rev bras ortop.2017;52(1):103–106
SOCIEDADE BRASILEIRA DE ORTOPEDIA E TRAUMATOLOGIA
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Relato
de
caso
Sutura
elástica
no
fechamento
de
fasciotomia
para
tratamento
de
síndrome
compartimental
associada
à
fratura
da
tíbia
夽
Paulo
Sergio
Martins
Castelo
Branco
∗,
Mauricio
Cardoso
Junior,
Isaac
Rotbande,
José
Antonio
Fraga
Ciraudo,
Celso
Ricardo
Correa
de
Melo
Silva
e
Paulo
Cesar
dos
Santos
Leal
CasadeSaúdeNossaSenhoradoCarmo,RiodeJaneiro,RJ,Brasil
informações
sobre
o
artigo
Históricodoartigo:
Recebidoem6deoutubrode2015 Aceitoem14dedezembrode2015 On-lineem5dejulhode2016
Palavras-chave: Fáscia/cirurgia Fraturasósseas Tíbia
Sutura/utilizac¸ão
r
e
s
u
m
o
Relata-se neste trabalho o usoda sutura elástica como adjuvante no fechamento de ferida cirúrgica provocada por fasciotomia descompressiva apóssíndrome do compar-timento associada a fratura exposta de tíbia. Muito usada em outras especialidades médico-cirúrgicas,atécnicanãoéhabitualemortopedia;entretanto,asimplicidadedo pro-cedimentoeoresultadosatisfatórioobservadonestecasopermitereputá-lacomoindicada parasituac¸õessimilaresàapresentadanestetrabalho.
©2016PublicadoporElsevierEditoraLtda.emnomedeSociedadeBrasileirade OrtopediaeTraumatologia.Este ´eumartigoOpenAccesssobumalicenc¸aCCBY-NC-ND (http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/).
Elastic
suture
(shoelace
technique)
for
fasciotomy
closure
after
treatment
of
compartmental
syndrome
associated
to
tibial
fracture
Keywords: Fascia/surgery Fractures Bone Tibia
Sutures/utilization
a
b
s
t
r
a
c
t
Thisarticlereportstheuseofelasticsutureasanadjuvantinsurgicalwoundclosure cau-sedbydecompressivefasciotomyaftercompartmentsyndromeassociatedwithatibial openfracture.Widelyusedinothermedico-surgicalspecialties,thistechniqueisunusual inorthopedicssurgery,but thesimplicityoftheprocedureandthesuccessfuloutcome observedinthiscaseallowsforitsconsiderationasindicatedforsituationssimilartothat presentedinthisstudy.
©2016PublishedbyElsevierEditoraLtda.onbehalfofSociedadeBrasileiradeOrtopedia eTraumatologia.ThisisanopenaccessarticleundertheCCBY-NC-NDlicense(http:// creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/).
夽
TrabalhodesenvolvidonaCasadeSaúdeNossaSenhoradoCarmo,RiodeJaneiro,RJ,Brasil.
∗ Autorparacorrespondência.
E-mail:p.castelobranco@ig.com.br(P.S.CasteloBranco). http://dx.doi.org/10.1016/j.rbo.2015.12.003
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rev bras ortop.2017;52(1):103–106Introduc¸ão
Asuturaelásticadeferidaspermitefechamentoprogressivo dalesão,abrangetodasassuascamadas,restauraaanatomia normalerestituitodasasfunc¸õesdecontenc¸ãoeresistência dosplanoscutâneos,semgerarnovosfatoresdemorbidade paraopaciente.Foiusadapelaprimeiravezparaaproximar osbordosdeumafasciotomiapós-síndromecompartimental emmembrosuperior.1
O objetivo deste trabalho foi relatar o uso da sutura elástica no fechamento de ferida cirúrgica de fasciotomia pós-síndromedocompartimentoempernacomfratura trau-máticaemterc¸oproximaldatíbiaefíbulaassociadasalesão vascular.
Relato
do
caso
Pacientemasculino,30anos,vítimadeatropelamentopor veí-culodepasseio,sofreufraturaexpostaemtíbiaefíbula,foram feitas alavagemmecanocirúrgica eafixac¸ãoexterna tran-sarticularentreofêmureatíbiaemumhospitalpúblicodo EstadodoRiode Janeiro efoitransferido emseguidapara nossoservic¸o.
Aoexameclínico-ortopédico,opacienteapresentavador branda,edema++++/4+,suturana faceanterior da perna, comperfusão capilarnormalepulsodedifícil palpac¸ãono membroacometido.Foramfeitasradiografiaspararotinade traumaedomembroinferior,bemcomotomografiado mem-bro lesionado. Os exames de imagem evidenciaramlesões apenasnaperna,comfraturamultifragmentardoterc¸o pro-ximaldatíbiaefíbulaalinhadas,estabilizadasemantidaspor fixadorexternotransarticular(fig.1).Osexameslaboratoriais demonstraramalterac¸õesemrelac¸ãoaosparâmetrosde nor-malidadeparaosseguintesitens:neutrófilos,9128;PCR34,4e CK3940.
Opacienteevoluiuemalgumashorascomdorprogressiva eintensa,quenãomelhoroucomusodeanalgésico,parestesia emháluxipsilateral,edemaepeletensaebrilhante,foifeitaa fasciotomiadescompressiva.Duranteoatocirúrgico verificou--serompimentodotroncotibiofibularefoifeitasualigadura. Nãohouvesuturadiretadafasciotomia,olocaldaincisãofoi protegidoporcurativosoclusivos(fig.2).Opacientefoilevado paraaunidadedetratamentointensivoparatratamentode rabdomiólise.
Solicitado parecer do servic¸o de cirurgia vascular, foi feitaarteriografiadomembro,queevidenciouinterrupc¸ãodo troncotibiofibularcompatívelcomhistóriadetrauma(fig.3), comenchimentodasartériastibialposteriorefibularporfluxo retrógrado.
Sete dias após a fasciotomia, o paciente apresentava a ferida limpa, sem sinais de infecc¸ão. Nessa oportunidade instalou-seosistemadesuturaelástica,comfioelásticopara cirurgiavascularfixadoàpelecomgramposmetálicos, apli-cadoscomgrampeadorcirúrgico,distante0,5cmdasbordas daincisão,iniciou-sepelovérticeproximalecontinuouem direc¸ãoao vérticedistal.O fiofoi fixadoa umdoslados e atravessouaincisãoparaserpresoaoladooposto,emuma sequênciaquelembraumziguezaguedaregiãoproximalaté
Figura1–a,radiografiasimplesemperfil;b,radiografia simplesemanteroposterior;c,tomografiaemperfil;d, tomografiaemanteroposterior.
adistal,comoshoelacetechnique.Apóssetediasobservou-sea aproximac¸ãototaldasbordasdaferida,quandoseretiraramo fioelásticoeosgramposmetálicosefez-seasuturadefinitiva comfiodenylon2-0(fig.4A-D).
O tratamento definitivo da fratura foi feitocom fixac¸ão externahibrida(fig.5).
Discussão
O reconhecimento da síndrome do compartimento nem sempreéfácil,poisaperfusãoperiféricaeospulsosarteriais geralmente estãomantidos, nãosãobons parâmetrospara suspeic¸ão clínica. Laboratorialmente ocorre aumento da creatina-quinase (CK), que indicamioglobinúriae sugereo diagnóstico.2 A fratura da diáfise da tíbia é uma das cau-sas mais frequentes de síndrome do compartimento.3 A reparac¸ãodessasferidascirúrgicas éfeita comenxertosou
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Figura3–Arteriografiaquemostralesãovascular.
grandesretalhosdepele,oquedeterminanovasferidas,que, porsuavez,tambémprecisamsertratadas.Essascondutas acompanham-se de dor, elevada incidência de infecc¸ões, retrac¸ão cicatricial, rejeic¸ãoeinsucessos.4 Asfraturas pro-ximais de tíbia apresentam maior risco para síndrome compartimental,5essacondic¸ãoéfavorecidaquandohálesão vascular,écaracterizadaporaumentodosníveispressóricos em regiões envolvidas por fáscias musculares inelásticas,
Figura5–Aspectodaferidaapós25diasdasuturaelástica.
altera a microcirculac¸ão local e compromete a viabilidade dostecidos.Asíndromecompartimentaléumaemergência ortopédicaquetemnafasciotomiadescompressivaorecurso terapêutico para contenc¸ão de danos e reduc¸ão de graves sequelas.6
Adorintensaéomaisprecoceachadoclínicoobjetivo7e nota-sepalpac¸ãodeaumentodapressãoefirmezano compar-timento.Agravidadeassocia-seàrapidezcomqueoaumento depressãoseestabelece,aotempoqueperduraeaograude comprometimentodamicrocirculac¸ãodetecidos.8
Aincisãodafasciotomiaporsisójárepresentaumdano ao paciente, além depotencializar infecc¸õeseaumentar o tempodeinternac¸ão.Diversosprocedimentosforam descri-tosparaofechamento dessetipo deincisão,com ousode diversostipos de materiais,referiu-seaté mesmoelásticos comuns,devidamenteesterilizadosparaaaproximac¸ãodas
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rev bras ortop.2017;52(1):103–106bordas da ferida cirúrgica, fixadosà peleadjacente à inci-sãoporpontoscirúrgicos comfiodesutura,determinaboa aproximac¸ãodasbordasdaferidaemapenascincodiasapós oprocedimento,comfechamentototaldapeleapós20dias dopós-operatório,semnecessidadedesuturasecundáriada pele.9 Nocaso emquestãoasuturaelásticafoieficazpara auxiliarofechamentodefinitivodaincisãoparafasciotomia, permitiuasuturasecundáriaedispensouousode autoenxer-tiacutânea,técnicaexequível,defácilmanejoebaixocusto. Existeassociac¸ãoentrefraturasdetíbiaeodesenvolvimento dasíndromecompartimental,énecessárioodiagnóstico dife-rencialapartirdoreconhecimentoprecocedossinaisedos sintomasparaainstituic¸ão deterapêuticaadequada,oque melhora o prognósticoe diminui o índicede morbidade.10 Ofechamentodefasciotomianapernacomusodematerial elásticona suturaé maisbarato econtribui para o menor tempodehospitalizac¸ão,quandocomparadacomatécnica avácuo.11
Conflitos
de
interesse
Osautoresdeclaramnãohaverconflitosdeinteresse.
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e
f
e
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n
c
i
a
s
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