com unicação, ser á ut ilizado um saber pr oposicional m ediant e ações t eleológicas e, co n sci en t es o u i n co n sci en t em en t e, ad o t a- se u m con ceit o de r acion alidade in st r u m en t al qu e t em a con ot ação de au t o- af ir m ação e de adapt ação aos cont igent es.

Buscando superar o conceito de racionalidade inst rum ent al, a part ir de um a am pliação do conceit o de r azão, Haber m as int r oduziu o conceit o da r azão co m u n i ca t i v a . To r n o u - se u m cr ít i co co n t r a a r acionalidade inst r um ent al da ciência e da t écnica, co m p r e e n d e n d o q u e e ssa s co n t r i b u e m p a r a a aut oconser v ação do hom em .

O aut or posiciona- se t am bém r adicalm ent e cont ra a universalização da ciência e da t écnica, ou se j a , a p e n e t r a çã o d a r a ci o n a l i d a d e ci e n t íf i ca , in st r u m en t al, qu an do con sider ou ser n ecessár ia a in t r od u ção d e u m ou t r o t ip o d e r acion alid ad e: a r a ci o n a l i d a d e co m u n i ca t i v a q u e , n a f i l o so f i a d a

linguagem , t em com o obj et ivo o ent endim ent o( 1,7,9).

Pe l o co n t r á r i o , a u t i l i za çã o d o sa b e r pr oposicional com por t a o conceit o de r acionalidade com unicat iva quando rem ont a para a capacidade de unir sem correções e de gerar consenso que tem , na f a l a a r g u m e n t a t i v a , o o b j e t i v o d e su p e r a r a su b j et iv id ad e d e seu s p on t os d e v ist a in iciais. A pr im eir a posição que Haber m as cham a de r ealist a, parte do suposto ontológico do m undo com o produção d e u m t o d o p a r a d a í e x p l i ca r a s co n d i çõ e s d e com p or t am en t o r acion al. A seg u n d a p osição é a f e n o m e n o l ó g i ca , p o r q u e e st a b e l e ce u m g i r o t r a n sce n d e n t a l e i n d a g a r e f l e x i v a m e n t e a s circunst âncias dos que se com port am racionalm ent e pressupondo um m undo obj et ivo.

No co n t e x t o d a co m u n i ca çã o sã o consider ados r acionais os suj eit os que fazem um a

afir m ação e são capazes de defendê- las ant e um a crít ica, aduzindo as evidências pert inent es. Tam bém é co n si d er ad o r aci o n al o q u e seg u e u m a n o r m a vivente e é capaz de j ustificar sua ação frente a um a crít ica, int erpret ando um a sit uação dada a part ir das

expect at ivas legít im as do com port am ent o( 10- 11).

A t eo r i a d a ação co m u n i cat i v a, seg u n d o Haberm as, relaciona um a const rução ligada aos at os da fala e t em com o fundam ent o básico esclarecer as condições que norm alm ent e precisam ser sat isfeit as em qualquer ação com unicativa na linguagem natural. Em cada sit u ação da f ala, ex ist em qu at r o expect at ivas de validade: a) a de que os cont eúdos t r a n sm i t i d o s se j a m co m p r e e n sív e i s; b ) q u e o s int erlocut ores são verazes; c) que os cont eúdos da fala são verdadeiros; d) que o locut or, ao prat icar o at o lingüíst ico ( afirm ando, prom et endo, ordenando) , t en h a r azões v álid as p ar a f azê- lo, ist o é, aj a d e

acordo com norm as que lhe pareçam j ust ificadas( 12).

A racionalidade inerente à ação com unicativa cot idiana é que perm it e a prát ica da argum ent ação com o inst ância de apelação ent re ação com unicat iva e agir inst rum ent al. Essa sit uação se t orna bast ant e ev ident e, quando se defr ont a com desacor dos que não podem ser absorvidos pelas rot inas cot idianas e nem t am pouco podem ser decididos pelo em pr ego diret o do poder.

A t eor ia d a ação com u n icat iv a d e Jü r g en Haber m as com par t ilh a a cr ít ica segu n do a qu al o p r ocesso d e m od er n ização p assou a ocor r er, n as sociedades in du st r iais, n a f or m a de r acion alidade inst rum ent al, que se caract eriza pela organização de m eios adequ ados de escolh as est r at égicas par a a

con secu ção de obj et iv os( 7 ). Par a ele, a cau sa dos

problem as vividos pela sociedade indust rial m oderna não reside no desenvolvim ento científico e tecnológico e m si , m a s n a su a u n i l a t e r a l i d a d e e n q u a n t o perspect iva de proj et o de em ancipação hum ana, que deix a de lado as discussões sobr e os fundam ent os ét icos em t or no dos quais um a sociedade decide o rum o da sua hist ória.

A t e o r i a d a a çã o co m u n i ca t i v a e st á fundam entada num a concepção da linguagem na qual as dim ensões de significado e validez est ão ligadas

int er nam ent e( 1,7). Baseia- se na concepção de que a

l i n g u a g e m e st á co m p r e e n d i d a e m t r ê s f u n çõ e s básicas:

1. represent at iva: relaciona- se ao m undo obj et ivo. É o falar sobre algo no m undo;

(4)

m undo social. É o com unicar- se com o out ro; 3. expressiva: traduz- se ao m undo subj etivo. Consiste em expressar o que se t em em m ent e.

To d a s e ssa s f u n çõ e s e st ã o i n t e r l i g a d a s, ob j et iv an d o a v alid ez, en t en d id a com o: v er d ad e p r o p o si ci o n al , co r r eção n o r m at i v a e si n cer i d ad e ex pr essiv a.

I sso se traduz na concepção de que, para se chegar a um ent endim ent o por m eio da linguagem , duas pessoas ao se com unicarem necessit am possuir um quadr o de r efer ência em com um , especificando sent ido aos seus at os de fala. O conceit o da ação com unicat iva é descrit o com o “ o m undo da vida, um saber int uit iv o ao qual se dom ina por v iv er num a m e sm a cu l t u r a e co m p a r t i l h a r u m a m e sm a experiência. Ele é um pano de fundo de coisas desde sem pr e sabidas que t or na possív el a com unicação

ent re os falant es”( 7).

Nu m at o d e f ala, os p ar t icip an t es p od em referir- se ao m undo obj etivo, social e subj etivo, sendo que cada um representa um fragm ento do m undo da v i d a . Esse s m u n d o s co r r e sp o n d e m à s t r a d i çõ e s cu l t u r ai s, so l i d ar i ed ad es so ci ai s e est r u t u r as d a p e r so n a l i d a d e , q u e Ha b e r m a s a p o n t a co m o com ponent es est rut urais do m undo de vida.

Ten d o em v ist a q u e o h om em n ão r eag e sim plesm ente aos estím ulos que surgem no m eio em que v iv e, m as at r ibui um sent ido às suas ações, a linguagem torna- se um elem ento prim ordial para que e l e se j a ca p a z d e co m u n i ca r su a s p e r ce p çõ e s, d esej os, in t en ções, ex p ect at iv as e p en sam en t os. Med ian t e essa con cep ção, Hab er m as v islu m b r a a possibilidade de que, at r avés do diálogo, o hom em possa ret om ar o seu papel de suj eit o.

O filósofo Haberm as, ao est rut urar a t eoria da ação com unicat iva, concebeu que a com unicação est abelecida ent re os suj eit os, m ediada por at os da fala, diz respeit o sem pre a t rês m undos:

1. o m undo obj et ivo das coisas: que corresponde a pr et ensões de v alidade r efer ent es às v er dades das af ir m ações f eit as p elos p ar t icip an t es n o p r ocesso com unicat iv o;

2 . o m u n d o social: cor r esp on d e a p r et en sões d e v alidade r efer ent es à cor r eção e à adequação das n or m as;

3. o m undo subj et ivo, das vivências e sent im ent os: correspondem a pret ensões de veracidade, ou sej a, que os participantes do diálogo estej am sendo sinceros na expressão dos seus sent im ent os.

O m o d e l o i d e a l d a a çã o co m u n i ca t i v a ,

pr opost o por Haber m as, pr opõe que as pessoas ao int er agir em , por m eio da linguagem , or ganizam - se socialm ent e, buscando o consenso de form a livre de

toda coação externa e interna( 9). Apresenta o discurso

com o situação lingüística ideal, conceituado com o um a das form as de com unicação, ou da fala, cuj o obj etivo é fundam entar as pretensões de validade das opiniões e norm as em que se baseia im plicit am ent e a out ra f o r m a d e co m u n i ca çã o , q u e ch a m a d e “ a g i r

com unicat ivo ou int eração”( 7).

A t e o r i a d a a çã o co m u n i ca t i v a e st á relacionada tam bém com “ o processo de com unicação que visa o entendim ento m útuo que está na base de t oda a int er ação, pois som ent e um a ar gum ent ação em form a de discurso perm ite o acordo de indivíduos quant o à validade das proposições ou à legit im idade das norm as. Por out ro lado, o discurso pressupõe a in t er ação, ist o é, a par t icipação de at or es qu e se

com unicam livrem ent e e em sit uação de sim et ria”( 9).

A t eor ia da ação com unicat iv a com pr eende que int eração é a base de solução para o problem a da coordenação que surge quando diferent es at ores en v olv idos n o pr ocesso com u n icat iv o est abelecem

alt ernat ivas para um plano de ação conj unt a( 7).

Por essa r azão, a at enção pr est ada ( ação) p el o en f er m ei r o n a co n su l t a d e en f er m a g em a o com unicar- se com alguém , durante o ato profissional, pode se con st it u ir com o o pon t o de par t ida m ais im port ant e de aproxim ação e diálogo de acordo com o pensam ent o de Haber m as. O pensam ent o desse filósofo lev ant a inúm er as quest ões que podem ser u t ilizad as n a av aliação d a f or m a d e com u n icação u t i l i za d a d u r a n t e a co n su l t a d e e n f e r m a g e m , oferecendo a possibilidade de fundam ent ar um a ação co m u n i ca t i v a co m o e l e m e n t o co n st i t u t i v o n a a ssi st ê n ci a q u e v e m se n d o p r a t i ca d a p e l o s en f er m eir os.

CON SULTA DE EN FERM AGEM E O AGI R

COMUNI CATI VO

A con su lt a de en f er m agem é com pet ên cia exclusiva do enferm eiro. A Lei do exercício profissional N.º 7498, de 25 de j unho de 1986, artigo 11, inciso I , alínea “ i”, legitim a o enferm eiro para o pleno exercício d e ssa a t i v i d a d e , co m o i n d i v íd u o , f a m íl i a e a com unidade, sej a no âm bit o hospit alar, am bulat orial,

dom iciliar ou em consult ório part icular( 13).

(5)

t em com o finalidade a prom oção da saúde e do seu bem - estar, devendo ser encarado com o um m om ento in t er at iv o, n u m r ico con t ex t o d e r elacion am en t o interpessoal. Para isso, é necessário um procedim ento sim p les q u e é ou v ir. O at o d e “ ou v ir b em ” ex ig e at enção durant e a int erlocução, pois, m uit as vezes, o interlocutor enferm eiro não é claro no seu discurso, se n d o n e ce ssá r i a a i n t r o d u çã o d e h a b i l i d a d e s p e d a g ó g i ca s e d e co m u n i ca çã o q u e f a ci l i t e m a expressão dos seus pensam entos e necessidades. Ter a t i t u d e co m u n i ca t i v a ce r t a m e n t e d e v e se r u m a pr eocupação por par t e dos pr ofissionais que lidam d i r e t a m e n t e n o se u co t i d i a n o , n a p r e st a çã o d o cu i d a d o . To d a a çã o co m u n i ca t i v a co m

responsabilidade ética j á é um a form a de cuidado( 14).

A par t ir da t eor ia de ação com unicat iva de Hab er m as, p od e- se d esen v olv er u m a ab or d ag em cr ít i ca so b r e a co n su l t a d e e n f e r m a g e m , principalm ent e em alguns de seus aspect os que são de sum a im por t ância par a a pr át ica pr ofissional do en f er m eir o. Nesse con t ex t o, u m a in t er r og ação é p r e m e n t e : e x i st e , h o j e , u m a co m p r e e n sã o o u d i sp o n i b i l i d a d e d o s e n f e r m e i r o s e m a g i r estrategicam ente, utilizando a ação com unicativa para obt er o ent endim ent o m út uo, im plicando não só no at o da fala, com o de suas conseqüências ( ét ica da r e sp o n sa b i l i d a d e ) co m o s q u e d e m a n d a m se u s ser v iços?

O t r abalho de enfer m agem ex ige, além de conhecim ent os e habilidades t écnicas, com pet ências hum anas para conduzir um a consulta interativa entre o en f er m eir o e o seu assist id o sem a ad oção d e prát icas coercit ivas, punit ivas e de vert icalização das condut as adot adas.

Ent ret ant o, na prát ica cot idiana, visualiza- se p ou ca h ab i l i d ad e d o en f er m ei r o n a con d u ção d a con su lt a, n a qu al é f r eqü en t e o esqu ecim en t o do nom e do int er locut or dur ant e o at endim ent o. Essa at it u de é con sider ada in adequ ada pois “ a palav r a adqu ir e den sidade essen cial sobr et u do at r av és do n o m e . Te r u m n o m e si g n i f i ca p o ssu i r u m a exist ência”( 15).

Evident em ent e o nom e serve sem pre com o um sust ent áculo à presença e à ident idade de um a pessoa, sendo que, a part ir de sua enunciação, t em lu g ar a su a p r esen ça in t en cion al com os ou t r os, satisfazendo o desej o inato do ser hum ano de tornar-se conhecido.

Ou t r o asp ect o r elev an t e, f r eq ü en t em en t e obser v ado na consult a de enfer m agem , t em sido a

def icien t e n egociação n a def in ição da sit u ação do

p r ob lem a ap r esen t ad o p elo clien t e( 1 5 ). Hab er m as

d e scr e v e a n e ce ssi d a d e d e “ i n t e r a çã o i d e a l ” , est abelecida a part ir de um a ação de ent endim ent o m útuo, por m eio da harm onização de planos de ação e negociação, ao inv és do uso de coer ção e poder, e v i t a n d o a f r a g m e n t a çã o d a co m u n i ca çã o e a dom inação do out ro at ravés do supost o ( arrogância) saber t écnico ou especializado.

Mu i t a s v e ze s o a ssi st i d o o f e r e ce sim p lesm en t e r esp ost as p on t u ais, ou v ag as, sem f or n ecer in f or m ações ad icion ais d e su a v id a, q u e possam revelar aspectos im portantes para a condução d o d iálog o e d iag n óst ico r eal d a su a sit u ação d e saúde. Um at o im posit ivo, por part e do profissional durante a consulta, im pede ou inibe, m uitas vezes, a int er ação com o client e, pr opiciando o fr acasso da

com unicação e a falt a de alt eridade( 16).

CONSI DERAÇÕES FI NAI S

Por m eio de sua teoria da ação com unicativa, Jü r gen Haber m as é sem in al par a a con st r u ção da p r á t i ca e d a o r i en t a çã o d o cu i d a d o h o l íst i co n o at endim ent o prest ado na área da saúde.

Po d e- se d est acar n a ação p r est ad a p el o enferm eiro que a prática e a com unicação estabelecida com o assist ido são elem ent os fundam ent ais para a vida do hom em em sociedade. “A com unicação est á d i r e t a m e n t e l i g a d a à l i n g u a g e m , q u e co n st i t u i inst rum ent o essencial para que as relações ent re as p essoas p ossam se d esen v olv er a p ar t ir d e u m a com preensão, a m ais nít ida possível, do pensam ent o

de cada um dos int erlocut ores”( 6).

Al g u m a s e st r a t é g i a s i m p o r t a n t e s sã o apont adas a par t ir da t eor ia da ação com unicat iva, para um cuidado m ais hum ano e efetivo: a realização de um diálogo em que a “ escuta” possa ser enfatizada, p r i n ci p a l m en t e, co m a el a b o r a çã o d e p er g u n t a s ab er t as; u so d a v oz m od er ad a d u r an t e o d iálog o est a b el eci d o e d a n eg o ci a çã o d a co n d u t a a ser adot ada ao longo do t rat am ent o, ent re o enferm eiro e o assist ido.

(6)

n ã o d e v e r á se r a l ca n ça d o co m i m p o si çõ e s o u m a n i p u l a çõ e s, a o co n t r á r i o , é e st a b e l e ci d o e m conv icções com uns.

Essa r ef l ex ã o su ci n t a , r ea l i za d a so b r e a pr át ica do enfer m eir o, pr opor cionou um desej o de

avançar na construção de avaliação m ais aprofundada so b r e a a çã o co m u n i ca t i v a i m p l em en t a d a p el o s profissionais de enferm agem . O cam inho fica abert o. O desej o aqui, é de que m ais pessoas se envolvam nessa r eflex ão.

REFERÊNCI AS BI BLI OGRÁFI CAS

1. Cest ari ME. Agir com unicat ivo, educação e conhecim ent o: um a apr ox im ação ao pensam ent o de Haber m as. Rev Br as Enfer m agem 2002; 55( 4) : 430- 3.

2 . San t os MLSC, Padilh a MI CS. As post u r as com passiv as na Enfer m agem – o sofr im ent o que per m eia o cuidar. Rev Br as Enfer m agem 2002; 54( 1) : 542- 8.

3. Bachion MM, Carvalho EC, St uchi RAG. Ret rospect iva da produção cient ífica do SI BRACEn: ( 1988- 1994) . Rev Lat ino-am Enfer m agem 1998; 6( 2) : 47- 55.

4. Galera SAF, Luis MAV. Principais conceit os da abordagem sist êm ica em cuidados de Enfer m agem ao indiv íduo e sua fam ília. Rev Enfer m agem USP 2002; 36( 2) : 141- 7. 5. Cost a CF. Filosofia da linguagem . Rio de Janeiro ( RJ) : Jorge Zahar ; 2002.

6 . Baccg eg a MA. Com u n icação e lin g u ag em – d iscu r sos e ciência. São Paulo ( SP) : Moderna; 1998.

7. Haberm as J. Consciência m oral e agir com unicat ivo. Rio de Janeiro ( RJ) : Tem po Brasileiro; 1989.

8 . Mi n a y o MCS. O d e sa f i o d o co n h e ci m e n t o : p e sq u i sa qualit at iva em saúde. São Paulo ( SP) : Hucit ec; 1992. 9. Gonçalves MAS. Teoria da ação com unicat iva de Haberm as: p o ssi b i l i d a d e s d e u m a a çã o e d u ca t i v a d e cu n h o int erdisciplinar na escola. Rev Educ Soc 1999; 20 ( 66) : 125-4 0 .

10. Haber m as J. Teor ia de la Acción Com unicat iva. Madr id ( ES) : Taur us; 1987.

1 1 . Ar t e m a n n E. I n t e r d i sci p l i n a r i d a d e n o e n f o q u e int er subj et ivo haber m asiano: r eflexões sobr e planej am ent o e AI DS. Saúde Colet iv a 2001; 6 ( 1) : 183- 95.

12. Houanet SP. Por que o m oderno envelheceu t ão rápido? Rev USP 1992; 15: 112- 7.

13. Oliveira MI R, Ferraz NMF. A ABEn na criação, im plant ação e desenvolvim ent o dos Conselhos de Enferm agem . Rev Bras Enfer m agem 2001; 54( 2) : 208- 12.

14. Mor eir a RVO, Pinheir o AKB, Mor eir a TMM, Fialho ANM. Relacionam ent o int er pessoal em Enfer m agem : Haber m as e Peplau . I n : Mor eir a RVO, Bar r et o JAE. A ou t r a m ar gem : filosofia, t eorias de enferm agem e cuidado hum ano. Fort aleza ( CE) : Casa de José de Alencar; 2001. p. 203- 25.

15. St efanelli MC. Com unicação com o pacient e – t eor ia e ensino. São Paulo ( SP) : Robe; 1993.

16. Mondin B. O hom em , quem é ele? São Paulo ( SP) : Paulinas; 1 9 8 0 .

Referências

Documentos relacionados

1 Enferm eira, Doutor em Enferm agem , Professor Adj unto, Universidade Federal de Sant a Maria, Brasil.. Mem bro do grupo de pesquisa Práxis, Universidade Federal de Santa

1 Mestre em Enferm agem , Enferm eira da Secretaria de Saúde de Maringá, Brasil, e- m ail: analuferrer@hotm ail.com ; 2 Doutor em Filosofia da Enferm agem , Docent e

em Enferm agem , Professor Adj unt o da Escola de Enferm agem da Universidade Federal da Bahia, e- m ail: lilian.enferm agem @bol.com .br; 3 Mestre em Enferm agem , Professor

1 Enferm eira, Professor Adjunto da Faculdade de Enferm agem Nossa Senhora das Graças, da Universidade de Pernam buco, e-m ail: reginaoliveira@fensg.upe.br,

1 Enferm eira; Doutor em Enferm agem , e- m ail: soniaapaiva@terra.com .br; 2 Professor Doutor da Escola de Enferm agem de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo,

desenvolvim ento da pesquisa em enferm agem , e- m ail: lyraj r@fcfrp.usp.br; 2 Farm acêutico, Mestre; 3 Enferm eira, Professor Associado Escola de Enferm agem de

1 Dout or em Enferm agem , Enferm eira do Hospit al do Câncer I , Docent e do Curso de Especialização em Enferm agem Oncológica; 2 Dout or em Enferm agem ,.. Enferm eira

1 Enferm eira, Doutoranda em Enferm agem , Docente da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto, 2 Enferm eira, Doutor em Enferm agem , Docente da Escola de Enferm agem