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Aprender a ser: a prática pedagógica como elemento de transformação do aluno

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Academic year: 2017

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UNIVERSIDADE

CATÓLICA DE

BRASÍLIA

PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA

STRICTO SENSU EM EDUCAÇÃO

Mestrado

APRENDER A SER: A PRÁTICA PEDAGÓGICA COMO

ELEMENTO DE TRANSFORMAÇÃO DO ALUNO.

Autora: Andrea Bergamaschi Vilar de Araújo

Orientadora: Jacira da Silva Câmara

(2)

ANDREA BERGAMASCHI VILAR DE ARAÚJO

APRENDER A SER: A PRÁTICA PEDAGÓGICA COMO ELEMENTO DE TRANSFORMAÇÃO DO ALUNO.

Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação Stricto Sensu do Mestrado em Educação da Universidade Católica de Brasília, como requisito parcial para a obtenção do Título de Mestre em Educação.

Orientadora: Prof.ª Dr.ªJacira da Silva Câmara

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A663a Araújo, Andrea Bergamaschi Vilar de

Aprender a ser: a prática pedagógica como elemento de transformação do aluno. / Andrea Bergamaschi Vilar de Araújo. – 2009.

66f. ; 30 cm

Dissertação (mestrado) – Universidade Católica de Brasília, 2009. Orientação: Jacira da Silva Câmara

1. Prática de ensino. 2. Currículos. 3. Educação. 4. Relações professor-aluno. I. Câmara, Jacira da Silva, orient. II. Título.

CDU 37.02

Ficha elaborada pela Biblioteca Pós-Graduação da UCB

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Dissertação de autoria de Andrea Bergamaschi Vilar de Araújo, intitulada: “APRENDER A SER: A PRÁTICA PEDAGÓGICA COMO ELEMENTO DE TRANSFORMAÇÃO DO ALUNO”, requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Educação, defendida e aprovada em, 09 de novembro de 2009, pela banca examinadora constituída por:

_____________________________________________________ Profª. Drª. Jacira da Silva Câmara

Orientadora

______________________________________________________ Profª. Drª. Maria Cândida Borges de Moraes

_______________________________________________________ Prof. Dr. Célio da Cunha

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Dedico este trabalho as pessoas que mais amo no mundo. Meus pais eternos incentivadores, sempre me mostrando o caminho certo nessa nossa jornada. Meu marido, amor da minha vida, que me apóia incondicionalmente, sempre querendo o melhor para mim. Ao meu irmão Rodrigo, cujo exemplo de coragem e determinação, orgulha a todos nós. Ao ser mais iluminado que eu conheço. Meu filho Gabriel, que trouxe sua alegria para minha vida tornando-me a mãe mais feliz do mundo e a Mariana minha filha tão sonhada, que neste momento, ainda habita o meu ventre.

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AGRADECIMENTO

Agradeço a Deus por me enviar nessa missão tão nobre que é ensinar.

Agradeço à minha orientadora, Prof.ª Dr.ª Jacira da Silva Câmara, por todas as orientações que culminaram com a concretização desta pesquisa.

Agradeço aos membros da Banca examinadora pelo apoio e atenção desprendidos ao meu trabalho.

Agradeço a todos os professores do Mestrado em Educação da Universidade Católica de Brasília, por me auxiliarem na reconstrução do meu conhecimento.

Agradeço a todos os colegas professores que participaram da pesquisa.

A todas as amigas e familiares que sempre me incentivaram a fazer o Mestrado.

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RESUMO

O estudo analisa a concepção de educação dos professores, sua interferência na formação integral do aluno e a relação desta com a prática desenvolvida em sala de aula. A pesquisa tem como amostra três Escolas Classe da Secretaria de Ensino do Distrito Federal, localizadas na Gerência Regional de Ensino do Núcleo Bandeirante. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, tipificada como um Estudo de caso. Como instrumento de coleta de dados empregou-se a análise documental, a entrevista semi-estruturada e a observação, para os quais foi elaborado um roteiro. Os documentos selecionados para análise foram os Projetos Políticos Pedagógicos das Escolas e os Planos de Aulas das professoras entrevistadas. Os sujeitos da pesquisa constituíram-se de quinze professores, todos do sexo feminino. A análise dos dados evidencia a existência de aspectos axiológicos nos Projetos Políticos Pedagógicos das escolas e na minoria dos Planos de Aula analisados. Entretanto, as práticas didático-pedagógicas desenvolvidas em sala de aula não contemplam estes aspectos. Os professores apresentam além de uma concepção de educação desatualizada, pouco comprometimento com a sua ação educacional o que interfere diretamente na condução deste processo e no seu relacionamento interpessoal com os alunos. Neste sentido foi possível identificar a falta de cumplicidade de alguns professores com sua turma. Os participantes demonstraram resignação diante das dificuldades para o desenvolvimento das práticas didático pedagógicas.

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ABSTRACT

It examines the design of teacher education, its interference in the education of the student and the relationship between the practice developed in the classroom. The research has sampled three schools Class Teaching Department of the Federal District, located in the Regional Educational Management of Núcleo Bandeirante. This is a qualitative research, typified as a Case Study. As a tool for data collection was employed to document analysis, a semi-structured interviews and observation, for which it was elaborated one roadmap. The documents selected for analysis were the Pedagogical Political Projects of the schools and the Lesson Plans of the teachers interviewed. The study subjects consisted of fifteen teachers, all female. The data analysis shows that there are aspects axiological in the Political Pedagogical Project and in the minority of Lesson Plans analyzed. However, the didactic and pedagogical practices developed in the classroom do not address these issues. Teachers also have an outdated conception of education, little commitment to their educational action which interferes directly in the conduct of this process and their interpersonal relationships with students. In this sense it was possible to identify the lack of participation of some teachers with their class. Participants demonstrated resignation in the face of difficulties for the development of didactic teaching practices.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO --- 03

JUSTIFICATIVA--- 05

CAPÍTULO 1- SITUANDO O PROBLEMA--- 08

1. OBJETIVOS--- 08

1.1-Objetivo geral--- 09

1.2-Objetivos específicos --- 10

2-REFERENCIAL METODOLÓGICO --- 10

2.1-Tipo de pesquisa--- 10

2.2- Instrumentos --- 12

2.3- Participantes --- 13

2.4-Tratamento dos dados--- 14

CAPÍTULO 2 – REVISÃO DA LITERATURA--- 16

1-CONCEPÇÕES DE EDUCAÇÃO E DE CURRÍCULO. --- 16

2-O PAPEL DO PROFESSOR NA FORMAÇÃO INTEGRAL DO ALUNO. --- 19

3-O AMBIENTE ESCOLAR E AS RELAÇÕES INTERPESSOAIS. --- 21

4-O PERFIL DO ALUNO CONTEMPORÂNEO. --- 24

5-A URGÊNCIA DE UMA METODOLOGIA TRANSDISCIPLINAR. --- 26

6-IMPORTÂNCIA DA MOTIVAÇÃO PARA O PROFISSIONAL EM EDUCAÇÃO. --- 28

CAPÍTULO 3- APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS--- 31

3.1-ANÁLISE DOCUMENTAL--- 31

3.1.1-Projeto Político Pedagógico--- 31

3.1.2-Planos de Aula--- 33

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3. 2.1-Entrevistas com os professores--- 34

3.3-ANÁLISE DAS OBSERVAÇÕES--- 43

3.3.1-Observação em sala de aula--- 43

CAPÍTULO 4- CONSIDERAÇÕES E SUGESTÕES--- 45

4.1 CONSIDERAÇÕES--- 45

4.2-SUGESTÕES--- 48

REFERENCIAS--- 49

APÊNDICE--- 53

APÊNDICE A- ROTEIRO DA ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA COM PROFESSORES--- 53

APÊNDICE B - ROTEIRO PARA ANÁLISE DOCUMENTAL--- 55

APÊNDICE C - ROTEIRO PARA OBSERVAÇÃO--- 56

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INTRODUÇÃO

Quando ainda brincava de escolinha com as crianças do prédio onde morava, sendo eu sempre a professora, já trazia em mim a certeza do que eu seria quando crescesse.

Também nessa época outro sentimento brotava de dentro de mim, o de que não apenas seria professora, mas sim, uma professora inesquecível, aquela que é sempre lembrada com carinho quando estamos recordando nossa infância.

Assim, ao assumir a função de professora buscava fugir das metodologias convencionais e encontrar novas práticas que diferenciassem meu trabalho junto aos alunos.

Escolhi ou fui escolhida, como queiram, pelo construtivismo, pois tive o privilégio de participar de um curso oferecido em 1995, pela Secretaria de Educação do Distrito Federal, onde trabalho. Tratava-se de um curso de verão sobre construtivismo pós - piagetiano para professores novatos. Fiquei encantada com toda aquela paixão demonstrada pelo professor do curso, sobre o que é a missão de educar.

No inicio de minha carreira os desafios foram enormes, fui para uma Escola, cujas paredes eram feitas de pré-moldados e lata, a clientela era constituída de alunos muito carentes, com muitos pontos de venda de drogas perto da escola. Aparentemente todos os elementos dificultavam o exercício de uma educação de qualidade.

Dentro dessa situação tão caótica, onde a postura vigente dos professores era abrir mão de seu papel social, simplesmente culpando o Estado, os alunos, e suas famílias pelos problemas, resolvi não replicar esse comportamento, e reagir.

Sempre imaginei que o mundo que nos cerca é o reflexo do que pensamos e fazemos por ele. Então resolvi começar pela minha sala de aula. Juntamente com os alunos, pintamos nossa sala de aula, limpamos as carteiras e fizemos aquele lugar ficar muito especial para nós. Apesar destas ações se situarem apenas no aspecto físico da sala de aula elas “mexeram” muito com a auto-estima dos alunos e tudo se tornava, menos difícil, tanto para mim, quanto para eles.

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importante, não era suficiente. Além disso, e mais do que isso era necessário uma dinâmica curricular desenvolvida por meio de práticas pedagógicas que ultrapassassem os aspectos cognitivos. Uma educação cuja ênfase se situasse na construção do ser humano, no desenvolvimento de competências e habilidades; agilidade na tomada de decisões e na criatividade.

Nestas circunstâncias, havia sempre uma pergunta: Qual a influência da minha prática docente na formação do meu aluno? Dali para frente, o meu compromisso em fazer a diferença

(14)

JUSTIFICATIVA

As concepções de educação são muitas e podem variar de acordo com diferentes aspectos como a cultura popular, experiências pessoais vivenciadas ao longo do tempo por um indivíduo dentro do seu meio social e principalmente no âmbito familiar, entre outras.

No processo educacional, formal ou não, o sujeito tende a replicar com as crianças de seu contato social, ensinamentos que lhes foram passados durante toda sua infância e vida jovem. Quando o indivíduo em questão é um professor a réplica tem ainda maior relevância, já que a mesma interfere na educação de várias outras pessoas além daqueles que fazem parte do seu ciclo familiar.

O “aprender a Ser” torna-se para o educador uma grande responsabilidade visto que neste aprendizado estão inseridas suas opiniões a respeito da vida e de valores importantes para a formação do ser humano.

Como afirma Delors, (2006) o aprender a Ser deve contribuir para o desenvolvimento total da pessoa: espírito e corpo, inteligência, sensibilidade, responsabilidade pessoal e espiritualidade.

Desta forma, pode-se entender o aprender a Ser como um caminho para a educação integral do aluno. Caminho este que busca desenvolver vários aspectos da formação humana e compreende em si os elementos que formam o ser completo.

De acordo com Câmara (2001), a formação do professor deve ir além da aquisição do conhecimento e voltar-se para o desenvolvimento das potencialidades pessoais daqueles que participam do processo. Como afirma a autora, a simples transmissão de informação focada na apresentação dos fatos não corresponde à visão educacional do novo século.

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seu aluno de maneira integral para desta forma otimizar o aprendizado ressignificando o conhecimento.

O professor nesta pesquisa apresenta-se como um elemento importante, visto que seu empenho, dedicação e concepção de educação são aspectos de grande relevância para uma educação de qualidade.

Neste sentido, Câmara fazendo justiça à importância do professor, pontua que:

O ponto de partida para sucesso de qualquer mudança se situa, pois no próprio individuo que tem a função de colocá-la em prática, de fazer acontecer. No caso específico que estamos tratando, se situa no próprio professor que motivado e comprometido apresenta uma nova postura, diante das questões educacionais. (CÂMARA 2001, p.4)

Cabe então neste momento saber o que pensa, como sente e como age o (a) professor (a) em sua prática diária. Estas respostas trarão luz a questões importantes, como a relação do educador com seus alunos e também será um termômetro para saber como andam as relações interpessoais entre os integrantes dos processos de ensino – aprendizagem como um todo. Estas respostas mostrarão principalmente se os professores neste início de milênio, já começaram a entender seu aluno de maneira integral, inserindo em suas dinâmicas curriculares valores morais tão escassos ultimamente entre os jovens.

De acordo com Cunha (1994), é fundamental que seja desvendado o contexto onde o professor vive; que haja uma análise da realidade, das forças sociais, da linguagem, das relações entre as pessoas, dos valores institucionais, para que o professor compreenda a si mesmo como alguém contextualizado, participante da história.

Esta pesquisa justifica-se pela necessidade de conhecer melhor o professor que atua em nossas escolas, com o intuito de identificar sua concepção de educação e práticas docentes que desenvolvam valores buscando a construção do individuo integral. Os resultados dessas ações possivelmente abrirão caminhos para uma educação onde o aprender a Ser seja visto como o ponto de partida para formação de pessoas cientes de seu papel numa sociedade planetária.

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(17)

CAPÍTULO 1 - SITUANDO O PROBLEMA

Em todas as culturas, sempre houve um amplo debate em relação à importância da educação. Hoje em dia, a sociedade contemporânea é caracterizada por uma dinâmica de mudanças e transformações permanentes, exigindo novas concepções e novas posturas que se concretizam em novas práticas pedagógicas.

De acordo com Câmara (2001), os novos avanços decorrentes da priorização da ciência, intensificada nas últimas décadas do século XX, colocaram em segundo plano a pessoa humana e consequentemente provocou problemas de ordem física, além de problemas sociais graves.

Sendo assim a Escola atual precisa urgentemente rever seu papel na sociedade utilizando além da cognição os valores morais, como ingredientes subjetivos no desenvolvimento do processo educacional. Urge neste momento, mudanças no conceito de educação, no sentido de adaptá-lo à realidade contemporânea. A educação positivista já não atende às necessidades sociais vigentes, pois apenas transmite conteúdos sem preocupar-se com a formação integral do aluno.

Enfatizando a formação integral, baseada no aprender a Ser Gadotti (2000) afirma que para que haja o desenvolvimento integral da pessoa, aspectos como: inteligência, sensibilidade, sentido ético e estético, responsabilidade pessoal, espiritualidade, pensamento autônomo e crítico, imaginação, criatividade, iniciativa, precisam ser também priorizados. Assim não se deve negligenciar nenhuma das potencialidades de cada indivíduo. A aprendizagem não pode ser limitada aos aspectos lógicos- matemáticos e linguístico. Ela precisa ser integral, ou seja, desenvolver outrasdimensões humanas.

Werneck (2000, p.107) considera a educação “como processo que leva o educando a distinguir e a apreender os valores de modo próprio e adequado ao seu desenvolvimento, tanto enquanto pessoas como enquanto personalidade.”

(18)

Entende-se que a educação é um processo de construção coletiva, contínua e permanente, que se dá na relação entre os indivíduos e entre estes e a natureza. A escola como agente formal da educação, torna-se um local privilegiado para esta formação, onde conhecimentos, valores, atitudes e formação de hábitos, devem ser desenvolvidos.

Segundo Câmara (2003, p.5) “O homem para sobreviver confortavelmente na sua humanidade, deve construir o seu Ser e fazer moral, utilizando as emoções tanto ou até mais do que a razão.”

Paulo Freire dizia que a alegria não chega apenas no encontro do achado, mas faz parte do processo de busca. Ensinar e aprender não pode dar-se fora da procura, fora da boniteza e da alegria. Desta maneira, o processo educacional deve ser prazeroso tanto para os alunos quanto para o educador e, principalmente, transformadores para ambos.

Complementando, Câmara (2003) afirma que somos todos conscientes de que uma complexidade de elementos internos e externos atua sobre o indivíduo de forma categórica deixando clara a necessidade de irmos além da razão.

Assim, esta pesquisa propõe investigar a concepção de educação que fundamenta o processo educacional e sua relação com as práticas didático- pedagógicas desenvolvidas pelo professor. Busca identificar estratégias que possibilitem a construção integral do aluno por meio do desenvolvimento de valores éticos e morais no cotidiano da sala de aula.

1-OBJETIVOS

1.1-Objetivo geral

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1.2-Objetivos específicos

►Identificar a concepção de educação do professor que atua no Ensino Fundamental da Secretaria de Educação do Distrito Federal.

►Identificar a presença de aspectos axiológicos no Projeto Político Pedagógico da Escola e no Plano de Aula do professor

►Averiguar o comprometimento do professor com sua ação educacional.

►Identificar nas práticas pedagógicas desenvolvidas pelo professor a presença de valores.

►Identificar as relações interpessoais existentes em sala de aula.

►Identificar dificuldades no desenvolvimento das práticas didático pedagógicas. 2- REFERENCIAL METODOLÓGICO

2.1-Tipo de pesquisa

Para que haja a construção de um novo conhecimento é preciso ter “atitude cientifica”, que pode ser entendida “como princípio do pensamento e da reflexão que norteia a compreensão e a construção da ciência; bem como o sentido profundo para qual a ciência deve apontar” (TURATO, 2003, p.43).

De acordo com Oliveira (2005), fazer pesquisa não é apenas acumular dados e quantificá-los, mas analisar causas e efeitos, contextualizando-os no tempo e no espaço, dentro de uma concepção sistêmica. A construção do conhecimento é o diálogo que se estabelece entre os autores, visando dar sustentação teórica ao tema em estudo.

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De acordo com Morin (1996 apud MORAES; VALENTE, 2008, p.54), o método nasce com a pesquisa, nasce com o problema e se consolida no caminho para, ao final ser formulado, embora sempre resguardando suas especificidades. Desta forma ele não precede a experiência. A abordagem qualitativa responde prontamente a essa nova visão de ciência, visto que, segundo Oliveira (2005), a utilização da metodologia qualitativa associada a um conjunto de fatos e causas, nos oferece uma visão da natureza dinâmica da realidade.

Neste sentido, a pesquisa qualitativa justifica-se neste estudo devido a quatro características principais destacadas por Godoy (1995 apud OLIVEIRA, 2005): o caráter descritivo, ter o ambiente natural como fonte direta dos dados, preocupação do investigador sobre o significado que as pessoas dão as coisas e a sua vida e o enfoque indutivo. Todas estas características citadas foram de grande importância para investigar a concepção de educação dos professores, suas práticas e a relação delas na formação do aluno.

No contexto da pesquisa qualitativa, o Estudo de Caso apresenta grande relevância ao investigar fenômenos contemporâneos dentro do seu contexto real. Esta pesquisa foi desenvolvida a partir de um Estudo de caso. De acordo com Gil (2007), esta modalidade consiste num estudo profundo de um ou de poucos objetos, de modo que permita seu amplo e detalhado conhecimento.

Durante muito tempo, a ciência encarou o Estudo de Caso como um procedimento não muito rigoroso, hoje, porém, ele é visto como o “delineamento mais adequado para a investigação de um fenômeno contemporâneo dentro do seu contexto real, onde os limites entre o fenômeno e o contexto não são claramente percebidos”. (YIN, 2001 apud GIL, 2007, P.54)

A utilização do Estudo de Caso nesta pesquisa é apoiada nos argumentos de Gil (2007) quando destaca os diferentes propósitos desta modalidade, tais como: explorar situações da vida real cujos limites não estão claramente definidos e descrever a situação do contexto onde está sendo feita a investigação.

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2.2-Instrumentos

O estudo de caso sugere como alguns dos instrumentos para coleta de dados a análise documental, a entrevista e a observação.

A análise documental de acordo com Gonçalves,

é muito próxima da pesquisa bibliográfica. O elemento diferenciador está na natureza das fontes: a pesquisa bibliográfica remete para as contribuições de diferentes autores sobre o assunto atentando para fontes secundárias, enquanto a análise documental recorre a materiais que ainda não receberam tratamento, ou seja, fontes primárias.

(GONÇALVES apud OLIVEIRA 2005, p.32)

De acordo com Pimentel (2001), a análise documental é um estudo baseado em documentos como material primordial, sejam revisões bibliográficas, sejam pesquisas historiográficas, extraindo deles toda a análise, organizando-os e interpretando-os segundo os objetivos da investigação proposta.

É uma das técnicas de maior confiabilidade. Segundo Godoy (1995), os dados coletados na análise documental possibilitam a validação das informações obtidas durante a entrevista.

Os documentos utilizados na análise documental foram o Projeto Político Pedagógico das Escolas selecionadas e os Planos de Aula dos (as) professores (as). Esta análise tem como objetivo identificar a presença de aspectos axiológicos nos documentos acima citados.

Foi utilizada a entrevista semi-estruturada. Segundo Oliveira (2005), a entrevista é um excelente instrumento de pesquisa, por permitir a interação entre o entrevistador e o entrevistado, possibilitando, assim, uma melhor descrição sobre o que está sendo pesquisado.

Também, de acordo com Triviños (2008), pode-se entender por entrevista semi-estruturada, aquela que parte de certos questionamentos básicos apoiados em teorias e hipóteses que interessam à pesquisa e que, em seguida, oferecem amplo campo de interrogativas; fruto de novas hipóteses que vão surgindo à medida que se recebem as respostas do informante.

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Outro instrumento utilizado para a coleta de dados foi a observação durante as aulas, a qual é bastante significativa no contexto da pesquisa, visto que possibilita ao pesquisador analisar in loco, o desenvolvimento de ações e estratégias que atendem aos objetivos pré-estabelecidos. A observação é uma técnica de coleta de dados, que não consiste em apenas ver ou ouvir, mas também em examinar fatos ou fenômenos que se desejam estudar. É um elemento básico de investigação científica, utilizado na pesquisa de campo com a abordagem qualitativa.

Segundo Buy (2008), este instrumento ajuda o pesquisador a identificar e a obter provas a respeito de objetivos sobre os quais os indivíduos não têm consciência, mas que orientam seu comportamento. Obriga o pesquisador a um contato mais direto com a realidade. Para Chizzotti apud Oliveira (2005), a observação consiste na coleta e no registro dos dados observados.

Para a entrevista, a observação e análise documental foram elaboradas um roteiro. No roteiro da entrevista, a primeira parte é constituída de elementos para a caracterização do respondente e a segunda parte se constitui de aspectos substantivos relacionados à obtenção de informações a respeito do objeto da pesquisa. Para garantir sua qualidade, os roteiros foram testados com professores que apresentam características semelhantes aos dos participantes. Por se tratar de uma abordagem qualitativa, o processo foi flexível e permitiu ao pesquisador voltar ao campo complementando as informações necessárias para a construção das considerações finais.

2.3-Participantes

De acordo com Oliveira (2005), o termo população ou universo da pesquisa significa a totalidade de elementos que compõe o objeto do estudo. Nem sempre é possível pesquisar a totalidade desses elementos, sendo assim cabe ao pesquisador definir o tamanho de sua amostra.

Desta forma, foram selecionadas, como amostra de estudo, três escolas situadas na Gerência Regional de Ensino do Núcleo Bandeirante e que obtiveram as melhores pontuações na Avaliação do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) em 2007.

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O IDEB, criado em 2007, foi pensado pelo Ministério da Educação como um instrumento para identificar o desempenho das escolas no Brasil e assim traçar metas para sua melhoria.

As Escolas selecionadas foram:

1) Escola Classe 03 do Núcleo Bandeirante, situada na área central da cidade. Seu corpo docente é formado por 18 professores. As turmas têm em média 28 alunos.

2) Escola classe 04 do Núcleo Bandeirante, também situada na área central da cidade, seu corpo docente é formado por 14 professores.Nesta escola as turmas têm em média 33 alunos.

3) A Escola Classe Arniqueira fica um pouco afastada da área central da cidade. Seu corpo docente é formado por 06 professores. As turmas têm em média 33 alunos.

Como participantes da pesquisa foram selecionados 15 professores do Ensino Fundamental que atuam na área de Atividades, cinco (05) em cada Escola. Todos estes professores foram entrevistados. Deste total foram observados apenas 07 professores, distribuídos entre o turno matutino e vespertino.

A pesquisa investigou através dos instrumentos acima citados, a concepção de educação dos professores, as práticas docentes por eles utilizadas, seu comprometimento com o trabalho e dificuldades no desenvolvimento de suas práticas.

2.4-Tratamento dos dados

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processos mentais, tais como a percepção, a representação, a linguagem, a lógica e a aprendizagem. Lakoff traz sua visão sobre categorização dizendo que:

A maioria de nossas palavras e conceitos designa categorias [...] Categorização não é um processo que deve ser estudado superficialmente. Não há nada mais básico do que a categorização para o nosso pensamento, percepção, ação, e discurso. Cada vez que nós vemos algo como “um tipo” de coisa, por exemplo, uma árvore, nós estamos

categorizando.

[...] A compreensão de como categorizamos é o ponto central para a compreensão de como nós pensamos, funcionamos e, conseqüentemente, um ponto central para a compreensão daquilo que nos faz humanos. (LAKOFF 1987, p.5),

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CAPÍTULO 2 - REVISÃO DA LITERATURA

A revisão da literatura foi estruturada através de itens de relevante importância para a discussão da temática da pesquisa. Tais como: concepção de educação e currículo, o papel do professor na formação integral do aluno, o perfil do aluno contemporâneo, o ambiente escolar e as relações interpessoais, a urgência de uma metodologia transdisciplinar, importância da motivação para o profissional em educação.

1-CONCEPÇÃO DE EDUCAÇÃO E DE CURRÍCULO

O conceito de educação é bem amplo e pode mudar de acordo com a especificidade de cada cultura. De acordo com Mayer (1973), Platão pensava que uma boa educação consiste em dar ao corpo e à alma toda a beleza e toda a perfeição de que são capazes.

Seguindo este conceito, vários pesquisadores da atualidade defendem também que a educação tem como função social não apenas desenvolver o aspecto cognitivo do aluno e sim, compreender o aluno como um ser integral.

De acordo com Assmann (1998), para que haja uma virada conceitual na pedagogia, faz-se necessário a aplicação de novos conceitos descobertos cientificamente sobre a morfogênefaz-se do conhecimento e que, para o autor, nada mais é do que a forma de se chegar ao conhecer.

Seguindo essa linha de pensamento, Morin (2007) argumenta sobre a supremacia do conhecimento fragmentado, de acordo com disciplinas que frequentemente impedem o vínculo entre as partes e a totalidade. Esta prática deve ser substituída por um modelo de conhecimento que analise o objeto dentro de seu conjunto, contexto e complexidade.

Diante do cenário em que se encontra a educação atualmente, fica claro que há um questionamento sobre as certezas anteriores a respeito das formas de ensinar que nos leva a buscar novos paradigmas educacionais.

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Ainda segundo Brandão (ibidem), uma crise de paradigma caracteriza-se como uma mudança conceitual de visão de mundo, refletindo uma insatisfação com os modelos anteriores predominantes.

A educação baseada num paradigma tradicional tem suas regras e currículos desenvolvidos longe das escolas, com estruturas hierarquizadas.

Hoje, de acordo com estudos realizados, a missão da escola foi ampliada. Moraes (1997) confirma isso ao dizer que a missão agora, é atender o aprendiz, um ser específico, com necessidades especiais, que aprende, representa e utiliza o conhecimento de forma diferente e que necessita ser efetivamente atendido.

Cabe também avaliar a construção do currículo escolar, que em sua maioria ainda é construído sem a participação efetiva dos alunos e professores, sendo imposto de cima para baixo na maior parte das escolas brasileiras.

Faz-se necessário uma reflexão sobre questões paradigmáticas da educação. Para Morin (2007), o século XXI abandonará a visão unilateral que define o ser humano apenas pela racionalidade (homo sapiens) e compreenderá o homem de maneira complexa, não somente como sapiens, mas também, demens, ludens, faber, poeticus e vários outros. Fica claro que o currículo precisa ir além desta racionalidade, desenvolvendo, práticas pedagógicas que fortaleçam a formação do sujeito.

Para atender ao Relatório da Comissão Internacional para o Século XXI (2006), urge encontrar respostas na busca de um novo paradigma, onde a educação deve organizar-se em quatro pilares apresentados no referido relatório: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a conviver e aprender a ser.

Segundo Delors (2006), aprender a conhecer consiste numa aprendizagem que busca não só a aquisição de saberes codificados, mas, antes disso, o domínio dos instrumentos do conhecimento como meio e finalidade da vida humana.

Continuando, o autor afirma que o aumento desses tipos de saberes permitirá ao homem compreender cada vez melhor o ambiente sob vários aspectos, favorecendo o despertar da curiosidade intelectual e estimulando o sentido crítico, para uma melhor compreensão do real, desenvolvendo autonomia na capacidade de discernir.

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O conceito de aprender a fazer que se explica a seguir é praticamente inseparável do aprender a conhecer, o propósito deste aprender é fazer o aluno utilizar em sua vida prática os conhecimentos adquiridos na escola.

Vale salientar que o aprender a fazer não se constitui apenas em preparar o aluno para uma tarefa material determinada, ele não pode ser visto como uma simples transmissão de práticas, embora estas também tenham seus valores.

Hoje em dia, além da competência para exercer uma função, é necessário um profissional que tenha compromisso pessoal com suas ações.

Delors (2006) confirma a necessidade deste compromisso dizendo que os empregadores, cada vez mais, buscam em seus trabalhadores, indivíduos que além de qualificação técnica apresentem comportamento sociável, aptidão para o trabalho em equipe, capacidade de iniciativa. Cabe a escola capacitar seus alunos desenvolvendo novas competências exigidas na sociedade contemporânea.

Um dos grandes desafios da humanidade sempre foi conviver com as diferenças, sejam elas, religiosas, raciais ou culturais. O aprender a conviver vem ao encontro desse desafio, trazendo para o meio escolar discussões sobre diversidade humana, formação de uma consciência das semelhanças e dependências entre todos os seres do planeta na busca pela paz.

Sobre esta consciência planetária, Morin afirma: “A união planetária é exigência racional mínima de um mundo encolhido e interdependente. Tal união pede a consciência e um sentimento de pertencimento mútuo que nos una à nossa Terra, considerada como primeira e última pátria.” (MORIN, 2007, p. 75)

Em seu livro, Os sete saberes necessários à educação do futuro (2007), Morin complementa que a educação do futuro terá o ensino primeiro e universal centrado na condição humana e os alunos deverão reconhecer–se em sua humanidade comum aceitando a diversidade cultural inerente a tudo que é humano.

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Os quatro pilares englobam os principais elementos para uma educação integral, permitindo um novo olhar sobre a educação, um olhar que enxergue a complexidade do aluno e uma nova visão de mundo.

2-O PAPEL DO PROFESSOR NA FORMAÇÃO INTEGRAL DO ALUNO

A educação deste novo milênio exige do profissional em educação uma postura diferenciada daquela que vem sendo utilizada ao longo da nossa história.

A prática docente apresenta-se como um aspecto importante na transformação do indivíduo podendo marcar profundamente os alunos, tanto como experiência positiva quanto negativa.

Na opinião de Assmann (1998), urge a necessidade de uma profunda revisão nos antigos conceitos de ensino e aprendizagem. Para ele, a flexibilidade é um aspecto cada vez mais imprescindível de um conhecimento personalizado e de uma ética social democrática.

Enfatizando a necessidade de novas práticas, Moraes (1997) nos revela que estamos na Era das Relações, isso requer uma nova dinâmica cognitiva, que ofereça aos alunos novos ambientes de aprendizagem, o desenvolvimento de uma consciência individual e coletiva e uma prática reflexiva sobre a construção do conhecimento.

Uma educação que venha carregada de “sentirpensar” como nos apresentam Moraes e Torre (2004) em seu livro com este mesmo nome.

Segundo os autores Moraes e Torre, esse novo caminho implica mudanças nas estratégias e metodologias aplicadas em sala de aula.

Sob o olhar ecossistêmico é recomendável a busca de novas formas de mediação pedagógica entre a ação docente e a aprendizagem do aluno. Para tanto, se recomenda o desenvolvimento de estratégias didáticas que privilegiem diferentes tipos de linguagem, que estimulem desafios, vivencias, curiosidades, promovam iniciativas, enfim, estratégias que colaborem com o desenvolvimento da autonomia... (MORAES E TORRE 2004, p. 47).

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O professor deve também refletir sobre as mudanças curriculares que serão necessárias dentro deste novo contexto. Um currículo rígido sem a participação efetiva de todos os envolvidos no processo educacional torna-se obsoleto nos dias de hoje.

Moraes (2008) comenta que existe a necessidade de uma reforma do pensamento que obrigatoriamente passa pela abertura do coração, porque já não adianta uma mente técnica e um coração vazio. Esta reforma precisa ser iluminada por uma escuta mais sensível, um olhar mais humano e compreensível a respeito dos sentimentos de quem está ao seu redor.

É preciso construir dinâmicas curriculares diversificadas baseadas no diagnóstico das necessidades e interesses dos alunos, utilizando variadas técnicas, estratégias e metodologias para alcançar esta nova proposta de educação.

Não podemos pensar na escola apenas como um ambiente de aprendizagem formal, visto que, apoiada em Moraes e Torre, pode-se dizer que a aprendizagem depende das circunstâncias criadas pela ação docente, do acoplamento estrutural destas ações.

Moraes e Torre (2004) concluem que conhecer não é, portanto, apenas uma operação mental, mas é toda uma ativação de pensamentos, raciocínios que tem por base as emoções e sentimentos vividos em determinadas circunstâncias.

Para Moraes (2008), essa mudança exige o rompimento com o paradigma reducionista, fragmentador do conhecimento e da realidade e incentiva a busca de novas explicações sobre o real e a natureza do que é cognoscível.

Tannenbaum (1983) relaciona uma série de ações que deveriam fazer parte dos objetivos de um ensino de qualidade. Vale salientar que estas ações não são apenas responsabilidade dos professores, também devem estar incorporadas na prática dos funcionários da escola.

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3-O AMBIENTE ESCOLAR E AS RELAÇÕES INTERPESSOAIS.

O mundo globalizado de hoje nos expõe a uma onda de informações sobre o que acontece por todo o mundo em tempo real. Esse fenômeno faz com que estejamos sempre a par de vários problemas onde as relações interpessoais entre os povos de todo o mundo ocupam lugar de destaque.

De acordo com Csikszentmihalyi (1999), não é difícil perceber o quanto estamos envolvidos em nosso meio social, tanto mental quanto fisicamente. O autor exemplifica que até mesmo nossos ancestrais primatas, aprenderam que deveriam ser aceitos pelos grupos ou não viveriam muito tempo. Assim também deve ser o homem que tem ignorado a necessidade da convivência em harmonia, para que possa encontrar saídas para as dificuldades atuais.

Neste contexto, o aprender a ser ganha um papel de destaque na formação humana para o novo milênio, visto que este pilar engloba também o aprender a conviver com as diferenças, um aspecto muito problemático nos dias de hoje.

A educação moderna enfatiza também este objetivo: ensinar as pessoas a conviverem em harmonia, respeitando as diferenças culturais e religiosas, entre outras. No ambiente escolar as pessoas reproduzem o comportamento vivido em suas vidas pessoais, influências preconceituosas são refletidas em situações do cotidiano.

O educador como responsável pela formação do sujeito, deve inserir em sua prática o aprender a ser, influenciado por valores consonantes com a sociedade contemporânea.

Boleiz diz que “não podemos nos esquecer de que a postura que se assume ao se escolher a profissão de educador não pode de forma alguma ser pessimista. O educador tem que ser alguém que ame a sua condição humana e, por conseguinte, as novas gerações e por extensão, toda a humanidade” (BOLEIZ, 2001, p.01).

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O aprender a ser deve ser encarado como um aprendizado constante e com a participação de todos que influenciam na construção do indivíduo, tanto na família quanto no ambiente escolar.

Na opinião de Csikszentmihalyi (1999), as interações familiares afetam de maneiras diferentes a qualidade das experiências para cada membro. Eles reagem de acordo com suas percepções em um mesmo evento, devido as suas experiências passadas.

Entende-se que a educação é um processo de construção coletiva contínua e permanente de formação do indivíduo, que se dá na relação entre os indivíduos e entre estes com a natureza. A escola é, portanto, um local privilegiado para esta formação, porque trabalha concomitantemente com o conhecimento, valores, atitudes e formação de hábitos.

Morin (2000) adverte sobre a necessidade urgente de uma reforma no pensamento humano para que a sociedade possa responder com competência e habilidade aos desafios da globalidade e da complexidade da vida cotidiana. Precisa-se ter competência também para enfrentar as incertezas presentes nos nossos dias, tanto no que se refere à incerteza em relação ao conhecimento, como a realidade do nosso cotidiano.

Como já dizia Candau (1995), é importante que a escola seja um espaço onde se formam as crianças e os jovens para serem construtores ativos da sociedade na qual vivem e exercem sua cidadania.

O professor deve estar consciente da sua importância e entender que sua missão, não se reduz aos saberes cognitivos, mas também aos afetivos e sociais exercendo, antes de tudo, influência sobre a personalidade dos alunos. Sendo assim, o professor deve estar preparado para exercer plenamente suas funções com compromisso e dedicação, sempre utilizando o aprender a ser como norte para sua prática docente.

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No que diz respeito à convivência escolar, pode-se afirmar que o aprender a ser torna-se um pilar importantíssimo para implantação de uma cultura que construa a convivência social sadia entre as pessoas.

Dentro de um conceito de educação que se fundamenta no aprender a ser, Monte-Serrat (2007) diz que se deve repensar a função da escola e dos educadores, levando-se em conta não apenas a formação profissional. Ele enfatiza a importância de capacitar os professores na tarefa de educar as emoções, tanto as suas quanto as de seus alunos, para que possam utilizar esse conhecimento em suas vidas cotidianas.

Para Cury, o perfil do professor que conhece seu aluno como um ser multifacetado, integral, deve ser pautado no afeto “a paciência é o segredo, a educação do afeto é sua meta”. (CURY, 2003, p.97)

Por isso, a grande importância do relacionamento interpessoal entre os atores envolvidos no ato de educar. Alunos que vivenciam na escola relações interpessoais construtivas tendem a replicá-las em sua vida adulta. Cury (2007) ainda nos alerta que a personalidade não é estática, sua transformação depende da qualidade do arquivamento das experiências ao longo da vida.

É importante lembrar que, muitas vezes, o professor é a única pessoa em quem o aluno pode se espelhar para fugir de um contexto social opressor, seja emocional ou financeiro. Cada gesto, palavra ou incentivo do professor tem um peso enorme para que ele aprenda a ser e possa fazer no futuro suas escolhas de vida, tendo a consciência de seu potencial, de que seus limites foram ampliados pela sensibilidade de um profissional em educação que desenvolveu junto a ele uma prática docente transformadora.

Vale afirmar que não existe apenas, no ambiente escolar, o relacionamento entre alunos e professores. O bom exemplo e a cooperação de todos os integrantes da escola, a consciência da necessidade de acreditar no potencial do aluno e também, no sentimento de pertencimento fará com que este aluno encontre no ambiente escolar um porto seguro para o seu desenvolvimento como um ser integral.

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4-O PERFIL DO ALUNO CONTEMPORÂNEO.

A mudança de paradigma, que vem ocorrendo neste início se século, tem como motivação principal atender a uma clientela que já não se satisfaz com um modelo de educação o qual o aluno permanece apenas como mero ouvinte, estático e sem interação com quem o ensina.

Assmann (1998) lembra que notoriamente existe algo de errado com a idéia de que aulas mais ou menos bem dadas, um bom ensino, geram necessariamente boas aprendizagens lembrando ainda que o próprio conceito de educação esteja sendo submetido a uma profunda revisão.

Devido às novas tecnologias e a velocidade das informações, as dinâmicas curriculares utilizadas habitualmente em sala de aula tornam o contato entre a escola e esses alunos muito tedioso e desinteressante. Temos uma geração formada por nativos digitais que estão habituados a receber informações com muita velocidade, mas também muitas vezes, com superficialidade.

Assim como diz Câmara (2003, p.7) “para melhor atuar de acordo com o que chamamos “Uma Nova Ordem” consideramos como ponto de partida uma reflexão dos nossos conceitos e convicções colocando-os em sincronia com os avanços da sociedade e na perspectiva de um contínuo processo de mudanças que ocorrem cada vez mais rapidamente”.

Ken Wilber apud Câmara (2002) considera que a ruptura da cultura contemporânea com a humanização teve início a partir da dissociação ocorrida entre o BELO, o BOM e o VERDADEIRO, o que o autor chama de os “Três Grandes”. “Segundo o autor, o BELO tem a ver com a consciência. É o domino da arte e do eu; o BOM diz respeito à ética e à moral, é o domínio do nós; o VERDADEIRO se relaciona com o domínio da ciência e da tecnologia. É fundamentalmente o domínio da ciência, das coisas que dizem respeito ao eles”.

O três fatores acima citados são aspectos importantes para construção do aprender a ser. A arte, a ética e a tecnologia devem relacionar-se entre si, com o objetivo de formar um individuo mais bem preparado para lidar com os desafios da atualidade.

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A formação do professor é ainda muito falha no que diz respeito aos aspectos digitais. Por não serem “nativos digitais”, os professores apresentam dificuldades em compreender como interagir o mundo virtual com o presencial, para uma convivência transformadora para ambos e ainda orientá-los a lidar com os perigos virtuais que o aluno está exposto.

Em sua monografia premiada no Décimo Prêmio Mídia Estadão, Valente e Limoeiro (2007) conceituam “Nativos digitais” de acordo com a denominação criada pelo educador americano Marc Prensky (2001). Para eles os “Nativos digitais” costumam fazer tudo ao mesmo tempo, pois convivem desde cedo com a linguagem das mais variadas plataformas e toda essa imersão altera a maneira como as novas gerações vão reagir ou já reagem ao arsenal de possibilidades, de acesso à informação propiciado pela tecnologia.

A escola já sofre com o perfil desta nova clientela, que freqüentemente taxa as aulas como desinteressantes e monótonas. Outro ponto preocupante é a facilidade que estes alunos têm em encontrar informações politicamente incorretas na rede. Sem uma orientação a respeito de valores, esta geração tende a banalizar o sofrimento humano entre outras mazelas sociais.

Além da questão digital, existe ainda a grande mudança nas estruturas familiares, onde, cada vez mais, a escola faz o papel dos pais na formação da personalidade do indivíduo. Valores que antes eram vivenciados durante a convivência familiar agora precisam ser inseridos em currículos escolares para que o aluno possa internalizá-los.

A escola atual precisa valorizar a formação integral visando os valores morais e a formação do ser e sua importância na construção de uma sociedade mais humanizada, incorporando papeis muito mais amplos do que há alguns anos atrás. As famílias com suas estruturas modificadas sofrem as conseqüências com crianças que são cada vez mais independentes e, muitas vezes, têm sua educação delegada a terceiros.

Bauman (2004) repensa as relações humanas com o conceito de um mundo que ele identifica como líquido, em que as relações se estabelecem com extraordinária fluidez, que se movem e escorrem sem muitos obstáculos, marcadas pela ausência de peso, em constante e frenético movimento.

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5- A URGÊNCIA DE UMA METODOLOGIA TRANSDISCIPLINAR.

Tendo em vista os aspectos levantados em tópicos anteriores como o novo perfil do aluno, novos desafios sociais e a importância do contexto escolar na formação do ser, é possível concluir a importância e a necessidade urgente de uma nova visão de educar.

Para isto, são necessárias novas dinâmicas curriculares que atendam a esta nova clientela. A visão de educação contemporânea clama por uma metodologia transdisciplinar que veja o aluno de maneira integral, priorizando o aprender a ser, a fazer, a conviver, a conhecer de maneira integral.

O vocábulo transdisciplinaridade foi enunciado pela primeira vez, segundo B. Nicolescu, por Jean Piaget, em um colóquio de 1970, quando este proclamou: “...enfim, no estágio das relações interdisciplinares, podemos esperar o aparecimento de um estágio superior que seria 'transdisciplinar', que não se contentaria em atingir as interações ou reciprocidades entre pesquisas especializadas, mas situaria essas ligações no interior de um sistema total sem fraturas estáveis entre as disciplinas” (apud WEILL, 1993, p.30).

Era o inicio de um longo caminho em busca de um novo paradigma que tivesse como objetivo ensinar o indivíduo na sua integralidade, aprendendo a ser um elemento transformador de si e de todos que o cercam.

Na Carta da Transdisciplinaridade (1994, p.1), encontraremos, em seu artigo primeiro, que “Toda e qualquer tentativa de reduzir o ser humano a uma definição e de dissolvê-lo no meio de estruturas formais, sejam quais forem, é incompatível com a visão transdisciplinar.” Ou seja, caem por terra a lógica binária e o pensamento cartesiano, busca-se integrar as disciplinas, para que as discussões sejam enriquecidas e analisadas a partir de diferentes pontos de vista.

Akiko Santos (2000) relata que a ciência moderna, ao dicotomizar sujeito do objeto, tornou-se uma ciência dual: razão/emoção, positivo/negativo, corpo/alma, bem/mal. Deste modo, o pensar deve evoluir para a articulação dos opostos, isto é, razão e emoção, positivo e negativo, corpo e alma, bem e mal.

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transgressão da dualidade que opõe os pares binários: subjetividade/objetividade, diversidade/unidade.

Outro ponto crucial da carta é quando afirma que a transdisciplinaridade é complementar à abordagem disciplinar. Sendo assim não tem como objetivo acabar com as disciplinas, ela faz emergir novos dados a partir da confrontação entre elas que as articulam entre si, oferecendo-nos uma nova visão da natureza da realidade. “A transdisciplinaridade não procura a maestria de várias disciplinas, mas a abertura de todas as disciplinas ao que as une e as ultrapassa.” (CARTA DA TRANSDISCIPINARIDADE, 1994, p.2)

Para muitos educadores ainda é um tabu falar sobre transdisciplinaridade, muitos confundem os conceitos entre transdisciplinaridade, interdisciplinaridade e pluridisciplinaridade. Na prática também ocorrem situações onde o professor já atua de maneira transdisciplinar, mesmo sem conhecer seus pilares, agindo a partir de um conhecimento intuitivo.

Deacordo com Nicolescu (1999):

Se a transdisciplinaridade é tão freqüentemente confundida com a inter e a pluridisciplinaridade (como, aliás, a interdisciplinaridade é tão freqüentemente confundida com a pluridisciplinaridade), isto se explica em grande parte pelo fato de que todas as três ultrapassam as disciplinas. Esta confusão é muito prejudicial, na medida em que esconde as diferentes finalidades destas três novas abordagens. (NICOLESCU, 1999, p.14)

Segundo Nicolescu (1999), existem diferenças basilares entre as três. A pluridisciplinaridade diz respeito ao estudo de um objeto de uma única e mesma disciplina efetuada por diversas disciplinas ao mesmo tempo. A interdisciplinaridade tem uma ambição diferente daquela da pluridisciplinaridade, ela diz respeito à transferência dos métodos de uma disciplina para outra. Já a transdisciplinaridade, conforme indica o prefixo “trans”, envolve aquilo que está ao mesmo tempo entre as disciplinas, através das diferentes disciplinas e além de toda e qualquer disciplina. Sua finalidade é a compreensão do mundo atual, para a qual um dos imperativos é a unidade do conhecimento.

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Um aspecto primordial da evolução transdisciplinar da educação diz respeito à capacidade de reconhecer-se a si próprio na imagem do outro. Trata-se de um aprendizado permanente, que deve começar na mais tenra infância e prosseguir ao longo de toda a vida.

Ainda para Nicolescu (1999) aprender a ser surge, à primeira vista, como um enigma. Nós sabemos existir, mas como aprender a ser? Podemos começar por aprender o que significa para nós, a palavra “existir”: descobrir nossos condicionamentos, descobrir a harmonia ou a desarmonia entre nossa vida interior e a social, sondar os fundamentos de nossas convicções, para descobrir o que existe de subjacente, nossas certezas, crenças e condicionamentos.

Mesmo existindo uma inter-relação bastante evidente entre os quatro pilares apresentados no Relatório Delors (2006), pode-se perguntar. Como aprender a fazer aprendendo a conhecer? E como aprender a ser aprendendo a conviver?

A educação transdisciplinar pode lançar uma nova luz para esses questionamentos, sobre a necessidade que surge cada vez mais intensamente em nossos dias: a necessidade de uma educação permanente. A educação transdisciplinar, por sua própria natureza, deve efetuar-se não apenas nas instituições de ensino, mas também ao longo de toda a vida e em todos os lugares em que se vive.

6- A IMPORTÂNCIA DA MOTIVAÇÃO PARA O PROFISSIONAL EM EDUCAÇÃO.

Em seu livro Pedagogia da Autonomia, Paulo Freire (1996) revela os saberes necessários à prática educativa. Vários aspectos podem ser levantados a respeito do perfil de um professor o qual, segundo Freire, ser professor exige principalmente: bom senso, humildade, curiosidade, além de outros saberes. Ser professor exige do profissional, características peculiares que em algumas profissões talvez não sejam consideradas.

O professor lida diariamente com todos os sentimentos que fazem parte da personalidade de um indivíduo. Por isso, ser professor exige desse profissional uma parcela maior de entrega pessoal, sensibilidade, compromisso e alegria.

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Para que isso aconteça é preciso que o professor tenha dentro de si o real desejo de ensinar, de contribuir com o crescimento do outro enquanto ser humano. Logicamente não se exclui a necessidade de outros fatores que influenciem a educação de qualidade. A estrutura escolar, a valorização profissional, a aplicação de novas tecnologias em sala de aula, a participação da família no processo ensino aprendizagem são fatores de grande relevância.

Essa vontade de estar em sala de aula, com prazer e compromisso superando todos os desafios, é a motivação intrínseca que faz toda a diferença no sucesso das práticas docentes transformadoras.

Para Assmann, a motivação intrínseca não pode ser banalizada. Segundo ele existe um cerne ético e psicológico positivo e incontornável nesta questão. “A teoria da motivação intrínseca teve seu primeiro sistematizador em Maslow, nos anos 50. Ele já sonhava com a eubiótica (do grego: eu, bem e bíos, vida), ou seja, o clima de “todos felizes” (ASSMANN 1998, p.171).

O professor com esse desejo interior age de maneira que sua prática docente faça toda a diferença na vida do aluno, isto porque, de maneira geral, este profissional enxerga seu aluno através de um prisma, buscando não apenas seu desenvolvimento cognitivo, mas também o social, psicológico e afetivo. Muitas vezes, mesmo que intuitivamente, este professor utiliza o pilar aprender a ser como caminho para a construção de suas aulas e também desenvolve a transdisciplinaridade em suas dinâmicas curriculares.

Vygotsky (1993) propõe uma visão de homem como um sujeito social e interativo, sendo que a criança, inserida num grupo, constrói seu conhecimento com a ajuda do adulto e de seus pares. Dessa forma, considera que a aprendizagem ocorra a partir de um intenso processo de interação social, através do qual o indivíduo vai internalizando os instrumentos culturais, ou seja, as experiências vivenciadas com outras pessoas, o que vai possibilitar a ressignificação individual do que foi internalizado.

Remetendo-se a Vygotsky, Sisto, Oliveira e Fini (2000) afirmam que o pensamento tem sua origem na esfera da motivação, a qual inclui inclinações, necessidades, interesses, impulsos, afeto e emoção.

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papel fundamental na constituição e funcionamento dessa última e determinando os interesses e necessidades individuais. Afetividade e inteligência constituem, portanto, na sua concepção, um par inseparável na evolução psíquica, pois embora tenham funções bem definidas e diferenciadas entre si, são interdependentes em seu desenvolvimento, permitindo à criança atingir níveis de evolução cada vez maiores.

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CAPÍTULO 3 - APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS

Este capítulo apresenta os dados coletados por meio de entrevistas e de observações realizadas em sala de aula, além da análise do Projeto Político Pedagógico da escola e dos Planos de Aula dos (as) professores (as)

3.1-ANÁLISE DOCUMENTAL

3.1.1-Projetos Políticos Pedagógicos

As três escolas pesquisadas possuem um Projeto Político Pedagógico - P.P.P. que contém um conjunto de princípios orientadores do planejamento anual envolvendo as ações e procedimentos educacionais das instituições pesquisadas.

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 9394/94), em seu Artigo 12, Inciso I, prevê: "os estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas comuns e as do seu sistema de ensino, terno a incumbência de elaborar e executar sua proposta pedagógica", deixando explícita a idéia de que a escola não pode prescindir da reflexão sobre sua intencionalidade educativa. Assim sendo, o Projeto Pedagógico passou a ser objeto prioritário de estudo e de muita discussão.

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Os projetos das escolas pesquisadas contemplam três dimensões: os fundamentos éticos, políticos e epistemológicos. Constam também dos projetos aspectos axiológicos identificados por meio de ações que serão desenvolvidos durante o ano letivo.

A Escola A, apresenta em seu P.P.P. o projeto: “Vivenciando Valores” que tem como objetivo propiciar novas possibilidades educativas para o corpo docente visando o desenvolvimento de aprendizagens significativas através de uma abordagem interdisciplinar dos conteúdos e do uso de tecnologias contemporâneas. Tem como eixo norteador a arte buscando favorecer relações interpessoais mais éticas e um processo de ensino-aprendizagem voltado para a cidadania crítico – reflexiva.

A Escola A apresenta também outro projeto intitulado: “Redescobrindo o Meio Ambiente, Valorizando a Vida/Reciclagem”, que tem como objetivos: desenvolver a cidadania observando as transformações sociais que visam o bem estar comum, preservar o meio ambiente, respeitar e compreender os outros e desenvolver uma imagem positiva de si mesmo. São também objetivos do referido projeto agir de forma consciente utilizando os conhecimentos adquiridos, respeitando-os e valorizando-respeitando-os como recursrespeitando-os vitais para a melhoria do planeta. Os projetrespeitando-os acima citadrespeitando-os têm a participação de todos os professores da Escola, sendo que, cada um participa de acordo com as necessidades apresentadas pela sua turma.

A escola B apresenta em seu P.P.P. um projeto chamado “Eu brinco, ele brinca, nós brincamos juntos”, que tem como objetivo trabalhar as relações interpessoais e desenvolver valores como respeito ao próximo, solidariedade, amizade, entre outros.

Segundo informações de uma das professoras, todos os funcionários da escola participam do recreio dirigido, ensinando atividades diversificadas para as crianças como: bordado, música, pintura e brincadeiras cooperativas.

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3.1.2- Planos de Aula

No que se refere aos Planos de Aula dos (as) professores (as) cabe salientar que 10 das 15 professoras que participaram da pesquisa não permitiram o acesso a seus Planos. Duas afirmaram que não o fazem, enquanto oito simplesmente se recusaram a disponibilizá-lo.

O fato de não haver um planejamento prévio é preocupante visto que o planejamento envolve reflexão sobre a prática pedagógica, servindo como parâmetro para as atividades desenvolvidas em sala de aula.

Sobre a importância do planejamento, Fusari (1998) afirma que a ação consciente, competente e crítica do educador é que transforma a realidade, a partir das reflexões que fundamentam o planejamento e, consequentemente, as ações vivenciadas em sala de aula. Argumenta o autor que o planejamento, nesta perspectiva, é acima de tudo uma atitude crítica do educador diante de seu trabalho docente.

Dos Planos de Aula analisados apenas um continha atividades relacionadas diretamente ao desenvolvimento de valores, no qual se encontravam alusão a aspectos axiológicos com bastante frequência.

Em quatro Planos de Aula, mesmo com a afirmação dos professores da existência de valores nos conteúdos ministrado em sala de aula, não foram encontrados, por escrito, elementos que comprovem a efetiva presença dos aspectos axiológicos nos referidos Planos.

Machado (2000) alerta que discursos eloquentes sobre valores, desvinculados de uma prática consentânea, conduzem irremediavelmente ao descrédito, a sensação de desamparo ou ao desenvolvimento de atitudes cínicas, que eivam perigosamente o terreno educacional.

O autor reitera que uma integração entre o discurso e a ação constitui um ingrediente fundamental, uma condição sine qua non da idéia de integralidade, tal como aqui se pretende caracterizar.

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A impossibilidade de analisar dez Planos de Aula da amostra de quinze professoras participantes da pesquisa infelizmente não permite, não só, comprovar a existência ou não de conteúdos referentes aos aspectos axiológicos da educação como também não permite identificar a presença de ações didático pedagógicas buscando a efetivação daqueles aspectos.

3.2- ANÁLISES DAS ENTREVISTAS

3.2.1- Entrevistas com professores

A amostra constituiu-se de 15 professoras da Secretaria de Educação do Distrito Federal- SEDF que atuam na área de Atividades no Ensino Fundamental, selecionadas aleatoriamente nas escolas escolhidas para a pesquisa. Todas são do sexo feminino.

A formação acadêmica apresenta-se da seguinte forma: cinco cursaram o ensino superior e dez possuem especialização.

Quadro 1-Formação Acadêmica

Níveis de formação acadêmica Frequência das Respostas %

Nível Superior (5) 33,3%

Especialização (10) 66,7%

TOTAL (15) 100%

Os dados encontrados sobre o tempo de docência são os seguintes: uma professora ensina há três anos. Três delas tem entre dez e quinze anos de magistério. Oito professoras lecionam entre quinze a vinte anos. Uma leciona a vinte e três anos. Duas entrevistadas são contratadas temporariamente e atuam há pouco tempo, menos de quatro anos.

Quadro 2-Tempo de Docência

Tempo de docência Frequência das Respostas %

3 anos (1) 6,6%

10 e 15 anos (3) 20%

15 e 20 anos (8) 53,5%

Mais de 20 anos (1) 6,6%

Contrato temporário (2) 13,3%

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A faixa etária é variada. Três estão entre vinte e trinta anos. Seis têm entre trinta e um e quarenta anos. Outras seis estão na faixa entre quarenta e um e cinquenta anos.

Quadro3-Faixa Etária

Idade Frequência das Respostas %

20 e 30 anos (3) 20%

31 e 40 anos (6) 40%

41 e 50 anos (6) 40%

TOTAL (15) 100%

As séries de atuação são variadas, três trabalham com a 1ª série, seis com a 2ª série, quatro com a 3ª série e apenas duas com a 4ª série. A quantidade de alunos em sala está em média entre 26 e 36 alunos por turma. A carga horária semanal é de 40 horas trabalhadas por todas elas.

Quadro 4- Classe de Atuação

Classes Frequência das Respostas %

1ª série (3) 20%

2ª série (6) 40%

3ª série (4) 26.6%

4ª serie (2) 13,4%

TOTAL (15) 100%

As respostas obtidas, através da segunda parte da entrevista, foram classificadas em cinco categorias estabelecidas a partir dos objetivos da pesquisa. São elas: concepção de educação do professor, postura do professor durante as práticas pedagógicas, valores apresentados, fatores dificultadores e relacionamento interpessoal. Os quadros que seguem mostram as respostas mais frequentemente apresentadas pelas professoras em cada categoria.

A primeira pergunta da entrevista “O que você entende por educação?” mostrou-se de grande importância para a pesquisa, revelando conforme afirmam os estudiosos, que existe uma relação entre a concepção de educação do professor e as práticas desenvolvidas por ele em sala de aula, sendo ela o fio condutor do processo.

As respostas obtidas foram bem amplas 33% dos entrevistados afirmaram que educar é formar o cidadão.

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Dentro de uma concepção de educação transformadora, não se deve delimitar o processo educacional em apenas uma dimensão. Nas falas dos respondentes a expressão “Formar o cidadão” foi apresentada como sendo uma concepção bastante inovadora, entretanto, percebe-se a fragilidade dessa afirmação e, consequentemente, a falta de uma formação filosófica mais consistente. Neste sentido, Machado (2000) alerta que o professor atualmente tem muita orientação metodológica para pouca densidade filosófica.

Vinte por cento (20%) das entrevistadas afirmaram que educar é transformar o meio e o indivíduo, 13,3% afirmaram que educar é formar o aluno integralmente, outros 13,3% disseram que educar é apropriar o aluno com diferentes fontes de conhecimento. Três respostas foram lembradas pelas respondentes com a porcentagem de 6%: (a) educar é transmitir conhecimento; b) troca de valores; c) processo de troca de experiências e vivências.

O fato de a minoria ter citado que educar é transmitir conhecimento é de certo modo desanimador visto que essa é uma maneira muito simplista de analisar a educação.

Pôde-se observar através da respostas obtidas que cada professor constrói sua concepção de educação a partir dos valores que ele próprio possui. Valores estes que foram sendo interiorizados e sedimentados através do seu processo de formação profissional e como ser humano.

Quadro 5- Concepção de Educação do professor

Concepção de Educação Frequência das Respostas %

“Formação do cidadão” (5) 33,3%

“Transformação do meio e do individuo”

(3) 20%

“Formação integral do aluno” (2) 13,3% “Apropriar ao aluno diferentes

fontes de conhecimento”

(2) 13,3%

“Troca de valores” (1) 6,6%

“Processo de troca de experiências e vivencias”

(1) 6,6%

“Transmissão de conhecimento” (1) 6,6%

TOTAL (15) 100%

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entrevistadas, 33,3% responderam que sua pratica pedagógica influencia seus alunos tornando-se um exemplo para aqueles que não possuem referências positivas em suas famílias.

Sobre a importância do exemplo do professor para o aluno, Freire (1996, p.38) alerta que: “Quem pensa certo está cansado de saber que as palavras a que falta a corporeidade do exemplo pouco ou quase nada valem. Pensar certo é fazer certo.”

Levando-se em consideração o contexto pesquisado, com todos os aspectos sociais e familiares que caracterizam essas comunidades escolares, realmente o professor em muitos momentos aparece como figura fundamental para a formação de seus alunos

Outro ponto abordado pelas professoras foi o desenvolvimento de hábitos salutares de respeito ao próximo, por meio da criação de regras de convivência com um percentual de 26.6% dos respondentes.

Treze vírgula três por cento (13,3%) afirmaram que influenciam seus alunos transmitindo valores. Vale lembrar que essa atitude não foi confirmada quando da observação do pesquisador na maioria das salas de aula.

Quatro respostas que apresentaram o mesmo percentual de 6,6% afirmam diferentemente: (a) preparam o aluno para o futuro sem limitar-se a ministrar conteúdos; (b) atuam observando aspectos emocionais que influenciam na aprendizagem; (c) formam cidadãos críticos e finalmente (d) ampliam a visão de mundo dos alunos tornando-os críticos, independentes e capazes de resolver conflitos.

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Quadro 6- Posturas do professor durante as práticas pedagógicas

Posturas do professor durante as práticas pedagógicas

Frequência das Respostas %

“Como um exemplo para os que não têm referencial positivo”.

(5) 33,3%

“Motivando hábitos salutares de respeito ao próximo e relações de

convivência”.

(4) 26,6%

“Transmitindo valores”. (2) 13,3% “Observando aspectos emocionais

que influenciam na aprendizagem”.

(1) 6,6%

“Formando cidadãos críticos”. (1) 6,6% “Ampliando sua visão de mundo e

tornando-o crítico, independente e capaz de resolver conflitos”.

(1) 6,6%

“Preparando-o para o futuro sem limitar-me a ministrar conteúdos”.

(1) 6,6%

TOTAL 15 100%

A terceira pergunta discute: Que outros aspectos além dos conteúdos das disciplinas você trabalha com seus alunos?”

As respostas foram de modo geral vagas e variadas. As professoras citaram vários tipos de valores dos mais diferentes contextos, 26,6% responderam apenas “valores” sem se aprofundar muito a respeito do que isso significa. Entretanto, algumas fizeram referências a valores específicos sem considerações mais profundas.

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Quadro 7 – Valores apresentados

Valores apresentados Frequência das Respostas %

“Valores” (4) 26,6%

“Respeito” (3) 20%

“Regras” (2) 13,3%6

“Amizade” (1) 6,6%

“Formação de Hábitos e Atitudes” (1) 6,6%

“Preconceito” (1) 6,6%

“Religião” (1) 6,6%

“Cidadania” (1) 6,6%

“Solidariedade” (1) 6,6%

TOTAL (15) 100%

As dificuldades encontradas em sala de aula dizem respeito à quarta pergunta. Nas respostas apresentadas pelos entrevistados é possível observar o despreparo dos professores para lidar com as dificuldades de aprendizagem apresentadas pelos alunos, caracterizando-se assim, uma visão linear a respeito do aprendizado. Entre as dificuldades apresentadas pelos entrevistados a maioria fez referência a aspectos mais amplos que contribuem para o desenvolvimento do processo educacional.

A omissão das famílias foi um fator bastante citado entre as respostas das entrevistas, as quais apresentam um total de 33,3%. Parece evidente que as famílias em sua maioria delegam a Escola um papel que originalmente seria de sua competência. Sobre esse fato Delors (2006) afirma que a família constitui o primeiro lugar de toda e qualquer educação e assegura, por isso, a ligação entre o afetivo e o cognitivo, assim como a transmissão de valores e das normas.

A segunda dificuldade mais citada foi a grande quantidade de alunos em sala de aula, questionada por 20% dos entrevistados. Este é um problema comum não apenas em Escolas públicas, como também em Escolas particulares.

Referências

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