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Mulheres vítimas de violência sexual: adesão à quimioprofilaxia do HIV.

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Academic year: 2017

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MULHERES VÍ TI MAS DE VI OLÊNCI A SEXUAL: ADESÃO À QUI MI OPROFI LAXI A DO HI V

1

Norm élia Maria Freire Diniz2 Lílian Conceição Guim arães de Alm eida3 Bárbara Crist ina dos S. Ribeiro4 Valéria Góes de Macêdo5

O est udo t eve com o obj et ivo avaliar a adesão de m ulheres vít im as de violência sexual ao t rat am ent o de quim ioprofilaxia do HI V. É um estudo quantitativo que teve com o lócus o Serviço de Atenção a Pessoas em Situação de Violência Sexual em Salvador ( Bahia) . Participaram do estudo 172 m ulheres. A coleta de dados foi r ealizada at r av és de ent r ev ist a com for m ulár io e consult a aos pr ont uár ios. Os r esult ados m ost r ar am que 45,4% das m ulheres violent adas eram adolescent es e o est upro acom et eu 40,7% das at endidas. Apenas 54% das m ulher es t inham indicação par a o uso de ant i- r et r ov ir ais par a a pr ev enção do HI V. Houv e adesão ao t r at am ent o de 57,4% e a t ax a de descont inuidade cor r espondeu a 42,6% . A não- adesão foi at r ibuída aos transtornos psíquicos e/ ou em ocionais e à não com preensão do tratam ento instituído. Portanto, há necessidade d e u m olh ar at en t o d os p r of ission ais a f im d e p er ceb er as con d ições q u e im p licar ão n o au m en t o d a vulnerabilidade das m ulheres à infecção.

DESCRI TORES: m ulher es; violência; quim iopr evenção

W OMEN VI CTI MS OF SEXUAL VI OLENCE: ADHERENCE TO CHEMOPREVENTI ON OF HI V

Th is st u d y aim ed t o in v est ig at e t h e ad h er en ce of w om en v ict im s of sex u al v iolen ce, t o AI DS chem oprevention treatm ent. A quantitative study was carried out at a care service to victim s of sexual violence in Salvador ( Bahia, Brazil) . St udy part icipant s were 172 wom en. Dat a were collect ed t hrough int erviews wit h form s and consult at ion of pat ient files. The result s showed t hat 45.4% of t he abused wom en were t eenagers and 40.7% of the attended wom en were raped. Only 54% of the wom en were advised to use antiretrovirals to prevent HI V. Adherence t o t reat m ent occurred in 57.4% of cases and discont inuit y corresponded t o 42.6% . Non- adherence t o t reat m ent was at t ribut ed t o psychological or em ot ional disorders and non- underst anding of the established treatm ent. Therefore, it is im portant that professionals pay careful attention in order to perceive t he condit ions t hat m ight increase wom en’s vulnerabilit y t o t he infect ion.

DESCRI PTORS: w om en; violence; chem opr event ion

MUJERES VÍ CTI MAS DE LA VI OLÊNCI A SEXUAL: ADHESI ÓN A LA QUI MI OPROFI LAXI A DEL HI V

La finalidad de este estudio fue investigar si las m uj eres víctim as de violencia sexual adhieren o no al uso de m edicam entos para prevención del HI V. Fue realizado un estudio cuantitativo en un servicio de atención a personas sexualm ente violentadas, ubicado en Salvador ( Bahía, Brasil) . Participaron del estudio 172 m uj eres. Los dat os fu er on r ecopilados a t r av és de en t r ev ist as dir igidas y con su lt a a los ar ch iv os. Los r esu lt ados dem ost r ar on que el 45.4% de las m uj er es v íct im as de v iolencia er an adolescent es y que el 40.7% de las m u j er es asist id as f u er on v iolad as. Sólo el 5 4 % d e las m u j er es f u e acon sej ad o a u sar m ed icam en t os ant iret rovirales para prevención del VI H, El 57.4% de ellas adhirió al t rat am ient o y el 42.6% no lo cont inuó. Aquellas que no adhirieron al t rat am ient o alegaron dist urbios psicológico y/ o em ocional o no com prensión del t r at am ient o inst it uido. Por lo t ant o, es necesar ia una m ir ada at ent a de los pr ofesionales par a per cibir las condiciones que im plican un aum ent o en la vulnerabilidad de las m uj eres a la infección.

DESCRI PTORES: m uj er es; violencia; quim iopr evención

1 Trabalho ext raído da Dissert ação de Mest rado, Subvencionado pelo Conselho Nacional de Desenvolvim ent o Cient ífico e Tecnológico- CNPq/ PI BI C; 2 Dout or

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I NTRODUÇÃO

A

v iolên cia sex u al d escon h ece b ar r eir as cult ur ais, classes sociais, nív eis socioeconôm icos e lim it ações individuais. Pode ocorrer t ant o no espaço privado quanto no público e atinge pessoas de am bos os sex os e d e t od as as f aix as et ár ias, sen d o as m ulheres suas m aiores vít im as.

A violência cont ra as m ulheres, denom inada v iolência de gêner o, r epr esent a gr av e v iolação aos direitos hum anos e é capaz de desencadear inúm eros agravos à saúde dessas e, dentre esses, pode- se citar o m edo, a falta de credibilidade no sistem a legal e o silên cio, o qu e per m it e qu e as v ít im as se t or n em cúm plices dos seus agressores.

Vale r essalt ar que os r egist r os de violência não revelam a realidade do fenôm eno, pois no Brasil não exist em dados globais a respeit o do fenôm eno: e st i m a - se q u e m e n o s d e 1 0 % d o s ca so s sã o denunciados nas delegacias( 1).

D u r a n t e m u i t o t e m p o , a v i o l ê n ci a f o i considerada um a questão de polícia. Atualm ente, pela ext ensão que t em at ingido, passou a ser igualm ent e um pr oblem a de saúde pública. A m ulher que v iv e situação de violência tem problem as de saúde sérios. Po d e - se ci t a r, p o r e x e m p l o , e n t r e o s d i st ú r b i o s psicológicos, pesadelos r epet idos, an gú st ia, f u ga, evit ação de recordações do event o t raum át ico, sej a e m co n v e r sa s, se j a e v i t a n d o l e m b r a r d e p e n sa m e n t o s, l u g a r e s, p e sso a s; a u m e n t o d a excitação em ocional, ira, falta de concentração, estado de alerta, facilidade para se assustar e nervosism o( 2). No que t ange aos aspect os físicos, cit a- se lesões de pele, gravidez, abort o, infecções sexuais, lacerações e a contam inação pelo HI V. Dores crônicas e uso de dr ogas t am bém cont am com o efeit os da ag r essão.

Desse m odo, a violência sexual é capaz de p r o v o ca r d i st ú r b i o s p si co l ó g i co s d eco r r en t es d o traum a, doenças de ordem física ( com o, por exem plo, lesões corporais) , doenças sexualm ente transm issíveis e AI DS.

At e n t o a o s a g r a v o s e r e p e r cu ssõ e s d a violência sexual para a saúde das pessoas, o Ministério da Saúde do Br asil lançou, em 1 9 9 9 , um m anual, com v ist as a p ad r on izar o at en d im en t o. En t r e as con d u t as p ad r on izad as p elo Min ist ér io d a Saú d e encont ra- se o uso de ant i- ret rovirais para prevenir a infecção pelo HI V.

Ain d a são in cip ien t es t an t o a d iv u lg ação quant o o conhecim ent o dessa prát ica, sej a por part e

dos serviços de saúde sej a por part e da população. Ent ret ant o, j á exist e, desde 2001, em Salvador, BA, um cent r o de r efer ência par a at ender pessoas que sof r er am v iolên cia sex u al e par a f or n ecim en t o da quim iopr ofilax ia.

Su a i m p o r t â n ci a ep i d em i o l ó g i ca e so ci a l j ust ifica esse est udo, vist o que t raz à t ona quest ões ainda pouco r ev eladas, que necessit am de m aior es reflexões, revelando, ou m elhor, desvelando o espaço d a v iolên cia n o cam p o d as r elações f am iliar es, o am bient e dom ést ico, ger alm ent e consider ado com o local de afeto e am or, m as que, em verdade, é palco de at rocidades e agressões.

Ne sse co n t e x t o , a p e sq u i sa t e v e co m o o b j e t i v o g e r a l a v a l i a r a a d e sã o , p o r p a r t e d a s m ulheres vít im as de violência sexual, ao t rat am ent o de quim ioprofilaxia do HI V. E com o obj etivo específico ident ificar os fat or es que influenciam a não- adesão ao t r at am en t o d e q u i m i o p r o f i l ax i a d o HI V p el as m ulheres vít im as de violência sexual.

METODOLOGI A

Trat a- se de est udo descrit ivo, explorat ório e de nat ureza quant it at iva, que t eve com o espaço um Se r v i ço d e At e n çã o a Pe sso a s e m Si t u a çã o d e Violên cia Sex u al, em Salv ador ( BA) . Sen do qu e a seleção d a am ost r a er a sist em át ica, e se d eu n o período com preendido ent re os m eses de out ubro e dezem bro de 2003. Todas as crianças, adolescent es e ad u lt as d o sex o f em in in o at en d id as n o p er íod o cit ado const it uíram o corpus, perfazendo o t ot al de 1 7 2 m u lh er es ( cr ian ças, ad olescen t es e ad u lt as) v ít im as d e v iolên cia sex u al at en d id as n o ser v iço, sendo que 60 delas sofr er am at ent ado v iolent o ao pudor ( AVP) e 112, est upr o, associados ou não ao AVP.

A violência sexual é entendida com o ato que obr iga um a pessoa a t er cont at o sex ual, físico ou verbal ou a participar de outras relações sexuais pelo uso da força, intim idação ou qualquer outro m ecanism o que anule ou lim it e a vont ade pessoal( 3).

De acor do com o Código Pen al Br asileir o, essa coação pode ser expressa sob diversas form as, entre as quais estupro, tentativa de estupro, sedução, at ent ado violent o ao pudor e at o obsceno( 3).

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Os dados foram obt idos por m eio dos livros d e r e g i st r o d e ssa i n st i t u i çã o , p e r m i t i n d o a i d e n t i f i ca çã o d a s f i ch a s e t o r n a n d o p o ssív e l a verificação de dados com o ident ificação pessoal das vítim as, da violência sexual, do agressor e da adesão ao t rat am ent o da quim ioprofilaxia do HI V.

For am con sid er ad os os asp ect os ét icos e l eg a i s, d et er m i n a d o s p el a Reso l u çã o 1 9 6 / 9 6 d o Co n se l h o Na ci o n a l d e Sa ú d e( 4 ) e o p r o j e t o f o i

a p r o v a d o p e l o Co m i t ê d e Ét i ca d o Ho sp i t a l Universit ário Professor Edgar Sant os.

Com o variáveis dependent es, escolheu- se a v i o l ê n ci a se x u a l , a a d e sã o e a n ã o - a d e sã o à quim iopr ofilax ia e, com o independent es, dest acou-se dados sociodem ográficos e a hist ória ginecológica.

RESULTADOS E DI SCUSSÃO

O estudo da violência requer um a integração entre setores, visto que a com plexidade que a envolve não perm ite ser tratada por apenas um a disciplina. A violência é, antes de tudo, uma questão social e, como tal, não é, em si, objeto de estudo apenas da área de saúde, t ornando- se, assim , um t em a que t am bém é abrangido por outras áreas pelas conseqüências funestas que traz para a qualidade de vida das m ulheres.

Pôd e- se con st at ar cer t as p ar t icu lar id ad es n est e est u d o , p o r o ca si ã o d a ca r a ct er i za çã o d a am ostra. Por exem plo, o fato de haver grande núm ero d e casos d e v iolên cia sex u al en t r e as cr ian ças e adolescentes do sexo fem inino, e ainda de o local de ocorrência ser o espaço dom ést ico.

O aspect o não- privat ivo da esfera dom ést ica reside no fat o de ela abrigar coisas que devem ser ocult as dos olhos hum anos: a dist inção ent re o que dev e ser público ou pr iv ado é est abelecida ent r e a diferença ent re o que deve ser exibido e o que deve ser ocult ado( 5).

Assi m , m u i t a s cr i a n ça s, a d o l e sce n t e s e adult os são violent ados, m as os dados a seguir não revelam t odos os casos de violência vividos no seio f am iliar dessa cidade, daí in f er ir - se qu e os dados abaix o não r ev elam a r eal m agnit ude da v iolência, em bora sugiram um panoram a preocupant e.

A v iolên cia in t r af am iliar é f en ôm en o q u e a p r e se n t a r a íze s n a cu l t u r a e n a h i st ó r i a d a s civ ilizações, sen d o, a cad a d ia, m ais d esv elad o, obt endo m aior dest aque a part ir da década de 90 e constituindo- se, assim , em cam po em construção para o est udo t eórico e prát ico( 6).

Car act er ização da am ost r a

Utilizou- se o critério de divisão de faixa etária, e st a b e l e ci d o p e l o Est a t u t o d a Cr i a n ça e d o Ad olescen t e, e con sid er ou - se cr ian ças com id ad e inferior a 12 anos, adolescent es de 12 a 18 anos e adultos a partir de 19 anos.

Os resultados evidenciaram que a faixa etária m ais acom etida pela violência sexual é a de 12 a 18 ( 45,4% ) . Seguem - se crianças violent adas ( 32,6% ) e adult as ( 22% ) .

Out r os est udos t am bém j á m encionar am a relação est abelecida ent re a vivência da violência e a i d a d e j o v e m . Se g u i n d o o m e sm o cr i t é r i o d e classif icação r ealizada n est a pesqu isa, a v iolên cia sex u al ocor r eu em 3 7 , 7 % de cr ian ças, 3 1 , 3 % de a d o l e sce n t e s e 3 1 % d e a d u l t a s( 7 ). Esse s d a d o s

confirm am que há grupos de pessoas que estão m ais vulneráveis à violência, ent re os quais se encont ram as m ulheres j ovens( 7- 8).

Tal v u ln erabilidade se j u st if ica a par t ir de relações que poderiam ser de confiança e prot eção, m as que, no ent ant o, são usadas com o subt erfúgio p a r a a v i o l ê n ci a . D e ssa f o r m a , n o a m b i e n t e dom ést ico, na m aior ia das v ezes, essas cr ianças e adolescent es que v iv enciam sit uações de v iolência constroem um a identidade social que se reproduz por v ár ias ger ações.

A v iolência é discut ida com o um fenôm eno que se apresent a em diferent es cam adas sociais, ou sej a, há um pat am ar de igualdade ent re as vít im as de violência sexual, e isso se repet e nas diferent es ger ações de u m a m esm a f am ília, o qu e pode ser cham ado de t r ansger acionalidade( 6).

No que diz respeit o à variável cor da pele, considera- se relevante quando a tem ática é violência, pois, apesar de se ter feito a distinção entre as cores p r et a e p ar d a, seg u in d o o cr it ér io d as f ich as d e classif icação d o ser v iço, o I n st it u t o Br asileir o d e Geografia e Estatística ( I BGE) estabelece que o term o “ popu lação n egr a” abr an ge as popu lações pr et a e p a r d a e m co n j u n t o , d e a co r d o co m o s t e r m o s adot ados para nom ear as raças/ et nias que com põem a população br asileir a( 9). Com base nesse cr it ér io,

constatou- se que 77,3% ( 39,5% pret a; 37,8% parda) das m ulheres violent adas pert enciam à raça negra.

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discrim inadas, desvalorizadas, vivendo em condições desiguais de gênero e em sit uação de violência.

Em e st u d o r e a l i za d o e m Sa l v a d o r ( BA) , observou- se que 46,5% das m ulheres que sofreram algum tipo de violência consideram - se da cor preta( 10).

Contudo, em pesquisa realizada em São Paulo, 47,8% das m ulheres se declararam brancas, diferença que p od e ser j u st if icad a p elas car act er íst icas ét n icas regionais( 11).

Quant o à variável ginecológica, observou- se a utilização de m étodos contraceptivos pelas m ulheres at endidas no serviço e que j á t inham iniciado a vida sexual em período ant erior ao da violência sexual.

É relevante destacar que 18,7% das m ulheres er am v ir g en s e f oi n o m om en t o d a v iolên cia q u e t i v e r a m o p r i m e i r o co n t a t o se x u a l . Esse d a d o increm ent a a possibilidade de ocorrerem rupt uras e dilacerações da pele, o que aum enta o risco de infecção pelo HI V e a necessidade de que sejam im plem entadas condutas que m inim izem esse risco. O fato j ustifica o não uso prévio de contraceptivos, um a vez que essas m ulheres não tinham iniciado a vida sexual.

A v i o l ê n ci a se x u a l so f r i d a p o r m u l h e r e s virgens t raz, ent re out ros problem as, a elevação do risco de contam inação pelo HI V, visto que a lesão do hím en rom pe a int egridade da m ucosa genit al( 12).

En t r e as m u lh er es qu e for am v iolen t adas, 70% não ut ilizavam nenhum m ét odo cont racept ivo: ora, isso evidencia a vulnerabilidade à gravidez a que est av am ex post as.

Ain d a q u e alg u m as m u lh er es, seg u in d o a or ien t ação do Min ist ér io da Saú de, f açam u so da co n t r a ce p çã o d e e m e r g ê n ci a , a l g u m a s d e l a s engr av idar am após ser em v iolent adas, v ist o que a eficácia da m edicação não é de 100% e, ainda que m uitas com pareceram ao serviço depois de 72 horas, ou sej a, depois do pr azo est ipulado par a que sej a feit a a adm inist ração da m edicação.

Nos casos de gr av idez, as m u lh er es t er ão dois cam inhos a seguir: aceitar a gravidez proveniente do est u pr o e con v iv er com o sof r im en t o qu e isso poderá lhe trazer, ou optar pelo aborto que é oferecido nos serviços de saúde, m as que ainda não est á bem est r u t u r ad o e q u e t am b ém p od er á ser cau sa d e sofr im ent os.

Violência sex ual

No que se refere à variável violência sexual, per cebe- se qu e, em det er m in ados m om en t os, ela

surgiu associada a outras form as, tais com o atentado v iolent o ao pudor com coit o or al ( AVPO) ; at ent ado v iolent o ao pudor com coit o anal ( AVPA) e am bas, além do est upro.

Tabela 1 - Distribuição dos casos de violência sexual, segundo os grupos et ários

Pela Tabela 1, ficou evident e que o est upro foi a for m a com o a v iolência sex ual se apr esent ou em 40,7% das m ulheres das diversas faixas et árias, sendo que, ent r e as adolescent es, esse per cent ual correspondeu a 60,3% , entre as adultas 45,8% e em 1 2 , 5 % d as cr ian ças. Em alg u n s m om en t os, essa agressão veio associada a outras form as, com o AVPO em 2 2 , 9 % das m ulher es com idade super ior a 1 8 anos; AVPA em 8,4% nesse m esm o grupo e as t rês form as j unt as em 22,9% dessas m ulheres.

O AVP t ev e sua m aior fr eqüência ent r e as cr i a n ça s, a t i n g i n d o 8 2 , 1 % d e l a s e 2 0 , 6 % d a s adolescent es. Não for am r egist r ados casos de AVP ent re as adult as. Est e est udo confirm a o predom ínio de estupro entre as adultas e adolescentes, enquanto o AVP prevalece ent re as crianças.

O estudo de Drezett evidenciou a prevalência de AVP entre as crianças vítim as de violência sexual, 7 0 , 4 % n essa f ase da v ida( 1 3 ). No qu e se r ef er e à

d i st r i b u i çã o d o s a g r e sso r e s, d e a co r d o co m a s diversas faixas etárias das vít im as, ident ificou- se que os indiv íduos que m ais agr edir am sex ualm ent e as cr ianças for am v izinho ( 32, 1% ) , pessoa conhecida ( 17,9% ) , pai ( 14,4% ) e padrast o ( 12,5% ) .

Ent re as adolescent es, 27,9% dos casos de v iolência são pr at icados por um conhecido, 19,1% , p o r d e sco n h e ci d o e 1 3 , 2 % , p e l o p a d r a st o . Na s m ulheres adultas, 60,4% dos casos de violência sexual t i v e r a m co m o p e r p e t r a d o r d a a g r e ssã o u m d e sco n h e ci d o . I sso m o st r a q u e a s cr i a n ça s e ad o l escen t es est ão m ai s v u l n er áv ei s à v i o l ên ci a fam iliar.

Assim , é im port ant e dest acar que nos casos de est upr o ident ificados, a m ulher v iolent ada t er ia grande risco de infecção pelo HI V, j á que, em estudo

l a u x e S e m i r

C Criança Adolescente Mulher Total

f % f % f % f %

o r p u t s

E 7 12,5 41 60,3 22 45,8 70 40,7 A P V A + o r p u t s

E 3 5,4 5 7,3 4 8,4 12 7,0 O P V A + o r p u t s

E - - 4 5,9 11 22,9 15 8,7 O P V A + A P V A + o r p u t s

E - - 4 5,9 11 22,9 15 8,7 P

V

A 46 82,1 14 20,6 - - 60 34,9

l a t o

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r ealizado no am bulat ór io de um hospit al/ escola do m unicípio de São Paulo, evidenciou- se que as relações het erossexuais foram ident ificadas com o a principal form a de exposição entre as m ulheres com HI V/ AI DS, represent ando 83,5% dos casos( 14).

Com r elação ao n ú m er o de agr essor es, o est udo m ost rou que a violência sexual foi prat icada por um único agressor em 89% dos casos. Os dados ap o n t am q u e as seq ü el as p si co l ó g i cas são m ai s sev er as qu an do o abu so sex u al é per pet r ado por m últ iplos agressores e t am bém que, quant o m aior o núm ero de agressores, m aior o risco de contrair DST e HI V( 13).

A violência sexual, t ant o no caso de crianças q u an t o n o d e ad olescen t e, ocor r eu em t er r it ór io físico e sim bólico da est rut ura fam iliar, onde o hom em pr at icam ent e exer ce o dom ínio t ot al. A dist r ibuição d a v iolên cia sex u al, seg u n d o local d e ocor r ên cia, dem onst rou que a residência do agressor foi o local de pr efer ência ( 29, 6% ) , seguido por r esidência da v ít im a ( 1 6 , 2 % ) e 1 3 , 4 % , o m at agal, ent r e out r os e s p a ç o s p ú b l i c o s ; o u s e j a , a v i o l ê n c i a p o d e acont ecer em t odos os locais, sej am eles públicos ou pr iv ados.

No espaço dom ést ico, por um pr ocesso de dom ínio e poder, est abelecidos pelas regras sociais, a g r e sso r e s co m l a ço s co n sa n g ü ín e o s o u d e parentesco perpetram a violência sexual que se pode cham ar de violência int rafam iliar( 15). A segurança do

lar p er m it e ao ag r essor o ex er cício d o p od er em t errit ório conhecido, onde o dom ínio e a delim it ação d o e sp a ço sã o ca r a ct e r íst i ca s q u e a u t o r i za m a v iolência, o que t or na a denúncia decisão difícil de ser t om ada. Ao caract erizar os agressores, observa-se que é na faixa etária dos 20 aos 40 anos que está a m aior in cid ên cia, e isso q u alif ica os in d iv íd u os adult os com o provedores da violência sexual.

O u so d e á l co o l p e l o s a g r e sso r e s, se co m p ar ad o a o u t r o s est u d o s d o m esm o g ên er o , m ost rou poucos casos. Tant o m ais que se const at ou que 57,3% dos agressores não haviam ingerido bebida alcoólica no inst ant e em que com et eram a violência. Co n t u d o , é co m u m q u e a s v ít i m a s a sso ci e m a v iolência sex ual ao uso de dr ogas: logo, o álcool, sendo um a dr oga per m it ida, t am bém est á inser ida n esse co n t ex t o . Um est u d o co m 1 5 0 m u l h er es, estudantes universitárias, que tinham sido vítim as de est u pr o, m ost r ou qu e 8 4 % af ir m ar am con h ecer o agr essor e 73% afir m ar am que esse est av a sob a influência de drogas ou de álcool( 16).

Adesão à quim iopr ofilax ia

Re p o r t a n d o - se à v a r i á v e l a d e sã o à quim ioprofilaxia do HI V, verificou- se que das m ulheres que com par ecer am ao ser v iço apenas 54% t inham indicação para uso dos anti- retrovirais para prevenção do HI V( 17). Ent re os crit érios analisados est ão t ipo e

gr au de r isco da agr essão; se f oi u m est u pr o ou atentado violento ao pudor, se houve lesões e fissuras na genit ália. Caso t enham sido ut ilizados m at er iais perfurant es e cort ant es, seringas et c.; t ipo de sexo r ealizad o ( se f oi or al com a ej acu lação, an al ou vaginal) ; se a vít im a reagiu ou não à violência, pois alguns desses fat ores podem pot encializar o risco de in fecção.

Nesse sentido, 46% das m ulheres não fizeram o uso da quim ioprofilaxia, por não terem atendido os crit érios m encionados, bem com o não fizeram o uso da cont r acepção de em er gência.

Entre as m ulheres que iniciaram o tratam ento, a adesão foi de 57,4% . Ou sej a, não houve adesão de 42,6% daquelas que iniciaram a t erapêut ica.

Tabela 2 - Dist ribuição, segundo a adesão ao uso da quim ioprofilaxia, por grupo et ário

* Houve 6 casos de t rat am ent o suspenso por ordem m édica

Com p ar an d o com o est u d o r ealizad o p or Dr ezet t , em que 75, 8% das m ulher es ader ir am ao t r a t a m e n t o e a t a x a d e d e sco n t i n u i d a d e f o i d e 24,2%( 13), os dados obtidos pela Tabela 2 evidenciam

que, no pr esent e est udo, a adesão foi consider ada baixa. Ent r e os m ot iv os que levar am à não- adesão estão os transtornos psíquicos e/ ou em ocionais ( 40% ) , falta de entendim ento no uso correto das m edicações ( 30% ) , efeit os colat erais secundários ( 20% ) e 10% pela falt a de r ecur sos financeir os par a r et or nar ao ser v iço par a r eceber a m edicação. Dest aca- se que não se conseguiu cont at o com 56,5% das m ulheres que descontinuaram o tratam ento para saber o m otivo que as levou ao abandono.

O estreitam ento da relação entre profissionais e pacient es é excelent e alt ernat iva para m elhorar a ad esão ao t r at am en t o , j á q u e t o d o s o s m o t i v o s aleg ad os p elas m u lh er es com o j u st if icat iv as p ar a

o t n e m a t a r

T Criança Adolescente Mulher Total

f % f % f % f % o

ã s e d

A - - 6 46,1 25 64,1 31 57,4 o

ã s e d a -o ã

N 2 100 07 53,9 14 35,9 23 42,6

l a t o

(6)

a b a n d o n a r o t r a t a m e n t o p o d e r i a m t e r si d o t rabalhados pela equipe.

As Po l ít i ca s Pú b l i ca s d e v e m se r r e sp o n sa b i l i za d a s n o se n t i d o d e co n t r i b u i r co m recursos financeiros para garant ir que o t rat am ent o seja realizado adequadam ente, no m ínim o, fornecendo v a l e s- t r a n sp o r t e p a r a q u e a s m u l h e r e s p o ssa m ret ornar ao serviço para buscar o m edicam ent o.

O est udo de Dr ezet t apont a com o pr incipal causa de descontinuidade no tratam ento a intolerância g á st r i ca ( 8 0 % ) . Ap e n a s u m ca so d e f a l t a d e ent endim ent o no t rat am ent o ( 6,7% )( 12) foi relat ado.

Assi m se n d o , a i n t e r a çã o e n t r e o s p r of ission ais d e saú d e e as p essoas q u e sof r em violência sexual é im prescindível para o aum ent o da adesão à quim ioprofilaxia do HI V. Assim sendo, um a avaliação cont inuada do at endim ent o prest ado deve ser efet ivada para fins de ident ificação periódica dos casos de abandono, na busca de alt ernat ivas viáveis para reduzir o risco de infecção pelo HI V.

CONSI DERAÇÕES FI NAI S

Os r esult ados evidenciar am que a violência sex ual at inge m ulher es das div er sas faix as et ár ias, se n d o q u e h á i n ci d ê n ci a e l e v a d a e n t r e a s adolescent es.

Os estudos de violência retratam a raça negra com o alvo principal das agressões. As m ulheres negras t iveram part icipação significat iva na am ost ra. Fat ores ét nicos, socioeconôm icos, cult urais e de gênero não podem ser suprim idos quando se discute a violência.

O u so d a f or ça p ar a in t im id ar f oi p r át ica com um : logo, a violência sexual apr esent ou- se sob as for m as de est upr o, at ent ado v iolent o ao pudor, atentado violento ao pudor com coito oral e atentado violento ao pudor com coito anal, tendo, geralm ente, um agressor adult o durant e o at o. Esse, em alguns casos, er a con h ecido da v ít im a, u m f am iliar ( pai, padrasto, tio ou irm ão) , o que caracteriza a violência int r afam iliar.

A adesão ao t rat am ent o de quim ioprofilaxia d o HI V f o i b a i x a , v i st o q u e t o d a s a s m u l h e r e s deveriam aderir ao esquem a t erapêut ico para que o risco da infecção pelo HI V fosse reduzido.

O a b a n d o n o d o t r a t a m e n t o p o d e se r j u st i f i ca d o p o r i n ú m e r a s si t u a çõ e s: i n g e r i r u m com prim ido para prevenir o HI V é acom panhado por u m a sér ie d e coisas, com o r elem b r ar a v iolên cia sof r id a, t or n ar p ú b lico alg o q u e ser ia p r iv ad o. A d if icu ld ad e econ ôm ica em ir ao ser v iço b u scar o com pr im ido e o n ão en t en dim en t o do qu e sej a o t rat am ent o t am bém são razões que j ust ificam o fat o de as m ulheres não aderirem ao t rat am ent o.

Esses m ot iv os dev em ser t r abalhados pela eq u ip e, p er iod icam en t e av aliad os, n o sen t id o d e m elhorar o índice de adesão.

Est e e st u d o co n t r i b u i co m o p r o ce sso educat ivo para o t rabalho com as fam ílias à m edida que m ost ra a violência int rafam iliar com o part e das r elações ent r e ger ações const r uídas socialm ent e de for m a n at u r alizada. Assim é qu e pr ofission ais das diversas disciplinas podem t er um olhar diferenciado para o atendim ento dos suj eitos e fam ílias em situação de violência.

REFERÊNCI AS BI BLI OGRÁFI CAS

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Recebido em : 17.11.2005 Aprovado em : 13.9.2006

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Referências

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1 Enferm eiro, Doutor em Enferm agem , Professor Adjunto; 2 Enferm eira, Doutor em Filosofia da Enferm agem , Professor Titular; e-m ail: alacoque@newsite.com .br; 3

1 Mestre em Enferm agem , Enferm eira da Secretaria de Saúde de Maringá, Brasil, e- m ail: analuferrer@hotm ail.com ; 2 Doutor em Filosofia da Enferm agem , Docent e

da Escola de Enferm agem de Ribeirão Pret o, da Universidade de São Paulo, Cent ro Colaborador da OMS para o desenvolvim ent o da pesquisa em enferm agem , e-m ail:

Preto, da Universidade de São Paulo, Centro Colaborador da OMS para o desenvolvim ento da pesquisa em enferm agem , e-m ail: lbpinho@uol.com .br; 3 Enferm eira, Professor Doutor

1 Enferm eira; Doutor em Enferm agem , e- m ail: soniaapaiva@terra.com .br; 2 Professor Doutor da Escola de Enferm agem de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo,

1 Professor Assist ent e, Escola de Enferm agem da Universidade de I owa, Est ados Unidos, e- m ail: m art ha- driessnack@uiowa.edu; 2 Professor Associado, Escola de Enferm agem

2 Enferm eiro, Professor Doutor da Escola de Enferm agem de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo, e- m ail: palha@eerp.usp.br; 3 Professor Doutor da Escola de Enferm agem

desenvolvim ento da pesquisa em enferm agem , e- m ail: lyraj r@fcfrp.usp.br; 2 Farm acêutico, Mestre; 3 Enferm eira, Professor Associado Escola de Enferm agem de