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– PósGraduação em Letras Neolatinas

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S ESTRATÉGIAS DE

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ETOMADA DO

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BJETO

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IRETO NO ESPANHOL

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ARAGUAIO

Priscila Gomes Santos

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S ESTRATÉGIAS DE

R

ETOMADA DO

O

BJETO

D

IRETO NO ESPANHOL

P

ARAGUAIO

Priscila Gomes Santos

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Letras Neolatinas da Universidade Federal do Rio de Janeiro como requisito para a obtenção do título de Mestre em Letras Neolatinas (Língua Espanhola).

Orientador: Profª. Drª. Maria Mercedes Riveiro Quintans Sebold.

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Estratégias de retomada do objeto direto no espanhol paraguaio

PRISCILA GOMES SANTOS

ORIENTADORA:Profª. Drª. Maria Mercedes Riveiro Quintans Sebold

Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-Graduação em Letras Neolatinas da Universidade Federal do Rio de Janeiro como requisito para a obtenção do título de Mestre em Letras Neolatinas (Língua Espanhola).

Examinada por:

Presidente, Profª. Drª. Maria Mercedes Riveiro Quintans Sebold (UFRJ)

Profª. Drª. Maria Aurora Consuelo Alfaro Lagorio (UFRJ)

Profª. Drª. Viviane Conceição Antunes Lima (UFRRJ)

Profª. Dr°. Pierre François Georges Guisan (UFRJ) – suplente

Profº. Drª. Adriana Leitão Martins (UFRJ) – suplente

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Santos, Priscila Gomes.

A282e Estratégia de retomada do objeto direto no espanhol paraguaio / Priscila Gomes Santos.

– Rio de Janeiro: UFRJ, 2013.

xxxiii, 100f.:il.; 31cm.

Orientadora: Maria Mercedes Riveiro Quintans Sebold

Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Faculdade de Letras, Departamento de Letras Neolatinas, 2013.

Bibliografias: f. 87-90.

1. Língua Espanhola – Línguas em contato – Rio de Janeiro. 2. Língua Espanhola –

Gramática Gerativa 3. Variação. 4. Clíticos. 5. Paraguai. I. Sebold, Maria Mercedes Riveiro Quintans. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro. III. Título.

Rio de Janeiro Fevereiro de 2013

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Agradecimentos

Cursar o mestrado e escrever uma dissertação seria uma tarefa bem fácil se não tivéssemos outras “vidas” além da acadêmica, pois esta nos consome boa parte do tempo, do humor e outros afins...

Não creio que eu seja a única pessoa a passar por isso, mas tenho certeza que sou a única com pessoas incríveis em todos os âmbitos da minha vida e que merecem ter meus sinceros agradecimentos eternizados nestas páginas que, de alguma forma, têm o “dedo” de cada um de vocês.

Começo por agradecer a Deus, pois sem a sua permissão nada disso seria possível e também a minha família, Mãe, Pai, Padrasto e Irmã, cada um ao seu modo me impulsionou ao longo da minha vida.

Aos amigos que sempre estão presentes quando é preciso:

Bia, meu anjo desde a graduação, que segundo tia Dorinha é minha prima! Obrigada pelo carinho, compreensão, apoio desde sempre e por toda revisão e sugestão, seja nos textos ou na vida. Seria injusto de minha parte falar só da Bia, pois sua família é de igual valor para mim: tia Carminha e tio Zildo, obrigada pela acolhida de sempre, assim como os miojos...

Liz – minha grande surpresa e presente que ganhei enquanto me preparava para a seleção do mestrado –, pessoa ímpar, que por vezes atuou segundo à minha necessidade do momento... meu Überich. Peço a Deus que seja uma pessoa para a vida inteira. Meu reforço positivo, motivadora tanto do meu desenvolvimento pessoal, quanto do profissional, que por vezes acredita mais no meu êxito do que eu mesma.

Diego, meu grande amigo! Porém, nem sempre foi assim. No início da graduação, não éramos muito próximos, mas ainda bem que tudo mudou!!! Companheiro de compras no PY, incentivador da minha biblioteca Chomskyana e a voz sensata que surge quando é preciso. Assim como a Marina que tem sido uma ótima amiga e motivadora, principalmente, nessa reta final.

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o dela. Recebe sms menos de 15hs antes de uma apresentação sua e está lá no dia seguinte, antes mesmo de você chegar, esperando para ver sua apresentação.

Imara, Pitty e Robert, pessoas por quem possuo grande apreço pelo carinho e amizade, pelas discussões teórico-filosóficas, pela bobeira, pelas gargalhadas e alegrias compartilhadas. Por serem meus braços quando o meu estava imobilizado e, principalmente, por não me deixarem à minha própria sorte em relação aos meus dotes culinários. São os melhores vizinhos que alguém pode ter!

Não poderia deixar de registrar meus agradecimentos a dois seres fantásticos: D. Lígia e Lara, que fizeram com que a escrita de algumas partes fossem bem mais suaves e meus momentos mais alegres.

Carol Parrini e Flavia Paixão, assim como o Diego, foram revelações muitos boas e importantes. Tivemos idas e vindas, mas no final sempre estamos perto. Tanto em parcerias e descobertas em eventos acadêmicos, mas, principalmente, na vida como um todo, seja via e-mail, chat ou facebook. A distância não se apresenta como empecilho.

Aos amigos Thais Neves, Bruno Alberto, Leonardo Marcotulio, Mayara, Thamara e outros, que por ventura, não tiveram seus nomes mencionados aqui, mas que fizeram parte deste momento.

À Guaraciara Coutinho, por ter me ajudado a manter a sanidade!rs durante o processo, as conversas sempre interessantes e o humor refinado.

À minha orientadora, Maria Mercedes Sebold, por ter me deixado caminhar com minhas próprias pernas ao longo do curso.

Ao longo da graduação, tive o prazer de conhecer e estudar com professores excelentes, porém menciono aqui (correndo o risco de ser injusta) professores que foram importantes tanto na graduação, quanto agora no mestrado.

Às professoras Dinah Callou e Silvia Cavalcante, pelas conversas, tira-dúvidas e materiais fornecidos que foram de importância vital para a pesquisa.

À professora Cláudia Luna, pelos ensinamentos literários, pelos ouvidos atentos às apresentações do meu projeto, pela paciência e carinho dispensados da graduação até ao mestrado.

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8

Ao professor Humberto Menezes, minha introdução aos estudos gerativistas,

sempre muito atencioso e paciente e assim foi o meu primeiro contato com a gerativa, bem agradável.

Saindo da linguística e indo para língua espanhola (minha paixão), tenho duas referências. A primeira é a professora Leticia Rebollo, por quem eu tenho muito respeito e carinho. O 5º período da graduação foi perfeito, pois estudei fonética da língua espanhola com ela, uma professora que me fascinava pelo seu conhecimento e empenho nas aulas. Muito obrigada pela oportunidade que me deu ao me convidar para fazer iniciação científica. Fez-me crescer como pessoa e como pesquisadora.

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SINOPSE

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Resumo

ESTRATÉGIAS DE RETOMADA DO OBJETO DIRETO NO ESPANHOL PARAGUAIO

Priscila Gomes Santos

Orientadora: Maria Mercedes Riveiro Quintans Sebold

SANTOS, Priscila Gomes. Estratégias de retomada do objeto direto no espanhol paraguaio. Rio de Janeiro, 2013. Dissertação (Mestrado em Língua Espanhola) – Faculdade de Letras, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2013.

Esta pesquisa sobre o clítico acusativo no espanhol paraguaio (EPA) é um estudo de cunho

gerativista que busca observar e descrever o comportamento do clítico de 3ª pessoa a partir

dos contextos e condições sintáticas das diferentes retomadas do objeto direto no espanhol

do Paraguai. Para isso, fez-se uma pesquisa de campo em busca de um corpus específico a fim

de verificar as estratégias de retomada do objeto direto, descrevê-las e apontar uma possível

causa interna para as diferentes estratégias utilizadas pelos falantes da variedade paraguaia

do espanhol. O corpus foi montado a partir de testes de compreensão e produção escrita, além

de dados coletados a partir de entrevista oral. Além disso, foram aplicados mais dois (02)

tipos de testes: de compreensão e de produção escrita –online e presencial. Para a análise do corpus, foi utilizada a Teoria de Variação e Mudança associada aos pressupostos da

Gramática Gerativa. Codificaram-se os dados segundo as variáveis dependente e

independente preestabelecidas de acordo com as hipóteses suscitadas pelo estudo e,

posteriormente, os dados foram processados pelo programa de análise estatística

multifatorial Goldvarb X. A análise empregada permitiu observar e descrever

comportamentos da variedade linguística aqui estudada e que não tinham sido tratados até

o momento na variedade do espanhol do Paraguai. Os resultados indicam que talvez o clítico

nesta variedade do espanhol tenha o traço [-sintático] e [+morfológico] possibilitando as

diferente estratégia de retomadas.

Palavras-chave: Espanhol paraguaio, Línguas em contato, Clítico, Teoria de Variação e Mudança.

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Resumen

ESTRATÉGIAS DE RETOMADA DEL OBJETO DIRECTO EN EL ESPAÑOL PARAGUAYO

Priscila Gomes Santos

Orientadora: Maria Mercedes Riveiro Quintans Sebold

SANTOS, Priscila Gomes. Estratégias de retomada do objeto direto no espanhol paraguaio. Rio de Janeiro, 2013. Dissertação (Mestrado em Língua Espanhola) – Faculdade de Letras, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2013.

Esta investigación del clítico acusativo en el español paraguayo (EPA) es un estudio de cuño generativista, que busca observar y describir el comportamiento del clítico de 3ª persona a partir de los contextos y condiciones sintácticas de las distintas retomadas del objeto directo en el español de Paraguay. Para ello se hizo una investigación de campo buscando un corpus específico, con el fin de verificar las estrategias de retomada del objeto directo, describirlas y apuntar una posible causa interna para las diferentes estrategias utilizadas por los hablantes de la variedad paraguaya del español. El corpus se elaboró a partir de test de comprensión y producción escrita. Los testes aplicados fueron de dos tipos: de comprensión y producción escrita – obtenidos presencialmente y online. Para el análisis del corpus se utilizó la Teoría de Variación y Cambio asociada a los presupuestos de la Gramática Generativa. Los datos se codificaron según las variables dependiente e independiente preestablecidas de acuerdo con las hipótesis suscitadas por el estudio y, posteriormente, los datos se procesaron por el programa de análisis estadístico multifactorial Goldvarb X. El análisis empleado permitió observar y describir el comportamiento de la variedad lingüística estudiada y que todavía no había sido tratada. Los resultados indican que quizás el clítico en esta variedad del español tenga el rasgo [-sintáctico] e [+morfológico] posibilitando las distintas estrategias de retomadas del objeto directo.

Palabras clave: español paraguayo, Lenguas en contacto, Clítico, Teoría de Variación y Cambio.

(13)

Abstract

STRATEGIES RETAKE DIRECT OBJECT IN PARAGUAYAN SPANISH

Priscila Gomes Santos

Orientadora: Maria Mercedes Riveiro Quintans Sebold

SANTOS, Priscila Gomes. Estratégias de retomada do objeto direto no espanhol paraguaio. Rio de Janeiro, 2013. Dissertação (Mestrado em Língua Espanhola) – Faculdade de Letras, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2013.

This research on the accusative clitic in Paraguayan Spanish (EPA) is a generative nature study that focus on observing and describing the behaviour of the 3rd person clitic based on context and syntactic conditions in the different retakes of the direct object in Paraguayan Spanish. In this regard, field research was held in search of a specific corpus

in order to verify direct object retake strategies, describe them, and indicate a possible internal cause for the use of different strategies observed on Paraguayan Spanish native speakers. The corpus was set up according to comprehension and writing tests, as well as data collected from oral interview. Furthermore, two (02) more types of tests were applied: in person and online comprehension and writing. The corpus was analyzed by using the Variation and Change Theory, in association with Generative Grammar assumptions. All data were decoded according to the dependent and independent variables, pre-established according to hypotheses raised by this study and, subsequently, processed by multifactorial statistical analysis program Goldvarb X. The adopted method allowed observing and describing the presently studied linguistic variety behaviors never discussed before.

Keywords: Paraguayan Spanish, Language in contact, Clitic, Variation and Change Theory.

Rio de Janeiro

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14

Sumário

Capítulo 1 – A Gramática Gerativa e a Variação Linguística

1.1 A Gramática Gerativa (GG): uma teoria mentalista ... 19

1.2 Noções centrais da teoria gerativa ... 21

1.3 Momentos da teoria ... 22

1.3.1 O modelo da teoria de Princípios & Parâmetros (P&P) ... 23

1.3.2 O Programa Minimalista (PM) ... 24

1.4 Mudança e Variação linguística na GG ... 26

Capítulo 2 – Línguas em contato 2.1 A República do Paraguai ... 29

2.2 Línguas em contato: Uma discussão ... 32

2.3 Bilinguismo ... 35

2.4 Bilinguismo no Paraguai (PY) ... 36

2.5 Contato Espanhol/Guarani ... 38

Capítulo 3 – Os clíticos 3.1 O pronome clítico ... 40

3.2 O sistema pronominal ... 42

3.3 O sistema pronominal do espanhol paraguaio ... 44

3.4 Os pronomes clíticos de terceira pessoa ... 45

3.5 Estratégias de retomada do objeto direto anafórico ... 46

3.6 Apagamento do objeto direto ... 47

3.7 Tipos de objeto nulo ... 50

3.8 Estratégias de retomada do clítico acusativo descritas para o EPA ... 51

Capítulo 4 – Metodologia Capítulo 5 – Descrição e análise dos dados 5.1. Estratégias de retomada: rodada geral ... 61

5.2. Rodada específica: estratégias de retomada ... 64

(15)

5.4. Sujeito na oração que contém ODA ... 69

5.5. Distância do antecedente ... 72

5.6. Traço semântico do antecedente ... 75

5.7. Referência do antecedente ... 77

5.8. Posição do antecedente ... 81

Capítulo 6 – Considerações Finais

Referências bilbiográficas

(16)

16

0.

Introdução

Esta dissertação faz um estudo das estratégias de retomada do objeto direto

no espanhol paraguaio. O Paraguai vivencia uma situação de contato linguístico

entre o espanhol e a língua guarani, bem peculiar, pois a língua guarani tem status

de co-oficial, ao contrário das outras línguas indígenas em situação de contato com

o espanhol na América Latina.

Cabe ressaltar que cada situação de contato é única e produz fenômenos de

naturezas diferentes. Logo, só a situação de contato não seria a única causa do

fenômeno, causa essa externa à língua, mas também parece haver uma causa

interna implicando no apagamento. Para observação preliminar da realização do

fenômeno proposto para estudo, foi utilizada uma amostra do corpus, coletado e

compilado especificamente para a dissertação. Os dados foram codificados

segundo as variáveis dependente e independente pré-estabelecidas de acordo com

as hipóteses suscitadas pelo estudo. Posteriormente, os dados foram processados

pelo programa de análise estatística multifatorial Goldvarb X. A partir dos dados

levantados até o momento, há indícios de que um dos traços distintivos da

variedade paraguaia, no que diz respeito às possibilidades de retomada do objeto

direto [-animado] – não humano –, é o caráter [+morfológico] e [–sintático] que o

clítico assume nesta variedade do espanhol.

O interesse por este tema justifica-se pela necessidade de apresentar o

estado atual do fenômeno linguístico de uma variedade do espanhol, bem como

analisar a variação e descrever os contextos de ocorrência de omissão do objeto

direto no EPA com a intenção de contribuir para estudos linguísticos em língua

espanhola. Este estudo pretende observar e descrever o comportamento do clítico

de 3ª pessoa a partir dos contextos e condições sintáticas das retomadas do objeto

direto no espanhol do Paraguai.

O trabalho se justifica pelo fato de que uma das estratégias de retomada

(17)

anafórica, não está disponível em outras variedades do espanhol. No entanto, tal

estratégia aproxima a variedade Paraguai do português brasileiro.

As perguntas norteadoras deste estudo foram qual o status gramatical do

clítico na variante paraguaia da língua espanhola? E qual possibilidade do

apagamento do clítico de acusativo estar ligado às propriedades da sentença?

Algumas das hipóteses levantadas para entender a natureza deste clítico –

que pode ser retomado pelas estratégia de retomada pelo clítico, estratégia de

retomada por SN e estratégia de retomada por apagamento –já haviam sido

propostas para o português brasileiro, como por exemplo: a hipótese da distância

do antecedente, a hipótese de referencialidade do antecedente, animacidade do

antecedente, oração na qual o antecedente está incluído. Mas também há hipóteses

como o tipo verbal e definitude que não haviam sido testadas ainda no fenômeno

em português.

O agrupamento das hipóteses para o estudo das estratégias de retomada do

objeto direto do espanhol paraguaio foi também uma inovação. A partir destas

hipóteses levantadas foi possível verificar a natureza [+morfológica] e [-sintática]

do clítico de acusativo na variedade paraguaia do espanhol e assim apontar uma

possível causa interna à língua para o comportamento diferenciado das estratégias

de retomada na variedade paraguaia do espanhol.

Para o desenvolvimento do tema, esta dissertação está organizada em 6

capítulos mais as considerações finais e anexos.

No capítulo 1, se apresenta uma breve descrição da teoria gerativa a partir

de suas questões fundadoras, bem como, noções importantes a esta dissertação

dentro dos modelos do quadro gerativo utilizados. No capítulo 2, se discute acerca

de línguas em contato, bilinguismo e a situação social da língua no Paraguai, para

que se possa entender o fenômeno da variação linguística em uma situação de

contato. No capítulo 3, se apresentam discussões relativas ao status do clítico e

uma sistematização dos pronomes no espanhol geral e no espanhol paraguaio. No

capítulo 4, se apresenta todo o percurso metodológico empreendido desde

programas computacionais utilizados aos testes aplicados e o corpus utilizado. No

(18)

18

considerações finais acerca do trabalho e dos resultados obtidos. Além dos anexos

(19)

1.

A Gramática Gerativa e a

Variação Linguística

1.1

A Gramática Gerativa (GG): uma teoria mentalista

O presente trabalho toma por base a Gramática Gerativa, mais

especificamente o modelo de Princípios & Parâmetros (P&P) em sua versão

atualizada, o Programa Minimalista (PM). Cada uma das propriedades comuns

que devem ser encontradas em todas as línguas humanas, com base na hipótese de

que todas as línguas são produto de uma faculdade de linguagem uniforme e

específica da espécie humana, são chamados de universais linguísticos. A proposta

dos universais linguísticos que remonta à Grécia antiga vai ao encontro da

proposta gerativista da Gramática Universal (GU).

O programa da GG está calcado na “natureza mentalista”. O mentalismo surge com a Escola bloomfieldiana e diz respeito à atitude dos linguistas que

definiam as unidades linguísticas e as regras de combinação por sua significação,

sendo esta definida empiricamente e de maneira intuitiva. Skinner, representante

do mentalismo behaviorista, ocupava-se da qualidade do estímulo e da resposta

produzida, e não da mente que recebia o estímulo e produzia uma resposta. Já para

Chomsky e a linguística gerativa, o foco está na mente – o oposto dos estudos

behavioristas. Logo, estudar a linguagem com a perspectiva gerativista é estudar

as propriedades mentais da faculdade da linguagem.

O programa da GG propõe o desenvolvimento das quatro (04) questões

abaixo apresentadas:

(20)

20

expressões do Português e ter intuições de natureza fonológica,

sintática e semântica sobre a sua língua?

2- Como é que este sistema de conhecimentos se desenvolve na mente do falante? Que tipos de conhecimentos é necessário pressupor que a criança traz, a priori, para o processo de aquisição de uma língua particular para explicar o desenvolvimento dessa língua na sua mente?

3- Como é que o sistema de conhecimentos adquiridos é utilizado pelo falante em situações discursivas concretas?

4- Quais são os sistemas físicos no cérebro do falante que servem de base ao sistema de conhecimentos linguísticos?

(Chomsky, 1986)

Podemos relacionar as perguntas feitas por Chomsky

– que servem

como base dos pressupostos teóricos da gramática gerativa

– aos seguintes

campos: conhecimento, aquisição, uso e cérebro (órgão físico). A primeira

pergunta diz respeito ao conhecimento e envolve questionamentos antigos

como o problema de Descartes

1

. Já a segunda pergunta diz respeito à

aquisição da linguagem e nos remete ao problema de Platão

2

. A terceira

questão diz respeito ao uso da língua, à interação. A quarta e última questão

é a menos abordada até o momento, pois não trata mais da mente, mas do

sistema físico/biológico do cérebro.

A fase inicial dos estudos da GG teve maior foco na pergunta 1 e nos

desdobramentos da mesma, tendo assim, um teor mais descritivo nos

estudos, pois se queria descrever diferentes sistemas linguísticos. O aparato

descritivo era muito rico, mas o explicativo nem tanto. As explicações dadas

1 O problema de Descartes: A criatividade da linguagem

(a) os falantes têm a capacidade de produzir e entender um número potencialmente infinito de expressões novas;

(b) suas produções linguísticas não correspondem de maneira uniforme aos estímulos, isto é, não existe uma correlação unívoca entre o que o falante diz e suas circunstâncias externas ou internas; e

(c) o que os falantes dizem é, em geral, coerente e apropriado à situação, às circunstâncias em que se produz o ato de fala. (Chomsky, 1986)

2 O problema de Platão: problema lógico da aquisição da linguagem

Como é possível que os seres humanos cujos contatos com o mundo são breves, pessoais e limitados, sejam capazes de saber tanto quanto sabem. Exemplo: o conceito de triângulo perfeito.

(21)

eram localizadas, ou seja, eram explicações para determinada língua e não

para todas.

Em um segundo momento, os estudos de gramática gerativa

caminharam no sentido

de unificar as explicações e esvaziar esse aparato

descritivo. Com isso, foi se deslocando o estudo da pergunta 1 para a

pergunta 2.

A pergunta 2 tem centralidade, pois ao explicar os fatos – e não

simplesmente descrevê-los – ela tem um apelo científico maior do que as outras

perguntas. Através desta pergunta, explica-se a Gramática Universal e não só se

descreve um sistema linguístico puro e simplesmente. Esta segunda pergunta

proposta pelo o programa permite à GG uma adequação do ponto de vista

explicativo, não apenas do ponto de vista descritivo. Aplicando a teoria ao objeto

de estudo em questão, diferentes realizações de retomadas do objeto direto, uma

possível explicação teórica para as diferentes realizações seria através da

composicionalidade dos traços do clítico de objeto direto.

A partir do exposto fica evidenciado que o modelo teórico gerativista dá

conta de embasar estudos de fenômenos como os das línguas em contato, pois não

só pode descrevê-lo, mas também explicá-lo, apoiando-se na segunda questão

proposta por Chomsky para o desenvolvimento do programa gerativista.

1.2 Noções centrais da teoria gerativa

A Gramática Universal (GU) é a teoria das propriedades da forma das

gramáticas das línguas naturais e/ou dos princípios que regem a constituição das

mesmas, concebida como um modelo formal do estado inicial da aquisição da

linguagem entendido como um programa biológico específico da espécie humana

que garante a criação/aquisição de línguas naturais. (cf. Corrêa, 2006)

A Faculdade da Linguagem, noção base da gramática gerativa, é a

capacidade inata que interage com a experiência linguística para produzir o

conhecimento linguístico dos indivíduos, ou seja, a linguagem é uma propriedade

(22)

22

da mente/cérebro, que, por sua vez, é composta por outro módulo, como a sintaxe

que também é modular. Ser modular não significa que existam módulos físicos. Ser

modular significa que existem princípios que são específicos para aquele tipo de

conhecimento.

Os conceitos de Língua-I e de Língua-E

são importantes para o entendimento da

competição de gramáticas, abordada mais a

frente, pois é a partir delas que se dá a variação

na Gramática Gerativa, noção base para o

entendimento do fenômeno abordado nesta

dissertação.

Na concepção de língua da gramática

gerativa, as línguas são objetos internos,

individuais e intencionais. Ou seja, são objetos internos à mente dos

indivíduos/falantes, propriedade na mente/cérebro e não são sucessões físicas ou

práticas sociais externas. A gramática de um falante (a Língua-I) é um mecanismo

finito que gera potencialmente um número infinito de enunciados; e não um

conjunto de enunciados ou de atos de fala.

Uma Língua-I é uma das opções permitidas pela GU, sem distinções de

maneira sociológica; é uma série finita de operações de unidades linguísticas para

derivar as expressões infinitas possíveis em uma língua.

A Língua-E é um conjunto de enunciados ou atos de fala, um epifenômeno,

um produto subsidiário da gramática mental dos falantes e não teria sequer

existência no mundo real. É a linguagem como prática social cuja função

primordial é a comunicação.

1.3 Momentos da teoria

Para exemplificar a teoria, Chomsky faz uso da metáfora segunda a qual um

marciano, ao chegar à Terra, deduziria que todos os terráqueos falam uma mesma

(23)

língua considerando que as línguas se diferenciam pelos parâmetros, que são

particulares, mas todas são estruturadas pelos mesmos princípios, que são

imutáveis. Essa metáfora é compatível com a hipótese universalista, segundo a

qual as línguas seguem princípios fixos e inatos, modificam-se através dos

parâmetros e a estruturação sintática das línguas é mais parecida que diferente

uma das outras.

O conhecimento gramatical dos indivíduos se caracteriza pela interação das

propriedades (categoriais, de subcategorização, de seleção semântica etc.) que as

unidades léxicas projetam na sintaxe com princípios que impõem restrições de

boa formação sobre as representações linguísticas.

Na aquisição da linguagem, a criança, como parte da sua dotação genética,

conheceria de antemão certos princípios universais que regulam a combinação de

palavras. A criança se limita a aprender as unidades lexicais e a eleger, a partir de

um reduzido número de dados linguísticos, um dos valores de cada um dos

parâmetros (ou opções abertas) da GU.

1.3.1 O modelo da teoria de Princípios & Parâmetros (P&P)

Um dos modelos da gramática gerativa é o da Teoria de Princípios e

Parâmetros. Seu objetivo é buscar uma solução para o problema lógico da

aquisição da linguagem e a solução que se propõe segue uma lógica naturalista:

eliminar redundâncias e descobrir princípios, simplificar os primitivos e os

mecanismos da teoria linguística.

Nesse modelo, o léxico, é visto como sendo independente do sistema

computacional. Ele coloca à disposição da sintaxe, por exemplo, um verbo ou os

traços referentes ao verbo, informa que esse verbo tem um n argumentos3. Tal

função faz parte da grade temática ou semântica do verbo posto à disposição pelo

léxico. A grade temática diz respeito aos papéis temáticos ou semânticos dos

predicados.

(24)

24

O léxico, nesse momento da teoria, é entendido como um armazém de itens

lexicais, entradas lexicais que contêm informações minimamente de natureza

fonética, sintática, semântica. As entradas lexicais teriam também informações de

natureza idiossincráticas, do tipo “óculos” (só existe no plural).

1.3.2 O Programa Minimalista (PM)

O Programa Minimalista (PM) (Chomsky, 1995) é uma reformulação da

Teoria de Princípios e Parâmetros, conservando a concepção de princípios e

parâmetros e da GU. O PM atualiza o conceito do modelo anterior para um modelo

de língua que é tido como um sistema cognitivo, que suporta as restrições

impostas por outros sistemas atuantes no desempenho linguístico.

São mantidas as ideias da Teoria de Princípios e Parâmetros sobre a

aquisição da linguagem e sobre a maneira de caracterizar o conhecimento

gramatical dos indivíduos, mas se formularam duas perguntas, que obrigam a

repensar boa parte das propostas anteriores:

(a) Até que ponto a linguagem enquanto sistema computacional que entra

em contato com outros sistemas da mente está bem desenhada?

(b) Até que ponto podemos dar conta das propriedades das gramáticas

mentais e da faculdade da linguagem utilizando o mínimo aparato descritivo e

teórico possível?

Existem dois princípios no PM: o de Interpretação Plena e o de Economia. O

Princípio da Interpretação Plena garante que toda a informação relevante para que a

interpretação sintática esteja visível nos níveis de interface do sistema cognitivo

da língua e que toda informação sintática não relevante para a interpretação seja

eliminada no curso da derivação linguística. O Princípio da Economia considera que

as línguas humanas operam de modo tal que os custos computacionais são

minimizados, e, assim, o sistema computacional opera com um custo mínimo.

Neste modelo, a linguagem é composta pelo sistema computacional e pelo

(25)

computações sintáticas. As informações de ordem fonéticas, semânticas e

sintáticas dos itens lexicais apresentam traços que não são redundantes, estando

de acordo com o princípio da economia.

[os traços] indicam o tipo de informação que é tomada como gramaticalmente relevante na língua. Essa importância é sinalizada na interface fônica em termos de padrões regulares correspondentes à informação morfofonológica e à informação pertinente à ordem dos constituintes. Regularidade na interface fônica implica relevância gramatical de distinções semânticas (como número, pessoa, tempo etc.) ou expressão de funções sintáticas (Caso) (cf. Corrêa, 2006).

A identidade de cada língua é de responsabilidade dos traços formais do

léxico (tais como gênero, número, pessoa, QU-, caso e outros), que podem ser

classificados quanto à sua interpretabilidade (conteúdo semântico) e quanto à sua

natureza intrínseca ou opcional: os traços interpretáveis podem ser intrínsecos –

aqueles que aparecem armazenados na entrada lexical (ou determinados por

propriedades explicitamente listadas no léxico); ou opcionais – aqueles

adicionados no momento da seleção dos itens para compor a numeração.

No PM, o conteúdo dos parâmetros se restringe às propriedades

morfológicas dos itens pertencentes às categorias funcionais do léxico. A proposta

é a de que o sistema computacional da linguagem humana é universal e invariável.

A distinção entre línguas, neste momento da teoria, está minimizada aos

traços (aqui entendidos como propriedades de um elemento linguístico, que o

caracterizam), que têm uma função considerável na manifestação visível e na

variação linguística. Diferentemente do modelo anterior, em que a diferença estava

nos parâmetros que eram particulares a cada língua. Dentro da visão de que todas

as línguas possuem propriedades comuns, o universalismo é visto no PM por meio

dos traços semanticamente interpretáveis que são gerais. Ao compararmos duas

línguas como o português do Brasil (doravante PB) e o espanhol dentro do PM, os

traços seriam comuns para as duas e poderia haver uma diferença na realização

(26)

26

distingue uma língua de outra, português do espanhol, por exemplo, talvez

também esteja disponível e seja capaz de diferenciar variedades de uma mesma

língua como o espanhol paraguaio e o espanhol peninsular, ao mesmo tempo em

que aproxima o espanhol paraguaio do português brasileiro.

1.4 Mudança e Variação linguística na GG

Na visão gerativista, existem duas gramáticas, uma social e outra biológica

– a gramática social corresponderia à Língua-E (produção linguística externa) e a biológica, à Lingua-I (sistema interno). Sendo assim, o indivíduo, quando no

momento da aquisição, recebe os dados primários da gramática social da geração

anterior, que é reflexo da sua gramática biológica.

Sob a perspectiva da gramática gerativa atual, a mudança linguística é estreitamente condicionada pelo requerimento de que todas as línguas se adaptam a especificações da faculdade humana da linguagem; mas a mudança linguística, assim como o fato cru da diversidade estrutural das línguas do mundo, marca um limite para a especificação biológica da linguagem. (KROCH, 2003:1)

A mudança linguística, a partir do quadro da GG, se dá sempre por meio da

aquisição da linguagem, ou seja, a mudança acontece no processo de transmissão

de uma geração a outra, ocorrendo mudança das regras sintáticas.

A mudança linguística é por definição uma falha4 na transmissão de

traços linguísticos através do tempo. Tais falhas, em princípio, podem ocorrer entre grupos de falantes nativos adultos, que, por alguma razão, substituem um traço por outro no uso da língua, como acontece quando novas palavras são cunhadas e substituem velhas; porém, no caso de traços sintáticos e gramaticais, tal inovação por adultos monolíngues quase não é atestada. Por outro lado, as falhas na transmissão parecem ocorrer no curso da aquisição da linguagem; isto é, elas são falhas no aprendizado. Uma vez que, numa instância de mudança sintática, o traço que os aprendizes falham em adquirir pode em princípio ser aprendido, tendo sido parte da gramática da língua num passado

4 Entende-se por falha uma alteração de input recebida por uma geração que pode vir a desencadear

(27)

imediato, a causa da falha deve recair em alguma mudança, talvez sutil, no tipo de evidência disponível para o aprendiz ou em alguma diferença, por exemplo, na sua idade durante o processo de aquisição, como no caso da mudança induzida através da aquisição de segunda língua por adultos em situação de contato linguístico. (KROCH, 2003:2)

As situações de contato, dentro desta abordagem, são vistas como um

constituidoras de “fatores potencialmente perturbadores das condições

necessárias para a emergência de uma gramática particular” (Paixão de Sousa, 2005), pois emergem novas gramáticas reestruturadas que se devem aos limites

estabelecidos pela GU e os dados primários disponíveis (input) durante o processo

de aquisição da linguagem de uma geração.

A situação de contato linguístico dentro do modelo gerativista não é tratada

como causa de empréstimos ou substratos linguísticos ou marcas linguísticas

diferenciadas que as línguas em questão possam apresentar, e sim como uma

inovação linguística na reestruturação de uma nova gramática individual.

Cabe salientar que neste modelo de concepção de língua a mudança não é

gradual, diferentemente da proposta da sociolinguística, pois a gramática não se

altera ao longo dos anos. A mudança é abrupta, já que se dá no momento da

aquisição e não está restrita a uma determinada comunidade, pois a gramática é

uma entidade real, biológica, representada na mente/cérebro do indivíduo adulto,

ou seja, experiências diferentes podem fazer surgirem gramáticas diferentes em

indivíduos diferentes.

Contudo, a reestruturação sintática na gramática de um maior número de

indivíduos tende a reforçar as inovações desta nova gramática e, assim, acaba

ocorrendo uma competição de gramáticas.

Tal
competição se dá através da coexistência entre uma gramática

inovadora
(reestruturada sintaticamente) a gramática conservadora, que não

deixa de
ser
expressa
de
um
dia
para
o
outro.

Nesta dissertação, a noção de competição de gramáticas se torna

(28)

28

retomada do objeto direto na variedade linguística do espanhol do Paraguai, língua

que está em situação de contato com o guarani.

Ao que parece, no espanhol paraguaio ocorre uma competição de

gramáticas, pois parte dos falantes já fazem uso de estratégias de retomada

diferentes das previstas para o espanhol de outras variedades, que se devem ao

input diferenciado que receberam da Língua-E da geração anterior. E assim

configuram sua gramática interna durante o período de aquisição de forma

(29)

2.

Línguas em contato

A noção de línguas em contato é fundamental para pode identificar e definir

a situação linguística paraguaia e então proceder com as análises. Duas ou mais

línguas estão em contato quando convivem no mesmo espaço geográfico e são

usadas pelos mesmos indivíduos alternadamente

2.1

A República do Paraguai

O Paraguai está localizado na América Latina, mais especificamente na

América do Sul, limitado ao Sul e Sudeste pela Argentina, ao Leste pelo Brasil e ao

Noroeste pela Bolívia. Não tem costa marítima, mas é dividido pelo Rio Paraguai.

Tem como capital a cidade de Assunção.

Informação Geral:

Independência: 15 de maio de 1811

Capital: Asunción (fundada em 1537 por Juan de Salazar y Espinoza)

População: 6.669.086 habitantes (2007)5

Superfície: 406.752 km2

Idiomas Oficias: Castellano e Guarani

Moeda: Guarani

O Paraguai se diferencia dos demais países da América Latina que possuem

parte da população indígena no que tangencia o idioma oficial, ou seja, é o único

país que tem como língua oficial uma língua indígena, no caso o Guarani – que foi

(30)

30

reconhecido na constituição de 1967 e como pode ser visto no Censo Nacional de

Población y Viviendas2002 (Tabela 1 – versão oficial atualizada), é a língua mais usada

no país, seguida pela língua espanhola, denominada no censo por castellano. Como

terceiro idioma mais falado no Paraguai, tem-se o português, com 4,24% dos

falantes – embora a porcentagem corresponda a aproximadamente 10% do total de

falantes de espanhol, é um número significativo comparado às outras línguas

faladas no país.

DISTRIBUIÇÃO DA POPULAÇÃO SEGUNDO O IDIOMA

Idiomas Indivíduos %

Guaraní 3.946.904 51,35%

Castellano 3.170.812 41,25%

Portugués 326.496 4,24%

Inglés 91.573 1,19%

Alemán 59.166 0,76%

Outras línguas indígenas6 59.125 0,76%

Orientais e Eslavas7 12.198 0,15%

Francés 8.650 0,11%

Italiano 5.071 0,06%

Total8 7.685.749

Tabela 1 – Distribuição linguística no PY – Censo 2002

Segundo o Censo Nacional de Población y Viviendas de 28 de agosto de 2002,

Assunção (a capital) conta com 512.112 habitantes dos 5.163.198 habitantes do país,

concentrando 10% da população total em seu centro urbano.

6A h ñe e, A gait , Ava-gua a í ñe e, A o eo, E lhet o te, E et Su , Gua a í o o iaside tal ñe e,

Maká, Ma jui, Masko , M a ñe e, Niva l , Ña deva ñe e, Pai ñe e, Sa apa á, To a, To a-qom, Tomárâho, Ybytoso.

7 Japonês, Coreano, Chinês e Árabe.

8 O número total é superior ao da população, pois se havia contabilizado mais de um idioma por pessoa

(31)
(32)

32

2.2

Línguas em contato: Uma discussão

O contato linguístico não ocorre em um espaço físico e sim no indivíduo

usuário das línguas que estão em contato – neste caso específico o espanhol e o

guarani jesuítico –, ou seja, o lugar do contato é o indivíduo (cf. Appel &

Muysken). As situações de línguas em contato estão intimamente ligadas a

fenômenos como: diglossia, bilinguismo (multilinguismo), processos de

pidnização e criolização, convergência, substituição e manutenção de línguas.

O conceito de línguas em contato, assim como o de bilinguismo, é muito

amplo. Para este trabalho, o conceito que mais se adequa à pesquisa é o proposto

por Moreno Fernández (1998), que estabelece como situação de contato

linguístico quando duas ou mais línguas quaisquer estabelecem uma situação

qualquer.

Esta situação social da língua é uma das mais favoráveis à mudança

linguística, que pode se dar devido aos empréstimos linguísticos de todas as

naturezas, ou pelo fenômeno de interferência9, ou ainda pela transferência

linguística10. Tal fenômeno pode ser brevemente definido por diferenças ou desvios

da norma linguística monolíngue que corresponde a estruturas existentes na

língua de contato. A diferenciação entre interferência ou transferência linguística

se dá segundo a estabilidade do fenômeno: se estiver mais estável, denota uma

transferência; e menos estável, uma interferência linguística da língua em contato

(cf. APPEL & MUYSKEN, 1996).

O fenômeno do contato entre línguas é algo previsível e são inumeráveis os

casos de coexistência de línguas. No ano de 1976, Uribe Villegas constatou que as

comunidades multilíngues eram majoritárias, havia algo em torno de cinco mil

(5.000) línguas e aproximadamente 140 Estados Nacionais. Portanto, as

9 A ueles desvios de o as de ual ue lí gua ue o o e a fala de ilí gues, o o esultado de seu conhecimento com mais de uma língua, isto é, como resultado de línguas em contato, será referido como fenô e os de i te fe ia (WEIN‘ICH, 1953-1974, p.1).

10 A transferência positiva decorria das semelhanças entre a língua materna e a língua estrangeira e

(33)

comunidades seriam majoritariamente multilíngues, sendo assim, em um único

Estado coexistem centenas de línguas.

A América Latina, em especial o Paraguai e o Peru, são áreas de línguas em

contato. Esta situação de contato linguístico acontece desde a colonização, se

pensarmos no contato com as línguas neolatinas. Tanto no Paraguai quanto no

Peru, o contato linguístico é múltiplo, de acordo com as diversas línguas indígenas

que podem ser encontradas nos dois países. Contudo, focaremos na situação de

contato linguístico existente no Paraguai, que se dá entre a variante do espanhol

com a variante do Guarani jesuítico ou clássico, pois também há no Paraguai uma

terceira língua resultante do contato das duas últimas: o Jopara, uma língua

coloquial com marcas e estruturas linguísticas do guarani e do espanhol paraguaio.

É importante salientar que, embora existam diversas formas de contato

linguístico não só na América Latina, como na América do Norte, Europa e demais

continentes (e consequentemente não só com línguas neolatinas, mas também

anglo-saxônicas, entre outras), cada situação de contato é única e distinta das

demais. Por conseguinte, os fenômenos linguísticos produzidos também serão de

naturezas diferentes. Se tomarmos o Paraguai e o Peru como exemplos, não

poderíamos dizer que o fenômeno do apagamento do clítico de objeto direto

apresentado nos dois países seja da mesma natureza, pois as línguas de contato,

embora indígenas, são de famílias diferentes e o modo que se dá o contato também.

Em 1953, se inicia o estudo das línguas em contato pela sociolinguística com

o lançamento do Livro Languages in contact de Weinrich, que é a base dos estudos

modernos das línguas em contato. Contudo, na América Latina, os estudos

começam a ter tradição somente a partir de Lenz (1983), que estudou o espanhol

chileno e a influência do araucano (Mapuche).

Em muitos países, há casos de coexistência de duas ou mais línguas, ou seja,

vive-se em uma situação de plurilinguíssimo ou multilinguismo11. Quase não

11 "A finalidade consiste, ao contrário, em desenvolver um repertório linguístico, no qual todas as

(34)

34

existem países que sejam completamente monolíngues, pois fatores como redes

sociais e econômicas acabam difundindo outras línguas num contexto

anteriormente monolíngue.

O multilinguismo põe diferentes línguas em contato e devido a essa

con-vivência se pode observar alguns conflitos linguísticos, a produção de

interfe-rências linguísticas, a substituição de um idioma por outro e até a aparição de

novas línguas/dialetos. Um exemplo de nova língua é o Jopara, já referido

anteriormente, que tem estruturas sintáticas e lexicais tanto do espanhol quanto

do Guarani jesuítico falado no Paraguai.

O contato entre línguas é a consequência do contato entre sociedades e isso

faz com que surjam vários fenômenos linguísticos. Pode-se destacar como mais

importantes os seguintes: bilinguismo, diglossia, línguas francas, empréstimos,

mudanças de código.

Resumidamente, os fenômenos que podem surgir do contato entre línguas

e sociedades seriam: bilinguismo – a prática de usar alternativamente duas línguas; diglossia12 situação de bilinguismo ou bidialetalismo em que há

diferença de status sociopolítico entre as duas línguas ou dialetos; empréstimos13

(borrowing); interferências linguísticas – léxicas, morfossintáticas e fonéticas;

aparição de línguas francas14 (pidgins e crioulos) e mudança de código.

Conforme Silva-Corvalán (1989), há vários tipos de bilinguismo: social,

grupal ou individual. O bilinguismo social ou de sociedade é aquele que existe

quando grupos numerosos de indivíduos falam duas línguas, já o de grupo ou elite

está restrito a um pequeno grupo de indivíduos que estão ligados por relação de

trabalho ou familiares. Um indivíduo bilíngue é aquele que tem certa competência

12 Segundo Fishman, diglossia é um conceito que descreve uma comunidade bilíngue na qual existe uma

alta porcentagem de indivíduos bilíngues que dominam as duas línguas em coexistência, embora ambas estejam diferenciadas funcionalmente em términos de variedade alta e variedade baixa.

13Incorporação ao léxico de uma língua de um termo pertencente a outra língua [Dá-se por diferentes

processos, tais como a reprodução do termo sem alteração de pronúncia e/ou grafia (know-how), ou com adaptação fonológica e ortográfica (garçom, futebol).]

14Diz-se de língua não vernácula de populações heterogêneas, que serve como segunda língua para fins

(35)

linguística no uso das duas línguas, contudo tal competência não precisa ser

necessariamente igual à competência de um falante da modalidade padrão das

línguas em questão.

2.3

Bilinguismo

As diferentes entradas em um dicionário não especializado, o senso comum,

servem para problematizar não só a definição de bilinguismo/multilinguismo, mas

também para identificar a partir de qual visão de bilinguismo estamos partindo.

O termo bilinguismo possui várias acepções no dicionário sob a rubrica da

sociolinguística, como: “coexistência de dois sistemas linguísticos diferentes (língua, dialeto, falar etc.) numa coletividade, usados alternativamente pelos

falantes segundo exigências do meio em que vivem, ou de situações específicas” ou “uso concomitante de duas línguas por um falante, ou grupo, com igual fluência ou

com a proeminência de uma delas” (Houaiss, 2003) ou “existência de duas línguas

num país com statusde língua oficial” (Houaiss, 2003) ou ainda “ensino, oficial ou

não, de uma língua estrangeira, além da língua materna” (Houaiss, 2003).

Embora toda situação de contado seja diferente e específica, a dinâmica

envolvida difere a cada caso, pois leva em consideração as línguas em contato, seu

usos, a composição da sociedade envolvida, entre outros. A situação linguística do

Paraguai, no entanto, parece constituir um caso bem mais específico, porque além

de contemplar em seu fenômeno linguístico todas as acepções citadas sobre o

bilinguismo, o contato é entre uma língua aculturante (espanhol, língua do

colonizador) e uma língua aculturada (guarani, língua dos colonizados), que, ao

contrário das outras línguas indígenas da América Latina, preservou seu léxico,

mas mudou a ordem dos seus constituintes, assemelhando a ordem dos

constituintes do espanhol (SVO).

Além disso, o guarani teve sua prática incentivada e não foi relegado ao

segundo plano. É a única língua indígena com o status de língua oficial e tem seu

(36)

36

2.4

Bilinguismo no Paraguai (PY)

O Paraguai apresenta uma situação de pluriculturalismo e multilinguismo

em seu território. Nele convivem distintas línguas e culturas ameríndias com a

língua espanhola, assim como acontece em tantos outros países da América Latina.

O que torna o Paraguai distinto dos demais é o fato de haver a uma ampla

população bilíngue (espanhol e guarani). O bilinguismo foi oficializado, no

Paraguai, pela Constituição de 1967 e reafirmado na Constituição de 1992,

elevando o Guarani a língua cooficial do país.

Históricamente, sólo desde finales del siglo XVIII se puede hablar de Paraguay como una nación con un núcleo de bilingüismo. Melià (1992) considera Paraguay, antes de esta fecha, no pude considerarse como una nación bilingüe sino preferentemente monolingüe en lengua indígena donde el guaraní seria la lengua de comunicación, pero también la lengua de uso cotidiano y habitual tanto de la población indígena como no indígena. (Palacios, 2000, p.02)

Os dados publicados no Censo Nacional de população e moradias dos anos

de 1950, 1962, 1982, 1992 e 2002 permitem descrever a situação linguística da

população paraguaia. Sua divisão linguística, que pode ser conferida no quadro

abaixo, obedece à seguinte divisão:

1) falantes bilíngues de guarani e espanhol;

2) falantes monolíngues de guarani;

3) falantes monolíngues de espanhol;

4) falantes de outras línguas.

HISTÓRICO DA DISTRIBUIÇÃO LINGUÍSTICA DA POPULAÇÃO DO PARAGUAI

ANO

LÍNGUA

1950 1962 1982 1992

Falantes % Falantes % Falantes % Falantes %

GUARANI

-ESPANHOL 633.151 57% 761.137 50.6% 1.247.742 48.6% 1.736.342 49.6%

GUARANI 414.032 37.3% 648.884 43.1% 1.029.786 40.1% 1.345.513 38.4%

(37)

Tabela 2 – Distribuição linguística da população paraguaia (Fonte: Censo paraguaio, 1992)

Como se pode observar na tabela acima, manteve-se relativamente estável

o bilinguismo paraguaio e o guarani possui vigência plena. Ao contrário de outros

países, não há indicadores de um processo de substituição linguística em

detrimento do espanhol. Contudo, na terceira tabela, em que estão representadas

as predileções de línguas faladas em casa, há uma mudança em relação à zona

urbana: a língua guarani é utilizada por 42,9% frente a 54,7% de utilização da

língua espanhola. Todavia, permanece na zona rural uma predileção pelo guarani

(82,7%). Cabe lembrar que o Paraguai, na última década, se transformou em um

país mais urbano – esta população é de 659.174 habitantes, enquanto a população

rural é de 458.224 habitantes.

IDIOMA FAMILIAR15

Língua País Zona Urbana Zona Rural

GUARANI 661.589 59,2 % 282.677 42,9 % 378.912 82,7 %

ESPANHOL 398.741 35,7 % 360.310 54,7 % 38.431 8,4 %

OUTRO 56.858 5,1 % 16.058 2,4 % 40.800 8,9 %

TOTAL 1.117.398 100% 659.174 100% 458.224 100%

Tabela 3 – Distribuição linguística familiar da população paraguaia (Fonte: Censo paraguaio, 1992)

Há diferentes tipos de bilinguismo predominantes nas zonas rurais e

urbanas. O bilinguismo16 rural paraguaio parece ser do tipo subordinado e a

15Segundo o Censo de 2002.

16 Melià (1992, apud Palacios, 2000) aponta que a competência linguística bilíngue nas zonas rurais é

adquirida mediante a escolarização, mas que só será completada si houver outros processos socioculturais de relação do indivíduo com meios urbanos como a leitura de jornais ou exigências de um emprego.

OUTRAS

LÍNGUAS 15.155 1.4% 33.165 2.2% 121.881 4.8% 194.591 5.6%

(38)

38

competência linguística destes indivíduos, incipiente. Já nas áreas urbanas, o tipo

de bilinguismo predominante é o coordenado ou simétrico.

Atendiendo al tipo de bilingüismo social, la sociedad paraguaya se ha considerado habitualmente como modelo de bilingüismo con diglosia estable, con el español como variante alta y con el guaraní como variante baja, socialmente subordinada en función de criterios como prestigio, tradición literaria, adquisición, estandarización y estabilidad. (Palacios, 2000, p.36)

O Paraguai vive uma situação diglóssica não conflitiva, baseada na divisão

de funções e situações comunicativas, uma situação estável social e

comunicativamente. Rubin (1974: 121-122 apud Palacios, 2000) considera o

espanhol a língua que os falantes escolhem para os ‘assuntos de educação, religião, governo e cultura superior’, já o guarani é empregado para ‘assuntos de intimidade ou solidariedade primária do grupo’.

2.5

Contato Espanhol/Guarani

Tabela 4 – Distribuição da população em situação de bilinguismo no Paraguai – Censo 2002 PAR BILÍNGUE POPULAÇÃO %

GUARANÍ Y CASTELLANO 2.655.423 81,2%

CASTELLANO Y PORTUGUÉS 264.706 8,0%

GUARANÍ Y PORTUGUÉS 196.716 6,0%

CASTELLANO E INGLÉS 90.390 2,7%

CASTELLANO Y ALEMÁN 41.980 1,3%

GUARANÍ Y ALEMÁN 10.749 0,3%

NO HABLA 8.582 0,26%

NO INFORMÓ IDIOMA 992 0,03%

(39)

A tabela acima mostra uma legitimação da situação de bilíngue paraguaia e

a dificuldade de caracterizar o falante monolíngue. Outro dado relevante é que dos

3 pares bilíngues mais comuns, o português faz parte de dois e é a 3ª língua mais

falada no país.

No espanhol paraguaio, constata-se que, além de empréstimos e

interferências de ordem fonéticas e morfológicas, também há influências sintáticas

da língua guarani, como, por exemplo, a simplificação generalizada17 do sistema

pronominal átono de terceira pessoa – reestruturação que obedece a um processo

de convergência linguística entre o espanhol e o guarani (a língua indígena carece

de marcas morfológicas de gênero, número ou caso e de um sistema pronominal

átono). O resultado dessa simplificação é o uso generalizado de um único pronome

le para objeto direto e indireto sem distinção de gênero e número.

Tal simplificação pronominal não supõe uma mudança estigmatizada e se

generaliza entre a população urbana de nível médio e médio-alto, diferentemente

da simplificação do sistema pronominal átono que ocorre em algumas áreas

peruanas, equatorianas, mexicanas ou guatemaltecas.

(40)

40

3.

Os Clíticos

Os pronomes, especialmente os clíticos, não têm uma definição consensual

nos diversos quadros teóricos existentes. Uma das possíveis conceituações para os

pronomes, dentro da GG, é a proposta de Cardinaletti (1994) e Cardinaletti e

Starke (1999), que propõem um modelo tripartido para os pronomes e os dividem

em pronomes fortes, pronomes fracos e clíticos. Mas, antes que se apresente o

modelo tripartido, cabe apresentar as configurações das categorias existentes de

pronomes.

3.1 O pronome clítico

A proposta de Cardinaletti e Starke (1999), postula que há nas línguas

naturais distintas classes de pronomes que possuem configurações internas

distintas. E estas classes podem ser divididas em duas categorias de pronomes: os

que se comportam como DPs18 plenos e os que expressam propriedades sintáticas

especiais.

A categoria dos pronomes que têm comportamento de pronome pleno são

pronomes fortes e seu DP abriga a categoria lexical e há movimento de N (nome)

para D(determinante). Na categoria que incorpora os clíticos, as projeções são

somente funcionais. A diferença das duas categorias está na estrutura interna, pois

os pronomes são gerados em N e projetam um NP. Já os clíticos são “adjungidos”

em D e projetam um DP, não havendo projeção nominal. Por este motivo, não

co-ocorrem com determinantes.

(41)

Abaixo se pode ver as representações19 em árvore dos pronomes fortes e dos

clíticos:

Segundo Cardinaletti e Starke (1999), o sistema pronominal pode ser visto

como um modelo tripartido em que cada parte dessa divisão tem características

específicas para cada classe de pronome.

Figura 4 - Modelo tripartido dos clíticos - Cardinaletti e Starke (1999)

Esse modelo tripartido e gradativo considera que um pronome forte é

hierarquicamente superior ao pronome fraco que por sua vez é superior ao clítico.

No que tange às deficiências das classes, pode se dizer que as deficiências são

herdadas de uma classe a outra e acrescida, às deficiências da própria classe.

Dentro desta hipótese temos os pronomes fortes como [+sintáticos] e os

clíticos como [-sintáticos]. Na escala de gradação, um elemento passa de concreto

a abstrato, sintático a morfológico. Sendo assim, ao classificar as classes de

pronomes propostas por Cardinaletti e Starke (1999), dentro da escala de gradação

pode-se interpretar este clítico, em oposição ao pronome forte, como possuidor do

traço [+morfológico] e o pronome forte continua com o traço [+sintático]. O clítico

(42)

42

com traço [+morfológico] pode vir a ser interpretado como morfema verbal de

concordância.

A interpretação deste clítico como [+morfológico] favorece a explicação da

causa interna à língua para mudanças linguísticas tanto na variedade espanhola do

Paraguai, quanto em outras variedades da língua espanhola – em que foi

constatada – a possibilidade de uso da estratégia de retomada por apagamento.

Trabalhos como os de Palacios (1998a, 1998b 2000), Granda entre outros

afirmam que as causas são externas, pois estes autores não encontraram

motivações sintáticas para o uso da estratégia de retomada por apagamento. De

fato, a motivação não parece ser sintática, mas sim morfológica/semântica. Pois

por ser um clítico com traço morfológico, este passa a se adjungir ao verbo como

um morfema e ao ser aplicado o princípio da economia linguística – uma vez, que

também ocorre o fenômeno linguístico do leísmo – a concordância se enfraquece e

isto favorece o apagamento deste clítico de objeto direto na variedade espanhola

do Paraguai.

3.2O sistema pronominal

O espanhol, assim como o PB, dispõe de um sistema pronominal dividido

em formas tônicas e átonas (clíticos) em suas formas de singular e plural das três

pessoas discursivas. Contudo, o sistema de pronomes do PB é fraco e tende ao

apagamento dos clíticos, ao contrário do espanhol que possui um sistema vigoroso

de clíticos e que só licencia o apagamento em alguns contextos restritos. O

português do Brasil licencia o apagamento em todos os contextos, como os não

recuperáveis pelo contexto imediato ou referente [+humano]. Como pode ser

verificado nos seguintes exemplos:

- Você viu o médico?

- Não vi.

A divisão do sistema pronominal espanhol pode ser vista nas tabelas20

abaixo:

(43)

Quadro de pronomes pessoais tônicos no espanhol Pronomes Sujeito

1ª Singular Yo como

2ª singular Tú comes/Usted come*

3ª singular Él/Ella come

1ª Plural Nosotros comemos

2ª Plural Vosotros coméis/ Ustedes comen*

3ª plural Ellos/as comen

Pronomes Objeto

1ª Singular (prep) mí conmigo

2ª singular (prep) ti contigo

3ª Singular (prep) consigo

*Segunda pessoa gramatical/ terceira do discurso Tabela 5 – Pronomes tônicos do espanhol

Quadro de clíticos pronominais do espanhol

Clíticos Acusativo Dativo

Pronominais

me (a mí)

te (a tí)

lo (a él) le/se (a él)

la (a ella) le/se (a ella)

nos (a nosotros)

vos ( a vosotros)

los (a ellos) les (a ellos)

las (a ellas) les (a ellas)

Anáfora

Me

Te

Se

Nos

Os

Se

(44)

44

Na língua espanhola, os pronomes clíticos podem aparecer antecedendo o

verbo (próclise) ou pospostos a ele (ênclise) e estabelecem uma relação de

adjacência estrita: somente outro clítico pode intervir entre eles.

a. No te lo vendo

b. *Te lo no vendo

A colocação dos clíticos pode variar conforme as propriedades da flexão

verbal ao qual se adjungem. No espanhol, o pronome aparece proclítico com as

formas finitas dos verbos, enquanto que a ênclise se registra com infinitivos,

gerúndios e imperativos. Já os particípios não admitem clíticos.

Os pronomes átonos, ao contrário dos pronomes tônicos, podem referir-se

tanto a seres humanos quanto a não humanos ou inanimados. É importante

salientar que pronomes tônicos e clíticos não estão em distribuição complementar

no espanhol peninsular; ambas as formas podem coexistir na mesma sentença.

3.3 O sistema pronominal do espanhol paraguaio

Oleísmo21é um fenômeno linguístico em que se verifica o uso de le(s) na

função de complemento direto, na posição de lo (para masculino singular ou

neutro), los (para masculino plural) e la(s) (para feminino), que são as formas às

que etimologicamente correspondem exercer essa função.

O espanhol do Paraguai (EP) tem adotado a forma le(s), tanto para o

pronome complemento direto, como para o indireto de pessoa. Provavelmente isso

se deve a uma herança do espanhol do século XVI, quando o pronome le, pronome

21 Los pronombres le, les proceden, respectivamente, de las formas latinas de dativo illi, illis.El dativo … se expresaba el complemento indirecto. Por ello, la norma culta del español estándar establece el uso de estas formas para ejercer dicha función, independientemente del género del sustantivo al que se refiere el pronombre. Debido a su extensión entre hablantes cultos y escritores de prestigio, se admite el uso de le en lugar de lo en función de complemento directo cuando el referente es una persona de sexo masculino. Sin embargo, el uso de

Imagem

Tabela 1 – Distribuição linguística no PY – Censo 2002
Tabela 3 – Distribuição linguística familiar da população paraguaia   (Fonte: Censo paraguaio, 1992)
Tabela 4 – Distribuição da população em situação de bilinguismo no Paraguai – Censo 2002
Gráfico  1 – Distribuição das estratégias de retomada do objeto direto no espanhol  paraguaio
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Referências

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