w w w . r e u m a t o l o g i a . c o m . b r
REVISTA
BRASILEIRA
DE
REUMATOLOGIA
Artigo
original
Troca
plasmática
terapêutica
em
doenc¸as
reumáticas:
a
experiência
de
um
hospital
universitário
Juan
Pablo
Córdoba
a,
Carolina
Larrarte
a,
Cristina
Estrada
ae
Daniel
G.
Fernández-Ávila
a,b,∗aPontifíciaUniversidadJaveriana,HospitalUniversitarioSanIgnacio,Bogotá,Colômbia bPontificiaUniversidadJaveriana,FacultaddeMedicina,Bogotá,Colômbia
informações
sobre
o
artigo
Históricodoartigo:
Recebidoem26defevereirode2016 Aceitoem8denovembrode2016
On-lineem16dedezembrode2016
Palavras-chave:
Trocaplasmática Doenc¸asreumáticas Vasculite
Lúpuseritematososistêmico Síndromeantifosfolipídica catastrófica
r
e
s
u
m
o
Introduc¸ão: Diariamenteacumulam-seevidênciasrelacionadascomousodatroca plasmá-ticaterapêutica(TPT)empacientescomdoenc¸asreumáticas.OHospitalUniversitárioSan IgnacioregistroutodasassessõesdeTPTfeitaspelogrupodeaféresedessainstituic¸ão.
Objetivo:DescreveraexperiênciadoHospitalUniversitárioSanIgnacionaTPTempacientes comdoenc¸asreumatológicas.
Métodos:Análiseobservacional,retrospectiva,descritiva.IncluiuanálisesdassessõesdeTPT feitasempacientescomdoenc¸asreumáticasdenovembrode2009anovembrode2013.
Resultados: Ogrupodeaféresefez136sessõesem27pacientes.Aidademédiafoide43anos (DP18,5)e59,3%eramdosexofeminino.Quantoaodiagnóstico,osmaisfrequentesforam: vasculiteassociadaaoanticorpoanticitoplasmadeneutrófilos(ANCA)seguidadelúpus eritematososistêmicoesíndromeantifosfolipídicacatastrófica.Aquantidademédiade ses-sõesporpacientefoidecinco(DP1,8)eamédiadetrocaplasmáticaporpacientefoide1,3 unidadedesubstituic¸ãodovolumedeplasma.Asoluc¸ãodesubstituic¸ãomaisusadafoi oplasmafrescocongelado(PFC,63,2%dassessões).Detodasassessões,4,4% apresenta-ramcomplicac¸ões,amaioriadelasrelacionadascomoacessovascular.Quinzepacientes necessitaramdeterapiadesubstituic¸ãorenal(TSR)secundáriaàmesmacausaquelevou ànecessidadedeTPT;trêspacientesnecessitaramdeTSRemdecorrênciadeoutras cau-sasalémdaintervenc¸ãodiagnósticadeTPTeumpacientetinhasidosubmetidoàdiálise crônica.
Conclusões:A TPTéumaopc¸ãoterapêuticanecessáriaparaomanejode pacientescom doenc¸asreumáticascomenvolvimentorenaledaquelesquesãorefratáriosaotratamento convencional.Osresultadosclínicosdopresenteestudoestãodeacordocomoqueé encon-tradonaliteraturaglobal.
©2016PublicadoporElsevierEditoraLtda.Este ´eumartigoOpenAccesssobuma licenc¸aCCBY-NC-ND(http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/).
∗ Autorparacorrespondência.
E-mail:daniel.fernandez@javeriana.edu.co(D.G.Fernández-Ávila). http://dx.doi.org/10.1016/j.rbr.2016.11.003
Therapeutic
plasma
exchange
in
rheumatic
diseases:
a
university
hospital
experience
Keywords:
Plasmaexchange Rheumaticdiseases Vasculitis
Systemiclupuserythematosus Catastrophicantiphospholipid syndrome
a
b
s
t
r
a
c
t
Introduction: Eachday, evidenceaccumulatesrelated to theuse oftherapeutic plasma exchange(TPE)inpatientswithrheumaticdiseases.SanIgnacioUniversityHospitalhas recordedalloftheTPEsessionsperformedbytheinstitution’sapheresisgroup.
Objective: TodescribetheTPE experienceofpatientswithrheumatologicdiseases ina hospitalsetting(?).
Methods: Descriptive,observational,retrospectiveanalysis.Thisstudyincludedanalysesof theTPEsessionsthatwereperformedinpatientswithrheumaticdiseasesfromNovember 2009toNovember2013.
Results: Theapheresisgroupperformed136sessionsin27patients.Themeanpatientage was43years(SD18.5),and59.3%ofthepatientswerefemale.Regardingthediagnosis,the mostfrequentsoneswhere:ANCA-associatedvasculitisfollowedbysystemiclupus erythe-matosusandcatastrophicantiphospholipidsyndrome.Theaveragenumberofsessionsper patientwas5(SD1.8),andtheaverageplasmaexchangeperpatientwas1.3plasmavolume replacementunits.Themostusedreplacementsolutionwasfrozenfreshplasma(FFP;63.2% ofthesessions).Ofallthesessions,4.4%presentedcomplications,andthemajorityofthe complicationswererelatedtovascularaccess.Fifteenpatientsrequiredrenalreplacement therapy(RRT)secondarytothesamecausethatcreatedtheneedforTPE,3patientsrequired RRTduetocausesotherthantheTPEdiagnosticinterventionand1patienthadundergone chronicdialysis.
Conclusions: TPEisatherapeuticalternativethatisneededforthemanagementofpatients withrheumaticdiseaseswithrenalinvolvementandthosewhoarerefractoryto conventi-onalmanagement.Ourclinicalresultswereinagreementwiththegloballiterature.
©2016PublishedbyElsevierEditoraLtda.ThisisanopenaccessarticleundertheCC BY-NC-NDlicense(http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/).
Introduc¸ão
A troca plasmática terapêutica (TPT) éuma terapia extra-corpóreaqueenvolveaseparac¸ãodoplasmadoselementos de formac¸ão do sangue para eliminar anticorpos, comple-xos imunes, citocinas e outros mediadores inflamatórios circulantes.1,2 O volume de plasma retirado é
simultanea-mentesubstituídoporoutrasoluc¸ão,comoaalbuminaouo plasmafrescocongelado.3,4
ATPTproduzalterac¸õesemsubstânciasquepodematuar nafisiopatologiadadoenc¸a.Porexemplo,aTPTesgotaas pro-teínasdoplasma,inclusiveanticorpos,fatoresdecoagulac¸ão, componentesdocomplemento,peptídeosvasoativos, citoci-nas,hormônios,mineraiseoutrassubstâncias.5,6
Em1960,SchwabeFaheyfizeramaprimeiraTPTemum paciente com macroglobulinemia.1 A introduc¸ão da troca
plasmáticaàpráticaclínicaparapacientescomdoenc¸arenal eimunológicafoifeitaporLockwoodetal.em1975,emum pacientecomsíndromedeGoodpasture.ATPTassociadaà terapia imunossupressoraresultou emmelhoria nafunc¸ão renaleresoluc¸ãodahemorragiaalveolardopaciente.7Desde
então, aquantidade deindicac¸ões para esseprocedimento tem aumentado. Essas indicac¸ões eram inicialmente base-adas em casos anedóticos ou estudos não controlados. A progressão do conhecimento médico e a compreensão da fisiopatologia de diversas doenc¸as apoiam o papel da TPT como parte do tratamento de várias entidades clínicas.
As evidências clínicas atuais apoiam o uso desse tipo de tratamentoemváriasdoenc¸as,inclusiveasreumáticas.
A aférese destina-se a remover fisicamente complexos imunes ou fatores humorais. A aférese é considerada um tratamento opcional quando o tratamento conservador foi insuficienteparacontrolaraatividadedadoenc¸aouemalguns casoscomoumcomplementoàterapiaconvencional desti-nadaaaprimorarosresultados.Noentanto,aaféreseéuma medidatemporáriaerequertratamentoclínicosubsequente ousessõesrepetidas.8
Autilidade da aféresetem sidorepetidamente demons-trada em pacientes com crioglobulinemia mista essencial, vasculiteassociadaaoANCA,síndromedeGoodpasture, sín-dromeantifosfolipídicacatastróficaeoutrascondic¸ões.9
doenc¸a,aFoodandDrugAdministration(FDA)aprovouem1999 aaféresecomopartedotratamentoparaessadoenc¸a.10
Desde 2008 o Hospital Universitário San Ignacio, uma instituic¸ãoacadêmicaemBogotá(Colômbia),empregaum sis-temade TPTefiltragemtransmembranacom umatécnica controladapelovolumeeverificadaquantoàseguranc¸ae pre-cisãodessaterapia.Ogrupodeaféreseenefrologiadapresente instituic¸ãoregistroutodasassessõesdeTPTfeitas.No pre-senteestudo,relata-seaexperiênciadessegrupocomaTPTno tratamentodepacientescomdoenc¸asreumáticas.Oobjetivo éavaliararespostaclínicaaessaterapia.
Material
e
métodos
Populac¸ãodeestudo
Fez-seuma análisedescritiva das sessões de TPTde paci-entes com doenc¸as reumáticas feitas durante quatroanos (de novembro de 2009 a novembro de 2013) no Hospital Universitário San Ignacio. O protocolo do estudo foi apro-vadopeloComitêdeÉticadainstituic¸ãoepelaUniversidade Javeriana.Registraram-seascaracterísticasdemográficasdos pacientes,astécnicasusadas,asindicac¸õesterapêuticaseas complicac¸õescombasenasinformac¸õesobtidasdoregistro clínicodainstituic¸ãoedabasededadosdopresentegrupo deaférese.Apopulac¸ãofoiclassificadaporsexo,idade,etnia, localdohospital,quantidadedesessõesdeTPTporpacientee indicac¸ãodotratamento.Umasessãofoidefinidacomouma terapiadeTPT;umprocedimentofoidefinidocomoogrupo desessõesdeTPTqueforamfeitasemumpacientecomum diagnósticoespecíficoduranteumdeterminadoperíodo.
Técnica
NodesenvolvimentodatécnicadeTPT,usaram-sesistemas deequipamentosdefiltragemtransmembranaecateteresde hemodiálisepara acessovascular.Asterapias dereposic¸ão usadasenvolveramoPFCeaalbuminaa5%. Aselec¸ãoda soluc¸ão foi feita de acordo com a doenc¸a do indivíduo, a indicac¸ãoterapêutica,oestadoclínicoeaprobabilidadede eventosadversos.Asoluc¸ãodesubstituic¸ãoselecionadatem implicac¸õesparaaeficáciadotratamento,pressãooncótica, distúrbiosdecoagulac¸ão eocorrênciade eventosadversos. Emgeral,prefere-seusaralbuminaemdetrimentodoPFCem decorrênciadareduc¸ãonosriscosdereac¸õesde hipersensibi-lidadeetransmissãodedoenc¸asviraisassociadasaousoda albumina.10Noentanto,notratamentodealgumasdoenc¸as,
asoluc¸ãodeescolhaéoPFC,porqueelealiviatodasas defi-ciências dosfatoresplasmáticos.Étambém preferível usar PFCquandoopacienteestáemriscodesangramento, apre-sentadefeitoshemostáticosoubaixosníveisdefibrinogênio, ouapresentahemorragiaativa.11–13
Parafazerotratamento,estima-seovolumedeplasmado pacientecomafórmuladeKaplan.Prescreve-seaopaciente 1a1,5unidadedesubstituic¸ãodovolumedeplasma.A quan-tidadedesessõesprescritasdependedadoenc¸asubjacentee dasrecomendac¸õesdasdiretrizesinternacionaisdeaférese. Asterapiasforammonitoradaspelaequipedeenfermagem comtreinamento nomonitoramentoeregistroresponsável
Tabela1–Característicasdapopulac¸ão
Sexo-N◦(%)
Masculino 11(40,7%)
Feminino 16(59,3%)
Idade-anos
Média 43±17
Intervalo 13-70
Etnia-N◦(%)
Negra 0(0%)
Mestic¸a 27(100%)
Atendimentos-N◦desessões(%)
Ambulatório 35(25,7%)
Enfermaria 0(0%)
UTI 101(74,3%)
Sessõesporprocedimento-N◦
Média 5±2.2
Intervalo 1-10
dos parâmetros terapêuticos, controle dos sinais vitais do pacienteeobservac¸ãodossintomasocorridosdurantea ses-sãodeTPT.
Análiseestatística
As variáveis categóricas são descritas como frequências (proporc¸õeseporcentagens)easvariáveisnuméricassão des-critascomomedidasdetendênciacentral(médiaemediana)e medidasdedispersão(desvio-padrãoeintervalo).Asanálises citadasforamfeitascomosoftwareSTATA,versão10.
Resultados
Dadosdemográficos
Fizeram-se 136sessõesem27pacientes.Aidademédiafoi de 43anos(DP18,5).Trataram-setrês pacientescom idade superior a 65 anos e umcom idade inferior a 15 anos. A populac¸ãoeracomposta por59,3%demulherese40,7% de homens;100%dospacienteserammestic¸os.Detodasas ses-sões, 74,3% foram feitas em unidades de terapia intensiva (UTI)e25,7% emregimeambulatorial.Aquantidademédia desessõesporpacientefoidecinco(DP1,8);48%dos paci-entes tinham diagnósticos recentese52% tinham doenc¸as autoimunesrelacionadas;entreessesúltimos,92%recebiam tratamento,78%usavamcorticoidese21%receberam trata-mentocomcitostáticos;26pacientesreceberamtratamentos associadosàTPTetratamentoscomcorticoides(quatropor viaintravenosaeumporviaoral)e13pacientesreceberam citostáticos(tabela1).
Indicac¸ãoterapêutica
Tabela2–Indicac¸ãodotratamento
Diagnóstico Númerode
pacientes
Númerode
sessões
Porcentagem desessões
Sessões/Paciente Númerode
procedimentos
Percentagemde procedimentos
ANCA+GNRP+HA 8 46 33,8 5,8 8 29,6
LES+HArefratária 7 27 19,8 3,9 7 25,9
ANCA+GNRP-HA 4 26 19,1 6,5 4 14,8
SAFC 3 14 10,2 4,7 3 11,1
Crio+SAFC 1 7 5,1 7 1 3,7
LESrefratário 1 6 4,4 6 1 3,7
SG+HA 1 5 3,6 5 1 3,7
Crio+HA 1 4 2,9 4 1 3,7
ANCA-GNRP+HA 1 1 0,7 1,0 1 3,7
TOTAL 27 136 100 27 100
ANCA,vasculiteassociadaaoANCA;Crio,crioglobulinemias;GNRP,glomerulonefriterapidamenteprogressiva;HA,hemorragiaalveolar;LES, lúpuseritematososistêmico;Procedimento,grupodesessõesfeitasempacientescomdiagnósticoespecífico;SAFC,síndromeantifosfolipídica catastrófica;Sessão,umaterapiadeTPT;SG,síndromedeGoodpasture.
renaisepulmonaresconcomitantesouapenasdoenc¸a pulmo-nar.OutrosprecisaramdeTPTparaumadoenc¸acondizente comasrecomendac¸õesdasdiretrizesdaSociedadeAmericana paraAféreseASFA(tabela3).
Técnicadetrocaplasmática
Todasassessõesforamfeitascomatécnicadefiltrac¸ão trans-membranacomumamédiadetrocaplasmáticade1,3volume. Nãoforamusadosagentesanticoagulantesemsessãoalguma. Cateteresdehemodiálisetransitóriosforamusadosemtodas assessões;58,8%doscateteresestavamlocalizadosemveias jugulareseosoutrosforamcolocadosnasveiasfemorais.A soluc¸ãodesubstituic¸ãomaisusadafoiaPFC(63,2%das ses-sões),seguida da albumina a 5%(31,6% das sessões), uma combinac¸ãode plasmacom albumina (4,4%das sessões) e albuminaa3,5%(0,7%dassessões).
Complicac¸ões
Ascomplicac¸ões ocorreramem 4,4%das sessões deTPT e estiveramrelacionadasprincipalmentecomoacesso vascu-lar.Ascomplicac¸õesdoacessovascularforammaiscomuns
Tabela3–Tiposdedistúrbiosempacientessubmetidos aTPT
Tipodedistúrbio Númerode
pacientes
Diagnóstico
Renal 4 ANCA+GNRP-HA
Pulmonar 9 LES+HArefratária
Crio+HA
ANCA-GNRP+HA
Renalepulmonar 9 ANCA+GNRP+HA
SG+HA
Sistêmico 5 SAFC
Crio+SAFC LESrefratário
ANCA, vasculite associada ao ANCA; Crio, crioglobulinemias; GNRP,glomerulonefriterapidamenteprogressiva;HA,hemorragia alveolar;LES,lúpuseritematososistêmico;SAFC,síndrome antifos-folipídicacatastrófica;SG,síndromedeGoodpasture.
do que aquelas relacionadas com disfunc¸ões do cateter. A
tabela 4 descreve as complicac¸ões observadas durante as
sessões deTPT(tabela4).Quantoàsalterac¸õeseletrolíticas ocorridasduranteosprocedimentos,astaxasde hipocalce-mia,hipocalemiaehipofosfatemiaforamde17%,15%e4%, respectivamente.
Desfechos
Quinzepacientesnecessitaramdeterapiadereposic¸ãorenal (TRR)secundáriaàcausaqueexigiaaTPT,umestavaem diá-lisecrônicaetrêsnecessitaramdeTRRporoutrascausasque não as responsáveis pelas indicac¸õespara a TPT. Entre os 19pacientessubmetidosàTRR,10morreram,cinco recupe-raram afunc¸ãorenalequatrosetornaramdependentesda diáliseaoreceberalta.Entreos27pacientes,13morrerame amaiorpartedasmortesfoidecorrentedechoqueséptico.A tabela5descreveosdesfechosdopacienteapósaTPT.
Discussão
A TPT pode remover complexos imunes, autoanticorpose outros reagentes imunes envolvidos na fisiopatologia das doenc¸as reumáticas do sangue. Desde o uso inicial da TPT, essa técnica tem sido examinada em vários estudos reumatológicos;noentanto,essesestudosgeralmente rela-taramresultadosouefeitosnegativosqueeraminsuficientes
Tabela4–Complicac¸õesrelacionadascomaTPT
Complicac¸ões Número
Relacionadascomoacessovascular 5
Disfunc¸ãodocateter 1
Sangramento 0
Punc¸ãoarterial 1
Infecc¸ão
Hipotensãoarterial 0
Sangramentosistêmico 1
Reac¸õesalérgicas 0
Arritmiacardíaca 0
Tabela5–Desfechos
Morte Altaestável Altaem
hemodiálise
ANCA+GNRP+HA 2 2 4
LES+HArefratária 3 2 2
ANCA+GNRP-HA 3 1 0
SAFC 2 1 0
Crio+SAFC 0 1 0
LESrefratário 1 0 0
SG+HA 1 0 0
Crio+HA 0 1 0
ANCA-GNRP+HA 1 0 0
Total 13 8 6
ANCA, vasculite associada ao ANCA; Crio, crioglobulinemias; GNRP,glomerulonefriterapidamenteprogressiva;HA,hemorragia alveolar;LES,lúpuseritematososistêmico;SAFC,síndrome antifos-folipídicacatastrófica;SG,síndromedeGoodpasture.
para justificar as recomendac¸ões doprocedimento (princi-palmentenoLES),amenosqueseuusoestivesseassociado àmicroangiopatiatrombóticaousíndromeantifosfolipídica catastrófica.14,15
Asmelhoresevidênciasqueapoiamo usodaTPTestão relacionadascomasdoenc¸asrenais,comosíndrome hemo-lítica urêmica, vasculite, anticorpos antimembrana basal glomerular,nocontextodotransplanterenalpor glomerulo-nefriterecorrente,enomanejodarejeic¸ãopós-transplante.15
Emestudosdahemorragiaalveolargraveassociadaà sín-drome de Goodpasture e outras condic¸ões que afetam os capilarespulmonares,encontrou-sequeaTPTéumaopc¸ão terapêuticaútilaousodeagentesimunossupressores13para
doenc¸as renais que resultam de anticorpos antimembrana basalglomerular;noentanto,asevidênciasrelacionadascom aaplicac¸ãoda TPTparaavasculiteassociadaaoANCAsão ruins.7,16
Noqueserefereaocomprometimentorenaldecorrenteda vasculiteassociadaaoANCA,amelhorevidênciadisponívelé oestudoMepex,quecomparouousodepulsosde metilpred-nisolonacomatrocaplasmáticafeitaprecocemente.Oestudo encontrouqueatrocaplasmáticaerasuperioremtermosde sobrevidalivredediálise;noentanto,nãoforamdetectadas diferenc¸asnastaxas demortalidade.17,18 Apresente coorte
recebeuambasasintervenc¸õesconsecutivamente.Portanto, nãoépossívelfazer comparac¸õescom oestudoMepexem termosderecuperac¸ãodafunc¸ãorenal.Alémdisso,nãose tem dados de seguimento que possibilitem aavaliac¸ão da recuperac¸ãonafunc¸ãorenalalongoprazodopaciente.
Recentementepublicou-seumarevisãodasevidências dis-poníveissobreaTPTnavasculiteassociadaaoANCA.19Essa
publicac¸ãoserefereaoitoensaiosclínicosrandomizadosque avaliaramopapeldaTPTnavasculiterenalpauci-imune.Os critériosdeinclusãoeexclusãodosestudosforamdiferentes, masa maiorparte incluiupacientes com glomerulonefrite crescêntica.Váriosestudosdocumentaramoefeitoafavorda TPTemtermosderecuperac¸ãodafunc¸ãorenalesobrevida renal.Osresultadosdessesestudosforamanalisadosna revi-sãosistemáticaCochrane.Essaanáliseapoiaoefeitobenéfico da TPT no desenvolvimento da doenc¸a renal terminal em trêse12mesesdetratamento.Ospacientesincluídosnesses
estudos apresentaram doenc¸a renal grave,de modo que o benefício da TPTnão podeser extrapoladoa pessoas com disfunc¸ãorenalmenosgrave.OestudoPexivas,queestáem andamento,temcomoobjetivoresolveressasquestões.
Nãoháensaiosclínicosrandomizadosqueavaliemoefeito daTPTempacientescomhemorragiaalveolarassociadaao ANCA.EstudosretrospectivossugeremqueaTPTpodeserútil combasenalógicadaremoc¸ãodeanticorposeàsemelhanc¸a dafisiopatologiaentreahemorragiaalveolarea glomerulo-nefriterapidamenteprogressivaassociadaàvasculite.20
Opresenteestudoincluiupacientescom vasculite asso-ciada aoANCA comcomprometimento renaloupulmonar. EssespacientesforamtratadoscomimunossupressãoeTPT. Este tipo de estudo não possibilita comparac¸ões entre as modalidadesterapêuticasenãopossibilitaoprognósticoem longoprazoempacientestratadoscomTPT.Amortalidade entre esses pacientes foi alta e também a necessidade de diáliseduranteahospitalizac¸ão.Dossetepacientesque sobre-viveram, três continuaram a precisar de diálise até a alta (dadosnãomostrados).
Atrocaplasmáticaprovousereficazemcrioglobulinemias mistasessenciais.Assim,propôs-sequeatrocaplasmáticaé umtratamentoeficazparapacientescomcrioglobulinemias sintomáticas. Uma quantidadesignificativa de observac¸ões apoiaopapeldaaféreseemmelhoraradoenc¸arenalaguda, neuropatias e ulcerac¸ões decorrentes de tratamentos para crioglobulinemias mistas essenciais. Além disso, a aférese permaneceotratamentodeprimeiralinhaparaasíndrome de hiperviscosidade decorrente da crioglobulinemia, ape-sar da quantidadelimitada de estudosdisponíveissobre o assunto, o quesedeve principalmente àbaixaprevalência dessadoenc¸a.Asrecomendac¸õesdogrupoitalianoincluem o usoda aféreseemcasos demanifestac¸õesgraves poten-cialmente fatais secundárias à crioglobulinemia e quando os outros tratamentos falharem.7,21,22 No presente estudo,
a aférese foi administrada a dois pacientes com diagnós-ticode crioglobulinemia associadaà hemorragiaalveolare síndromeantifosfolipídicacatastrófica,conformeconfirmado pelasrecomendac¸õescitadaspreviamente.
De acordo com os achados descritos anteriormente, asindicac¸õesaplicadasemnossaexperiênciasão semelhan-tesàsrecomendadasnaliteratura.Tambémseráútilavaliar asrespostaseamortalidadedospacientessubmetidosàtroca plasmáticaporvasculiteassociadaaoANCAnapresenc¸ade hemorragiaalveolareGNRP.
NospacientescomLEStratadoscomTPT,asevidênciassão menosclarasdoqueemoutrasdoenc¸as.Otratamentocom TPTéreservadoacasosdeLESrefratáriosaotratamentode primeira linha.Nesteestudo,oitopacientescomLESforam tratamentoscomTPT,dosquaissetetinhamhemorragia alve-olaretinhamrecebidoterapiaimunossupressoraadicional.23
Em relac¸ão a isso, a French Society of Hemapheresis relatouumataxade2,8%decomplicac¸õeseeventos adver-sosem2003edocumentouespecificamenteahipocalcemia seguidadereac¸õesalérgicas.Infecc¸õesbacterianasouvirais que são principalmente decorrentes do herpes zoster ou citomegalovírussãocomunsempacientesquereceberam pre-viamente glicocorticoides e/ouciclofosfamidaegeralmente também sãocomunsnesse tipodepaciente.24 Nopresente
complicac¸õesestiveramcomumenteassociadasaevidências dehipocalcemia,similarmenteaoquefoirelatadopelaFrench SocietyofHemapheresis.
As evidências são fracas para produzir recomendac¸ões sobre custo-eficácia. Contudo, acredita-se que a TPT irá recebercadavezmaisindicac¸õesparausoemdoenc¸as reu-matológicas e requer mais pesquisas. O presente estudo apresentafragilidades,poissetratadeumestudodescritivo eretrospectivocom umaamostra pequena, o quelimita a análiseestatística.Todavia,considera-sequesãoinformac¸ões úteisparaapráticaclínica.
Conclusão
Aprincipalindicac¸ãoparaatrocaplasmáticafoiavasculite associadaaoANCAcomglomerulonefriteehemorragia alve-olardeprogressãorápida. Ataxa decomplicac¸ãofoi baixa eprincipalmente impulsionadapor alterac¸õeseletrolíticas. Osagentesanticoagulantesnãoforamusadosnassessõesde trocaplasmáticaduranteosoitoanosrelatadosenãoforam observadascomplicac¸õessecundárias.Sãonecessáriosmais estudosparaavaliarasrespostasemlongoprazoea recorrên-cia.
Conflitos
de
interesse
Osautoresdeclaramnãohaverconflitosdeinteresse.
r
e
f
e
r
ê
n
c
i
a
s
1. BaweiaS,WigginsK,LeeD,BlairS,FraenkelM,McMahonLP. Benefitsandlimitationsofplasmapheresisinrenaldiseases: anevidencebasesapproach.JArtifOrgans.2011;14:9–22. 2. WardDM.Conventionalapheresistherapies:areview.JClin
Apher.2011;26:230–8.
3. NguyenTC,KissJE,GoldmanJR,CarcilloJA.Theroleof plasmapheresisincriticalillness.CritCareClin. 2012;28:453–68.
4. RestrepoC,MárquezE,SanzMF.Plasmaferesisterapéutica: Tipos,técnicaeindicacionesenmedicinainterna. Actualizaciones.ActaMedCol.2009;34:23–32.
5. KaplanA.Therapeuticplasmaexchange:CoreCurriculum 2008.Corecurriculuminnephrology.AmJKidneyDis. 2008;52:1180–96.
6. IlleiGG.Apheresis.RheumDisClinNorthAm.2000;26:63–73. 7. HildebrandA,HuangS,ClarkW.Plasmaexchangeforkidney
disease:whatisthebestevidence?AdvChronKidneyDis. 2014;21:217–27.
8.Pons-EnstelG.Therapeuticplasmaexchangeforthe managementofrefractorysystemicautoimmunediseases: reportof31casesandreviewoftheliterature.Autoimmun Rev.2011;10:679–84.
9.ColleenT,SudhakarS.Noveltherapiesonvasculitis.Expert OpinInvestigDrugs.2001;10:1279–89.
10.SerorR.Plasmaexchangeforrheumatoidarthritis.Transfus ApherSci.2007;36:195–9.
11.DaugirdasJT,BlakePG,IngTS.Handbookofdialysis. Plasmapheresis.4thEditionLippincottWilliamsandWilkins;
2007.p.275–98.
12.MadoreF.Plasmapheresistechnicalaspectsandindications. CritCareClin.2002;18:375–92.
13.CordobaJP,LarrarteC,RuizA.Isanticoagulationrequiredin plasmapheresis?AuniversityhospitalexperienceinBogotá, Colombia.TransfusApherSci.2013;48:301–5.
14.CordobaJ,RuizC,LarrarteC,MendezJA,BeltranE,CaicedoA, etal.Intercambioplasmáticoterapéuticoenenfermedades neurológicasmediadasinmunologicamente:experienciade cuatroa ˜nosdelHospitalUniversitarioSanIgnacio,Bogotá, Colombia.ActaNeurolColomb.2014;30:89–96.
15.PagnouxC,KorachJ-M,GuillevinL.Indicationsforplasma exchangeinsystemiclupuserythematosusin2005.Lupus. 2005;14:871–7.
16.Rúa-FigueroaI,ErausquinC.Tratamientodelasvasculitis sistémicasasociadasaANCA.ReumatolClin.2010;6:161–72. 17.StegmayrB,KorachJM,NordaR,RockG,FadelF.Istherea
needforanationaloraglobalapheresisregistry?Transfus ApheresisSci.2003;29:179–85.
18.JayneDR,GaskinG,RasmussenN,AbramowiczD,FerrarioF, GuillevinL,etal.Randomizedtrialofplasmaexchangeor high-dosagemethylprednisoloneasadjunctivetherapyfor severerenalvasculitis.JAmSocNephrol.2007;18:2180–8. 19.WaltersG.Roleoftherapeuticplasmapheresisin
ANCA-associatedvasculitis.PediatrNephrol.2015;Pediatr Nephrol.2016;31:217-25.
20.BenFatmaL,ElAtiZ,LamiaR,AichDB,MadihaK,WidedS, etal.Alveolarhemorrhageandkidneydisease:characteristics andtherapy.SaudiJKidneyDisTranspl.2013;24:743–50. 21.WestS,ArulkumaranN,IndP,PuseyC.Diffusealveolar haemorrhageinANCA-associatedvasculitis.InternMed. 2013;52:5–13.
22.PietrograndeM,DeVitaS,ZignegoAL,PioltelliP,SansonnoD, SollimaS,etal.Recommendationsforthemanagementof mixedcryoglobulinemiasyndromeinhepatitisC
virus-infectedpatients.AutoimmunRev.2011;10:444–54. 23.KazzazNM,CoitP,LewisEE,McCuneMJ,SawalhaAH,Knight
JS.Systemiclupuserythematosuscomplicatedbydiffuse alveolarhaemorrhage:riskfactors,therapy,andsurvival. LupusSciMed.2015;2:e000117.