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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PROGRAMA DE ESTUDOS PÓS-GRADUADOS EM CIÊNCIAS DA RELIGIÃO SÉRGIO AGUIAR MONTALVÃO

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Academic year: 2018

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PROGRAMA DE ESTUDOS PÓS-GRADUADOS

EM CIÊNCIAS DA RELIGIÃO

SÉRGIO AGUIAR MONTALVÃO

O PRIMEIRO TEMPLO DE JERUSALÉM SEGUNDO O

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MAGINÁRIO

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XÍLICO

Um Estudo de sua Relevância, Função Social e seus Aspectos

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PROGRAMA DE ESTUDOS PÓS-GRADUADOS

EM CIÊNCIAS DA RELIGIÃO

O

P

RIMEIRO

T

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J

ERUSALÉM SEGUNDO O

IMAGINÁRIO PÓS-EXÍLICO

Um Estudo de sua Relevância, Função Social e seus Aspectos

Sérgio Aguiar Montalvão

Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Estudos Pós-Graduados em Ciências da Religião para a área de concentração Fundamentos das Ciências da Religião da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, para obtenção do título de Doutor em Ciências da Religião.

Orientador: Prof. Dr. João Décio Passos

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Montalvão, Sérgio Aguiar.

OPRIMEIRO TEMPLO DE JERUSALÉM SEGUNDO O IMAGINÁRIO PÓS

-EXÍLICO –Um Estudo de sua Relevância, Função Social e seus Aspectos /

Sérgio Aguiar Montalvão. – São Paulo, SP: [s.n.], 2015.

Orientador: Prof. Dr. João Décio Passos.

Tese (Doutorado) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Bibliografia. 219 f.

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Banca Examinadora:

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AGRADECIMENTOS

Ao Prof. Dr. João Décio Passos pela orientação durante a tese de doutorado, pela instrução à monitoria e pelo ensino à condução das aulas de Introdução ao Pensamento Teológico para os cursos de graduação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

Ao Prof. Dr. José Queiróz, braço amigo de todas as etapas desta pesquisa. Ao Prof. Dr. Pedro Lima Vasconcelos, grande colaborador da minha tese e do meu ingresso no programa de doutorado em Ciências da Religião da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, o qual neste momento encontra-se em uma encruzilhada na sua vida, e se espera que, em algum momento, a luz brilhe em seu caminho.

Ao Prof. Dr. Milton Schwantes (in memorian), por me transmitir a confiança necessária para prosseguir no strito sensu na área de Bíblia Hebraica.

Ao Prof. Dr. Fernando Torres Lodoño e ao Prof. Dr. João Edênio, pela contribuição e pelo estímulo na ingressão no curso de doutorado na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

Ao departamento de Ciências da Religião da Pontifícia Universidade Católica por no momento de fato me darem novas esperanças na continuidade da minha pesquisa e da minha vida acadêmica.

Ao Prof. Dr. Silas Guerriero e à Profª Drª Maria José Rosado pelas valiosas informações que contribuíram para a realização deste trabalho.

Ao Prof. Dr. Matthias Grenzer e à Profª Drª Maria Antônia Marques por darem novo rumo à minha tese de doutorado, a qual, se fosse analisada por mãos erradas, já ao ser defendida estaria ultrapassada e defasada.

Especificamente ao departamento financiador da CAPES-PROSUP pela minha bolsa integral de estudos, que fundamentalmente mudou a minha vida e o meu modo de pensar.

À minha mãe, por tudo que ela tem feito por mim até hoje, pelo seu carinho, confiança e motivação.

Aos verdadeiros amigos, colegas e fãs da minha pesquisa, pela força e pela vibração em relação a esta jornada.

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curso strito sensu e de disciplinas das Ciências da Religião da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, pois juntos trilhamos uma etapa importante de nossas vidas.

À secretária do Departamento de pós-graduação em Ciências da Religião, Andréia Bisuli de Souza, pelo incentivo à minha tese, pelo árduo trabalho e pela paciência na organização burocrática em geral.

Aos bibliotecários, pela concessão de informações valiosas para a realização deste estudo.

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“Mais vale um burro vivo do que um doutor morto”

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MONTALVÃO, Sérgio Aguiar. O PRIMEIRO TEMPLO DE JERUSALÉM SEGUNDO O IMAGINÁRIO PÓS-EXÍLICO – Um Estudo de sua Relevância, Função

Social e seus Aspectos, 2015. Tese (Doutorado em Ciências da Religião) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

RESUMO

A presente tese de doutorado visa apresentar o que veio a ser construído através do imaginário sobre o “Primeiro Templo” de Salomão, o qual muitas pessoas ainda acreditam nos dias de hoje que seja factual. Entretanto, o Templo, conforme o apresentado na Bíblia Hebraica, jamais existiu, pois não passava de um anexo do palácio do rei; tão pouco são factuais os mitos que circulam em torno dos reis Davi e Salomão, que não foram tão grandiosos quanto a Bíblia Hebraica aponta. Apesar disso, em dois momentos da História de Judá, na Revolução Deuteronomista e no Retorno do Cativeiro, o Templo teve uma função centralizadora e necessitava de diversos mitos fundantes para ser legitimado. Com tais mitos, o povo que estava próximo ao Templo sentia-se mais parte da “Casa de Yahweh” por acreditar fazer parte de um plano estabelecido pelo “Criador do Universo” e todas as histórias inventadas e elaboradas pelo Deuteronomista e pelo Sacerdotal lhes davam maior alegria e esperança. O que houve, de fato, foi a legitimação do poder do rei, no contexto da Reforma Deuteronomista, e do poder do Sacerdote, no retorno do Cativeiro, no começo do Período Persa. No pós-exílio, por ser um período mais recente, encontra-se maior quantidade de elementos que caracterizam o estímulo do imaginário popular sobre o “Primeiro Templo” do que no período da Reforma Deuteronomista, apesar deste último ser um período de prosperidade para o Reino de Judá.

Palavras-chave: Primeiro Templo; Jerusalém; História Antiga; Idade do Bronze e do Ferro; Período Neobabilônico; Período Persa.

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MONTALVÃO, Sérgio Aguiar. O PRIMEIRO TEMPLO DE JERUSALÉM SEGUNDO O IMAGINÁRIO PÓS-EXÍLICO – Um Estudo de sua Relevância, Função

Social e seus Aspectos, 2015. Tese (Doutorado em Ciências da Religião) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

ABSTRACT

This doctoral thesis aims to present what came to be built through the “Solomon’s First Temple” Imaginary, which many people still believe in the nowadays that it is factual. However, the Temple as presented in the Hebrew Bible never existed, because no more than an annex king’s palace; it’s also not factual the myths circulating the kings David and Solomon, which were not as grand as the Hebrew Bible points. Nevertheless, on two occasions in the history of Judah, the Deuteronomist Revolution and the Return of the Captivity, the Temple had a centralizating function and required many founding myths to legitimize it. With such myths, the people who were near the Temple felt more part of the “House of Yahweh” for believing participate of a plan established by the “Creator of the Universe” and all the stories invented and developed by the Deuteronomist and the Priestly gave them greatest joy and hope. What happened in fact was the king’s power legitimacy in the context of Deuteronomist Reform and the priest’s power in the return of the Captivity in the early Persian period. As for the post-exile, for being a more recent period, is greater amount of elements that characterize the stimulation of popular imaginary regarding the “First Temple” than in the period of the Deuteronomist Reform, despite the latter being period of prosperity for the Kingdom of Judah.

Keywords: First Temple; Jerusalem; Ancient History; Bronze and Iron Age; Neo-Babylonian Period; Persian Period.

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ÍNDICE

Introdução ... 14

Capitulo I – A Questão Deuteronomista... 23

1. O Desenvolvimento da Hipótese Documental Clássica ... 26

1.1 Os Primeiros Trabalhos Críticos ... 27

1.2 Os Movimentos das Ideias do Século XIX ... 31

1.3 Os Estudos de De Wette ... 34

1.4 O Desenvolvimento dos Estudos de De Wette e seus continuadores ... 36

1.5 A Hipótese em Matéria de Fato e os estudos de Wellhausen ... 38

2. Origens da Teoria Deuteronomista ... 45

2.1 A História Deuteronomista nos Livros de Reis ... 49

2.2 A Questão da Coerência da Redação dos Livros de Deuteronômio a Reis ... 54

2.3 A Discussão mais Recente do Estudo da Fonte Deuteronomista ... 60

2.4 Definição dos Autores “Deuteronomistas” ... 63

2.5 A Escola Deuteronomista: “Encontro do Livro” e Reforma Cúltica... 69

Capítulo II – O Senso Crítico sobre o Primeiro Templo ... 77

1. O Senso Comum sobre o Primeiro Templo ... 78

2. História Deuteronomista e Historiografia ... 80

3. Perspectiva Literária de Mario Liverani ... 82

3.1 A Fundação Mítica: A Unidade como Arquétipo ... 83

3.2 A Continuidade Dinástica e a História da Sucessão ... 87

3.3 Sabedoria e Justiça ... 90

3.4 Do Messianismo Régio ao Messianismo Escatológico ... 93

4. Perspectiva Arqueológica de Finkelstein e Silberman ... 98

4.1 As “Memórias de uma Era de Ouro” ... 99

4.2 A Formação Ideológica da Dinastia Real para Israel ... 101

4.3 Uma Nova Perspectiva sobre o Reino de Davi... 105

4.4 As “Conquistas de Davi” ... 108

4.5 O “Legado de Davi” ... 109

Capítulo III – Teorias sobre o Primeiro Templo ... 115

1. Teoria de Finkelstein e Silberman ... 117

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1.2 Em Busca da Jerusalém do Templo ... 121

1.3 Os Estábulos, Cidades e Portões do Rei Salomão ... 123

1.4 A Questão das Datas ... 127

2. Teoria de Mario Liverani... 129

2.1 Templos do Território de Israel e Templos Babilônicos ... 130

2.2 O Mito do “Primeiro Templo” ... 133

3. Discussão das teorias sobre o Templo monárquico ... 138

Capítulo IV – Balanço Crítico ... 140

1. Os Autores Trabalhados ... 141

2. A Elaboração da Tese ... 143

3. As Origens dos Reinos de Israel e de Judá ... 144

4. A Figura do Rei Davi ... 144

5. A Estruturação do Poder através da Literatura... 147

6. A Estruturação Ideológica da História de Israel e o Deuteronomista ... 147

7. A Arca da Aliança... 148

8. A Estruturação da Ideologia do Templo no Pós-Exílio ... 149

9. Como a História do Templo deve ser contada ... 150

Capítulo V – Relevância da Memória do Primeiro Templo ... 157

1. O Programa Ideológico do Hexateuco ... 158

2. O Programa Ideológico do Pentateuco ... 164

3. A Teoria de Burger-Temple-Gescinde e o Pentateuco ... 167

4. O Imaginário Radical ... 170

5. A Estrutura do Primeiro Templo a partir do Imaginário Instituído... 173

6. A Função do Imaginário do Primeiro Templo ... 186

Conclusão ... 197

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Introdução

Na presente pesquisa será estudada a questão do imaginário do Primeiro Templo de Jerusalém no Pós-Exílio. O motivo para a escolha do estudo do Templo cuja construção é atribuída a Salomão em Jerusalém, de acordo com o Imaginário Pós-Exílico, é o fato curioso de boa parte dos seminários de Teologia contemporâneos ainda ensinarem o Templo pré-exílico de acordo com o imaginário bíblico da construção do rei Salomão como fato histórico, sem questionamento algum. Isso, por um lado, é uma defazagem teórica, pois os Estudos Bíblicos contemporâneos já não defendem a hipótese de um Templo considerado original construído por Salomão, pois os dados que se tem de medida do referido Templo são do Segundo Templo, e originalmente, se houve um Templo em Jerusalém, não era tão grande quanto o apresentado na Bíblia Hebraica. Por outro lado, há diversos elementos dos estudos bíblicos, tais como o estudo da Teoria das Fontes de Julius Wellhausen, que por sua vez passou por diversas revisões desde o século XIX até os dias de hoje, ao ponto de questionarem as fontes Javista e Eloísta e ao mesmo tempo acompanharem os estudos contemporâneos de crítica literária e de arqueologia, que por sua vez precisa ser ensinado de forma integral para não confundir os estudantes de teologia, pois já é um choque para muitos deles saírem bruscamente da crença religiosa para o estudo material, e não se pode avançar com tais alunos para não lhes trazer grandes problemas psicológicos.

Para que houvesse uma construção do imaginário do Templo Salomônico, houve dois momentos na história de Judá: o primeiro, durante a reforma josiânica de aproximadamente 622 a.C., e o segundo, após o retorno do exílio na Babilônia em aproximadamente 457 a.C., que foram apoiados pela propaganda literária dos escribas de sua época (o deuteronomista por volta de 622 a.C. e o sacerdotal por volta de 457 a.C.).

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Conforme o conceito de imaginário radical apresentado por Cornelius Castoriadis, pode-se afirmar que não apenas os escribas tiveram enorme função na aceitação do Templo como elemento central do povo de Judá, mas também o próprio povo que veio a aceitar tal divulgação. Os escribas estavam imbuídos pela sua função de ensinar ao povo sobre os seus símbolos, assim como o povo estava disposto a aceitá-los para a manutenção da sua própria identidade.

Dessa forma, cada indivíduo do povo de Judá, ou da Judeia, envolvido pelo ensinamento dos escribas e pela crença de seus compatriotas, veio a firmar a sua identidade baseada na crença dos mitos fundantes que sustentam a existência do Templo em sua ancestralidade epônima do Templo considerado original construído por Salomão. Mesmo que os dados arqueológicos desacreditem a existência factual do Templo monárquico de Judá, para o povo de Judá e da Judeia em sua época, o Templo de Salomão de fato existiu e corresponde a uma vivência legitimada por eles e pela sua identidade como povo.

De acordo com alguns autores, originalmente, não existiu um Templo pré-exílico conforme a magnitude dos relatos bíblicos. Na perspectiva de Mario Liverani1, até pode ter havido a construção de um Templo, mas não de acordo com o que é apresentado no 1º Livro de Reis. Filkenstein e Silberman2 concluem pelos dados arqueológicos e históricos que a existência dos reis Davi e Salomão não se deu de acordo com os relatos bíblicos, chegando a consequente não existência de um Templo imenso construído na época, o que poderia produzir interferência naquele ambiente, e não produziu, pois os povos cananeus, de acordo com as pesquisas dos autores, ainda continuaram a viver suas vidas sem serem afetados pelo “Grande Império Israelita da Bíblia Hebraica”.

Por um lado, Jean Louis Ska3, mediante teoria de Burger-Temple-Gescinde, aponta para o apoio dos dominantes persas na manutenção ideológica do “Segundo Templo” (aproximadamente no ano de 457 a.C.) com lendas e tradições que afirmam um “Primeiro Templo”. Mas, por outro lado, Mario Liverani4 e Thomas Romer5 ressaltam as narrativas de Salomão como o grande

construtor do Templo datadas por volta dos séculos VII e V a.C., que podem ser anteriores ao exílio. Devido ao conhecido, são levantadas duas questões:

1LIVERANI, M. Para além da Bíblia: História antiga de Israel. São Paulo: Loyola/Paulus, 2008, pp. 393-403. 2FINKELSTEIN, I.; SILBERMAN, N.A. A Bíblia não tinha razão. São Paulo: A Girafa, 2003, pp. 180-185. 3 SKA, J.L. Introdução à leitura do Pentateuco. São Paulo: Loyola, 2003, pp. 241-242.

4LIVERANI, M. op. cit., pp. 393-403. 5

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1º) Se os escritos referentes ao rei Salomão como o grande construtor do Templo são datados conforme Liverani e Romer, por volta dos séculos VII e V a.C., como se deu a legitimação do Templo como pós-exílica? Ela pode ter sido anterior ao exílio? Ou pode ter tomado parte da Reforma Deuteronomista de Josias?

2º) Há um relato de Neemias 8,8 no qual Esdras promove uma leitura na pública que foi “traduzida”. De acordo com Chaim Rabin6, há duas interpretações: a leitura pública teria sido feita em aramaico para agradar aos persas, pois a língua franca do Império Persa era o aramaico; ou os exilados não poderiam compreender o hebraico lido da leitura pública. A questão é se tal relato bíblico é verdadeiro ou inventado, e qual era de fato a língua falada pelos exilados após retornar da Babilônia, se era o hebraico ou o aramaico. Acreditava-se que o hebraico havia perdido a sua força como língua falada coloquialmente neste contexto, mas se isso for verdade, o trabalho de legitimação da ideologia do Templo poderia ter sido maior do que o imaginado.

Referente à questão da divulgação pós-exílica da ideologia do templo, a princípio optar-se-á pela leitura dos textos em aramaico, se o relato de Neemias 8,8 for verdadeiro, pois Jean Louis Ska também aponta para um apoio do império persa para a divulgação da ideologia do Templo.

Quanto à utilização dos textos de Salomão datados por volta dos séculos VII e V a.C. para a ideologia do Templo, pode-se levantar a hipótese de eles terem sido utilizados durante a reforma de Josias (por volta de 622 a.C.). Entretanto, de acordo com Filkenstein e Silberman7, houve de fato uma reforma de Josias, mas conforme os dados arqueológicos, não nas dimensões radicais dos relatos bíblicos, pois foram encontradas imagens da deusa Asherah datadas do seu reinado, por volta do século VI a.C. Portanto, não se deve abandonar a hipótese da legitimação da construção do Templo pelo rei Salomão durante a reforma deuteronomista ou josiânica, sendo os mesmos textos utilizados novamente na construção do “Segundo Templo” para nova legitimação do referido.

A tese a ser defendida é que para legitimar a existência do Templo houve a elaboração da literatura deuteronomista durante a reforma de Josias, que ocorreu por volta de 622 a.C., e da fonte sacerdotal no retorno do exílio durante o período de Esdras, por volta de 457 a.C. As fontes conhecidas, a deuteronomista e a sacerdotal, serviram como instrumento de centralização do Templo, e todas as elaborações literárias relacionadas ao “Primeiro Templo” criadas por ambas

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RABIN, C. Pequena história da língua hebraica. São Paulo: Summus, 1973, p. 47.

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as fontes serviram para legitimar e centralizar o “Primeiro Templo” e o “Segundo Templo com histórias do Primeiro” como objetos de vontade divina e inquestionável. Como todos os Estados precisam de uma capital, a legitimação do Templo através das fontes deuteronomista e sacerdotal também serviu para legitimar a cidade de Jerusalém como capital, e cidade principal de Judá, no período de Josias e no período do Exílio.

No Templo Monárquico de Judá, as três teorias utilizadas serão a de Mário Liverani8, a de Israel Filkenstein, com seu parceiro de livro Neil Asher Silberman9, e de

Burger-Temple-Gescinde apresentada por Jean Louis Ska10.

Mario Liverani11 questiona a dimensão do Templo pré-exílico de Jerusalém apresentada na Bíblia Hebraica. Em sua perspectiva, ele acredita de fato que houve uma construção do Templo monárquico do Reino de Judá, mas nas condições de época, e não como uma obra magnífica de acordo com o relato bíblico, até mesmo a destruição do referido Templo cuja construção é atribuída a Salomão datada por volta de 586 a.C., que se limitava a saques e incêndios, pois um Templo da magnitude apontada da Bíblia Hebraica não seria destruído tão facilmente conforme os relatos das Escrituras Sagradas. Desta forma, o autor conclui que o Templo pré-exílico de Jerusalém apresentado na Bíblia Hebraica foi baseado nos templos da Babilônia das cidades de Borsipa, Nippur e Uruk que eram organizações bem complexas, dotadas de um poder econômico e político relevante, com estruturas arquitetônicas imponentes, e o palácio real, cujo templo era anexo conforme relata a Bíblia Hebraica, é um projeto de palácio em estilo persa, com data entre os séculos VI e V a.C., semelhante na estrutura aos de Susa e Persépolis.

Filkenstein e Silberman12 se baseiam absolutamente nas provas arqueológicas e históricas, pois para eles é questionável a existência dos reis Davi e Salomão por eles não serem citados nas fontes egípcias e mesopotâmicas, ainda que levem em conta a possibilidade de tal ausência de citações ocorrer devido à decadência das civilizações egípcia e mesopotâmica. Ressaltam, porém, que nos dados arqueológicos não há evidência para as conquistas de Davi ou para o seu império; nos vales, a cultura canaanita se mantém, ininterrupta, e sobre as construções salomônicas, não há sinal de arquitetura monumental ou cidade importante em Jerusalém, ou de construções em larga

8LIVERANI, M. op. cit.

9FINKELSTEIN, I.; SILBERMAN, N.A. op. cit. 10 SKA, J. L. op. cit.

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LIVERANI, M. op. cit., pp. 393-403.

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escala nas cidades de Meggido, Hazor e Gezer; no norte, continua a cultura material de Canaã. Ou seja, não há vestígios de um poderoso império israelita interferindo na cultura cananeia ou canaanita, do que pode se deduzir a inexistência, não apenas dos reis Davi e Salomão, mas também do Templo cuja construção é atribuída ao rei Salomão.

Jean Louis Ska13 levanta a teoria de Burger-Temple-Gescinde relacionada à importância do Templo no pós-exílio, consistente na comunidade dos cidadãos unidos em torno do templo, pois para que houvesse um Templo em Jerusalém no pós-exílio, o governo persa precisaria reconhecer os direitos e os privilégios do templo e da comunidade ligada a ele, o que foi emitido pelo rei Ciro de acordo com o Livro de Esdras 1,1-4, e, consequentemente, seria desenvolvida uma literatura inteira para legitimá-lo, que é a conhecida como Sacerdotal, que, a princípio, não tem a intenção de ser desdobrada na tese em prol da literatura Deuteronomista, considerada anterior à Sacerdotal.

Em seguida, será tratado o conceito de imaginário, no qual imaginário é aquilo que só existe na imaginação, ou que apenas a imaginação pode alcançar. Mas o imaginário também pode ser o fabricante de imagens, ou aquele que faz ou manufatura imagens, que poderia ser o redator da literatura bíblica. Contudo, será trabalhada a construção da imagem do tempo, na qual o tempo da construção do Templo pré-exílico típico é considerado como um tempo “infinito” representado como um tempo de progresso, de crescimento ilimitado, de acumulação, de racionalização, de conquista da natureza, de aproximação cada vez maior de um saber exato total, de realização de fantasia de onipotência, expresso pela imagem do rei Salomão, tido como o grande construtor do Templo. Tal magnífica obra existe em e por esta instituição explicita de seu tempo identitário e de seu tempo imaginário, visivelmente indissociáveis, pois para o judeu religioso e para o cristão, o Templo construído pelo rei Salomão sempre existiu e faz parte da sua identidade ao ponto de sua negação ser tida como um abandono da sua religião.

Dessa forma, o Templo pré-exílico como imagem social instituída foi resultado tanto dos escribas que produziram a sua literatura como de sua sociedade que acatou tal literatura em prol da manutenção de sua identidade. O Templo cuja construção é atribuída ao rei Salomão em sua sociedade se torna a imagem de um povo por representar o tesouro e o orgulho de uma coletividade que é definido pelos outros em relação a um “nós”, ao representar uma imagem denominada “Templo”. Ou seja, o Templo considerado original é um dos símbolos da

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coletividade e da sociedade que o instituiu, pois representa o seu tesouro e o seu orgulho, ao ponto de a descrença na existência da referida construção religiosa tornar o indivíduo consequentemente desvinculado de sua identidade, seja ela judia pós-exílica, judia rabínica ou cristã em todas as suas vertentes.

Todas as teorias baseadas nas evidências arqueológicas e históricas apontam que factualmente não houve um rei Davi de acordo com a narrativa bíblica, tampouco um rei Salomão conforme a mesma, e muito menos um Templo original gigantesco factual construído por ele, e que houve motivações oriundas da construção do “Segundo Templo” que legitimaram ideologicamente o “Segundo” a fundamentar nas lendas e mitos do “Primeiro Templo”.

Percebe-se, porém, que há autores14 que ainda tomam os relatos da Bíblia Hebraica como fatos históricos, o que já foi vencido há muito tempo, e precisam ser mais questionados do que aplicados devido a sua defasagem teórica.

Desta forma, os autores a serem trabalhados15 não apenas tomam o luxo dos relatos bíblicos como meras invenções, mas também se fundamentam nos dados históricos e arqueológicos, pois, para eles, não se menciona a veracidade bíblica sem comprovação histórica e arqueológica, o que dá um tom de imensa seriedade no trabalho dos referidos acadêmicos.

Será utilizado o método histórico-crítico em diálogo com Bost e Pestana16. Esse método de estudo e pesquisa bíblica leva em conta o contexto histórico que envolve o texto, e faz uma avaliação acurada (crítica) de todas as fontes de informação, ao considerar a época e a situação na qual o texto foi escrito. Segundo Fitzmyer17, o método histórico-crítico tem como principal objetivo o acesso às circunstâncias históricas que compõem o texto bíblico. Para o autor, este enfoque histórico, na realidade, não comporta vários métodos distintos, mas somente um, que se desenvolve em várias etapas, as quais, por sua vez, mantêm estreita relação entre si. Fitzmyer enfatiza que a exegese histórico-crítica tem por princípio a construção de uma arqueologia literária, que possibilita a constituição de textos tendo em vista a forma que os autores utilizaram para expressar sua mensagem. Esse método recorre a critérios científicos tão objetivos quanto

14 BRIGHT, J. História de Israel. 7ª ed. Revista e Ampliada. São Paulo: Paulus, 2003; FOHRER, G. História da

religião de Israel. São Paulo: Paulinas, 1982.

15LIVERANI, M. op. cit.; FINKELSTEIN, I.; SILBERMAN, N.A. op. cit.

16 BOST, B.J.; PESTANA, A.C. Introdução ao estudo bíblico. Disponível em:

<http://www.hermeneutica.com/principios/introducao.htm>. Acesso em: 14/08/2011.

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possíveis. Fitzmyer afirma que o instrumental histórico-crítico inclui diversas etapas: crítica textual, crítica das fontes, crítica dos gêneros literários, crítica da redação, história da tradição, e a reconstrução do ambiente histórico em que foi produzido o texto e sua interferência naquele ambiente.

Em questões práticas, o método histórico-crítico referido por Fitzmyer pode ser aplicado às questões relacionadas ao imaginário do Templo cuja construção é atribuída ao rei Salomão, pois houve uma motivação para que fossem elaborados textos que legitimassem o “Segundo Templo” relacionando-o aos mitos do “Primeiro Templo”, pois, de acordo com Jean Louis Ska18, houve um apoio persa para que fosse produzida uma literatura legitimadora do Templo de Jerusalém construído após o exílio, e tal fato interferiu não apenas na comunidade, mas também nos moradores que se localizavam em torno do Templo.

A pesquisa se divide em cinco capítulos. O primeiro capítulo refere-se à questão deuteronomista; o segundo capítulo discorre sobre a crítica ao senso comum sobre o Templo pré-exílico; o terceiro capítulo faz alusão às teorias acadêmicas relacionadas ao Templo monárquico do reino de Judá; o quarto capítulo faz um balanço crítico relacionado ao presente estudo; o quinto e último capítulo, aproxima-se do título do referido trabalho, ao se apresentar a relevância da memória do Templo cuja construção é atribuída ao rei Salomão.

O primeiro capítulo, que trata da questão deuteronomista, divide-se em dois subcapítulos: o primeiro sobre o desenvolvimento da teoria das fontes até chegar ao seu “criador”, Julius Wellhausen, e o segundo, sobre o desenvolvimento da fonte deuteronomista.

O segundo capítulo, cujo tema é a crítica ao senso comum sobre o Templo pré-exílico, possui quatro subcapítulos: o primeiro, sobre as formas de hermenêutica não acadêmicas da leitura bíblica que não enfocam no questionamento à existência do Templo monárquico do reino de Judá conforme a narrativa bíblica; o segundo, sobre a diferença entre história deuteronomista e historiografia; o terceiro, sobre a abordagem literária de Mário Liverani; e o quarto e último, sobre a abordagem arqueológica dos autores Finkelstein e Silberman.

O terceiro capítulo trata-se de um balanço geral no qual o autor da tese traz algumas considerações relacionadas à pesquisa que trouxeram algum aprendizado para o pesquisador e contribuem para facilitar a leitura do presente documento de uma forma geral.

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O quarto capítulo traz as duas principais teorias sobre o templo: de Mario Liverani e de Finkelstein-Silberman. Mario Liverani traz uma teoria mais voltada para o pós-exílio, ao passo que Finkelstein e Silberman trazem outra teoria contextualizada na Reforma de Josias, porém, ambas as teorias são válidas, o que se deve levar em conta é o campo forte de cada uma das teorias.

O quinto e último capítulo, que é sobre a relevância da memória do templo, possui a terceira teoria, que é apresentada por Jean Louis Ska, denominada como

Burger-Temple-Gescinde e relacionada à importância do Templo no pós-exílio, consistente na comunidade dos cidadãos unidos em torno do templo, pois para que houvesse um Templo em Jerusalém no pós-exílio, que é uma teoria mais cabível à relevância da memória do Templo considerado original, cuja construção é atribuída a Salomão. No final do capítulo, há o fechamento com a teoria do imaginário radical de Cornelius Castoriadis, na qual o Templo pré-exílico possui um significado de união para aqueles que se orgulhavam deste como símbolo de seu povo por possuir uma história que provoca determinada comoção social.

Percebe-se que a ideia socialmente instituída do Templo considerado como original constrói o passado e legitima o presente, pois para que o seu presente seja reconhecido, necessita de um passado glorioso no qual o Templo cuja construção é atribuída ao rei Salomão era tido como inigualável, não apenas pela presença de Yahweh como materialmente como as paredes e o teto sendo, conforme a narrativa bíblica, completamente revestidos de ouro (1 Reis 6,15/18/21-22/29). Da mesma forma, há a construção do passado não apenas no Templo pré-exílico, mas da mesma forma na fábula do Tabernáculo que legitima as práticas religiosas na época de Moisés no deserto, pois o Tabernáculo possui as mesmas medidas do Templo cuja construção é atribuída ao Rei Salomão (Êxodo 26). A legitimação do Templo através do Tabernáculo dá uma ancestralidade bem anterior a de Salomão, originária no deserto, anterior à suposta entrada dos hebreus em Canaã (pois, historicamente, os hebreus nunca saíram de Canaã).

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22

epônima do templo; segundo Karen Armstrong19, havia a crença de que o Templo judaico fora construído no local em que Abraão atara Isaque para imolá-lo, o que dá uma anterioridade patriarcal ao Templo cuja construção é atribuída ao rei Salomão.

Desta forma, tal Templo se torna a imagem de um povo, do “nós”, pois representa o tesouro e o orgulho de uma coletividade que é definida pelos outros em relação a um “nós”, ao representar um ‘nome’, pois o Templo monárquico do reino de Judá possui uma história que vai desde o período dos patriarcas epônimos do povo de Israel, passa pela sua construção atribuída ao rei Salomão e acaba com a sua destruição pelas mãos de Nabucodonosor em aproximadamente 586 a.C., e representa a história de um povo, do “nós”, do “nosso orgulho”, ao ponto de indissociar a imagem do Templo considerado como o original do povo judeu. Caso haja a negação do referido Templo, há a automática negação da identidade do povo judeu. Tal negação hoje em dia transfere-se para a identidade das religiões judaico-cristãs, pois os seus religiosos não negam a existência do Templo, visto que tal negação acarretaria a negação das referidas religiões.

.

19

ARMSTRONG, K. Jerusalém, uma cidade, três religiões. São Paulo: Companhia das Letras, 2000, pp.

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23

Capitulo I – A Questão Deuteronomista

Este capítulo desdobrar-se-á sobre a questão deuteronomista relacionada ao Templo cuja construção é atribuída ao rei Salomão. A construção do Templo pré-exílico, conforme a narrativa bíblica, encontra-se em duas versões: a Deuteronomista, de 1 Reis 5,15 – 9,25, e a Cronista, de 2 Crônicas 1,18 – 8,16. Mas a edição cronista, cuja composição se fundamenta nos livros de Crônicas, Esdras e Neemias, é bem posterior a deuteronimista, pois é datada por volta do ano 300 a.C., período do começo da era helenística, ao passo que a edição deuteronomista abrange uma composição vai desde a reforma josiânica, fundamentada nas propagandas de Josué, nas leis deuteronomistas e nos reis que legitimaram Josias, até o final do período babilônico. Pelo motivo da edição deuteronomista ser a mais antiga e mais próxima às origens do imaginário do Templo monárquico do reino de Judá e da redação cronista ser uma versão mais positivada e menos negativada de Salomão e de sua construção, dar-se-á preferência para a análise da questão deuteronomista.

Mas há dois momentos na história material de Judá nos quais o Templo considerado como original é enfatizado: na Reforma Deuteronomista do Rei Josias e no retorno do exílio da Babilônia.

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24

De acordo com Jean Louis Ska20, as quatro grandes fontes documentais são do Javismo davídico-salomônico, do Eloismo do reino do Norte, do Deuteronomismo resultante da reforma de Josias do por volta do ano de 622 a.C., e, por fim, a fonte Sacerdotal, exílica ou pós-exílica.

O assunto da teoria da hipótese documental das quatro fontes será retomado posteriormente no decorrer da presente pesquisa, pois cada uma das fontes, conforme as conclusões de Julius Wellhausen, através das pesquisas de seus antecessores, possui características distintas, que são as seguintes:

1) Javista – foi uma das primeiras fontes documentais juntamente com a fonte eloísta a ser deduzida no começo do século XVII, em um contexto no qual se acreditava na existência histórica da figura epônima de Moisés. Da mesma forma, havia a crença na qual os livros do Pentateuco foram escritos em exata ordem cronológica, na qual o termo “Yahweh” surge em Êxodo 3,14 e em Êxodo 6,13. Wellhausen, por volta de 1833, ao estabelecer a fonte Javista como uma das quatro fontes, data-a por volta do período da monarquia unida, no século X a.C. Gerhard von Rad, ainda fundamentado na crença da existência do Templo de Salomão como fato histórico, em 1938, data a fonte Javista em aproximadamente 950 a.C. como iniciativa dos escribas de Salomão para justificar o Reino Unificado criado por Davi. Devido às conclusões das pesquisas arqueológicas recentes, tal datação não é mais aceita. A datação atribuída atualmente à fonte Javista varia desde a queda do Reino do Norte, por volta do século VII a.C., até o pós-exílio, datada aproximadamente no século V a.C.;

2) Eloísta – outra das primeiras fontes documentais a ser deduzida no começo do século XVII. A princípio, devido à crença na qual os livros do Pentateuco foram escritos em exata ordem cronológica, acreditava-se que o termo “elohim” em maior incidência encontrava-se de Gênesis 1 até a revelação do nome de Yahweh em Êxodo 3,14 e em Êxodo 6,13. Entretanto, houve posteriormente pesquisas mais apuradas que chegaram à conclusão de que existiu dois redatores eloístas conforme Karl David Ilgen em 1798: E1 – o eloísta mais antigo; E2 – o eloísta mais recente, que posteriormente se tornaria o Sacerdotal da teoria de Julius Wellhausen. Inicialmente, acreditava-se que a fonte Eloísta fosse datada entre aproximadamente o século IX a.C. e o começo do século VIII a.C. por fazer alusões às tradições do Reino do Norte. Atualmente, data-se a fonte eloísta a partir do final do século VIII a.C., após a queda do Reino do

20

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Norte pelo motivo de se acr a Reforma de Josias;

3) Deuteronomi

teorizador foi Wilhelm Mar as narrativas de Reis e de instituições sacerdotais fund sugere a origem da fonte deuteronomista no Templo a.C. Tal fonte foi assumida 1943, argumentou que na Juízes, Samuel e Reis, con josiânica. Porém, apesar consagrado, a partir da déc final do Deuteronômio no c

4) Sacerdotal –

Ilgen, por volta de 1798, Aparentemente, a fonte Sac Wette, havia o conhecimen composição é datada por vo

A grande fonte Deut Reforma de Josias datada

referidas do Pentateuco ou

Bíblia Hebraica e da Bíbl

Moisés21, que são o Gêne

( – , os

21

O nome Moisés, em hieróglifo apontar a sua filiação a alguma d mo-sés – “filho de Tut”). A orig mito fundante ter sido criado pe deveria ser fiho de alguma divind

25

acreditar que a produção literária tenha surgido

mista – considerada a fonte mais antiga da artin Leberecht De Wette, em 1805, que a faz de Crônicas percebe que em Crônicas havi undadas por Moisés, algo que não existia nos l nte deuteronomista no mito fundante da des

lo pré-exílico de acordo com o relato de 2 Reis da pela teoria de Julius Wellhausen por volta d na base da fonte deuteronomista havia os liv

ontemporâneos ao livro do Deuteronômio, es r do pensamento de Noth sobre a fonte écada de 90 do século XX entrou em descrédi o começo do período persa, por volta de 539 a.C – era a fonte denominada como E2, ou eloís 8, e renomeada como Sacerdotal por Julius Sacerdotal tem sido a menos questionada, pois

ento das instituições sacerdotais através da r volta de 571 a 486 a.C.

euteronomista foi considerada até a década a de aproximadamente 622 a.C. como uma d

u Torah ( – , que corresponde aos

íblia Cristã cuja tradição atribui a sua autor

ênesis ( – , o Êxodo (

os Números ( – e o De

ifo egípcio, mo-sés: , significa “filho de”, que era u a das divindades egípcias como Ramsés (Rá-mo-sés – “f rigem do nome Moisés seria uma negação às divindade pela família real egípcia. Mas nenhum faraó poderia indade egípcia, conforme os exemplos referidos.

ido no Reino do Sul durante

das quatro, cujo primeiro azer uma comparação entre avia o reconhecimento das s livros dos Reis. De Wette descoberta do livro da lei eis 22, por volta do ano 622 a de 1833. Martin Noth, em livros históricos de Josué, escritos durante a reforma e deuteronomista ter sido édito, a considerar a edição a.C.

oísta tardia, por Karl David lius Wellhausen em 1833. ois desde os estudos de De a redação cronista, e a sua

a de 1970 como fruto da das quatro grandes fontes

os cinco primeiros livros da

toria epônima à figura de

– , o Levítico

Deuteronômio ( –

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26

Porém, para Ska, nos dias atuais há várias críticas sobre a teoria das fontes e o autor questiona se a teoria das fontes de fato sobreviveu a tais críticas ou não, pois para Ska22, é impossível ler o Pentateuco hoje sem recorrer ao método histórico-crítico, pois ainda hoje existem problemas demais, e problemas muito complexos, que não podem ser tratados com ingenuidade, como no caso do objeto de estudo deste trabalho.

De acordo com o exposto, ainda se ensina a teoria das fontes nos seminários de Teologia, porém tal ensinamento, mesmo por ser ultrapassado e obsoleto em alguns aspectos, ainda pode causar choque no graduando em Teologia por acreditar que a Bíblia é a inspiração divina e não foi composta e elaborada por homens que possuem vontade própria e em determinado contexto. Mas para o que lê a tese, talvez a teoria das fontes seja uma novidade e precise ser colocada para o seu respectivo conhecimento conforme foi apontado acima.

Na sequência, será realizada a explanação sobre a hipótese documental clássica das fontes, na qual se originou o Deuteronomista e a fonte na qual lhe é atribuída à autoria.

1. O Desenvolvimento da Hipótese Documental Clássica

Aqui serão desdobradas as origens da hipótese documental clássica, que é oriunda do pensamento iluminista, de acordo com Rudolf Bultmann23 e Zabatiero24. Conforme ambos os autores, foi com o protestantismo, por força do contato com o texto da Bíblia que necessitava ser traduzido e interpretado, que houve abertura para o novo e o inovador, no ambiente do Iluminismo. Percebe-se que o Iluminismo faz emergir a libertação das Ciências das amarras do pensamento religioso eclesiástico, a possibilitar o uso deste instrumental em proveito próprio e, especialmente, ao lidar com o Texto Sagrado. Ao mesmo tempo, o contato dos estudos acadêmicos com os estudos da Bíblia neste contexto era mais refletido em seu estudo que, ao

22 SKA, J.L. op. cit., p. 13.

23 BULTMANN, R. Jesus Cristo e mitologia. São Paulo: Novo Século, 2005, p. 15.

24 ZABATIERO, J.P.T. Novos rumos na pesquisa bíblica. Estudos Teológicos. São Leopoldo: EST, v. 46, n. 1, 2006,

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abandonar a simplicidade da literalidade do texto, começa a submetê-lo ao crivo da ciência no intuito de afirmá-lo como prova acadêmica.

A partir do século XIX, com a afirmação de novos paradigmas, a pesquisa bíblica entrou em um período de transição, caracterizado pela consolidação do liberalismo teológico que, ao rejeitar o literalismo e a dialogar com novas teorias naturais, abandona uma visão mitológica e dogmática do cristianismo e passa a separar os valores morais da Bíblia das suas concepções mitológicas do mundo. Por exemplo, para Bultmann, os mitos e representações encontrados na Bíblia já foram superados e carecem de valor. Desta forma, precisariam ser estudados de acordo com o instrumental acadêmico, e não simplesmente acreditados sem nenhum questionamento. Tal instrumental, iniciado através do uso da filologia e da historiografia, faz surgir o método histórico-crítico, no qual o exegeta bíblico se concentra na presença literária de um texto, como um todo, e no mundo da narrativa que o autor construiu; ou seja, a crença na literalidade do texto e as visões dogmáticas e mitológicas do cristianismo são insatisfatórias para a academia, fazendo-se necessário um estudo fazendo-semântico da literatura bíblica e de fazendo-seus autores para que haja uma seriedade acadêmica e científica.

No próximo subitem, serão apresentados os primeiros trabalhos críticos sobre os estudos bíblicos, nos quais os seus autores, na tentativa de se aprofundarem nos referidos (estudos), não se desvinculavam da crença religiosa bíblica, como a existência de Moisés, pelo motivo de as pesquisas disponíveis em sua época não os fazerem chegar às conclusões que temos hoje.

1.1Os Primeiros Trabalhos Críticos

Conforme as pesquisas de Jean Louis Ska25, em 1711 um jovem pastor protestante de Hildesheim, Henning Bernhard Witter (1683-1715), publicou um estudo sobre Gênesis 1–3 que comentava a diferença entre os apelativos divinos Elohim (1,1 – 2,4a) e Yahweh Elohim (2,4b – 3,24). Relata Ska que, de acordo com Witter, Moisés utilizou várias fontes para compor o Pentateuco. Mas o livro de Witter ficará no esquecimento até 1925.

Para Henning Bernhard Witter, e neste contexto de época, era inegável a crença de que Moisés havia escrito todo o Pentateuco, mas hoje se sabe que Moisés não passa de uma figura

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28

epônima de um mito fundante. Na referida época de Witter (1683-1715), nem se cogitava a hipótese de Moisés ter sido apenas um mito fundante, pois se acreditava que ele fosse de fato o autor de todo o Pentateuco. O curioso, independentemente da não existência factual de Moisés, é que já no século XVIII há uma primeira tentativa de se separar as fontes do Gênesis 1–3 por meio da diferença entre os apelativos divinos Elohim (1,1 – 2,4a ) e Yahweh Elohim (2,4b – 3,24).

De acordo com Ska26, para muitos exegetas o pai da hipótese documental é Jean Astruc (1684-1766), médico de Luís XV, filho de um pastor protestante convertido ao catolicismo e biblista amador. Relata Ska que, a partir dos apelativos divinos Elohim e Yahweh, Astruc construiu, assim como Witter, a sua teoria sobre a origem do Pentateuco. Astruc defendia que Moisés, de acordo com as suas explicações, serviu-se de três fontes ou documentos – na verdade, Astruc, de acordo com Ska, fala de Mémoires – que ele chama simplesmente de A, B e C. No raciocínio de Astruc, apontado por Ska, as duas primeiras (A e B) caracterizam-se pelo uso de um apelativo divino e a terceira (C) contém os textos independentes das outras duas. Nas conclusões de Astruc, segundo Ska, Moisés dispôs de três fontes numa sinopse, mas, no processo de transmissão, alterou-se a ordem das páginas. E assim, conclui Jean Louis Ska, explicar-se-iam os problemas atuais da leitura do Pentateuco.

Ressalta Ska que Astruc limitou o seu trabalho ao livro de Gênesis e de Êxodo 1 – 2 pela simples razão de que, após a revelação do nome divino Yahweh, em Êxodo 3,14 (conferir Êxodo 6,13), torna-se mais difícil usar o critério dos apelativos divinos27.

Jean Astruc é outro que viveu de acordo com a sua época, na qual havia a crença de Moisés ter existido e ser o autor factual do Pentateuco sem o mínimo questionamento. Deve-se compreender que nem Witter, nem Astruc dispunham do conhecimento que há hoje sobre os estudos bíblicos, e eles viveram conforme as limitações de sua época. Por exemplo, Astruc se baseia na organização de Gênesis a Êxodo 1 – 2 como se realmente se tratasse de um texto corrido de “fora a fora”, e não como diversos textos fragmentados, cada um conforme a sua época. Isso sem contar que o nome Yahweh possui o registro extrabíblico mais antigo datado por volta de 840 a.C., na estela moabita do rei Mesha, em que há a primeira ocorrência do nome Yahweh fora da Bíblia em um período bem posterior ao atribuído à figura epônima de Moisés.

26Ibidem, p. 117.

27Ibidem, p. 117. Jean Louis Ska sugere a leitura do original: ASTRUC, J. Conjectures sur les mémoires originaux

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Porém, são estudiosos que raciocinam de acordo com o seu contexto de época, e não se pode desejar que eles possuam um raciocínio conforme o contemporâneo, mas tais estudos são válidos como pioneiros da teoria das fontes.

Ainda segundo as pesquisas de Ska, o esforço de Astruc foi retomado e aperfeiçoado na Alemanha, por Johann Gottfried Eichhorn, primeiro autor de uma Introdução ao Antigo Testamento (escrita entre 1780-1783), na qual ainda defendia a autoria mosaica do Pentateuco. Após conhecer as descobertas de Wette, Eichhorn mudou de opinião.

Tal mudança de opinião de Eichhorn traz determinado alívio acadêmico, pois faz parte do aprendizado acadêmico ser maleável aos progressos e desenvolvimentos das suas áreas de concentração, sejam elas quais forem, pois o estudioso não pode defender a tese na qual a lua é feita de queijo suíço pelo motivo de hoje ser conhecida à composição material da lua, pois é necessária a honestidade acadêmica.

Foi a essa altura, segundo Ska, que os especialistas se dividiram em três grupos e propôs-se três teorias principais sobre a origem do Pentateuco: a hipótese dos documentos, a hipótese dos fragmentos e a hipótese dos complementos.

Enfatiza Ska28 que, segundo a hipótese dos documentos, que retoma as ideias de Astruc e de Eichhorn, na origem do Pentateuco atual, há vários documentos paralelos, completos e independentes.

A hipótese dos fragmentos, de acordo com Ska, foi levantada, primeiramente, por um sacerdote católico escocês, Alexander Geddes (1737-1802), que estudou alemão para acompanhar o desenvolvimento da exegese na Alemanha, e supôs que houvesse, originalmente, muitas fontes formadas por pequenas unidades narrativas e por textos esparsos e incompletos, reunidos muito tempo após a morte de Moisés29, para constituir o Pentateuco atual.

Jean Louis Ska afirma que Alexander Geddes também sofreu bastante com a censura eclesiástica e suas ideias não prosperaram na Grã-Bretanha. Na Alemanha, porém, conforme Ska, dois eminentes exegetas assumiram posição análoga, Johann Severin Vater e, com expressivas mudanças, Wilhelm De Wette.

Percebe-se que mesmo neste contexto, apesar do reconhecimento da Alemanha como o país mais desenvolvido na exegese bíblica, ainda há a crença na figura de Moisés como autor do

28Ibidem, p. 118. 29

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30

Pentateuco em qualquer canto do mundo setecentista. Mas, mesmo assim, as ideias (não mentalidades) de Geddes, juntamente com o seu contato com as obras alemãs, eram consideradas avançadas demais para os ingleses, escoceses, galeses e irlandeses do norte, e por isso foram repudiadas e discriminadas.

Em sua exposição, Ska aponta que algum tempo depois surgiu a hipótese dos

complementos. Ressalta Ska que vale esclarecer que, muitas vezes, tal hipótese é atribuída a Heinrich Ewald, mas na realidade ele apenas sugeriu, sem nunca defendê-la como tal. Conforme as pesquisas de Ska, Ewald supõe a existência de um documento base (Grundschrift), o Eloísta – o atual documento sacerdotal, acrescido de alguns textos mais antigos, como o decálogo (Êxodo 20,2-17) e o Código da Aliança (Êxodo 21-23) –, que algum editor teria “completado” com trechos de um documento jeovista (o Javista), durante o último período da monarquia de Judá30.

Perante os estudos de Jean Louis Ska, a obra final, fruto de um trabalho editorial de muitos séculos, cobre os primeiros seis livros atuais da Bíblia e, por isso, Ewald fala de um Hexateuco31. A hipótese dos complementos, na percepção de Ska, supõe um “documento-base” a que foram ajuntados trechos, em diversas épocas.

Percebe-se que tal sugestão de Ewald se tornou um partido de exegese bíblica mesmo ao ponto do estudioso jamais defendê-la. Isso pode ocorrer devido à importância que o estudioso tinha em sua época, pela qual uma sugestão que ele desse poderia virar um dogma acadêmico. Todavia, não deixa de ser uma tentativa de desmembramento da Bíblia Hebraica ou do Antigo Testamento32, cuja consequência foi a formação da teoria das fontes.

30 Ibidem, p. 118. Ver EWALD, H., resenha de STÄHELIN J.J., Kritische Untersuchung über die Genesis. Basel,

1830. In: Theologische Studien und Kritiken, 1831. pp. 595-606; conforme os estudos de Ska, antes, Ewald defendera a unidade do Gênesis, segundo EWALD, H. Die Composition der Genesis kritisch untersucht. Braunschweig, 1823. Relata Ska que a hipótese dos complementos será assumida por BLEEK, F. De libri Geneseos origine atque indole historica observationes quaedam contra Bohlenium. Bonn, 1836; idem, Einleitung in das Alten Testament. Berlin, 1829; TUCH, J.C.F. Commentar über die Genesis. Halle, 1838. 2nd ed., 1871; Ska sugere ver também WETTE, W.M.L. de. Beiträge zur Einleitung. 5th ed., 1840; 6th ed., 1845. Segundo a narrativa de Ska, H. EWALD desenvolverá uma teoria muito complexa sobre a origem do Hexateuco em sua “história de Israel”: EWALD, H. Geschichte des Volkes Israels bis Christus I-II. Góttingen 1843-1845; 1864.

31Ibidem, p. 118. De acordo com Jean Louis Ska, Heinrich Ewald teve problemas com o governo da Prússia, porque,

em 1967, recusou-se a jurar lealdade, a ter de abandonar a docência na Universidade de Gottingen.

32 Há pesquisadores que afirmam que não se denomina “Antigo Testamento” academicamente, mas sim “Bíblia

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31 1.2Os Movimentos das Ideias do Século XIX

Este novo item aborda os movimentos das Ideias do Século XIX relacionados ao desenvolvimento dos estudos bíblicos e ao desenvolvimento da teoria das fontes. Segundo Ska33, antes de explanar o desenvolvimento da leitura crítica do Pentateuco, é preciso situar a exegese dos movimentos culturais da época, para melhor entender os novos problemas e as novas respostas. Para o autor, os exegetas do século XIX viveram em um mundo intelectual marcado pela “filosofia das luzes” ou Iluminismo (Aufklärung, Philosophie des Lumières, Iluminism), que reivindica a autonomia da razão diante de toda e qualquer autoridade.

A esse novo desafio, a resposta do mundo cristão, tanto protestante quanto católico, na perspectiva de Ska, consistiu na busca de conciliação entre razão e crença religiosa cristã, entre a leitura crítica da Bíblia e a interpretação religiosa de sua mensagem. Concretamente, nas percepções de Ska, sentiu-se a necessidade de separar o conteúdo religioso da Bíblia de certas hipóteses a cerca de suas origens.

Aos poucos, relata Ska, veio a ganhar espaço a ideia de que a inspiração divina dos textos sagrados não exclui sua origem humana e histórica. Nessa época, conforme as pesquisas de Ska, floresce na Alemanha a “teologia liberal”, que, em sua expressão mais radical, tende a reduzir o mais possível a carga sobrenatural da religião, a exaltar-lhe os aspectos humanistas, universais e racionais.

Conforme tal passagem de Ska, a proposta original do iluminismo sobre os estudos bíblicos não foi negar a religião em nenhuma hipótese, mas separar o conteúdo religioso da Bíblia da sua origem humana ou histórica. Para Ska, não houve a proposta radical de acabar com a religião cristã, mas sim de racionalizar a Bíblia como documento escrito por homens em seu contexto e com suas respectivas motivações. Contudo, a denominada “teologia liberal” alemã, cujo termo soa como depreciativo para os fundamentalistas e conservadores, em sua expressão mais radical, tende a reduzir o mais possível a carga sobrenatural da religião, a exaltar-lhe os aspectos humanistas, universais e racionais.

Entretanto, não se pode misturar o discurso acadêmico com o discurso religioso, pois são duas coisas com propósitos totalmente distintos, pois o discurso religioso objetiva aumentar a fé do indivíduo mesmo que seja às custas de fatos que jamais ocorram, ao passo que o discurso

33

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acadêmico visa buscar a verdade material até o limite do alcance da possibilidade de determinados fatos, e delimitar um consenso sobre os tais.

Nesse mesmo século XIX, conforme as pesquisas de Ska, outro movimento veio a ser bastante convincente entre os exegetas, sobretudo na Alemanha – o Romantismo. De acordo com os estudos de Jean Louis Ska, no mundo da exegese romântica, o porta-voz foi Johann Gottfried von Herder, famoso por seu livro Vom Geist der hebraischen Poesie (1783); a partir de Herder muitos exegetas sorveram o gosto pelas manifestações primitivas, espontâneas e naturais da cultura bíblica.

Consequentemente, afirma Ska, veio daí o desejo de encontrar no passado os tempos de um pensamento ainda genuíno, não contaminado por nenhuma corrupção posterior. Por igual motivo, ressalta Ska, desenvolve-se uma atitude negativa em relação a períodos mais recentes da história bíblica, especialmente a época do pós-exílio, crivada de legalismo e de exacerbado farisaísmo34. Conforme o autor salienta, restava apenas o desejo de uma “nova criação”, um novo tempo, que veio com o Novo Testamento35.

Nestes termos, Herder ainda possuía uma visão muito fantasiosa na questão da religião judaico-cristã, pois o judaísmo, conforme é conhecido, surge no pós-exílio, e para uma religião se formar, é necessária a sua institucionalização. Assim como o judaísmo surge no pós-exílio por volta do final do século V a.C., o cristianismo surge com Constantino e Teodósio por volta dos séculos III e IV d.C. Pois antes, não havia tais religiões de acordo com as expressões atualmente conhecidas, e precisou-se delimitar o que de fato era Judaísmo e o que de fato era Cristianismo através das suas instituições religiosas.

É fantasioso e fabuloso (no sentido de fábula) afirmar que a época do pós-exílio era crivada de legalismo e de exacerbado farisaísmo, mas todos precisavam saber quem ou o que era de fato o judeu religioso e qual de fato era a sua religião. E não se pode criar uma nova ordem que derrube o judaísmo através do Novo Testamento, pois todas as religiões, não apenas o judaísmo e o cristianismo, possuem os seus defeitos e os seus problemas, e não se pode afirmar

34 Tal mentalidade parece consequência da leitura dos evangelhos de palavras atribuídas ao messias do Cristianismo,

Jesus de Nazaré, contra os fariseus, mas, na verdade, o partido dos fariseus era um dos diversos partidos do judaísmo com as suas peculiaridades, e a sua corrupção era consequência do poder político-religioso que eles tinham e exerciam, fato que ocorre em qualquer partido político em qualquer parte do mundo ao assumir o poder.

35 Ibidem, p. 119. Percebe-se que se trata de uma mentalidade extremamente romântica acreditar que o Novo

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que uma religião menos legalista acabou com a mais legalista, pois todas as religiões necessitam do legalismo para sobreviverem.

Por fim, nas considerações de Ska, dentro do mundo universitário alemão, o mais prestigioso em exegese bíblica na época, entram na ordem do dia as categorias da história. Para o autor, na esteira dos grandes historiadores36, também filósofos como Fichte, Schelling e Hegel procuram integrar as categorias da história em seu pensamento.

Percebe Jean Louis Ska37 que, para os exegetas da época, as culturas conhecem fases de desenvolvimento análogas às do mundo biológico: depois do nascimento, vêm os anos criativos da juventude; depois, a maturidade, que coincide com um primeiro declínio das energias vitais, e, finalmente, a decadência da velhice, que precede a morte.

Segundo o autor38, para o Romantismo, a evolução não é vista de modo positivo, porque não leva, gradativamente, a um ápice. Pelo contrário, enfatiza Ska, ela provoca a esclerose, a deterioração, o definhamento de todas as formas de vida intelectual e religiosa. Esta perspectiva ocorre nas religiões de uma forma geral, que possuem um ápice, mas depois de se estabelecerem perante a sociedade, apenas se preocupam com a manutenção de sua existência como instituição. Para o estudioso, nesse contexto cultural é que se inserem as descobertas de De Wette e o sistema de Wellhausen39.

36Ibidem, p. 119. Conforme Ska, os principais são W. von Humboldt, J.G. Droysen e, sobretudo, G. von Ranke. 37

Ibidem, p. 119.

38

Ibidem, p. 119.

39 Ibidem, p. 119. Jean Louis Ska sugere conferir, antes de tudo, VATKE, W. Die biblische Theologie

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34 1.3Os Estudos de De Wette

O item atual traz os estudos de De Wette como impulsionadores dos estudos do Pentateuco. Na visão de Jean Louis Ska40, para haver a possibilidade de se progredir nos estudos do Pentateuco faltava um “gancho” histórico que permitisse datar as diversas fontes, fragmentos ou suplementos. Para o autor, precisava-se, então, datar pelo menos um texto significativo ou ligar algum texto a determinado evento histórico, e, segundo Ska, esse foi o mérito de Willhelm Martin Leberecht De Wette (1780-1849)41.

Segundo os estudos de Ska, o ponto inicial da pesquisa de De Wette foi estudar o livro das Crônicas, em que este (De Wette) compara o trabalho do Cronista com os outros livros que descrevem o período monárquico, os livros de Samuel e dos Reis, e topa com dois quadros muito diferentes de religião de Israel, e busca solucionar de sua forma tal discrepância.

Ska relata que De Wette resolve a questão historicamente, ao estimar que o livro das Crônicas deva ser bem posterior aos acontecimentos, a remontar à época persa ou mesmo helenista. Na visão de Ska, tal conclusão tem uma consequência séria para o Pentateuco, porque as Crônicas afirmam que as instituições do templo foram estabelecidas por Moisés, mas segundo De Wette, porém, as Crônicas adaptaram ao passado mosaico as instituições de um período muito posterior, para lhes legitimar a antiguidade.

Em seguida, de acordo com Ska, De Wette aplica a mesma ideia ao Pentateuco: os textos narrativos e legislativos dos cinco primeiros livros da Bíblia não apresentam um retrato fiel do passado, pois antes, cristalizam as preocupações de épocas posteriores, desejosas de explicar, a partir do passado, a origem e o destino de Israel no mundo.

Passa-se, assim, na perspectiva de Ska, a tratar com clareza toda essa problemática, pois para De Wette e para os exegetas de seu tempo, ficou visível o descompasso entre “o mundo do texto”, ou seja, os acontecimentos narrados no Pentateuco, e o “mundo real”, o mundo no qual e para o qual esses textos foram escritos. Mas, segundo Ska, era necessário achar o elo entre esses dois mundos, e foi o que De Wette se propôs a pesquisar.

40Ibidem, p. 120.

41Ibidem, p. 120. Ska sugere conferir ROGERSON, J.W. W.M.L. De Wette. Founder of Modern Biblical Criticism:

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Ao referido anteriormente, De Wette, diferente dos outros autores, não busca solucionar o problema a partir dos primeiros livros do Pentateuco, mas a partir dos livros de Crônicas, nos quais encontra grandes respostas para o que virá a ser chamado posteriormente de Teoria das Fontes. Aparentemente, ele é o primeiro estudioso a colocar em xeque a existência de Moisés, que é atualmente reconhecido como personagem epônimo criado no pós-exílio.

Um detalhe importante foi que De Wette percebeu que as instituições fundadas por Moisés encontravam-se nos livros das Crônicas, e não nos livros de Samuel e de Reis, a concluir que havia diferença descompassante entre o “mundo do texto”, no qual se encontram os acontecimentos narrados no Pentateuco, e o “mundo real”, no qual e para o qual esses textos foram escritos. Consequentemente, devido aos estudos de De Wette, chegou-se a concluir que Moisés foi uma criação pelo menos do cronista, e que não deveria ser realidade pelo menos para os escritores de Samuel e de Reis.

Conforme Ska, em sua tese de 1805, De Wette identifica o livro do Deuteronômio, pelo menos em sua versão mais antiga, como o livro encontrado no templo, no reinado de Josias. Essa foi a conclusão, conforme os estudos de Jean Louis Ska, a que De Wette chegou depois de observar que as reformas de Josias (2 Reis 23) correspondem, em grande parte, às exigências das leis deuteronômicas em matéria cultual. Nas pesquisas de Ska, para De Wette, os pontos principais são a centralização e a purificação do culto.

Embora não fosse o primeiro a expor essa ideia, já presente em alguns Padres da Igreja, conforme Ska, De Wette soube extrair dela um critério sólido para datação dos textos, no qual leis ou narrativas que não supunham a centralização do culto em Jerusalém devem ser anteriores à reforma de Josias, em aproximadamente 622 a.C., e textos legislativos ou narrativos compatíveis com aquela reforma serão, certamente, posteriores.

Aqui traz a delimitação de De Wette, que é a centralização do culto em Jerusalém. Se os textos abordam o assunto da referida centralização, eles são posteriores; caso eles não abordem o assunto da centralização, eles são anteriores.

Relata Jean Louis Ska que a descoberta deste biblista alemão representou um momento-chave na exegese recente do Pentateuco, por duas razoes principais:

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2ª) Depois de De Wette, não se definiu até o momento da obra de Ska, que foi o ano de 2003, um ponto de apoio mais seguro, malgrado prossigam os debates sobre o assunto42.

Entretanto, afirma Ska, o acontecimento que permite datar os textos não faz parte dos eventos contidos no Pentateuco. Por isso, explica o autor Ska, fica claro que não há uma distância sensível entre os acontecimentos descritos no Pentateuco e várias épocas em que os textos foram redigidos. Desta forma, conclui Ska, tornar-se-á também sempre mais difícil pensar que Moisés tenha escrito os cinco livros do Pentateuco ou da Torah43.

Aqui percebe-se que a crítica literária é extremamente ativa ao colocar o Pentateuco em pauta, pois cada narrativa do referido corresponde a uma época distinta, pois não há uma distância sensível entre os acontecimentos descritos no Pentateuco e várias épocas em que os textos foram redigidos. E pelo motivo do Pentateuco possuir diversas vozes distintas, é impossível acreditar que Moisés tenha escrito toda a obra.

1.4O Desenvolvimento dos Estudos de De Wette e seus continuadores

Aqui será desdobrado o desenvolvimento até chegar à teoria das fontes como é conhecida atualmente, como Eloísta, Javista, Deuteronomista e Sacerdotal. Conforme as pesquisas de Jean Louis Ska44, por volta de 1800, muitos exegetas distinguiam no Pentateuco duas fontes principais: a eloísta e a javista, conforme o nome divino que usavam no livro de Gênesis e em Êxodo 1 – 2. Segundo o autor, a fonte eloísta oferecia um relato mais articulado, mais fiel à história, porque o nome divino Yahweh foi revelado somente no tempo de Moisés (Êxodo 3,14;

42 Ibidem, p. 121. Para um resumo das discussões de época, Ska sugere ver: CONROY, C. Reflections on the

Exegetical Task. Apropos of Recent Studies on 2 Kg 22-23. In: BREKELMANS, C.; LUST, J. (eds.). Pentateuchal and Deuteronomistic Studies. Papers read at the XIIIth International Organization for the Study of the Old Testament Congress Leuven 1989. BETL 94. Leuven: Leuven University Press, 1990;PURY, A. de; RÖMER, T.; MACCHI, J.D. (eds). Israel construit son histoire: L’historiographie deutéronomiste à la lumière des recherches récentes.Le Monde de la Bible, n. 34. Geneva: Labor et Fides, 1996; e EYNIKEL, E. The Reform of King Josiah and the Composition of the Deuteronomistic History. Oudtestamentische Studien 33. Leiden, 1996.

43Ibidem, p. 121. Chama a atenção de Ska que o mundo da exegese bíblica não é uma ilha, pois nos dias de De

Wette, os estudiosos da literatura clássica aplicavam o mesmo método aos autores gregos e latinos. Segundo o autor Ska, Friederich August Wolf, por exemplo, demonstrava o caráter compósito das obras de Homero em seu livro

Prolegomena zur Homer. Sobre isso, Ska sugere conferir BLENKINSOPP, J. The Pentateuch:An Introduction to the First Five Books of the Bible. The Anchor Bible Reference Library. New York/London: Doubleday, 1992, p. 6.

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Imagem

Figura  1  –  O  Templo  de  Uruk,  na  Babilônia.  Gravura  encontrada  em  Temple  of  Uruk
Figura 2 – Planta do Templo da divindade Enlil encontrado em Nippur, na Babilônia.  Neste templo, que pode ser  considerado como um dos típicos encontrados na Babilônia, B representa o átrio exterior e A o átrio interior, a ser  ambos  tidos  como  idêntic
Figura 3 – Fachada do Templo cuja construção é atribuída ao rei Salomão. Gravura encontrada em Temple built by  Solomon
Figura 4 – O Templo de Uruk, na
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