REVISTA
BRASILEIRA
DE
ANESTESIOLOGIA
PublicaçãoOficialdaSociedadeBrasileiradeAnestesiologiawww.sba.com.br
ARTIGO
CIENTÍFICO
Efeito
de
doses
equipotentes
de
bupivacaína
e
ropivacaína
em
modelo
de
roedor
neonatal
alimentado
com
dieta
rica
em
gordura
Ying-Dong
Lian
a,
Zong-Xiang
Chen
a,
Kang-Ru
Zhu
b,
Shu-Yin
Sun
ae
Li-Ping
Zhu
b,∗aJiningNo.1People’sHospital,DepartmentofEmergency,Jining,China bJiningNo.1People’sHospital,DepartmentofPediatrics,Jining,China
Recebidoem2deabrilde2015;aceitoem17deagostode2015 DisponívelnaInternetem28desetembrode2016
PALAVRAS-CHAVE Bupivacaína; Ropivacaína; Anestesiaintratecal; Toxicidademedular; Obesidade
Resumo
Objetivos: Oaumentodaprevalência daobesidade éumproblemasério desaúdee econô-mico.Aobesidadetemsidorelatadacomoumdosprincipaiscontribuintesparaumavariedade de doenc¸as crônicas. A obesidade infantil tem aumentadonas últimas décadase levado a complicac¸õesdesaúde.Milhõesdebebêsecrianc¸assãosubmetidosacirurgiatodososanospor diversosmotivosdesaúde.Opresenteestudofoifeitoparaavaliaroefeitodaraquianestesia comdosesequipotentesderopivacaínaebupivacaínaemratosrecém-nascidoscomsobrepeso.
Métodos: AscriasderatosSprague-Dawleyforamalimentadasemexcessocomdietaricaem gorduraparainduzirobesidade.Avaliac¸õescomportamentaisparabloqueiosensorialemotor foramfeitaspormeiodaavaliac¸ãodaslatênciasderetiradatérmicasemecânicasemvários intervalosdetempoapósinjec¸õesporviaintratecaldebupivacaína(5,0mg·kg−1)eropivacaína (7,5mg·kg−1)emratosP14.Tecidomedularfoianalisadoparaapoptosepordeterminac¸ãoda caspase-3 ativada,comouso deanticorpo monoclonalanti-caspase 3ativadaeecolorac¸ão comFluoro-JadeC.Afunc¸ãodacolunavertebralemlongoprazoemfilhotesderatosP30foi
avaliada.
Resultados: Aexposic¸ãoàanestesiaintratecalemP14aumentouaslatênciastérmicase mecâ-nicaseobservamosaumentodaapoptose,comoapresentadopeloaumentodacaspase-3ativada ecélulaspositivasparaFluro-JadeC.Alterac¸õessignificativasdafunc¸ãodacolunavertebral foramobservadasem filhotesalimentadoscomdietaricaemgorduraversusfilhotes contro-lesnãoobesosemdietapadrão.Bupivacaínaproduziuefeitosapoptóticosmaispronunciados sobreosfilhotesP14;ropivacaína,entretanto,produziuefeitosduradouros,comoevidenciado nostestesdefunc¸ãomotoraemP30.
∗Autorparacorrespondência.
E-mail:zhuliping278@gmail.com(L.Zhu).
http://dx.doi.org/10.1016/j.bjan.2016.09.005
0034-7094/©2016SociedadeBrasileiradeAnestesiologia.PublicadoporElsevierEditoraLtda.Este ´eumartigoOpenAccesssobumalicenc¸a
Conclusão:Ropivacaína e bupivacaína induziram toxicidade medular mais pronunciada nos filhotesderatossobrealimentadosdoquenoscontrolesnormais.
©2016SociedadeBrasileiradeAnestesiologia.PublicadoporElsevierEditoraLtda.Este ´eum artigoOpen Accesssobumalicenc¸aCCBY-NC-ND( http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/).
KEYWORDS Bupivacaine; Ropivacaine; Intrathecal anesthesia; Spinaltoxicity; Obesity
Effectofequipotentdosesofbupivacaineandropivacaineinhigh-fatdietfed neonatalrodentmodel
Abstract
Objectives:Theincreaseintheprevalenceofobesitypresentsasignificanthealthandeconomic problem.Obesityhasbeenreportedtobeamajorcontributortovarietyofchronicdiseases. Childhoodobesityhasbeenrisingoverthepast decadesleadingtovarious complicationsin health.Millionsofinfantsandchildrenundergosurgeryeveryyearonvarioushealthgrounds. Thepresentinvestigationwasundertakentoevaluatetheeffectofspinalanesthesiaof equi-potentdosesofropivacaineandbupivacaineonover-weightneonatalrats.
Methods:TheSprague-Dawleyratpupswereoverfedonhighfatdiettoinduceobesity. Behavio-ralassessmentsforsensoryandmotorblockadewasmadebyevaluatingthermalandmechanical withdrawallatenciesatvarioustimeintervalsfollowingintrathecalinjectionsofbupivacaine (5.0mg·kg−1)andropivacaine(7.5mg·kg−1)inP14rats.Spinaltissuewasanalyzedfor apop-tosisbydeterminationofactivatedcaspase-3usingmonoclonalanti-activatedcaspase-3and Fluoro-JadeCstaining.Long-termspinalfunctioninP30ratpupswasevaluated.
Results:ExposuretointrathecalanesthesiainP14increasedthermalandmechanicallatencies andwas observedtoincreaseapoptosis aspresentedbyincrease inactivatedcaspase-3and Fluro-JadeC positive cells.Significant alterationsin spinal function were observed inhigh fatdiet-fedpupsasagainst non-obesecontrolpupsthatwereonstandarddiet.Bupivacaine producedmorepronouncedapoptoticeffectsonP14pups;ropivacainehoweverproducedlong lastingeffectsasevidencedinmotorfunctiontestsatP30.
Conclusion:Ropivacaineandbupivacaineinducedspinaltoxicitythatwasmorepronouncedin over-fedratpupsasagainstnormalcontrols.
©2016SociedadeBrasileiradeAnestesiologia.PublishedbyElsevierEditoraLtda.Thisisan openaccessarticleundertheCCBY-NC-NDlicense( http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/).
Introduc
¸ão
A obesidade infantil é um dos desafios de saúde pública maissériosdoséculoXXI.Aprevalênciadeobesidade
infan-til tem aumentado a um ritmo alarmante. A obesidade afetacerca de 1,5 bilhão de pessoas ao redor do mundo atualmente,1,2 das quais 200 milhões são crianc¸as.3 As
crianc¸asobesaseacimadopesotêmmaischancesde desen-volvercomplicac¸õesrelacionadasàobesidade.4,5
Relatou-se também que a obesidade está associada a várias condic¸ões cirúrgicas.6 As alterac¸ões fisiológicas na
obesidade afetam de modo significativo a distribuic¸ão, ligac¸ão e eliminac¸ão de anestésicos7---9 e reac¸ões
adver-sasgraves podem resultarse a dosagem domedicamento tiver como base apenas o peso corporal atual do paci-ente.
Aanestesia regional,como anestesia combinada raqui-periduralouintegrada peridurale anestesia geral leve, é frequentementeusadaempacientesobesosparareduziros riscosrelacionadosaocontroledasviasaéreaseàs depres-sõesrespiratóriasnopós-operatório quesãoinduzidaspor anestésicosgeraisouopiáceosadministradosparao trata-mentodador.10
Bupivacaína é usada como anestésico local e admi-nistrada em bloqueio de nervos, anestesia peridural e intratecale, comfrequência,éadministrada para contro-lar a dor antes, durante e depois de cirurgia da coluna vertebral.11Emboraamplamenteusadanocontroledador,
relatou-sequebupivacaínaécardiotóxica,neurotóxicaeo anestésico local mais miotóxico.12 Ropivacaína, um
anes-tésicolocaldogrupodasaminoamidas,é estruturalmente relacionadaàmepivacaínaebupivacaínaetem proprieda-desterapêuticas semelhantesàsdebupivacaína,masestá associadaamenosbloqueiomotoretoxicidade.13Em
estu-dos clínicos, ropivacaína parece ser adequada tanto para anestesiaregionalquantoperidural.14Opresenteestudofoi
feitopara avaliaros efeitos debupivacaínae ropivacaína emratosrecém-nascidoscomsobrepeso/obesos.
Material
e
métodos
Animais
Cuidadoscom Animais,e foi conduzido deacordocom as DiretrizesdoInstitutoNacionaldeSaúdeparaoUsode Ani-maisdeLaboratório.Usamos fêmeas grávidas deratos da rac¸a Sprague-Dawley (Guangdong Medical Laboratory Ani-malCo.,China),queforamalojadasemumambientecom ciclosde12horasdeclaro/escuro,comlivreacessoàágua. Osanimaisforamalojadosindividualmenteemgaiolas sepa-radasemonitoradosatentamenteparaodiadenascimento, quefoiconsideradocomoodia0pós-natal(P0).Osfilhotes (machos e fêmeas) foram mantidos em gaiolas em ambi-entecomciclosde12horasdeclaro/escuroelivreacesso à água, com seus companheiros de ninhada até o quinto dia (P5).A hiperalimentac¸ãoneonatalfoi feitapara indu-zirobesidadepormeiodareduc¸ãodotamanhodaninhada paratrêsfilhotesporninhada (ninhadareduzida---NR)em P6,enquanto asninhadaspadrão(NP)forampadronizadas para10filhotesporninhada.OsfilhotesNRtiveramacesso adietaricaemgorduradeP6aP21.Adietaricaemgordura foipreparadacommanteiga,leiteempó,farinhadetrigo eac¸úcaremproporc¸õesiguais.Osratosforamalimentados comumadietaricaemgordura(4g.dia---1),juntamentecom
rac¸ão padrão. Os animais tanto de NR (n=36) quanto de NP(n=36)foramcuidadosamentemonitorados.EmP14,os ratosforamagrupadosseparadamenteparaasexperiências. OsfilhotesdaNPparacontrole(NPC)nãoreceberam anes-tesiaeforamalimentadoscomdietanormal;osfilhotesda NRparacontrole(NRC)nãoreceberamanestesia,masforam alimentadoscomdietaricaemgordura.EmP14,osfilhotes dosgruposdetratamentoNPeNRreceberamadministrac¸ão intratecaldebupivacaína(NPBeNRB)ederopivacaína(NPR eNRR).EmP14,ospesoscorporaisdosfilhotesNPeNReram deaproximadamente23-28ge26-34g,respectivamente.
Injec¸õesintratecaisdebupivacaínaeropivacaína
Comosanimaisemdecúbitoventral,assoluc¸õesanestésicas foram injetadas por via intratecal no nível L4-L5 ou L5-L6,comumaseringade100L(agulhaespinhaldecalibre 26G,modelo801RN;HamiltonCompany,Bonaduz,Suíc¸a). A colocac¸ão intratecal daponta da agulhafoi confirmada pelomovimento deretrac¸ãodacauda.Umaconcentrac¸ão constantedebupivacaínafoiinjetadaemvolumesvariados, escalonadosparaopesocorporaldofilhoteaumadosede 5,0mg.kg---1 depeso corporal. Ropivacaína (7,5mg.kg---1 de
pesocorporal)foiadministrada.
Avaliac¸õescomportamentaisdosbloqueios
sensorialemotor
Osratos P14foram submetidosà mensurac¸ãode referên-ciadapata traseiraparaaslatências deretiradatérmica imediatamente antes da injec¸ão espinhal. O bloqueio da nocicepc¸ão térmica foi avaliado com um teste de placa quentemodificadocomodescritopreviamente.15,16Aspatas
traseirasdos ratosP14foramexpostasem sequência (pri-meiro a esquerda, depois a direita) a uma placa quente (modelo 39Ddeplaca quentemedidoradeanalgesia;IITC Inc.,WoodlandHills,CA,EUA)a52◦C.Otempo(latênciade
retiradatérmica)atéqueosratoslevantassemaspatasfoi medidocomumcronômetro.Após12segundos,apata tes-tadafoiremovidapeloexperimentadorparaevitarlesãoao
animalouodesenvolvimentodehiperalgesia.Essetestefoi repetidotrêsvezes(comumapausade10segundosentreos testes)paracadaratoemcadatempomensurado.As latên-ciasderetiradastérmicasforammedidasacada10minutos pornomínimo40minutosapósainjec¸ãointratecal.
Obloqueiodanocicepc¸ãomecânicafoiavaliadopela reti-radadapataposteriorcomousodefilamentosdevonFrey. OsfilamentosdevonFreyaplicampressãologaritmicamente crescente.Os filhotes foram levemente contidosem uma superfícieplanaeodispositivoeletrônicobemcalibradode filamentosdevonFrey(StoeltingCo.,WoodDale,IL,EUA), quedispensaestímulosmecânicoscrescentes,foiaplicado àsuperfíciedorsaldapatatraseiradosfilhotes,cincovezes comintervalosdeumsegundo.17Onúmeroderespostas
evo-cadasderetiradadapataparacadaestímulodeintensidade crescentefoiregistradoatéqueumdeterminadoestímulo evocassecincorespostasouatéqueumapressãodecorte supralimiarfosseatingida.17 Oslimiaresderetirada
mecâ-nicaforamregistradosnafasebasalecada10minutospor no mínimo 40 minutos após a injec¸ão intratecal e até a observac¸ão de recuperac¸ão total. Em ambos ostestes de retiradamecânicae térmicaosanimaisforam observados paraapossibilidadedeexibirbloqueiomotorsembloqueio sensorial,combasenaausênciademovimentodomembro posterior e vocalizac¸ão ousinais de respostas de fuga na partesuperiordocorpo.Issonãofoiobservadoemqualquer animal.
Odesempenhomotordasextremidadesfoiavaliadopor meiodeescore qualitativo.Para cada perna, senão hou-vesse movimento espontâneo ou evocado, a contribuic¸ão paraoescoreseria zero.Sehouvesseummovimento par-cial, a contribuic¸ão seria 1 e sehouvesse um movimento normal,acontribuic¸ãoparaoescoreseria2.Dessaforma, aosomarosvaloresparaambasaspernas,oescorepoderia variarde0(bloqueiocompleto)a4(normal).
Comportamentomotorno30◦diapós-natal
Ocomprometimentomotor foi avaliadoem ratos P30que haviamsidosubmetidosainjec¸õesespinhaisdebupivacaína ouropivacaína em P14. Esses ratos foramsubmetidos ao testerotarod(DualSpeciesEconomexRotarod---Columbus Instruments,Columbus,OH,EUA),comumeixorotativoa 10rotac¸õesporminuto.18 Cadaratofoitestadotrêsvezes
comintervalosde10minutosentrecadaavaliac¸ão.A latên-ciamáximaparacadaensaiofoide300segundosantesda remoc¸ãodoeixo.Amédiadastrêsavaliac¸õesfoiusadapara aanálisedosdados.
Eutanásiaeperfusão
Os animais foram sacrificados com injec¸ão intraperito-neal de pentobarbital sódico (100mg.kg---1) e perfundidos
transcardialmentecom soluc¸ão salinaseguida de parafor-maldeídoa 4% seis horas após o término dos períodos de tratamento. Os grupos submetidos à raquianestesia com bupivacaína ou ropivacaína foram perfundidos seis horas apóso início daintervenc¸ão anestésica.Após a dissecc¸ão cuidadosadamedula espinal, ostecidos foram armazena-dosduranteanoitea4◦Cemparaformaldeídoa4%e,em
4◦Catéoseccionamento.Assecc¸õestransversaisdaespinal
medulalombossacral(7e14m)foramfatiadascomouso decriostato,fixadasemlâminasearmazenadasa30◦C.
Análisedecaspase-3ativada
Para avaliar a apoptose, o tecido espinal obtido dos ani-maisP14seishoras apósainjec¸ãointratecaldaanestesia foicoradoparaacaspase-3ativada.Aslâminasforam incu-badasdurante10minutosemperoxidasea3%,bloqueadas comTriton X-100 a0,3% e soro normal de cabraa 5% em
soluc¸ão salinatamponadacomTrisporumahoraem tem-peratura ambiente, seguido de incubac¸ão com anticorpo monoclonal de coelho anticaspase-3 ativada (1:100; Cell Signaling,Danvers, MA,EUA) duranteanoite a4◦C.
Anti-corpo secundário biotinilado de cabra anticoelho (Vector Laboratories,Burlingame,CA,EUA)foiaplicadoa1:250por 30 minutos em temperatura ambiente. As lâminas foram adicionalmenteincubadascomcomplexode avidina-biotina--peroxidase (Vector Laboratories, Burlingame, CA) por 30 minutosedesenvolvidas com3,3’-diaminobenzidina (DAB) poroitominutos.Aslâminasforamcontrastadascom hema-toxilina,desidratadaseavaliadas.
Colorac¸ãocomFluoro-JadeC
Colorac¸ãocomFluoro-JadeCfoifeitaemsec¸õesde14m damedula espinhal,que foramobtidas seis horas após a injec¸ãointratecal.Acolorac¸ãofoifeitacomousodokitde colorac¸ão com Fluoro-Jade C (Biosensis, EUA), de acordo com as instruc¸ões do fabricante. As células com imuno-fluorescênciapositiva para Fluoro-Jade C foram contadas sobmicroscopiadefluorescênciacomcomprimentodeonda apropriado.
Análiseestatística
Os dados foram expressos em média±DP a partir de no mínimoseisexperiênciasindependentes.Anova(análisede variânciasimples)comp<0,05foiconsiderada estatistica-mentesignificativa.Asanálisesestatísticasforamfeitascom osoftwareSPSS(versão17.0).
Resultados
Respostasdosanimaisaestímulostérmicos
As latências de retirada térmica da pata traseira foram determinadas para os ratos P14 (fig. 1B) dos gru-pos que receberam bupivacaína e ropivacaína. As doses tanto de bupivacaína(0,5mg.kg---1)quanto de ropivacaína
(0,75mg.kg---1)produziram densobloqueionociceptivo
tér-micona primeiraavaliac¸ão10minutosapósainjec¸ão,em comparac¸ãocomoscontroles,epermaneceramdensasaos 20minutos. Aos30 minutos,as latências deretirada tér-micapermaneceram significativamentemaiores doque os valoresde controle no grupo ropivacaína em comparac¸ão combupivacaína.Noentanto,aslatênciasderetirada tér-micadogrupobupivacaínapermanecerammaiselevadasdo que as do grupo controle aos 30 e 40 minutos (fig. 1A).
20
15
10
5
0
25
20
15
10
5
Latência térmica (s)
Latência térmica (s)
0
Basal 10 min 20 min
Tempo após raquianestesia
30 min 40 min Basal 10 min 20 min
Tempo após raquianestesia
30 min 40 min
Controle Bupivacaína Ropivacaína
∗
∗
∗
∗
∗
∗
∗
∗
∗
∗
∗
∗
∗
∗
∗
A
B
Figura 1 (A)Latência térmicaem filhotes de ratosP14 de ninhadapadrãoapósraquianestesia.(B)Latênciatérmicaem filhotesderatosP14deninhadareduzidaapósraquianestesia. Osvaloresforamexpressosemmédia±DP(n=6).*Representa significânciaestatísticaemp<0,05,emcomparac¸ãocom con-troles,determinadoporAnova.
Observamos que aslatências foramacentuadamente mai-oresnosfilhotescomsobrepesoquereceberambupivacaína ou ropivacaína do que nos filhotes que não foram hiperalimentados. Os filhotes controles com sobrepeso apresentaram latências mais elevadas do que os filhotes controlesnormais(fig.1B).
Respostaaestímulosmecânicos
Asfiguras2Ae2Bmostramasrespostasderetiradaaos fila-mentosdevonFreyaplicadosàspatasposterioresdosratos P14que receberam bupivacaínae ropivacaína. Osvalores doslimiarespermanecerammaiselevadosapósasinjec¸ões intratecais,comparadoscomosdecontrole.Olimiaratingiu omáximo entre5-20minutosapósasinjec¸õesemfilhotes quereceberamropivacaínaebupivacaína.Nosfilhotes hipe-ralimentadosolimiarpermaneceusuperioraodoscontroles aos30-40minutos,emcomparac¸ãocomosfilhotesderatos NPBeNPR.
Escoresdebloqueiomotor
Os escores de bloqueio motor são apresentados na
Tempo após raquianestesia (min)
Controle Bupivacaína Ropivacaína
80
60
40
Limiar de retirada da pata (g)
20
0
0 10 20 30 40
Tempo após raquianestesia (min)
0 10 20 30 40
80
60
40
Limiar de retirada da pata (g)
20
0
∗
∗
∗
∗
∗
∗
∗
∗ ∗
∗
∗ ∗
∗
∗
∗
∗
A
B
Figura 2 (A) Limiar de resposta de retirada da pata em filhotesde ratosP14de ninhadapadrão apósraquianestesia, determinado como uso de filamentos de von Frey. (B) Pata retirada.Limiar de respostade retirada dapata em filhotes deratosP14 deninhadareduzida apósraquianestesia, deter-minadocomousodefilamentosdevonFrey.Osvaloresforam expressosemmédia±DP(n=6).*Representasignificância esta-tísticaemp<0,05,emcomparac¸ãocomcontroles,determinado porAnova.
Tabela 1 Resposta motora dos membros posteriores de ratosP14apósraquianestesia
RGrupos Tempo(min)
0 5 10 20 30 40 50
NPC 4 4 4 4 4 4 4
NPB 0 0 0 2 2 4 4
NPR 0 0 0 1 2 4 4
NRC 4 4 4 4 4 4 4
NRB 0 0 0 0 2 2 4
NRR 0 0 0 0 1 1 2
Valoresexpressosemmédia,n=6.
Osescoresforamde0-4pontos,combasenasomadas
conta-gensparaosladosdireitoeesquerdo.
O escore para cada perna, 0=sem movimento,
1=comprometimentoparciale2=movimentototal.
NPB, filhotes deninhada padrãoquereceberambupivacaína;
NPC,filhotes de ninhada padrão paracontrole; NPR,filhotes
de ninhada padrãoque receberamropivacaína; NRB,filhotes
deninhadareduzidaquereceberambupivacaína;NRC,filhotes
de ninhada reduzida paracontrole; NRR,filhotes deninhada
reduzidaquereceberamropivacaína.
300
200
100
0
Latência de queda (s)
Ninhada padrão
Grupos experimentais
Ninhada reduzida
Controle Bupivacaína Ropivacaína
Figura3 Latênciade quedados filhotesderatos P30após
raquianestesia em P14. Os foram expressos em média±DP
(n=6).
quasecompletamenteaos40minutos.Enquantoosanimais NR quereceberam injec¸ões intratecais apresentaram blo-queiosemNRReNRBmesmoaos40minutos.OsfilhotesNRR eNPRapresentarambloqueiomotor superiorao dos filho-tesNRBeNPB,respectivamente,aos40minutos(tabela1). Osanimaiscontrolesquenãoreceberamanestesia respon-deramaopinc¸amentodapeledascostascomespasmosde sustoeexibiramcomportamentodefuga.Todososanimais quereceberaminjec¸õesespinhaisdebupivacaínae ropiva-caínanãoexibiramrespostacomportamentalaopinc¸amento dapeledascostasnosníveislombaretorácicoinferior,mas exibiramleve comportamentode retirada ao pinc¸amento nos níveis torácico superior e nas patas dianteiras 10-15 minutosapós asinjec¸ões. Osanimaisdos grupos NP e NR que receberam bupivacaína ou ropivacaína apresentaram respostassemelhantesaopinc¸amento.
Desempenhomotoremratosadultoscom
exposic¸ãoanestésicapós-natal
Os ratos P30 que foram expostos a injec¸ões intratecais deropivacaínae bupivacaínaem P14foramtestadospara o desempenho motor com o uso do teste rotarod. As diferenc¸asobservadasentreosgruposnãoforam significati-vas,emboraogrupocontrolequenãorecebeuropivacaína oubupivacaínatenhaapresentadovaloresmaiselevadosque osoutrosgrupos(fig.3).
Caspase-3clivadaecolorac¸ãocomFluoro-JadeC
paraneurodegenerac¸ãoapoptótica
300
200
100
0
Ninhada padrão
Células positivas para Fluoro-Jade C por mm
2
Grupos experimentais
Ninhada reduzida
Controle Bupivacaína Ropivacaína
∗ ∗
∗ ∗
Figura4 CélulaspositivasparaFluoro-JadeCemsecc¸õesda espinalmeduladefilhotesderatosP14apósraquianestesia.Os foramexpressosemmédia±DP(n=6).*Representa significân-ciaestatísticaemp<0,05,emcomparac¸ãocomseusrespectivos controles,determinadoporAnova.
Discussão
Osanestésicosinduzemumestadodeinconsciênciapara evi-taradoreasensibilidadeemilhõesdecrianc¸astodososanos sãoexpostasàanestesiacomopartedeseusatendimentos médicos.Noentanto,aseguranc¸adaanestesianapopulac¸ão pediátricaéummotivodepreocupac¸ãoeestudos retrospec-tivosanterioresrelataramumacorrelac¸ãoentreexposic¸ão àanestesiaedificuldadesdeaprendizagem.19,20Alémdisso,
váriosmodelosanimaismostraramqueaexposic¸ãoprecoce aanestésicosresultaemdéficitscomportamentais significa-tivosemlongoprazo.21---23
Bupivacaína é umanestésico comumenteusadopara o controle da dor em cirurgias para dores lombares e da colunavertebral.Bupivacaína liga-sea íonssódio intrace-lularesebloqueiaoinfluxodesódioemcélulasnervosas,o queimpedeadespolarizac¸ão.Alémdisso,bupivacaína tam-bémé umpotente desacopladorda fosforilac¸ão oxidativa mitocondriale,portanto,podeinduzirapoptose.24Defato,
umestudoanteriordemonstrou queumafrac¸ão damorte celularcausadaporbupivacaínaévia apoptose,emborao mecanismoprincipalseja vianecrose.25 Ropivacaína é um
anestésicolocal de ac¸ão prolongada com estrutura seme-lhante à de bupivacaína. Em geral, ropivacaína foi bem toleradaempacientespediátricoscomentreummêse15 anos,independentemente davia deadministrac¸ão.A inci-dênciaglobaldeeventosadversosassociadosàropivacaína parece serbaixa. Náusea e/ou vômito ocorrem com mais frequência.26
Uma das propriedades importantes de um anestésico localdeac¸ão prolongadaé inibiros impulsosnervososde modoreversívele causar,assim, oprolongamentodo blo-queio sensorial oumotor apropriado para a anestesia em diferentestipos decirurgias.27 Osresultados daavaliac¸ão
dosbloqueios motor e sensorialem filhotes deratos após anestesiaintratecalcomropivacaína oubupivacaína suge-remqueropivacaínainduziubloqueiossensitivoemotorpor tempomaiordoquebupivacaína.Descobrimostambémque o peso do animal influenciou o grau de bloqueio motor e sensorial.Osfilhoteshiperalimentadoscomobesidadeleve exibiram latências térmicas e mecânicas maiores do que osfilhotesalimentadosnormalmentesubmetidosàinjec¸ão
intratecal.Noentanto,observamosqueainfluênciadopeso não interferiu no desempenho motor dos ratos em P30. Osresultadosdostestesrotarodsugeriram quenãohouve variac¸õessignificativas nodesempenho dos ratos entreos váriosgrupos.Observamostambémqueaslatências térmi-casemecânicasdesapareceramaos40-50minutosapósas injec¸ões.
Estudos anteriores investigaram os efeitos da obesi-dade sobre a anestesia espinal, mas os resultados não foram consistentes.28---35 Os resultadosobservadosdiferem
deacordocomabaricidadedosanestésicoslocaisetambém deacordocomaescolhavariávelparaacomparac¸ãoentre pacientesobesosenãoobesos.Estudosrelataramcorrelac¸ão positivaentreobesidadeeníveldebloqueiosensorial.28---31,35
Portanto,emnossoestudoasalterac¸õesnosbloqueioseos níveisdeapoptosesugeremrelac¸ãopositivaentreobesidade ebloqueiossensoriais.EmboraosanimaisdogrupoNRnão tenhamsidodesignadoscomoobesos,adiferenc¸adepeso entreosgruposNPinfluenciaramatécertopontoos resulta-dosdosbloqueiosapósaanestesia.Asdosesequipotentesde ropivacaínaebupivacaínaapresentaramvariac¸õesna inten-sidadeedurac¸ãodosbloqueiosentreNReNP.Entretanto, ropivacaínanãocausougrandesalterac¸õesentreosgrupos. Osefeitosneurotóxicosdebupivacaínaeropivacaínaforam relatadosemratosrecém-nascidos;porém,emnossoestudo emP30nãoobservamosalterac¸õessignificativasno desem-penho dos filhotes tanto deNR quanto de NP. Issosugere queosmedicamentosnãoprovocaramalterac¸õesemlongo prazo.
O efeito neurotóxico dos anestésicos locais sobre a medulaespinalfoiextensivamenteestudadoemratos adul-tos.Bupivacaínaparecenãosertóxicaparaamedulaespinal emratosmaisvelhos,emborahajarelatodequea aneste-sia geral induziuneurodegenerac¸ão apoptóticana medula espinhalderatorecém-nascido.18
Acaspase-3 clivadaserve comoummarcadorde apop-tose para detectaro desenvolvimentodeneurotoxicidade induzida por anestésicos. Nossas observac¸ões em ratos recém-nascidos demonstraram que a administrac¸ão intra-tecal de bupivacaína e ropivacaína teveum perfilsimilar deimpactomorfológicoeapoptótico.Onúmerodecélulas apoptóticas foi maior do que o dos controles. Bupiva-caína, entretanto, induziu níveis muito mais elevados de célulaspositivasparacaspase-3doqueropivacaína.A exten-sãoda neurodegenerac¸ãomedida com o usodo marcador Fluoro-Jade C também foi consistente com os resultados anteriores.OnúmerodecélulaspositivasparaFluoro-Jade Cnassecc¸õesdacolunavertebraldosratosP14apósa anes-tesiaespinhalfoiacentuadamentemaiselevadodoquenos filhotes controles.Osresultadossugeremque bupivacaína foimaisneurotóxicadoque ropivacaínaequeopeso cor-poralinfluenciou/influenciaaextensãodaneurotoxicidade e apoptose.Embora ropivacaína tenha mostrado produzir bloqueios mais prolongados, essefármaco induziualguma toxicidadeneuronal.
A
B
C
D
B
A
300
200
100
0 Células positivas para caspase-3 por mm
2
Ninhada padrão
Grupos experimentais
Ninhada reduzida
F
E
Controle Bupivacaína Ropivacaína
∗
∗
∗
∗
Conflitos
de
interesse
Osautoresdeclaramnãohaverconflitosdeinteresse.
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