w w w . r e u m a t o l o g i a . c o m . b r
REVISTA
BRASILEIRA
DE
REUMATOLOGIA
Artigo
original
Prevalência
de
fibromialgia
em
pacientes
acompanhados
no
ambulatório
de
cirurgia
bariátrica
do
Hospital
de
Clínicas
do
Paraná
-Curitiba
Deborah
Negrão
Gonc¸alo
Dias
a,∗,
Márcia
Alessandra
Arantes
Marques
a,
Solange
C.
Bettini
be
Eduardo
dos
Santos
Paiva
a,c,daUniversidadeFederaldoParaná(UFPR),HospitaldeClínicas,Servic¸odeReumatologia,Curitiba,PR,Brasil
bUniversidadeFederaldoParaná(UFPR),HospitaldeClínicas,UnidadedeCirurgiaBariátrica,Curitiba,PR,Brasil
cUniversidadeFederaldoParaná(UFPR),DisciplinadeReumatologia,Curitiba,PR,Brasil
dUniversidadeFederaldoParaná(UFPR),HospitaldeClínicas,DepartamentodeClínicaMédica,Curitiba,PR,Brasil
informações
sobre
o
artigo
Históricodoartigo:
Recebidoem9dejunhode2016
Aceitoem5dejaneirode2017
On-lineem20defevereirode2017
Palavras-chave:
Fibromialgia Obesidade Depressão
r
e
s
u
m
o
Introduc¸ão: Fibromialgia(FM)éumasíndromededorcrônicacaracterizadapordor
genera-lizada.Sabe-sequepacientesobesostêmmaisdormúsculoesqueléticaedisfunc¸ãofísica
doquepacientesdepesonormal.Portanto,éimportantequeodiagnósticoprecocedaFM
sejafeitoempacientesobesos.
Objetivo:DeterminaraprevalênciadeFMemumgrupodepacientesobesoscomindicac¸ão
decirurgiabariátrica.
Materiaisemétodos:OspacientesforamcaptadosdoambulatóriodeCirurgiaBariátricado
HospitaldeClínicasdaUFPR(HC-UFPR),antesdeseremsubmetidosàcirurgia.Aavaliac¸ão
dospacientesconsistiaemconstatarapresenc¸aouausênciadeFMGpeloscritériosACR
1990e2011etambémapresenc¸adecomorbidades.
Resultados: Foramavaliados98pacientes,84mulheres.Aidademédiafoide42,07anoseo
IMCde45,39.AprevalênciadeFMfoide34%(n=29)peloscritériosde1990ede45%(n=38)
pelosde2011.Nãohouvediferenc¸aemidade,IMC,escaladeEpwortheprevalênciadeoutras
doenc¸asentrepacientesquepreenchiamounãooscritériosde1990.Apenasdepressãofoi
maiscomumnaspacientescomFM(24,14%vs.5,45%).Osmesmosachadosforamvistos
naspacientesquepreenchiamoscritériosde2011.
Conclusões:AprevalênciadeFMempacientescomobesidademórbidaéextremamentealta.
PorémoIMCnãodiferenospacientescomousemFM.Apresenc¸adedepressãopodeser
umfatorderiscoparaodesenvolvimentodeFMnessespacientes.
©2017PublicadoporElsevierEditoraLtda.Este ´eumartigoOpenAccesssobuma
licenc¸aCCBY-NC-ND(http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/).
∗ Autorparacorrespondência.
E-mail:deborah.negrao@yahoo.com(D.N.Dias).
http://dx.doi.org/10.1016/j.rbr.2017.01.001
0482-5004/© 2017 Publicado por Elsevier Editora Ltda. Este ´e um artigo Open Access sob uma licenc¸a CC BY-NC-ND (http://
Prevalence
of
fibromyalgia
in
patients
treated
at
the
bariatric
surgery
outpatient
clinic
of
Hospital
de
Clínicas
do
Paraná
-
Curitiba
Keywords:
Fibromyalgia Obesity Depression
a
b
s
t
r
a
c
t
Introduction:Fibromyalgia(FM)isachronicpainsyndromecharacterizedbygeneralizedpain.
Itisknownthatobesepatientshavemoreskeletalmusclepainandphysicaldysfunction
thannormalweightpatients.Therefore,itisimportantthattheearlydiagnosisofFMbe
attainedinobesepatients.
Objective: TodeterminetheprevalenceofFMinagroupofobesepatientswithindicationof
bariatricsurgery.
Materialsandmethods: ThepatientswererecruitedfromtheBariatricSurgeryoutpatient
clinicofHospitaldeClínicasofUFPR(HC-UFPR)beforebeingsubmittedtosurgery.Patient
assessmentconsistedinverifyingthepresenceorabsenceofFMusingthe1990and2011
ACRcriteria,aswellasthepresenceofcomorbidities.
Results: 98 patients were evaluated, of which 84 were females. The mean age was
42.07yearsandtheBMIwas45.39.TheprevalenceofFMwas34%(n=29)accordingtothe
1990criteriaand45%(n=38)accordingtothe2011criteria.Therewasnodifferenceinage,
BMI,Epworthscoreandprevalenceofotherdiseasesamongpatientswhometornotthe
1990criteria.OnlydepressionwasmorecommoninpatientswithFM.(24.14%vs.5.45%).
Thesamefindingswereseeninpatientsthatmetthe2011criteria.
Conclusions: TheprevalenceofFMinpatientswithmorbidobesityisextremelyhigh.
Howe-ver,BMIdoesnotdifferinpatientswithorwithoutFM.Thepresenceofdepressionmaybe
ariskfactorforthedevelopmentofFMinthesepatients.
©2017PublishedbyElsevierEditoraLtda.ThisisanopenaccessarticleundertheCC
BY-NC-NDlicense(http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/).
Introduc¸ão
Fibromialgia(FM)éumasíndromededorcrônica
caracteri-zadapordorgeneralizada,doràpalpac¸ãoda musculatura,
além de outros sintomas associados, como fadiga, rigidez
matinal,sononãoreparadoresintomascognitivos.1
Em1990oAmericanCollegeofRheumatology(ACR)
desen-volveucritériosdeclassificac¸ãoparaFMquesebaseavamna
presenc¸adedorgeneralizadasomadaadoràpalpac¸ãoem
pelomenos11de18pontospré-definidos(tenderpoints).Dor
generalizadaédefinidacomodoraxial,dornosdoisdimidios
corporais,assimcomonossegmentossuperioreinferior.Em
2010,oACRdesenvolveucritériosdiagnósticospreliminares
paraFM.Nessenovoconjuntodecritériosusa-seapontuac¸ão
emumÍndiceGeneralizadodeDor(IGD)somadocomaEscala
de Gravidade de Sintomas (EGS). Pacientes com IGD ≥7 e
EGS≥5ouIGD3-6eEGS≥9sãodiagnosticadoscom
fibro-mialgia.Nessenovocritérionãoentraapontuac¸ãodetender
pointseforammodificadosem2011paraumaaplicac¸ãomais
prática.2,3
Sabe-sequepacientesobesostêmmaisdor
musculoesque-léticaedisfunc¸ãofísicadoquepacientesdepesonormaleque
aobesidade está relacionada com determinadas condic¸ões
reumatológicascomoaosteoartritedejoelho(OA),asíndrome
dotúneldocarpoeadorlombar.4
Existempossíveismecanismospelosquaisfibromialgiae
obesidadeseinter-relacionam.PacientescomFMapresentam
sobrepesoouobesidadenamaiorpartedosestudoseesses
podempioraroquadroclínicodoloroso.Issopodeserdevido
aváriosfatores, inclusivea síndromeda apneiaobstrutiva
dosono,outrasalterac¸õesdosono,depressão,disfunc¸ãoda
tireoideeperfildecitocinas.5
Além disso, há umestudocom pacientes submetidos à
cirurgia bariátrica que após perda de peso apresentaram
melhoriaimportanteouatémesmoresoluc¸ãodaFM.6
Sabendo-se que existe relac¸ão entre essas condic¸ões, é
importante odiagnósticoprecoce daFMempacientes com
obesidade, para um tratamento adequado e melhoria da
qualidadedevidadessespacientes.Esteestudovisaa
veri-ficarapresenc¸adefibromialgiaemumapopulac¸ãoatendida
emumambulatóriodecirurgiabariátrica,antesdo
procedi-mentocirúrgico.AprevalênciadeFMfoiverificadaatravésda
aplicac¸ãodoscritériosde1990eosde2010modificadospor
Wolfe.
Material
e
métodos
Delineamentodoestudo
Estudotransversal,deprevalênciadefibromialgiaem
pacien-tesobesoscomindicac¸ãodecirurgiabariátrica.
Pacientes
Os pacientes foram captados do ambulatório de Cirurgia
BariátricadoHospitaldeClínicasdaUFPR(HC-UFPR).Foram
avaliados 100 pacientes de 19.03.2012a 09.12.2013 e todos
forneceramTermodeConsentimentoLivreeEsclarecidopor
Oscritériosdeinclusãoforamtodosospacientesdo
ambu-latórioquefornecessemTCLEetivessementre18e65anos.
Pacientesforadessesparâmetrosforamexcluídos.
Ospacientesforamavaliadosemrelac¸ãoaositensidade,
sexo,peso,altura,IMCepresenc¸adecomorbidadesatravésde
análisedeprontuário.Aavalic¸ãodascomorbidadestambém
foifeitaatravésdequestionárioeperguntando-sediretamente
aopacientequaisoutrasdoenc¸asapresentavaequaisos
medi-camentosemuso.
DiagnósticodeFM
Aavaliac¸ãodospacientesconsistiaemverificarapresenc¸a
ouausênciadeFMtantopeloscritériosdeACR1990comoosde
ACR2010modificados.Ospacientesforamperguntadossobre
apresenc¸adedorgeneralizadaenoscasosafirmativoshavia
quantotempoadorestavapresente.Todosospacientesforam
avaliadosquantoàpresenc¸adetenderpoints.Sehouvesse11ou
maisde18tenderpointspositivosopacienteestavaclassificado
comFMpeloscritériosde1990.
Avaliamos também o Índice Generalizado de Dor (IGD),
quepode ir de0-19, depende do número de áreas
doloro-sas,bemcomoaEscaladeGravidadedeSintomas(EGS),que
avaliaosdomíniosfadiga,sonoreparadoresintomas
cogniti-vos.Paracadaumdessesitensograudegravidadepoderia
variar de 0a 3, 0=nãoé umproblema; 1=leve,ocasional;
2=moderada,presentequasesempre;3=grave,persistente,
grandes problemas. Foram avaliados também os sintomas
somáticos,porémdeumaformasimplificada.Opacienteera
perguntadosobrecefaleia,dorabdominaledepressão
pontu-adosde0a3,0=nenhumdostrêsproblemas;1=umsintoma;
2=doissintomase3=trêssintomas.Aavaliac¸ãofinaldaEGS
vaide0a12.AsomadoÍndicedeDorGeneralizada(EDG)com
aEscaladeGravidadedeSintomas(EGS)geraumnovoíndice
paraavaliaraFM,chamadodefibromyalgianess,queseriauma
dimensãodeintensidadedadoenc¸a.
ComoIGDjuntamentecom aEGStêm-seositenspara
avaliarodiagnósticodeFMatravésdoscritériosACR2010.Os
pacientessãodiagnosticadoscomFMnoscasosemqueoIGD
seja≥7associadoaEGS≥5.Noscasosemqueadornão
éodomíniomaisafetadodentrodasíndrome,odiagnóstico
tambémsefazpossível,desdequeaquantidadedesintomas
geraissejamaior,ouseja,comumIGD3-6associadoaEGS
≥9opaciente tambémédiagnosticadocom FM.Alémdos
escores,paracompletaroscritériosdiagnósticos,opaciente
deveapresentaroquadronosúltimostrêsmesesesemque
hajaoutroquadroclínicoquejustifiqueadorgeneralizada.
OquestionárioespecíficodaFM,FibromyalgiaImpact
Questi-onnaire(FIQ),validadoparaoportuguês,tambémfoiaplicado
atodosospacientes.7,8Nesseitemsãoavaliadosa
frequên-ciacomqueopacienteconseguefazerdeterminadastarefas,
quantosdiaselesesentiubemnaúltimasemana,faltaao
tra-balhoe,emescalasde0-10,dor,cansac¸o,depressão,sononão
reparador,entreoutros.OFIQvaide0-100,quantomaioro
número,maioroimpactodafibromialgia.
Avaliac¸ãodosono
Alémdoscritérios paraFM avaliamosa escalade Epworth
como um substituto para avaliac¸ão do sono. O paciente
responde qualachancedecochilaremdeterminadas
tare-fasdeacordocomumaescalade0a3,0=nuncacochilaria;
1=pequenaprobabilidadedecochilar;2=probabilidademédia
decochilare3=grandeprobabilidadedecochilar.Noscasos
em queo paciente atinja 10 pontos ou mais, achance de
distúrbiosdo sonoe/ou apneiadosono estarempresentes
sãomaiores.Odiagnósticoespecíficodasalterac¸õesdosono
nos pacientes com ≥10 pontos vai além do objetivodeste
trabalho.
Análiseestatística
FoifeitacomoprogramaJMP7.0(SAS,EUA).Paracomparac¸ão
demédiasfoiusadootestetdeStudentparadados
paramé-tricoseWilcoxon-Mannparadadosnãoparamétricos.Paraas
correlac¸ões,foiusadootestedePearsonparadados
paramé-tricoseparadadosnãoparamétricos,otestedeSpearman.
Paratestesdeproporc¸ão,foiusadooqui-quadrado.
Resultados
Cem pacientes foram avaliados de maneira consecutiva e
preencheramosquestionários,porémdoisforamexcluídos,
pois não foi possível fazer arevisão deprontuário. A
aná-lisefinalfoicompostapor98pacientes,84(85,7%)mulherese
14(14,3%)homens.
Nas características iniciais avaliadas, IMC e idade, não
houve diferenc¸a estatística entreos pacientes obesos com
e sem fibromialgia. A idade média das mulheres foi de
42,07anoseoIMCmédiode45,39.
Naanálisedosubgrupodasmulheres(n=84),pelos
crité-riosde1990,29pacientesapresentavamFM(34%IC25-45)e
peloscritériosde2010modificados,38apresentavamFM(45%
IC35-55);26apresentavamFMpelosdoiscritérios.(26,2%).
Das 29 pacientes que cumpriam critérios de 1990, só
nove(31,03%)tinhamdiagnóstico prévioaesteestudo.Não
houvediferenc¸aemidade,IMC,escaladeEpworthe
prevalên-ciadeoutrasdoenc¸asentrepacientesquepreenchiamounão
oscritériosde1990.Apenasdepressãofoimaiscomumnas
pacientescomFM(24,14%vs.5,45%)(tabela1).Naspacientes
comFMobservaram-seaindavaloressignificativamente
mai-oresdoFIQedoíndicedefibromylgianessemrelac¸ãoàssem
FM,oqueconfirmaautilidadedessesmétodosnaavaliac¸ão
depacientescomFM(35,48±3,14vs.60,98±4,33paraFIQe
10±0,8vs.20±1,1parafibromyalgianessempacientesseme
comFMrespectivamente).
Osmesmosachadosforamvistosnaspacientesque
pre-enchiamoscritériosde2011(tabela2).Quantoaodiagnóstico
deFMpeloscritériosde2011,apenas13,16%daspacientesjá
haviamsidopreviamentediagnosticadas.
Atabela3mostraaanálisedecorrelac¸õesseparadamente
adependerdocritériousadoparadiagnóstico.Nogrupoque
preencheucritériosde1990,oIMCnãosecorrelacionoucom
índicesrelacionadoscomaFM,como acontagemdetender
points,oFIQeoíndicefibromyalgianess.Naavaliac¸ãodaidade
daspacientescomFMhouveumacorrelac¸ãopositivacomIDG
(r=0,30;p=0,05)ecom aescala defibromyalgianess(r=0,35;
p=0,03).Essascorrelac¸õesforamsemelhantes,
Tabela1–AnálisedaspacientesmulherescomesemFMpeloscritériosde1990
SemFM1990 ComFM1990 Valordep
(n=55;65,5%) média±DP
(n=29;34,5%) média±DP
IMC 45,28±1,2 45,45±0,93 NS
Idade 44±2,28 41,01±1,65 NS
FIQ 35,48±3,14 60,98±4,33 0,0001
Fibromyalgianess 10±0,8 20±1,1 0,001
EscaladeEpworth 4,81±4,15 6,17±5,15 NS
% %
Hipertensãoarterial 54,55 44,83 NS
Diabetesmellitus 66,67 33,33 NS
Hipotireoidismo 25,45 27,59 NS
Apneiadosono 14,55 24,14 NS
Dislipidemia 29,09 10,34 0,04(OR:0,28IC0,07-1,06)
Depressão 5,45 24,14 0,02(OR:5,51IC1,30-23,31)
DP,desviopadrão;FIQ,FibromyalgiaImpactQuestionnaire;IMC,índicedemassacorporal(kg/m2).
Tabela2–AnálisedasmulherescomFMpeloscritériosde2011emrelac¸ãoàsmulheressemFM
SemFM2011 (n=46,55%) média±DP
ComFM2011 (n=38,45%) média±DP
Valordep
IMC 40,76±12,16 43,65±12,44 NS
Idade 44,27±7,1 46,75±6,5 NS
FIQ 26,31±17,06 66,05±16,53 <0,0001
Fibromyalgianess 8,5±4,9 20,02±4,65 <0,0001
% %
Hipertensãoarterial 54,35 55,26 NS
Diabetesmellitus 32,61 39,47 NS
Hipotireoidismo 28,26 23,68 NS
Apneiadosono 13,04 23,68 NS
Dislipidemia 30,43 13,16 0,05(OR:0,34IC:0,11-1,07)
Depressão 6,52 18,42 0,09(OR:3,32IC:0,77-13,51)
DP,desviopadrão;FIQ,FibromyalgiaImpactQuestionnaire;IMC,índicedemassacorporal(kg/m2).
Emrelac¸ãoaosíndicesdeFMhouvecorrelac¸ãoentreFIQe fibromyalgianess(r=0,33;p=0,03),FIQeEGS(r=0,6;p=0,0001), nospacientescomcritériosde2011.Peloscritériosde1990, essas correlac¸õesse mostraram mais fortes. Somente nas
pacientesquepreencheramoscritériosde1990encontramos relac¸ãoentreFIQeescaladeEpworth.
O índice de fibromyalgianess mostrou correlac¸ão ainda com os tender points, porém somente nas pacientes que
Tabela3–Análisedecorrelac¸õesentreasvariáveisdoestudo,somentenaspacientesmulheres
IMC Idade FIQ Fibromyalgianess IDG
Tenderpoints 1990 § § § § 0,31(p=0,08)
2011 § § § 0,37(p0,013) 0,48(p=0,001)
IDG 1990 § 0,37(p0,04) § § na
2011 § 0,3(p0,04) § § na
EGS 1990 § na 0,78(p<0,0001) na na
2011 § na 0,6(p<0,001) na na
Fibromyalgianess 1990 § 0,33(p0,06) 0,59(p0,004) – na
2011 § 0,36(p0,0017) 0,33(p0,03) – na
FIQ 1990 § § – – na
2011 § § – – na
Apneia 1990a § § 0,36(p0,08) na na
2011b § § § na na
EGS,EscaladeGravidadedeSintomas;FIQ,FibromyalgiaImpactQuestionnaire;IDG,ÍndicedeDorGeneralizada;IMC,índicedemassacorporal (kg/m2);p,valordep;§,nãohouvecorrelac¸ão;na,nãoavaliado.
a Somente24pacientesavaliados.
Tabela4–Análisedecorrelac¸õesentreasvariáveisdoestudonaspacientesquepreencheramambososcritérios(1990e 2011)
IMC Idade FIQ Fibromyalgianess IDG
Tenderpoints § § § 0,37(p=0,059) 0,48(p=0,014)
IDG § 0,38(p=0,05) § na –
EGS § § 0,65(p=0,0003) na §
Fibromyalgianess § 0,41(p=0,04) 0,39(p=0,05) – na
FIQ § § – 0,39(p=0,045) §
Apneia § § § § §
EGS,EscaladeGravidadedeSintomas;FIQ,FibromyalgiaImpactQuestionnaire;IDG,ÍndicedeDorGeneralizada;IMC,índicedemassacorporal (kg/m2);p,valordep;§,nãohouvecorrelac¸ão;na,nãoavaliado.
preencheramoscritériosde2011.Ostenderpoints,porsuavez, mostraramcorrelac¸ãocomoIDG,emambososcritérios.
Vinte e seis pacientes preencheram ambos os critérios de 1990ede 2011(tabela4).Nesse subgrupo,a análisede
correlac¸ãoentreasvariáveismostroucorrelac¸ãopositivaentre
idade eIDG eidade e fibromyalgianess. O FIQ mostrou alta
correlac¸ãopositivacomEGSepositivacomfibromyalgianess.
Essaúltima,porsuavez,apresentoucorrelac¸ãopositivacom
tenderpointseessesmostraramtercorrelac¸ãocomIDG.
Dos14homenspresentesnestetrabalho,sete
apresenta-vamFM(50%),trêspeloscritériosde1990equatropelosde
2011.Ascaracterísticasentrehomensemulheresnão
vari-aramnestetrabalho, independentementedocritério usado
paradiagnóstico.
Discussão
AprevalênciadeFMnoBrasiléestimadaem2,5%.9Émais
comumemmulheres, afeta 3,4%das mulherese 0,5%dos
homens.10
Existeumarelac¸ão claraentrefibromialgia eobesidade,
porém osmecanismos de talrelac¸ão ainda nãoestão bem
estabelecidos.Nãopodemosafirmarseaobesidadeécausa
ouconsequênciadafibromialgiaouaindaseasduasdoenc¸as
apresentammecanismosfisiopatológicossemelhantes.
Den-tre os mecanismos propostos para explicar essa relac¸ão
estão atividade física comprometida, distúrbios cognitivos
edo sono, depressão eoutras comorbidadespsiquiátricas,
disfunc¸ãotireoidianaedoeixoneuroendócrinoedistúrbiodo
sistemaopioideendógeno.5
Napopulac¸ãocomfibromialgia,aprevalênciadeobesidade
esobrepesoéde32-50% e21-35%respectivamente.5,11–13 A
partirdocontrário,ouseja,emumapopulac¸ãodeobesos,a
prevalênciadeFMnãoétãobemdocumentada,variade5,15%
a27,7%.6,14 EncontramosumaprevalênciadeFMentre34e
45%,dependedocritériousado.Bemacima,portanto,doque
jáfoirelatadonaliteratura.14
Nãoencontramosrelac¸ãoentreFMeIMC,
independente-mentedocritériousado.Entretanto,devidoaoeloentreFM
eobesidade,esperávamosquepacientescomFM
apresentas-semumIMCmaior,oquenãofoiconfirmadoporestetrabalho.
EssesdadossãocompatíveiscomosdeArreghinietal.,que
denossoconhecimentoéoúnicotrabalhopublicadocomum
delineamentodeestudosemelhanteequetestouessa
hipó-tese.Porém,norelatodeCorderoetal.,queavaliouobesidade
empacientescomFM,houveumafracacorrelac¸ãoentreIMC
etenderpoints.Alémdisso,estudosqueavaliaramaFMantese
apósperdadepesomostramqueperdadepesotemimpacto
nosíndicesdedor.Portanto,ofatodenãotermosencontrado
essaassociac¸ãodopesocomFMpodeserdevidoao
delinea-mentodoestudo,jáquepartimosdeumgrupodeobesos,e
nãodepacientescomFM.
Em relac¸ão às comorbidades, encontramos uma maior
prevalência de depressão entre as pacientes com FM, de
novo independentemente docritério usado para avaliac¸ão.
A relac¸ão existente entre depressão e FM já está bem
documentada.9,15 A maioria dos pacientes com FM
apre-sentatambém depressão,comumaprevalênciacumulativa
aolongodavidaquevariaentre62a86%dospacientes.
Algu-masdashipótesesqueexplicamessaforteassociac¸ãoincluem
adepressãocomoumareac¸ãofrenteàdorcrônicaedisfunc¸ão
ouambas,partedeummesmoespectrodentrodasdoenc¸as
afetivascom alterac¸õesdosistemanervosocentral(SNC)e
periférico(SNP).Adepressãodiminuiolimiardedorepioraa
inatividadefísica,agravaalimitac¸ãofuncionalcomprejuízo
daqualidadedevida.Portanto,quandoadepressãoestá
asso-ciadaàFM,éimportanteseutratamentoconjunto,porvezes
comassistênciapsiquiátrica.16
Houve diferenc¸aentre os índices doFIQ ede
fibromyal-geness,comvaloresmaioresentreaspacientes comFMem
relac¸ãoàssemFM,comambososcritérios.Issoconfirmao
impactonegativoqueadoenc¸atemnavidadiáriadas
paci-entes, com um limiar de dordiminuído emaior limitac¸ão
funcional. Isso chama a atenc¸ão para a complexidade do
tratamento das pacientes com FMe obesidade.Se porum
lado a perda de peso pode contribuir muito para o
con-trole da dor, a FM faz com que o paciente obeso tenha
mais depressão, menormotivac¸ão e resistência para
ativi-dadefísica. Com isso,omanejo da obesidadesetornaum
desafiodiferentedoquenaquelespacientesobesossemFM.
Paraessescasosaabordagemmultidisciplinarcomeducac¸ão
do paciente deve incluir discussões a respeito da relac¸ão
obesidade-fibromialgia.
Acorrelac¸ãopositivaentreIDGefibromyalgenesscomidade
podeserexplicadapelofatodeasmulheresmaisvelhasterem
maistempodedoenc¸a,commaiorrefratariedadeemrelac¸ão
aomanejoda doremaiorimpactoda FMnavidadiária.A
correlac¸ãoentreFIQefibromyalgenessconfirmaqueambasas
escalassãoúteisparaoacompanhamentoevolutivodo
paci-ente. Somente nos critérios de 1990 houve relac¸ão doFIQ
Neste estudo os tenderpoints secorrelacionaram com o
IDG,emambososcritérios,ecomaescaladefibromyalgianess,
porémcomessaúltimasomentenoscritériosde2011.Ofato
deostenderpointssecorrelacionaremcomoIDGmostraque
oscritérios de2011,maissimplesde seremaplicados,têm
boacorrelac¸ãocomosde1990.Oscritériosde2011podeme
devemserusadosparamelhorarodiagnósticodaFM,
princi-palmenteentremédicosdaatenc¸ãobásicaenãoespecialistas.
Porém,entrereumatologistaseoutrosespecialistas
experien-tes,ostenderpointssãoaindabastanteúteisparaodiagnóstico.
Apesardisso,elesnãoservemparaoacompanhamentodos
pacientes,umavezqueasensibilidadedessespontos pode
variardepoisdeinstituídootratamentoeofatodeum
paci-enteapresentarmenosde 11tenderpointsemdeterminado
momentonãonecessariamentesignificaqueeleestámelhor
oucuradodaFM.
Umavezqueafibromyalgianesséumaescala de
intensi-dadedaFM, compostaporIDGeEGS,ehouverelac¸ão dos
tenderpointscomIDG,nãoédeseestranharquetambémhaja
umarelac¸ãoentrefibromyalgianesscomtenderpoints.Porém,
nãopodemosexplicarofatodeessarelac¸ãosóestarpresente
nospacientescomcritériosde2011.Inicialmentepode
pare-cerestranhotermosencontradoessarelac¸ãodetenderpoints
comfibromyalgianesseIDGtambémnaspacientescom
crité-riosde2011,umavezqueessesnãofazempartedessecritério.
Porém,valeressaltarquetodosospacientesforamavaliados
paraambososcritérios,portantoospacientesquesó
fecha-ramdiagnósticopeloscritériosde2011tinhamacontagemde
tenderpointsdisponível,oquetornoupossívelaanálise.
Aincidênciade homenscom FMencontradaestámuito
acimadarelatadonaliteratura.Wolfeetal.relatam0,5%dos
homensafetados,enquanto quenanossaamostra tivemos
50% de homenscom fibromialgia.Além disso, a
experiên-cia clínica também reforc¸a que a incidência de FM não é
dessamagnitudenoshomens.Possivelmenteissosedeveao
pequenonúmerodehomensnaamostra(n=14).
Este estudo tinha como objetivo primário encontrar a
prevalênciadepacientescomFMemumambulatóriode
cirur-giabariátricadeumservic¸opúblico.Amaioriadosestudos
da relac¸ão entre fibromialgia e obesidade parte de grupos
de pacientes com FM, e não de pacientes obesos, como
foio casodopresenteestudo.Os trabalhosquepartemde
pacientesobesossãoescassosnaliteratura,6,14 masnossos
achadosmostraramprevalênciamaiordoqueopreviamente
relatado.
Este trabalho apresenta algumas limitac¸ões. O número
da amostra não é grande o suficiente para permitir
generalizac¸ões.Comoexistempoucostrabalhoscomomesmo
delineamento,ainda nãoépossível avaliarosignificadode
todososnossosachados.
Emconclusão,esteestudomostrouumaaltaprevalênciade
FMempacientesobesoscomindicac¸ãodecirurgiabariátrica.
Narelac¸ãoentreFMeobesidadeadepressãomostrou-secomo
umfatorimportante.AFMtrazumimpactoadicionalna
qua-lidadedevidadospacientesobesos,tornaoseutratamento
umdesafioàparte,quecertamentemereceumaabordagem
multidisciplinar.
Conflitos
de
interesse
Osautoresdeclaramnãohaverconflitosdeinteresse.
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