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Masarykova univerzita Filozofická fakulta. Ústav románských jazyků a literatur. Portugalský jazyk a literatura

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Masarykova univerzita

Filozofická fakulta

Ústav románských jazyků a literatur

Portugalský jazyk a literatura

Bc. Karolína Filová

Tradução dos contos escolhidos do livro Passos/Paços Confusos

e análise orientada para a personagem da mulher

Magisterská diplomová práce

Vedoucí práce: PhDr. Marie Havlíková

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Prohlašuji, ţe jsem magisterskou diplomovou práci vypracovala samostatně s vyuţitím uvedených pramenů a literatury a ţe se elektronická a tištěná verze shodují.

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Na tomto místě bych chtěla opravdu upřímně poděkovat vedoucí své magisterské diplomové práce PhDr. Marii Havlíkové za trpělivost, veškerý čas, který věnovala našim konzultacím a za cenné rady, které mi během celého roku udělovala.

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Índice

ÍNDICE ... 4

1 INTRODUÇÃO ... 6

2 JOSÉ RODRIGUES MIGUÉIS ... 7

2.1 Contexto histórico ... 7

2.2 Contexto literário ... 7

2.3 Breve biografia ... 9

2.4 Obra e alguns traços típicos ... 11

3 PASSOS/PAÇOS CONFUSOS: TRADUÇÃO DOS CONTOS ESCOLHIDOS ... 14

3.1 Sobre a teoria da tradução ... 14

3.2 Tradução dos contos ... 18

3.2.1 Bota ... 18 3.2.2 Zahradník duší ... 23 3.2.3 Nový post ... 27 3.2.4 Prostý vánoční příběh ... 35 3.2.5 Tendresse ... 35 3.2.6 Telefonát v osm ... 41 3.2.7 Epizoda „Norka“ ... 42

3.2.8 Agnès – neboli bezpohlavní láska ... 44

3.3 Problemas da tradução ... 50

4 ANÁLISE DOS CONTOS TRADUZIDOS CENTRADA NA PERSONAGEM DA MULHER ... 60

4.1 Passos/Paços Confusos ... 60

4.2 Traços gerais dos contos escolhidos ... 62

4.3 Personagem da mulher ... 65

4.3.1 Aspeto físico da mulher ... 66

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4.3.4 A mulher emancipada ... 72

4.3.5 A mulher desnuda ... 75

4.3.6 A mulher «inocente» ... 77

4.3.7 A mulher promíscua ... 77

4.3.8 A mulher procurando o verdadeiro amor ... 79

4.3.9 A mulher misteriosa ... 82

4.4 Recapitulação dos traços análogos nas personagens femininas ... 84

5 CONCLUSÃO ... 88

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1 Introdução

José Rodrigues Miguéis foi um dos autores portugueses mais interessantes do século passado, no entanto, até aos nossos dias têm sido traduzidos para o checo somente dois livros: O primeiro deles, um romance policial chamado Uma Aventura Inquietante – no checo editado com o título Dobrodruţství v Bruselu; e o segundo, uma breve antologia dos contos migueisianos sob o nome de um deles – Dezasseis horas em missão secreta (no checo

Šestnáct hodin s tajným posláním) reunida e traduzida por Pavla Lidmilová. Por este motivo

também nós queríamos contribuir e possibilitar aos checos que pudessem apreciar este magnífico escritor por meio de dois objetivos principais desta tese, evidentes do título do nosso trabalho: a tradução de oito contos, até agora não traduzidos para o checo, escritos por Miguéis na sua velhice, e a conseguinte análise da personagem da mulher cuja importância se mostra inegável.

Delineando o conteúdo e a estrutura da preseste tese, para atingir ambos os propósitos, consideramos imprescindível esboçar primeiro a época e o ambiente nos quais vivia Miguéis para que possamos depois entender adequadamente a sua obra e encontrar as alusões e preocupações implícitas.

Depois de pormos em foco os traços e temas típicos retratados nas suas narrativas em geral, vamos estar preparados para nos orientar para a tradução; a princípio de maneira teórica, mas a seguir intentaremos pôr em prática todas as regras e informações anteriores – em aqueles contos da antologia Passos/Paços Confusos que se ocupam da relação entre o homem e a mulher e ao mesmo tempo refletem a posição dela na sociedade coetânea de Miguéis, tanto em Portugal, como nos Estados Unidos da América. No decorrer da tradução naturalmente depararemos com muitos problemas, ambiguidades e dúvidas, sendo estas interpretações do português para o checo as nossas primeiras tentativas, analisados nas suas diferentes possibilidades juntamente com as nossas próprias verificações.

E, finalmente, graças à tradução dos contos seremos capazes de entender os sentidos escondidos e poderemos então analisar todos os aspetos e tipos que apresentam as mulheres da antologia, tanto as protagonistas dos contos traduzidos, como as do resto dos contos com papel secundário, e tentaremos tirar conclusões.

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2 José Rodrigues Miguéis

Vamos começar este trabalho de modo geral e a seguir continuaremos entrando cada vez mais em detalhes; quer dizer, passaremos dos acontecimentos históricos a nível mundial, pelas correntes literárias mais marcantes da época e pelas vivências pessoais de Miguéis para os traços típicos da sua obra, na qual se refletem as informações expostas acima.

2.1 Contexto histórico

Nas linhas seguintes vamos ocupar-nos com os sucessos mais importantes da época em que José Rodrigues Miguéis (1901 – 1980) vivia e que influiram assim na sua existência e, alguns deles, em consequência, também na obra.

Em 1908 foi assassinado Dom Carlos e o seu sucessor Dom Luís Felipe, mas a monarquia conseguiu sobreviver até o ano 1910, em que foi instaurada a Primeira República. Depois seguia um período de uma grande instabilidade política e social juntamente com muitos levantamentos e crises. A situação ainda empiorou pelo empenhamento de Portugal na Primeira Guerra Mundial. As circunstâncias tornavam-se cada vez mais difíceis, até que em 1926 foi estabelecido um regime militar, governado por António de Oliveira Salazar, que em 1933 instaurou oficialmente o Estado Novo, uma ditadura tendente ao fascismo, acompanhada da opressão e da censura. Salazar encabeçou o Estado Novo até o ano 1968. Depois da sua morte, graças a Marcelo Caetano, o regime foi capaz de manter-se e a queda definitiva realizou-se seis anos mais tarde pelo golpe de Estado chamado Revolução dos Cravos. Em 1976 consolidou-se finalmente a democracia em Portugal.

Quanto aos acontecimentos com as consequências universais que Miguéis viveu nos Estados Unidos mencionemos a Grande Depressão económica entre os anos 1929 – 1933, com foco em Wall Street, e a Guerra Fria, desencadeada entre os EUA e a União Soviética entre os anos 1950 e 1991.

2.2 Contexto literário

Neste capítulo vão ser abrangidas só as correntes que influiram diretamente na obra de Rodrigues Miguéis, existindo no decorrer da sua vida uma imensidade de diferentes rumos literários. Por conseguinte, vamos prosseguir por ordem cronológica e vamos falar sobretudo de Seara Nova, Presença e neorrealismo com uma referência a realismo ético típicos do estilo

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Comecemos pelo grupo literário organizado em redor da revista chamada Seara Nova. Segundo as informações da tese de doutoramento de Cavalcante Cruz (2011: p. 65), havia três fundadores letrados: Jaime Cortesão, Raul de Proença e Luís da Câmara Reys, todos nascidos nos anos oitenta do século XIX e unidos pela aversão à monarquia. O primeiro número da revista foi publicado em 1921. Os seareiros tinham muitos pontos comuns com a Geração de Coimbra que surgiu nos anos setenta do século XIX: Ambos os movimentos literários queriam alterar a sociedade que se encontrava em más condições por meio de agitações e ideias novas. Por outra parte, o que os diferenciava era o modo de melhorar a situação do seu país. Enquanto que os anteriores tinham um programa e queriam discutir os temas e realidades numas conferências democráticas, os seareiros tencionavam instaurar um governo novo constituído pela elite intelectual, sem darem ênfase no modo de alteração do sistema e não se abstinham da ditadura. E, além disso, pretendiam pôr tudo em prática, mas não o conseguiram e a sua luta tinha só um caráter teórico; alguns deles até saíram do governo. José Rodrigues Miguéis, o membro deste grupo entre os anos 1922 e 1930, separou-se deles precisamente por esta razão ao publicar vários artigos onde proclamava que os intelectuais tinham que lutar de maneira ativa. No entanto, este movimento conseguiu chamar atenção para muitos problemas atuais da época.

A seguir, vamos dizer umas palavras sobre o grupo literário Presença e a revista homónima. A maior dispersão viveu entre os anos 1927 e 1940, mas os autores continuavam escrevendo dentro do génio presencista também depois. Entre os representantes mais importantes decerto pertencem José Régio, João Gaspar Simões, Branquinho da Fonseca, Miguel Torga e Adolfo Casais Monteiro. Esta corrente costuma ser designada o Segundo Modernismo, porque defendia a mesma tese como os orphistas, para os quais conseguiram chamar atenção e eram os primeiros em analisá-los. O traço que diferenciava esta corrente das outras da mesma época era a função da arte pela arte, quer dizer, nada do envolvimento político ou social. Ao contrário dos orphistas, os presencistas já não eram tão provocadores nem evocavam escándalos, mas com a sua obra iam protestando contra a literatura engajada. Apesar dos acontecimentos em andamento muito importantes, preferiam inspirar-se em autores franceses, no modernismo inglês e em movimentos filosóficos como psicoanálise e introspeção. Por conseguinte, o tema principal tornou-se o estudo da complexidade do interior humano, difícil ou até impossível de apreender. Trabalhavam também com a discrepância entre o «eu convencional», correspondente a uma mera aparência, e o «eu profundo», a verdadeira essência humana. Muitas vezes tratavam um tema erótico para poder

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estudar as paixões e desejos internos dos personagens, como vamos ver também na obra migueisiana e nos contos que vamos traduzir e a seguir analisar.

Quanto ao neorrealismo, muito expandido em meados do século passado, era o grupo de orientação esquerdista inspirado no realismo e naturalismo oitocentista enriquecido com as correntes modernas e novos conhecimentos, sobretudo com o modernismo e doutrinas de Freud e Marx. Nestes termos orientava-se para a crítica de toda a sociedade na sua totalidade e falava das mudanças necessárias para a sua melhora. O tema típico era também a luta das classes sociais e o regime de Salazar, mas tratado de modo literário, mesmo que os neorrealistas costumassem ser ativistas políticos muito engajados que condenavam a desigualdade social, ainda reforçada pela industrialização. Outro traço típico é o determinismo tanto social, como psicológico. No entanto, como os seus precursores, iam procurando a objetividade e neutralidade da sua expressão. Relativamente a Miguéis, ocupava-se muito da sociedade e do destino dos pobres, mas, ao contrário do neorrealismo, tudo representava de maneira subjetiva.

E, como último, aludamos também ao realismo ético. Para esboçar a diferença entre ele e o realismo tradicional, vamos recorrer às palavras de Antonio Valdecantos (1997: p. 107): «No basta, pues, para ser realista con que se crea que las expresiones de norma o de

valor aseveran cierto contenido cognitivo; es preciso sostener, además, que la verdad o falsedad de esas aseveraciones pertenecen a cierto tipo de cosas que se escapan del control de uno y de todos los que son como uno: al tipo de las cosas que se encuentran o se descubren y no al tipo de las que se construyen o inventan.» Isso quer dizer, existe uma coisa

que não é possível captar de maneira objetiva; são os sentimentos e o interior dos personagens que se mostram demasiado complicados. Deste modo, o realismo ético é uma vinculação de dois movimentos literários à primeira vista incompatíveis: dos aspetos da Presença e do neorrealismo.

2.3 Breve biografia

Para poder traduzir e analisar adequadamente a obra de qualquer autor, é imprescindível conhecer também os acontecimentos mais importantes da sua vida privada e profissional, graças a que é possível encontrar a seguir algumas relações entre eles e a sua obra, concretamente em Miguéis muito marcantes. Assim, vamos esboçar os momentos mais relevantes da sua biografia.

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José Claudino Rodrigues Miguéis é conhecido como jornalista, contista, romancista, novelista, cronista, dramaturgo, tradutor, professor e ideólogo. Nasceu em 1901 em Lisboa e morreu em 1980 em Nova Iorque. Já desde vinte anos publicava em vários jornais e revistas, por exemplo em Seara Nova, Alma Nova, República, Diário Popular, Diário de Lisboa ou

Revista de Portugal. Em 1924 licenciou-se em Direito e a seguir começou a ensinar geografia

e história num liceu.

Alguns anos depois recebeu uma bolsa e continuou estudando pós-graduação em Bruxelas onde se especializou em Ciências Pedagógicas entre 1929 e 1933. A sua estadia na Bélgica exerceu nele uma grande influência, o que se reflete também na sua obra. Mais tarde, em 1932, criou juntamente com Bento de Jesus Caraça um semanário chamado O Globo, no entanto, no mesmo ano suprimido pela censura. Igualmente em 1932 se casou com Pecia Cogan Portnoi, uma russa que conhecera em Bruxelas.

Logo depois de voltar a Lisboa, tendo sido sempre muito engajado, ativo e progressista, além da sua inclinação ao marxismo, a censura e o novo regime lhe impediram escrever, lecionar e até realizar uma grande reforma de instrução que elaborara preponderantemente na Bélgica, de maneira que não tinha outra possibilidade senão de emigrar.

Em consequência disso, em 1935 retirou-se para os Estados Unidos da América e, passados sete anos, recebeu a nacionalidade americana e permaneceu ali o resto da vida. A respeito da profissão de Miguéis na imigração, dedicava-se principalmente a três coisas: ao ensino na universidade, às traduções, entre outras para Seleções do Reader’s Digest, onde era empregado como redator-associado, e à escritura das próprias obras. Em 1940 por segunda vez contraiu matrimónio, agora com Camila Pitta Campanella, uma portuguesa arraigada nos Estados Unidos da América.

Com exceção de várias visitas (1946 – 1947, 1957 – 1959, 1963 – 1964), não voltou para Portugal, mas mantinha um contato vivo com vários amigos e continuava colaborando com umas revistas portuguesas. Por meio da sua obra revivia igualmente as lembranças do seu país natal, como vamos ver no capítulo seguinte. Entre os anos 1949 e 1950 também morou no Brasil. Em 1976, afiliou-se à Academia das Ciências de Lisboa e, um ano antes da sua morte, foi honrado com a Ordem Militar de Santiago da Espada.

Quanto à sua carreira de tradutor, ele tornou acessíveis aos portugueses algumas obras dos escritores como Francis Scott Fitzgerald, Stendhal, Erskine Caldwell ou Carson

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MacCullers. Por outra parte, as suas narrativas foram traduzidas para o inglês, francês, italiano, alemão, checo, polaco e russo.

2.4 Obra e alguns traços típicos

Segundo Moreira Pires de Morais Pereira da Silva (2010: p. 7), «As suas narrativas

revelam uma contextualização de espaço, de lugar e de ser, sendo um testemunho duma época histórica que se encontra e, sobretudo, se adivinha na descodificação das entrelinhas, das palavras veladas, dos pensamentos sentidos, dos sentimentos pensados; é a descoberta de um Portugal amordaçado, calado, mas que palpita, que vive, que se agita, que se movimenta, que sente, que pensa...» A saber, a obra de Miguéis nunca está desgarrada do contexto,

sempre, juntamente com o próprio enredo, traz ao leitor os fragmentos da realidade histórica e social seja do seu país natal, seja de algum dos seus refúgios, isso é, da Bélgica ou dos Estados Unidos, formando assim o componente autobiográfico da sua obra. Deste modo,

«[…] ao ler Miguéis é imprescindível ter em conta o tipo de vivência de quem está inserido noutra cultura, em contacto com as correntes estéticas dum universo americano.» (Aguilar

Franco, 2009: p. 62), é esta interligação de dois mundos poderíamos dizer opostos que contribui para a originalidade da sua obra.

Relativamente a Portugal, Miguéis nunca queria afastar-se dele, mas, além da sua segunda mulher que repudiou a vida em Portugal, não lhe restou outra possibilidade para viver de maneira honesta e livre. Por isso, pelo menos nas suas narrativas relembrava-se das realidades quotidianas pelas quais passava ele como criança em Portugal, sendo isto quase o único contato com o seu país natal. Para exemplificar uma das obras inspiradas na sua vida, mencionemos o conto A Chegada, publicado pela primeira vez postumamente em 2003 em

Ficções n. 8, uma revista de contos: «“A Chegada” é precisamente a história desse reencontro de 1935 em Nova Iorque, reencontro que os nomes das personagens (Estela/Camila, e Magda/Pecia) mal disfarçam. Porém, se Miguéis queria proteger o “anonimato” das suas mulheres, o seu “foragido”, a uma certa altura, é identificado pelo nome Joe (Zé), e como se isso não bastasse, o autor intervém directamente na narrativa na forma de um “eu” enunciador para ilustrar a coincidência exacta entre Miguéis e o seu protagonista masculino.» (Brookshaw, 2012: online). E, se as circunstâncias nas quais se

encontram os protagonistas não são baseadas na realidade, mostram-se pelo menos verossímeis.

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Quanto aos traços de diferentes correntes literárias das quais Miguéis extraía a inspiração para a sua obra multifacetada, Moreira Pires de Morais Pereira da Silva (2010: p. 21) sintetiza-os desta maneira: «A par de uma literatura de função social, encontramos

uma literatura de função humanista, a par de uma fervorosa consciência social deparamos com a consciência individual, a par da importância do conhecimento do colectivo, do real, encontramos a importância conferida ao conhecimento do indivíduo, dos seus conflitos que ecoam no grupo de pertença; a par da representação e transformação do real através da interacção entre o “Eu” e o “Nós”, entre o real e a ficcionalidade, encontramos o desejo de conhecimento do indivíduo, desse “EU” macroestrutural que preside a cada “Eu” individual […]». A sua obra está frequentemente denominada «realismo ético» por recorrer à temática

da consciência do indivíduo das consequências do seu comportamento dentro da sociedade que o limita, detalhando Miguéis a caraterização psicológica dos personagens. Como é mencionado em Infopédia (2003 – 2013: online), o realismo de Miguéis é «[…]

simultaneamente pessoal e consciente da sua responsabilidade ética e social.»

Apesar de este autor escrever obras muito variadas, toda a sua literatura de ficção tem certos traços comuns. Resumindo-os, Miguéis aplica muitas vezes o humor que ocasionalmente se transforma em ironia, mas como diz Brookshaw (2009: online), sem melancolia e amargura. Entre outros, vale a pena mencionar os protagonistas que costumam ser imigrantes que não se dão por felizes no novo ambiente, sentindo muitas vezes uma ânsia existencial e com frequência andam à procura da sua identidade. A seguir, bastantes vezes retrata a realidade portuguesa, incorporando nela alguns elementos autobiográficos, e analisa detalhadamente a psique humana e todas as atitudes interiores do indivíduo. José Rodrigues Miguéis sempre situa o leitor no ambiente concreto para depois ser mais fácil de entender todas as opiniões e ações do protagonista. Na obra migueisiana tampouco é possível omitir o aspeto educador, porque, segundo Infopédia (2003 – 2013: online), «a escrita de José

Rodrigues Miguéis parte da preocupação com uma função pedagógica da literatura, da necessidade de compreender a relação entre o indivíduo e a sociedade.»

Apesar de uma vasta obra de diferente natureza, centremo-nos agora nos contos, importantes para o conteúdo deste trabalho. O conto, em comparação com o romance, precisa de uma enorme síntese da realidade de tal forma que muitos factos não se expressam. Parafraseando as palavras de José Décio (2010: p. 116 – 117), o típico para os contos migueisianos é a introspeção e a análise do interior do protagonista, sendo isto a explicação de todo o seu comportamento. Além disso, muitos pensamentos, até os mais importantes, ficam

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sem ser proferidos, o que leva o leitor refletir sobre o conteúdo ainda muito depois de ter lido o conto. Deste modo, a ação passa ao segundo plano em pró da poetização da narração e da análise de alma humana.

A seguir apresentamos uma lista cronológica segundo a data da publicação das obras mais importantes de Miguéis, com as informações extraídas principalmente do artigo de Carlos Loures (online):

Páscoa Feliz (novela, obra-estreia, recebeu Prêmio Casa da Imprensa), 1932 Onde a Noite se Acaba (contos e novelas), 1946

Saudades para Dona Genciana (conto), 1956 Natal do Clandestino (conto), 1957

Léah e Outras Histórias (contos e novelas, Prêmio Camilo Castelo Branco), 1958

Uma Aventura Inquietante (romance), 1959

Um homem sorri à morte com meia cara (narrativa autobiográfica), 1959 A Escola do Paraíso (romance), 1960

Passageiro do Expresso (obra teatral), 1960 Gente da Terceira Classe (contos e novelas), 1962

É Proibido Apontar. Reflexões de um burguês – I (crónicas), 1964 Nikalai! Nikalai! (romance), 1971

A Mumia (novela), 1971

espelho poliédrico (crónicas), 1972 Comércio com o inimigo (contos), 1973

As Harmonias do "Canelão". Reflexões de um burguês – II (crónicas), 1974 Milagre Segundo Salomé (romance), 1975

Pão não cai do céu (romance), 1981 Passos/Paços Confusos (contos), 1982 Arroz do céu (conto), 1983

Anel de Contrabando (conto), 1984

Uma flor na campa de Raul Proença (artigos), 1985 Aforismos e desaforismos de Aparício, 1996

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3 Passos/Paços Confusos: Tradução dos contos escolhidos

Começando pelos motivos da seleção do livro por traduzir, como José Rodrigues Miguéis era o primeiro autor português cujo livro lemos, tem para nós uma especial importância do primeiro encontro com a realidade portuguesa. Por isso, procurámos uma antologia dos seus anos maduros que reunisse os contos com uma temática diversa; por este motivo elegemos a antologia Passos/Paços Confusos.

A razão da tradução dos oito contos escolhidos é óbvia. Buscámos os contos do volume que tivessem mais traços comuns, e o que atraiu a nossa atenção era precisamente a temática da mulher, não tratada, que saibamos, pelos críticos em nenhuma das muitas análises que existem sobre a obra de José Rodrigues Miguéis. No resto da antologia, há só dois outros contos nos quais aparece uma mulher como co-protagonista, em ambos, o nome dela aparece já no título: o primeiro deles, Masha Mládova1, já foi traduzido para o checo por Pavla Lidmilová; e o segundo, Uma «Concha» Que Não Era De Marisco, mesmo que ela pareça ser personagem principal, o narrador relata a relação sexual deles num contexto muito mais amplo e para ele mais importante; além disso, trata-se só de uma relação passageira, sem duração. Sobre o reagrupamento dos contos traduzidos vamos falar no capítulo 3.2. Mas antes dediquemos atenção a alguns aspetos da teoria sobre a tradução literária, imprescindíveis para que façamos uma interpretação acertada.

3.1 Sobre a teoria da tradução

Para começar, citemos as palavras de George Steiner (2010: p. 366), nas quais este autor faz uma comparação muito interessante – ao pôr em paralelo o trabalho do tradutor e a atuação do compositor da música: «O compositor da música, que põe em música algum

texto, passa pelo mesmo processo de passos intuitivos e técnicos que se podem distinguir na tradução propriamente dita. […] Os recursos com os quais trabalha o compositor da música – a escala, o registo, a cadência, o ritmo, a orquestração, o modo musical – correspondem às possibilidades estilísticas do tradutor.»2

1 Foi editado na antologia de sete contos de Miguéis chamada Šestnáct hodin s tajným posláním. 1.a ed.

Praha: Mladá fronta, 2000, 149 s. ISBN 8020407820.

2 A tradução desta citação do checo ao português é nossa: „Skladatel, který zhudebňuje nějaký text,

prochází stejným sledem intuitivních a technických kroků, které lze rozlišit v překladu ve vlastním slova smyslu. […] Skladatelovy prostředky – tónina, rejstřík, tempo, rytmus, instrumentace, modus – odpovídají stylovým

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Depois desta citação que oferece um ponto de vista diferente sobre o trabalho do tradutor, neste capítulo vamos expor algumas caraterísticas e linhas principais da tradução do texto literário. Primeiro vamos explicar quatro tipos diferentes de tradução, centrando-nos a seguir nos aspetos indispensáveis sem os quais a transcrição literária para uma outra língua careceria de qualquer tipo de qualidade. Vamos abranger também a problemática da interpretação de cenas eróticas, frequentemente presentes nos contos que optámos por traduzir. E, no fim deste capítulo, vamos aludir também ao Miguéis-tradutor, sendo este facto muito pertinente para sabermos como ele tentava captar a realidade do texto interpretado em outro idioma, do qual é possível deduzir como nós teríamos de proceder na tradução dos seus contos para penetrarmos no seu pensamento.

Seguindo a classificação dos tipos da tradução com os quais podemos topar segundo as autoras do livro Překlad a překládání (Knittlová, D.; Grygová, B.; Zehnalová, J. 2010: p. 16 – 17), existem quatro categorias diferentes, mas nós chama-las-íamos mais propriamente as fases, o que vamos explicar no parágrafo seguinte: O primeiro tipo o representa a tradução

interlinear, quer dizer, o texto é traduzido exatamente palavra por palavra, sem respeitar as

regras da língua de chegada, transmitindo toda a estrutura gramatical da língua do escritor. Outro tipo, de certa forma menos ligado ao texto original, é a tradução literal que, apesar de obedecer a estrutura gramatical da língua de chegada, é muito bem evidente que se trata de uma mera transcrição para outra língua, não levando em consideração diferentes usos de léxico ou locuções. No terceiro lugar mencionemos a tradução livre que mesmo que soe naturalmente no texto de chegada, o problema desta é muito grave, embora não evidente ao primeiro exame, passando de um idioma para o outro muitas imprecisões, visto que o tradutor bastantes vezes adiciona ou por outra parte omite algumas ideias ou palpites presentes no texto original; não só ao nível da língua, mas também ao nível dos pensamentos. E, no último lugar salientemos a tradução comunicativa. Este tipo segue tanto as regras gramaticais, como as regras lexicais, quer dizer as frases idiomáticas e locuções das duas línguas com a finalidade do surgimento de um texto natural, que ao mesmo tempo conserva todas as informações e todos os matizes do texto original.

Segundo a nossa opinião, estas categorias não designam necessariamente as traduções de diferentes pessoas, mas cada tradutor evolui; ao começar o estudo da língua estrangeira para a qual mais tarde está orientada a sua carreira, tem que passar por estas fases para chegar ao ponto de não só ser capaz de traduzir o texto palavra por palavra. A seguir, continuando na

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original, e por fim encontra o equilíbrio entre a tradução literal e a livre e além disso, está consciente das diferentes estruturas das línguas – a de partida e a de chegada, e só depois pode surgir uma tradução «comunicativa» de qualidade. A esta problemática refere-se também o próprio Miguéis-crítico no artigo «Era Uma Vez Um Désiré» dizendo que: «A cada passo

tropeçamos, na leitura de revistas, livros e jornais, em frases de tal modo traduzidas, que se é forçado, para as entender, a retrovertê-las à língua original, pois o tradutor (?) não soube libertar-se dos esquemas mentais e sintáticos dessa língua, para lhes substituir por esquemas correspondentes na nossa própria língua. Porque traduzir, meus filhos, não é trocar palavras de uma língua em palavras de outra – mas encontrar as equivalências idiomáticas, transferir as formas verbais de uma cultura ou estrutura mental para o pensamento e estrutura sintáctica de outro idioma.» (Aguilar Franco, 2009: p. 52).

O que distingue as teorias de tradução da primeira metade do século passado das opiniões surgidas desde os anos 60 é a realidade de que começa a ser acentuado não só o próprio texto, mas primeiro as suas circunstâncias, o que foi sublinhado também nas aulas da Tradução Literária I e II dadas pela tradutora Marie Havlíková e pelo que nos guiamos nesta tese. Esta ideia é defendida também por Miguéis cuja teoria é avançada para a sua época. Segundo a divisão das autoras do livro Překlad a překládání (Knittlová, D.; Grygová, B.; Zehnalová, J. 2010: p. 27), trata-se da macro-abordagem e micro-visão3, sendo a primeira orientada para a contextualização da obra na época e nas condições sociais e culturais, para a análise do género e do destinatário do texto e só depois de todos estes processos é possível pôr em foco a micro-visão e traduzir todo o texto da melhor forma, prestando ao mesmo tempo atenção a todas as armadilhas da estrutura gramatical e lexical de ambos os idiomas.

Quanto à seleção do léxico apropriado para uma tradução adequada, só para uma minoria das expressões existe um equivalente sinonímico absoluto; noutros casos o tradutor tem de procurar a melhor opção para impedir que surja um mal-entendido. Isto é muito frequente na tradução de cenas eróticas, presentes também nos contos de José Rodrigues Miguéis que vão ser traduzidos na presente tese, e por esta razão consideramos muito importantes para este estudo as seguintes palavras de George Steiner (2011: p. 92):

«A retórica sexual difere, de modo fundamental, de uma língua para a outra. Cada língua, cada época histórica e cada contexto social dentro de uma língua delimita a fronteira das palavras «proibidas», do inexprimível ou do linguisticamente ocultado noutra posição da

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escala lexical. O que se mostra levemente delicado numa língua, numa outra é um absoluto tabu […]. Não existem duas línguas capazes de compor cartografias idênticas do corpo humano com os trechos delicados selecionados. […] O estímulo das intimidades verbalizadas é específico em cada língua.»4 Por isso, vamos prestar uma especial atenção à nossa tradução

deste tipo de descrições.

Uma das causas do surgimento das imprecisões é que o tradutor não representa nem o autor, nem o destinatário, de maneira que a sua função é a de mera reinterpretação. Mas, como se diz no volume Překlad a překládání (Knittlová, D.; Grygová, B.; Zehnalová, J. 2010: p. 218), «A tradução tem que surtir aos leitores o mesmo efeito como o texto original para os

seus destinatários.»5 No entanto, como é acrescentado a seguir, por causa das diferenças socio-culturais, é uma mera utopia, muito evidente da explicação de Steiner: «Aliás, como

é possível expressar e descodificar a significação […] através do tempo, espaço, do abismo mais ou menos profundo entre o léxico, a gramática, as redes de sistemas de signicantes sincrónicos e diacrónicos que dividem as línguas, comunidades e civilizações? […] Nenhuma tradução […] não é nunca perfeita. Da mesma forma, não existe uma compreensão entre os falantes da mesma língua.»6 (Steiner 2011: p. 96) Deste modo, o importante é minimalizar ao máximo estas diversidades e encontrar os equivalentes não só das palavras, mas também das situações que estes termos expressam.

Para nos orientarmos um pouco mais para José Rodrigues Miguéis como teórico e crítico da tradução, mencionemos algumas ideias de Ana Aguilar Franco publicadas no artigo Um Escritor sorri à Tradução – com meia cara (Aguilar Franco, A.: 2009). Deste texto se deduz uma grande vantagem de Miguéis – a saber, o conhecimento pessoal de duas línguas e de dois países. Isso é também a razão da sua atividade de tradutor – a de interligar estes dois seus mundos e através das traduções de escritores eminentes dos Estados Unidos da América possibilitar aos portugueses o conhecimento da realidade americana. Miguéis como teórico dá

4 A tradução desta citação do checo ao português é nossa: „Sexuální rétorika se jazyk od jazyka zásadně

liší. Kaţdý jazyk, kaţdá historická epocha a kaţdý společenský kontext v rámci jazyka kreslí onu pomyslnou čáru verbálně „zapovězeného“, nevyslovitelného či jazykově utajovaného na jiných místech lexikální škály. Co je lehce lechtivé v jednom jazyce, je v jiném naprostým tabu […]. Ţádné dva jazyky nesestaví identické kartografie lidského těla s jeho vybranými choulostivými partiemi. […] Stimul verbalizovaných důvěrností je v kaţdém jazyce specifický.“

5 A tradução desta citação do checo ao português é nossa: „Překlad má na čtenáře zapůsobit stejně, jako

zapůsobil originální text na své příjemce.“

6 A tradução desta citação do checo ao português é nossa: „Jak je vůbec moţné vyjádřit a dekódovat

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muito relevo à tradução adequada dos títulos, para que tenham o mesmo efeito tanto ao destinatário do texto original, como ao leitor da tradução; não exige a transcrição literal de uma língua para a outra, pelo que vamos optar também nas nossas traduções. Miguéis vai ainda mais além no seu artigo teórico Regresso do Filho Pródigo ao dizer que vão aparecendo os «[…] “atentados contra o sentido dos textos” que limitam os leitores a terem acesso

a “meras aproximações”.» (Aguilar Franco 2009: p. 54). Outro traço típico próprio de

Miguéis é a não-tradução de palavras de outras línguas aplicadas no texto, pelo qual vamos guiar-nos também nós, como vamos ver a seguir.

3.2 Tradução dos contos

Este capítulo é dedicado à tradução dos oito contos escolhidos do volume chamado

Passos/Paços Confusos. Optámos por reorganizar a sequência deles, assim que nesta tese

estão ordenados cronologicamente segundo a data da primeira publicação, de maneira que o primeiro conto, A Bota, foi editado em 1968, a seguir, O Jardineiro de Almas (1971),

Mudança de Posto (1973), Simples Conto do Natal (1976), Tendresse (1977), O Telefonema das Oito (1979), Eposódio «Norueguesa» (1979) e o último, Agnès – Ou o Amor Assexuado,

em 1980, no ano da morte de José Rodrigues Miguéis. Deste modo será possível ver se existem algumas metamorfoses no estilo e na temática dos contos.

Na nossa tradução tentamos partir dos dados mencionados na parte teórica, isto é, ter em consideração as realidades constatadas sobre a época, vida e correntes coetâneas à data da escrita dos contos que representam a macro-abordagem, para podermos continuar a seguir com a tradução mais apropriada, esforçando-nos por evitar as traduções interlineares, literais e livres para conseguirmos uma tradução comunicativa. Como não somos tradutores experientes, sendo estas traduções as primeiras tentativas, é óbvio que durante este processo surgirão diferentes problemas que serão analisados mais detalhadamente no capítulo 3.3.

3.2.1 Bota

Opilý, jsem opilý! Protoţe nejsem zvyklý, stačilo málo. Co mě ale udivuje, je moje odolnost. S prázdným ţaludkem. Ani výčitky svědomí. Proč taky? Jsem sám! Mezi prsty rozdrtil do popelníku sotva načatou cigaretu, aniţ se spálil. (Dříve si je balil ručně.) Zavřel oči a opřel si o dřevěné obloţení hlavu plnou bzukotu hlasů a smíchu z baru. Přepadla ho téměř slastná závrať a on se tiše a uvolněně pousmál. No to je dobré, připadám si, jako bych byl v jiném světě, celý poblouzněný. Usnul jsem snad? a zdálo se mi, ţe jsem vzhůru? Tahle

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dnešní mládeţ si umí ţít. To za našich časů… Nikdy jsem neflámoval, nechodil za prostitutkami ani popíjet. Práce… Ještě jsem hrál fotbal, tehdy jsem byl „quarter-back“ v okresním „teamu“, ale měl jsem ploché nohy, jednou jsem uklouzl na hlíně, upadl jsem, posunul jsem si čéšku, a uţ nikdy jsem si nemohl kopnout vůbec do ničeho. Zesláblá noha, nemotora. Stal se ze mě divák. Ale pořád mě to baví, je to pro mě rozptýlení.

Znovu otevřel oči. Číšník šel kolem a on mu řekl: „Přineste mi další!“ Klidně nahmatal balíček v kapse. Co teď s tímhle budu dělat! Pokusil se zjistit na svých hodinkách, kolik je hodin, ale rozostřený pohled a přítmí baru mu to nedovolily. Musí být kolem druhé… A máti čeká doma s rýţovým pudinkem! Zasmál se, ale něco tam uvnitř ho zabolelo. Číšník před něj postavil whisky; on se pro ni natáhl a naráz ji vypil. Pálila ho v ţaludku, jakpak by ne. Dneska jsem ani nevečeřel!

Co mě to jen napadlo. Téměř tři roky jsem kvůli tomu šetřil na oblečení, na cigaretách, na kávě. Dokonce jsem přestal obědvat v Baixe, jezdím tramvají za jedno escudo aţ k domu – ztrácím tak čas, ale vţdycky to znamená nějakou tu úsporu. Zkusil jsem loterii, sázky na fotbal, ale neměl jsem vůbec štěstí. Právě naopak! Běhal jsem po městě a hledal nějakou věcičku, která by připadala v úvahu, aţ jsem ji našel: bylo to na Rua da Prata. Tři tisíce osm set escudů. S briliantem zbroušeným do špičky na obou stranách – „markýza“, řekl klenotník – s dvěma safírky po stranách, pěkný, určitě se jí bude líbit. Chudinka, nemá ţádný šperk. Zaručená kvalita, bílé osmnáctikarátové zlato, a v podstatě za hubičku. A ţe je to pro vás, udělám vám ještě malou slevu. Je to dárek, víte? Ale prozatím … A co kdyţ ho prodáte? Uklidněte se, rezervuji vám ho. Nebo se obstará druhý, úplně stejný. Moje máti na to: Ty pořád jen touţíš po přepychu, synu! Je třeba myslet na budoucnost! Přijde nějaká nemoc, stáří… Kdybych já nebyla tak spořivá! A já: Peníze se vydělávají proto, aby obíhaly, váţená paní! Tak vznikají nová pracovní místa! Čím víc se utrácí, tím víc se vydělává a spotřebovává! Dnešní ekonomika je… Ale tomu staří nerozumí!

Chtěl jsem ji překvapit. Přijít k ní domů na Štědrý večer – Tady máš dáreček. A zavolej své rodiče, chci je poţádat o tvoji ruku! Ona by otevřela krabičku… Tmavomodré pouzdro ze safiánové kůţe, vystlané saténem, briliant se v ní dokonce zdál ještě větší. Je krásný! Ten tě musel stát! Polibek na tvář… Dobře holčičko, dnes spojíme příjemné s uţitečným… Měl jsem všechno promyšlené, slova, která jí řeknu…

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bydlet u tchýně s tchánem. Rodiče mi stačí ti mí, říkává. A má pro to své důvody. Ale holčičko, moje matka je klidná osoba, neplete se nám do ţivota. Otec skoro ochrnutý… A máme tam šest místností. Loţnice, salónek, jídelna – všechno zařízené, chuďoučké, ale koneckonců…! Ti chudáci jedí málo a vţdycky v kuchyni… Koupelna se starou karmou ještě na naftu. Budou nezávislí! Jejím snem je dostat se z tohohle brlohu, odstěhovat se do Alvalade. Ale máte na to, slečinko? Jeden plat – něco málo přes dva tisíce escudů! A z toho chcete zařídit byt! Přes odbory budeme muset čekat celé roky. Pravda, je to starý dům, pětipatrový v ulici Moraise Soarese, taková „klícka“, ale nájem jako za starých časů. Majitelé umírají, nic neopravují, ale zase ani nezvedají nájem. Dědici uţ dokonce mluví o tom, ţe ho prodají na demolici, a to bychom pak dostali odstupné… Je lepší počkat, pomůţeme si sami. Otcova výsluţba a penze vystačí na nájem a matka má nějaké to escudo v rohu zásuvky pro případ nemoci… (Dokonce mi dala předem pět set na prsten!) Prémie z Banky sice nejsou nic moc, ale přece jen je to pomoc. A ty, s tím, co vyděláš v nemocnici… Nějak vyţijeme! Můţeš si tam otevřít třeba soukromou pečovatelskou sluţbu, – injekce a léčba, – a dát si na dveře tabulku s kříţem a jménem… To vynáší!

To tak! – ona na to. Celý zbytek ţivota chodit do schodů, umývat zadky, vyvařovat injekční stříkačky, odstraňovat nekrózu z rány! A chodit na jeden pohřeb za druhým! Mám plné zuby nemocných i mrtvých! No jo holčičko, já jsem jenom malý bankovní úředník, ani studium jsem nemohl dokončit (začal jsem jako poslíček), ostatní postupně povyšují, předhánějí mě, snaţivci, teď tu máme zaměstnané dokonce inţenýry a doktory! Ale respektují mě, jsem tu dlouho a jsem váţený a svědomitý. S důchodem, s celým platem a se spořením … Svěř se do rukou Spořitelny! Počkej dalších třicet let, ţivot utíká, ceny stoupají, a z nás dvou se stanou dva sešlí starci! Tomu ty říkáš štěstí? Já bych si chtěla ještě trošku uţít ţivota, někam se podívat! Řekla se slzami na krajíčku. Ale holčičko… To je náš problém. (Přineste mi další, ano?)

Dneska odpoledne k ní zajdu, tak to bylo domluveno, dokonce jsem měl zůstat na večeři, ve dveřích se ale objeví matka s opuchlýma očima. Je Elisa doma? Pojďte dál, do obýváku, ona odešla… Odešla? Ale věděla přece, ţe přijdu! Kam šla? Mé srdce bylo zmatené. Otec, věčně páchnoucí po cigaretovém kouři, se na mě s pláčem vrhá: – Vzala si kufr, nikdy se sem nevrátí! Nechala vám tenhle dopis… Zbledl jsem, podlomila se mi kolena a posadil jsem se na proutěnou pohovku, roztrhl jsem obálku, ruce se mi třásly. Bylo to její písmo:

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Můj drahý Joaquime, způsobím Ti velký zármutek, ale osud to tak chce. Nemám odvahu říct ti to do očí, v den, kdy přicházíš ţádat o mou ruku. Budeš mít smutné Vánoce! Ale radši, ať je to takhle. Jaká budoucnost by nás čekala? Celý ţivot ošetřovat nemocné, pečovat o naše, potom přijdou děti… Jsem unavená. Znám mnoho ţenských, které se na venek ovládají, ale já taková nejsem. Úplně stačí to, co snáším od doktorů a ošetřovatelů, jako holka, která nemá nikoho, kdo by ji ochránil. Bůh mi seslal hodného muţe v letech, který mě zboţňuje a poskytuje mi všechno, zařízený dům, sluţebnictvo, klid. Odcházím z práce. Prosím tě, abys mě nesoudil a odpustil mi. Pokus se utěšit moje rodiče, z mé strany jim nebude nic chybět. A nehledej mě, protoţe ještě dneska odjíţdím z Lisabonu. Uţ se znovu neuvidíme. Tvá navţdycky nešťastná, vděčná a oddaná, Elisa.

Zatmělo se mi před očima. Tví rodičové! Jako bych neměl jiné starosti! Nezůstal jsem ani na večeři. Vyrazil jsem odtamtud otupělý, rozběhl jsem se do ulic s dopisem v ruce a prstenem v kapse, aniţ bych věděl, co dělat, kam jít. Mé sny se zhroutily! Prochodil jsem půlku Lisabonu od hospody k hospodě a pil jsem, já, který jsem nikdy předtím do ţádné krčmy nevkročil. Dokonce jsem chtěl skoncovat se ţivotem. Ale nechat naše samotné, bez jakékoli podpory! Ani bych je na to nemohl připravit, kdyţ nemají telefon… Máti na nás čeká s rýţovou kaší: Protoţe budete večeřet u ní, přijďte o půlnoci a dáte si ji se skleničkou dobrého vína. Podívej, dokonce jsem tam skořicí napsala i vaše propojené iniciály! – Nemám odvahu se jim teď podívat do očí. Ani se tam nechci vrátit! Prochodil jsem nazdařbůh celé hodiny, aţ jsem se ocitl a mrtvý únavou padl do tohohle baru na Cais do Sodré. Nikdy v ţivotě jsem nepil, ani nevím, jak to snesu. A nedokáţu zapomenout.

Ale ty, Eliso, taková poctivá, tichá ţena, jak jsi jen mohla…? Vţdycky jsem ti byl věrný, respektoval jsem tě, nikdy jsem se tě ani prstíkem nedotkl – moţná proto? Nebo jsi měla dost tohohle ţivota, kdyţ jsi viděla jiné ţít v přepychu! Nějaký bohatý stařec, otec dětí, vdovec nebo s nemocnou ţenou upoutanou na lůţko… Moţná jeden z bývalých pacientů z těch soukromých pokojů, který je nadále vděčný své ošetřovatelce… Ne? Bílá a baculatá, panna, má celý ţivot před sebou. Vzpomeň si na tu, co odešla za jedním chlapem do Ameriky, a zemřela tam opuštěná! A co si počnu s prstenem? (Ještě jednu, poslední, prosím!) Já tě chápu, holčičko. Co jsem já v porovnání s ním a s těmi dalšími! Zaměstnanec banky s plochýma nohama, který nemá štěstí ani budoucnost a nikdy to nedotáhne na vedoucího oddělení ani na ředitele pobočky! Moje matka mě naučila, abych byl takový – dobrosrdečný,

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za to nepůjdu zabít! A kdo je spravedlivý nebo bez viny, ať po tobě první hodí kamenem! (Ne, brečet tady, to ne… Ostatní by se na mě dívali!)

Podařilo se mu zjistit, kolik je hodin: Ach Boţe, budou tři! V tuhle dobu s námi naši uţ nepočítají. Spí v tom studeném a tmavém domě. Nebo se z nespavosti převalují na posteli. Na stole v kuchyni čekají pod krajkovými ubrousky dvě misky rýţového pudinku s našimi propojenými iniciálami napsanými skořicí.

Zaplatil, vypotácel se ven a znovu se vydal suchou a chladnou nocí. Všude liduprázdno. Zvedl si límec kabátu starého pět nebo šest let. Co já si počnu s tímhle dárkem a jak jen to vysvětlím máti! Veřejná doprava uţ nejezdila, šel tedy nahoru pěšky a pomalu se otáčel, aby si prodlouţil cestu. Kolem projíţděly taxíky s lenochy, křik, auta s lidmi, kteří předtím jeli na půlnoční mši nebo na vánoční večeři – dobrou chuť! Po hodině, uţ v Estefânii, se mu udělalo nevolno, a zastavil se u jednoho rohu, aby se vyzvracel: měl prázdný ţaludek, jen alkohol, trpké víno a hořkou pachuť po cigaretách. Kdosi prošel a se smíchem řekl: Veselé

Vánoce! Ach, jdi do háje. Ulevilo se mu. Bolela ho hlava, slabostí se sotva drţel na nohou,

a tak se vlekl.

Přišel do ulice Moraise Soarese, ani ţiváčka. Uţ je to třicet let, panečku, tahle bída, špína! Tramvajové koleje se leskly vzhůru ulicí. U dveří stály plechovky a pytle s odpadky. Toulavý pes čenichal a dobýval se do jednoho pytle, povedlo se mu ho povalit, odpadky se rozsypaly po dlaţbě: hledal kost. Odehnal ho, pes utekl s ocasem mezi nohama a zastavil se opodál. Vedle na schodu leţela bota. Zadíval se na ni: byla to bota, jakou jiţ dlouho neviděl. Kotníková, rozedřená, sešlapaná a chatrná, s dírami i záplatami, ochozená podráţka se na špičce odlepovala, tkanička z motouzu se táhla po zemi. Očima se poohlédl po té druhé, neviděl ji. Osamělá bota. Jako já. Na Štědrý večer. Ale takhle u dveří, aţ se zdá, ţe … Je tu snad ještě někdo? Kdyţ jsem byl malý, věšíval jsem botu nad krb. Věřil jsem na Jeţíška? (Letos mi přinesl pěkný dárek!) Moje babička z Beiry říkávala: Kdyţ Bůh Náš Pán chodil po světě přestrojen za chudáka, aby prosil o almuţnu… A moje matka: Nesnaţte se tomu malému nasadit do hlavy tyhle báchorky, matko! Nejsme v Carquejeiře! – Ale já jsem věřil dokonce i na pohádky, ve kterých zvířata mluví!

Ta bota ho fascinovala. Kdoví, jestli nepatřila některému svatému, nebo samotnému Jeţíši! Určitě byla nějakého starého dělníka či ţebráka, prošoupaná běháním po ulicích, cestách i stezkách, kdyţ prosil o práci či o chleba…Opuštěná a sama. Měl tvůj pán i druhou nohu? A kam půjde ta noha, která v tobě přebývala? Pes se vrátil a pozoroval ho: s jednou

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tlapou ve vzduchu, hlavou nakloněnou na stranu, s pozorným a podbízivým úsměvem. Chtěl ho pohladit, ale pes ucouvl, protoţe se bál rány obuškem nebo něčeho horšího. Můj druh, také poníţený. Znovu se otočil k botě, na chvilku uvaţoval, nahmatal balíček v kapse. Tři roky úspor na zásnubní prsten. A tady ta opuštěná bota nějakého chudáka. Pokušení! Je to snad varování, nějaká zpráva, zkouška? (Synu, ty pořád myslíš na přepych.) Vytáhl balíček z kapsy. Eliso, ta tvoje bílá a baculatá ruka diplomované sestry, aseptická, zvyklá na hnis a na výkaly dnes v noci moţná hladí jeho šíji. Bez prstenu. A kdoví? Měla bys tu kuráţ…? A proč na tebe myslím, kdyţ všechno skončilo?

Zdálo se, ţe se bota více otvírá jeho v gestu rezignace a lhostejnosti. Trošku se sehnul, aby neminul cíl, zvedl ruku, pomalu ji spouštěl, aţ nehlučně spustil balíček dovnitř. Napřímil se a zhluboka si oddechl. A je to! Cítil se osvobozen od těţkého břemene. Pes leţel opodál, pozoroval ho s čumákem mezi tlapami a ocasem smetal prach z chodníku. Jsi můj svědek, jo? Někdo mě moţná sleduje skrze tvé oči nevinného tuláka. Vánoční dárek! Přijde si snad pro něj On, pro své mystické zásnuby? Radši takhle…

S rukama v kapsách dál pomalu stoupal smutnou a prázdnou ulicí, kde se narodil a ţil přes třicet let. Pustá. Panovalo naprosté ticho. Svatá noc, noc…

Vzpomněl si na rýţový pudink, lemovaný písmeny ze skořice, a dostal hlad. Zrychlil krok a pousmál se:

Malichernosti! Kolik let uţ mě tohle slovo nenapadlo!

Diário de Lisboa, 24/12/68 Comércio Com O Inimigo, Ed. Inova, Julho de 1973

3.2.2 Zahradník duší

Bylo to poprvé, co jsem tam vstoupila, klopýtajíc nesměle ve večerních šatech z výprodeje. Vysoké stropy, obrovské sametové závěsy barvy „gris-perle“, koberce, lakovaný nábytek plameňákově červené barvy, zrcadla, sněhobílé ubrusy, třpytící se sklo, prudké a všudypřítomné světlo, kmitající číšníci ve fracích, vybraní hosté, tlumená hudba – to všechno pro mě bylo nové a toho všeho jsem se lekala. Pevně jsem se zavěsila do tvého rámě, abych neutekla. Usmál ses na mě… Povzbudilo mě to, byla jsem pyšná na tvoji lásku, na tvoji střídmou eleganci, na tvoji nenucenost. Byl jsi proslulý, známý muţ, a já, dvaadvacetiletá dívka, zaslepená, ale oslněná, jsem v tobě viděla – nebo si vysnívala – všechny krásy ţivota,

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slávu, moţná peníze – cíle mých tuţeb nevzdělané a špatně vdané bezvýznamné úřednice. Doma jsem se vymluvila na „party“ v kanceláři.

Posadili jsme se k rezervovanému stolu, ty jsi objednal pití a večeři a stále s úsměvem jsi poloţil svou teplou ruku s dlouhými prsty bez prstenu (proč?) na moji, která se třásla zimou, hrdostí i plachostí. Co jsem od tebe očekávala? Tvůj ţivot byla záhada. – „Mám své závazky!“ řekl jsi jednoho dne. A já, já jsem byla zajatkyní smutného předměstí, despotické rodiny, hrubého manţela, zaměstnání, falešných šperků, za které jsem se styděla… Ale bylo krásné snít! Povídal jsi mi o knihách, o názorech, o problémech, o „neboţácích“, kterým jsi tajně slouţil, a já, uchvácená, jsem tě unešeně poslouchala jako nějaké orákulum, oddávala se pohodlí a vzrušení z prostředí i z pití, touze po tobě, očekávání lepšího ţivota. Bylo to snad nevhodné? Stal ses mým učitelem a vůdcem, dával jsi mi rady: abych studovala, abych si vybudovala vlastní kariéru i přes úzkoprsost a tlak ze strany mé rodiny. Hrbil ses nad sklenkou a otáčel jsi ji v prstech, hubený a protáhlý asketický obličej ti rámovaly prameny tmavě plavých vlasů, uţ se šedinami. V duchu jsem před tebou padla na kolena, abych tě obdivovala. Nebylo oběti, kterou bych ti nepřinesla. Okouzlena tvým svrchovaně naplněným ţivotem jsem pocítila, ţe patřím k tobě, k tvému tajemství. Slýchala jsem své nadřízené, jak o tobě mluví s obdivem a s úctou. Tví „neboţáci“ jako já ti naslouchali a jako já tě zboţňovali. Všechno, co jsi dělal, všechno, čeho ses dotýkal, jsi proměňoval ve zlato. Ty sám jsi byl to zlato! Řekla jsem to. „Ano, kdyţ k nim mluvím, přál bych si je změnit, přeměnit … Jsem jako alchymista, metafyzický sochař, zahradník duší!“ „Jsi básník, můj básník. A nikdy jsi mi nepřečetl své verše!“ „Snad jednou! – řekl jsi. – Mám v úmyslu je vydat kniţně…

Zahradník duší!“ a usmál ses. Náhle jsi zváţněl: „Poslouchej, to je Chopin!“ Odmlčeli jsme

se. Horoucí a jemný zpěvákův hlas umocňoval tvou okouzlující společnost – byl jsi o dvacet let starší neţ já! –, spolu s návaly lásky, s účinkem „drinků“. „Takhle zpívat umí jen Francouzi: bez sentimentálního „tremola“ Italů, formální strnulosti Němců i bez hlasového, svalového, napětí Anglosasů. Lyričtí ale střídmí, čistí a vnímaví!“ Poté jsi ho sledoval a zašeptal jsi mi do ucha:

Viens dans mon jardin,

où je t´attends depuis ce matin…

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Viens, mon amour…

Uměla jsem málo francouzsky, ale ta slova se postupně stávala leit-motivem našeho vztahu: prostupovala mnou, opojovala mě, aţ jsem se rozplakala: z lásky, naděje a smutku, z obavy, studu, kvůli hořkosti z mé nevědomosti, z touhy učit se, nadchnout se, být někým – být tě hodna! Pochopila jsem, ţe jsou v ţivotě i jiné věci, a byla jsem ti vděčnější za to, ţe jsi mi je odhalil.

Vídali jsme se jen zřídka, ty jsi býval pryč, cestoval jsi, nechával jsi mě beze zpráv. A já jsem čekala… Měla jsem také svá „pouta“: práci, pospíchat domů, povinnosti v domácnosti, všechno nás odlučovalo. Naše setkání byla vzácná a obtíţná, uspěchaná. Ty jsi však byl pozorný, zanícený a úzkostlivý milenec: vkládal jsi do lásky ideálno, touhu obdařovat, zápal, s jakým jsi dělal všechno. A vnukl jsi mi dychtivost po ţivotě na vyšší úrovni. Objevil jsi ve mně mé vlastní moţnosti. Chodila jsem do večerních kurzů, četla a studovala (stále jsem pracovala a zároveň trpěla), získala jsem diplom, myslíc na tebe jsem začala nesměle psát, znovu jsem si pročítala tvoje dopisy, které mě z dálky povzbuzovaly. Hledala jsem smysl své existence. Jednoho dne se mi podařilo prodat povídku do jednoho časopisu. Následovaly další, mluvilo se o mně, dostávala jsem zakázky … Překvapilo mě to! Kdyţ jsem cítila, ţe jsem dozrálá, odešla jsem z práce. Dopálený manţel, který se cítil poníţen, mi nabídl rozvod. Osvobodila jsem se od rodiny.

K mému úleku jsi od setkání k setkání stárnul: šedivěl jsi a hubl, přestoţe jsi byl stále ten stejně pozorný milenec. Stále ses oblékal elegantně, ale na tvých šatech začaly být patrné známky opotřebení. Postupně jsi za mnou přestal jezdit. Proč ses mi vyhýbal? Kdo, jaké povinnosti tě zadrţovaly či ti bránily? Všechno, co jsem věděla, bylo, ţe tě tví „neboţáci“ zklamali, zradili a opustili. Ale mé srdce tě stále milovalo s někdejší horlivostí jako zahrada svého zahradníka! Jako svobodná a osamělá ţena jsem poznala pomíjivé a neuspokojivé lásky, v nichţ jsem s lítostí a výčitkami hledala tvůj obraz.

Uplynuly další roky. Přicházely mi o tobě čím dál bezvýznamnější a vzdálenější zvěsti. Pak se i tyto odmlčely. Pátralo se po tobě, odpovědí bylo pokrčení rameny… Nakonec jsi, pohrouţen do svého tajemství, zmizel z mého ţivota. Jak je moţné, ţe jsi všechno opustil? Vzpomínka na tebe mě dojímala steskem i vděčností. V téměř čtyřiceti letech a s několika stříbrnými nitkami ve vlasech jsem měla dobré jméno, vydávala jsem knihy, vydělávala peníze. Pokusila jsem se psát divadelní hry.

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Aţ jednoho dne za mnou přišla policie: Jestli tě znám, co o tobě vím. Zasáhlo mě, kdyţ jsem se dozvěděla, ţe tě našli v bezvědomí a bez hlesu, s váţným poraněním hlavy v jednom příkopu! V obnošené peněţence jsi měl pouze jedno jméno – moje – a moji fotografii. Boţe! Přiběhla jsem do nemocnice. Byl jsi na pohotovosti. Stařec s bezkrevným obličejem, ostrým nosem, zavřenýma očima, (oholenou) hlavou omotanou obvazy, na záhybu prostěradla leţely tvé bezvládné a ledové ruce, které mě kdysi hladily a zahřívaly. Co bych znovu neudělala pro tvoji záchranu a podporu? Má jediná lásko, můj učiteli a můj průvodce! A jsi celé moje mládí… Sklonila jsem se, abych k tobě mohla mluvit tišeji, neodpověděl jsi. Z pootevřených úst ti unikal jen mělký dech. Sevřena bolestí jsem se obrátila na chirurga: Je nějaká naděje? Zavrtěl hlavou: „Nepřeţije dnešní noc.“ Zemřel jsi k ránu, s rukama v mých, aniţ jsi znovu promluvil. Sám na světě, nuzný, bez rodiny, bez ţeny i dětí, které by tě oplakaly! Vyţádala jsem si tvoje tělo a v tuhé zimě jsem tě nechala pohřbít na vzdáleném hřbitově. Tam jsem tě nechala samotného a vrátila jsem se domů, já sama osamělejší neţ kdykoli jindy, oddávající se smutným myšlenkám.

Dostala jsem klíč od tvého pokoje v jedné chudinské ulici. Šla jsem si ho prohlédnout. Rozplakala jsem se, kdyţ jsem spatřila rozpáraný kavalec, oblečení na šňůře nataţené mezi dvěma hřebíky ve zdi, viklající se stůl, pokrytý knihami a papíry. Se zamţenýma očima jsem jimi prolistovala, hledala jsem verše, příběhy, které jsi mi vyprávěl: našla jsem poznámky, nesouvislé věty a sešit s nedokončenými básněmis tímto titulem: Zahradník duší. Vzala jsem s sebou veškerou pozůstalost po tvém snu. Co tě jen přinutilo spadnout tak nízko? Zklamání? Nemoţnost tvořit? Klesl jsi na úroveň „neboţáků“, se kterými ses ztotoţnil. Co ale chtějí „neboţáci“ jiného, neţ jimi přestat být? Jako já! Ta píseň mě pronásledovala:

Viens dans mon jardin,

où je t´attends…

Abych utekla před svou úzkostí, vrhla jsem se do práce s novou horlivostí. Za pár dní a nocí jsem v slzách napsala drama o tvém ţivotě. Protoţe bylo plné tebe, tvé přítomnosti i vzpomínek, tvého skrytého utrpení i učení, dala jsem mu titul, který jsi ty sám zvolil pro své verše: Zahradník duší. Hra byla čtena a přijata a měla okamţitě úspěch. Byl to můj triumf.

A dnes večer, na banketu ke sté repríze, jsem mezi proslovy, smíchem, vřavou, myslela jen a jen na tebe. Zúrodnil jsi mě, tvůj ţivot a tvůj duch se přenesly do mé tvorby. To ty jsi byl jejím i mým autorem! Nezůstal jsi neplodný…

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Tak jsem vstala, zvedla jsem sklenku a v nastalém tichu poţádala spolustolovníky, aby připili na památku jednoho nepřítomného muţe beze jména, jenţ dal smysl mému ţivotu i dílu: na Zahradníka duší.

A jak bývá zvykem psát v novinách, ať uţ jsi byl kdekoli, musel jsi slyšet ten ohlušující potlesk.

Diário de Notícias, 25/12/71 Comércio Com O Inimigo, Ed. Inova,

Julho de 1973

3.2.3 Nový post

Celé dopoledne pršelo. Bylo kolem druhé hodiny odpoledne, ale déšť neustával, lehký, monotónní a klidný. V domě, ve vzduchu i v okolí panovalo nezvyklé ticho. Z oken bylo vidět ten téměř tíţivý svět bělosti a čistoty: Tejo zahalené clonou mlhy a deště, vzdáleností rozostřené domky ve fantasmagorickém panoramatu města – změti střech a komínů, opony zdí, vznášející se jako bez tíţe… Z oné beztvaré a nekonečné propasti přicházelo chvílemi ječení sirén parníků a skřípění řetězů a jeřábů z nábřeţí a loděnic.

Má rodina vyrazila hned po obědě, aby strávila víkend na rozloučenou na statku MacPhersonových ve Vila-Rice. Já jsem se vymluvil na bezodkladnou práci, abych tam nemusel jet. Nechtěl jsem opustit Lisabon. Toulal jsem se po domě sám, bezradný a předem nostalgický jako vţdycky, kdyţ se připravuji na změnu postu, aţ jsem se ocitl v kuchyni a hledal, uţ ani nevím co. Zaslechl jsem klepání na dveře pro sluţebnictvo, přes záclonku jsem zahlédl tvář, šel jsem otevřít. Venku stála snědá dívka s jemnými rysy, s tmavými vlasy nasáklými deštěm stejně jako její děravý pléd a hadry, které měla na sobě. Stála opřená o zárubeň a dívala se na mě napůl tázavě a napůl s výsměchem ve smutných, sešikmených orientálních očích, tak obvyklých u těchto lidí, a které mě vţdycky znepokojují a uvádějí mě do rozpaků. Nemohlo jí být víc neţ devatenáct let. Byla bosa a opírala se levou nohou o nárt pravé nohy, jako by se nechtěla postavit oběma na zaplavenou mozaiku z hrubých dílků. Byla těhotná – na rozpadnutí, jak se říká v tomhle kraji.

- Kupte si ode mě los, milý pane – řekla. - Já nesázím.

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Její chudoba a předčasné těhotenství mě poděsily. Vzpomněl jsem si na odporný zvyk, který mají naše ţeny – vystrčit vyzývavě, téměř agresivně, břicho, jako by předváděly nevídaný zázrak nebo jako by nám chtěly vmést do tváře zodpovědnost za jejich stav, na který jsou vlastně tak hrdé. Dívali jsme se na sebe, dokud jsem neřekl:

- Pojďte dál, nezůstávejte tu na dešti. Vstoupila bez váhání. Zavřel jsem dveře. - Kolik je vám let?

- Bude mi osmnáct.

Ukázal jsem na její břicho, jeţ jako by zabíralo celou kuchyň: - A tohle?

Pokusila se o úsměv a pokrčila rameny: - Och…

- Má otce? - Má i nemá. - Víte, kdo to je?

Zvedla obočí s výrazem téměř veselé pochybnosti: - Domýšlím se. Ale nejsem si jistá.

Bylo jich tedy víc. Dál jsem nenaléhal. Srdce mi tlouklo. - Posaďte se.

Sedla si na lavici z borového dřeva mezi stolem a oknem a já jsem se rozhlédl přemýšleje, co bych jí mohl nabídnout. Na sporáku stál hrnec. Sundal jsem poklici: byla to zeleninová polévka, kterou mi Balbina prozíravě připravila.

- Dala byste si polévku? - Bodejť by ne!

Zapálil jsem plyn, z kredence vytáhl talíře a sklenice, ze zásuvky příbory a ubrousek a poloţil jsem je před ní. Ukrojil jsem čtvrtku z toho voňavého pšeničného chleba, jaký v mateřské zemi obilí neumíme udělat. V lednici jsem našel vařenou rybu s bramborami: dal jsem ji také na stůl, studenou, jak byla. Potom olej s octem a láhev červeného vína. Dívala se

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na mě tiše, poněkud ironicky, dětinská, ale zároveň dospělá. Rozpačitě jsem si zapálil cigaretu.

- Máte rodinu? – vyptával jsem se a přitom se snaţil předstírat lhostejnost. - Mám matku a čtyři bratry. Jednoho staršího a tři mladší.

- Bydlíte společně?

- Mhm. Ten nejstarší se doma nikdy nestaví. Toulá se bůhví kde. - A otec?

Zavrtěla nesouhlasně hlavou. - Pracují?

- Ten nejstarší, ale jen kdyţ se něco naskytne. - Stačí prodávání losů na ţivobytí?

- Skoro vůbec. - Almuţny? - Co mi zbývá.

Polévka byla horká, nalil jsem jí. Jedla tiše, lačně ukusovala z chleba a hltala ho téměř bez kousání, nebo tak se mi to alespoň jevilo. Stál jsem, kouřil a bezmyšlenkovitě se na ni díval. Něco myslelo místo mě. Dal jsem jí druhý talíř polévky a nalil jí sklenici vína. Pozvedla kaštanové oči a usmála se na mě:

- Vy mě snad chcete opít! Měla bílé a dokonalé zuby. - Já si dám taky.

Nalil jsem si sklenici whisky a vypil ji téměř celou naráz. Ona se zasmála. Do štíhlého a pravidelného obličeje, svěţího jako orosená květina, jí vystoupily barvy. Její pokoţka, omytá deštěm, ošlehaná čerstvým vzduchem a opálená sluncem, měla teplý nádech. Kapky vody se leskly rozseté v jejích vlnitých a zacuchaných vlasech. Mohl jsem po libosti obdivovat rysy té jemné a neochvějné krásy, obestřené zvláštní směsicí šibalství a něhy, coţ je typický portugalský rys. I při jídle nechávala stále jednu nohu poloţenou na druhé. Teplo kuchyně jí je usušilo a byly méně červené, ačkoli na nich měla vystouplé ţíly. Zdály se velké a dobře stavěné, s onou odchylkou palce, vlastní nohám uvyklým chůzi bez bot a „přilnutí“ k zemi jako u řeckých soch. Nohy měla štíhlé, dobře tvarované a hladké. Kdyţ jsem se na ně

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díval, měl jsem z toho mladého těla, zdeformovaného těhotenstvím, náhlý pocit důvěrnosti a přepadla mě lehká slabost. My dva, sami …

Dojedla celá rozpálená a znovu se usmála: - Můţu teď umýt nádobí?

- To si nedáte kávu?

- Ne, ne pane. Nedělá mi dobře na nervy.

Vstala. Při pohledu na ono tak časně obydlené a tepající břicho mi krev tepala ve spáncích. Abych se rozptýlil, šel jsem zapálit karmu. Škrtnul jsem marně třemi nebo čtyřmi sirkami, spálil si prst a slyšel ji, jak se mi za zády směje. Krátce nato nenuceně umývala nádobí, opírajíc se břichem o mramorový dřez. Nemohl jsem od ní odtrhnout pohled. Stačilo ji popadnout a… Znovu jsem se posadil, dal si druhou whisky a zapálil si další cigaretu, pokoušeje se ovládnout chvění rukou. Byly tři hodiny pryč, mléčné světlo v kuchyni mě svou bělostí uklidňovalo. Kdyţ umyla nádobí, podívala se na mě:

- A co teď?

Neměla se k odchodu. Jako by čekala něco jiného. Měl jsem sucho v ústech, ale rozhodl jsem se uţ nepít. V hlavě se mi zrodil nápad:

- Chtěla byste se vykoupat?

Pochopil jsem, kam mě fantazie poháněla. - Kde? Ve vaně?

- Ano, v koupelně.

- Nikdy jsem se nekoupala. - Vy jste se nikdy nekoupala?

- Ve vaně ne. Jen v moři, kdyţ jsem byla malá.

Připadala mi poplašená či podráţděná. Ale vzápětí se zasmála a oči i zuby se jí uličnicky zaleskly:

- Tak dobře.

- Nemáte strach, takhle po jídle? Někteří lidé… - Strach z čeho? Vţdycky chodím v dešti…

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Prošli jsme chodbou a vstoupili do koupelny, ohromného doupěte plného smíšených vůní. Zahleděla se na smaltované a niklované předměty, na porcelán, lesknoucí se skla, váhavě přejela prstem po umyvadle, chvilku se prohlíţela v zrcadle, otevřela lékárničku s nesčetnými lahvičkami a tubami s léky, prostředky pro akutní potíţe, zubními pastami a prášky, holicími strojky. Potom se zahleděla na toaletní stolek s lehkým přehozem, obtíţený parfémy, kolínskými, vlasovými vodičkami, mastmi a krémy i pěnami na holení, pleťovými vodami a deodoranty, kartáči, tubami, depilačními pinzetami, nůţkami a pilníky, laky na nehty, kloktadly, spreji, pudry a zásypy, bezpočtem rtěnek různých odstínů – celý ten sloţitý arzenál zákulisí ţivota pohodlného, ale zkroušeného úzkostí a strachem z nečistoty, nemoci, ošklivosti a smrti. Při pomyšlení na onen aseptický, antiseptický a umělý svět jsem se začervenal studem. Pochopil jsem, ţe nenávidí – i proč, nenávidí – ty parfémy – zástěrku prosté přirozenosti. Obrátila se ke mně:

- Všechno tak čisté! Vypadá to jako v nemocnici.

- Však to je nemocnice! – a podařilo se mi pousmát se. Měl jsem chuť to všechno rozbít. Dál na mě upírala svůj roztěkaný a vláčný pohled:

- Vy jste ţenatý, ţe ano? Jste cizinec… Podle řeči!

Předstíral jsem, ţe jsem ji neslyšel nebo nerozuměl otázce, která prozrazovala smutek a výčitku. Sehnul jsem se k vaně, zašpuntoval ji a roztočil kohoutky. Horká voda prudce vytryskla, pára zaplnila ovzduší a sráţela se na tmavých tabulích okna, na zrcadlech i na kovových předmětech. Vlahá, omamná vlhkost vzduchu vybízela k uvolnění, slasti a rozjímání. Klidná voda byla na bílém smaltu, jasně průhledná jako voda v moři. Měl jsem chuť vstoupit do ní jako do snu, zapomenout na déšť, na šedivý a monotónní den i na blízký odjezd. Řekl jsem jí:

- Teď se svlékněte. Chcete, abych odešel? Ona se zasmála, zavrtěla hlavou: - Potřebuji vaši pomoc!

Vytáhl jsem ze skříně dva ručníky a houbu. Třásly se mi ruce. Slíbil jsem si, ţe uţ znovu nebudu pít, dříve neţ … Začala si svlékat vlhké cáry, přilepené na tělo: zašpiněnou blůzu, záplatovanou sukni, děravou košili… Najednou byla nahá. Klidná a usměvavá, přidrţujíc si levou rukou břicho, zvedla opatrně jednu nohu, potom druhou, a vstoupila do hluboké vany. Zůstala stát, voda jí sahala ke kolenům, zahalená v oblacích liknavé páry. Podívala se na mě

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