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Capítulo V – Relevância da Memória do Primeiro Templo

5. A Estrutura do Primeiro Templo a partir do Imaginário Instituído

De acordo com o estudado anteriormente, relata Mario Liverani283 que, na Babilônia, os exilados estiveram em contato com um modelo bem diferente de templo. Para o estudioso, os templos da Babilônia e da Borsipa, de Nippur e de Uruk eram organizações bem complexas, dotadas de um poder econômico e político relevante. De acordo com as pesquisas do autor, as estruturas arquitetônicas eram imponentes, pois além da “casa de deus”, a cela que abrigava a estátua da divindade, de dimensões relativamente reduzidas, o complexo do templo compreendia a série de anexos a que se fez referência. Relata o pesquisador que havia amplos armazéns para a colheita, que seriam reutilizados, seja para os trabalhos de manutenção dos canais, seja para a manutenção dos dependentes, seja para a redistribuição sob forma de empréstimos a juros privilegiados. Conforme o autor, havia lojas de artesãos, escolas de escribas e residências sacerdotais, e o templo comportava amplos pátios para o acesso dos fiéis. Os templos Babilônicos eram similares ao modelo de Uruk referido a seguir:

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Figura 1 – O Templo de Uruk, na Babilônia. Gravura encontrada em Temple of Uruk. Disponível em: <http://3.bp.blogspot.com/-0my3jc-jGm4/UbXtN8QeeQI/AAAAAAAAAKQ/NomxcQVV0oY/s1600/Tb.jpg>. Acesso em: 24 mai. 2015.

Talvez os templos de Borsipa, Uruk e Nippur pudessem ter alguma diferença em seu aspecto externo, mas todos eram enormes como o demonstrado na figura anterior. Em seguida, há a planta de um dos templos Babilônicos:

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Figura 2 – Planta do Templo da divindade Enlil encontrado em Nippur, na Babilônia. Neste templo, que pode ser considerado como um dos típicos encontrados na Babilônia, B representa o átrio exterior e A o átrio interior, a ser ambos tidos como idênticos em tamanho e forma. A torre denominada Zigurate, também conhecida como “fase, etapa ou estágio” (A, nº 1), encontra-se na parte dos fundos do átrio interior. Na seção mais estreita: representa-se a câmara sagrada (ou faz alusão a ela), na qual se encontrava a imagem de Enlil. No átrio exterior: B1 representa um dos santuários menores em relação aos demais, pois havia diversos na área sagrada para as divindades masculinas e femininas associadas ao culto de Enlil e Ninlil. Gravura encontrada em Plan of the Temple of Enlil at Nippur. Disponível em: <http://www.wisdomlib.org/uploads/images/tmp8030-1.jpg>. Acesso em: 24 mai. 2015.

Pelo motivo de os exilados terem conhecido um modelo de Templo religioso muito maior na Babilônia, ao chegarem a Jerusalém, houve a ideia de transferir a grandeza dos Templos da

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Babilônia para o Templo pré-exílico, conforme Mario Liverani. Através desta análise, pode-se dizer que Salomão como construtor do Templo foi uma criação Sacerdotal, ou seja, qualquer referência que se faça ao Templo considerado original é Sacerdotal.

Pode-se até considerar que as histórias sobre as cortes da monarquia unida, do reino do norte e do reino do sul sejam contemporâneas a Josias devido à reforma deuteronomista atribuída a ele (Josias) que é considerada como uma revolução em todo o território de Judá com a intenção da unificação do território de Israel, apesar de haver dificuldades fundadas na ausência de registros extrabíblicos que confirmem tal reforma, e do fato de ser o período dos reis mais malfalados nos livros dos Reis pelo motivo da sua submissão à Assíria, que foram os reis Acaz e Manassés, mas que, conforme a arqueologia, foi um período mais próspero em Judá do que o próprio período de Josias.

E mesmo as histórias da corte podem ser atribuídas ao período exílico para fazer menção ao desejo do retorno da monarquia com base na corte babilônica, que é uma posição na qual Finkelstein e Silberman não são simpatizantes. As narrativas bíblicas que fazem referência ao Templo desde o Tabernáculo e a Arca da Aliança, a passar pela compra do terreno de Araúna por Davi e da construção do Templo são todas de origem Sacerdotal.

A imagem do Templo e suas medidas foram transmitidas da seguinte forma, conforme as figuras a seguir:

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Figura 3 – Fachada do Templo cuja construção é atribuída ao rei Salomão. Gravura encontrada em Temple built by

Solomon. Disponível em:

<http://static.wixstatic.com/media/586fde_861baf655e624c73aa9791789c695bcd.jpg_srz_p_608_370_75_22_0.50_ 1.20_0.00_jpg_srz>. Acesso em: 24 mai. 2015.

Esta fachada do Templo baseia-se nas conclusões encontradas na Bíblia conforme o relato de 1 Reis 5,15 – 9,25. Trata-se de uma fachada e de um templo idealizado, fundamentado nas estruturas localizadas em Jerusalém nas quais houve o templo como anexo do palácio do rei de Judá e onde seria construído o “Segundo” Templo.

Toda e qualquer referência ou medida existente em 1 Reis 5,15 – 9,25 do “Templo de Salomão”, na verdade, são originárias do Templo do pós-exílio, no qual foi construída uma história legitimadora do referido Templo para o povo remanescente de Judá que estava sem história e não tinha nada para se orgulhar, nem de suas origens, nem de seu povo.

Juntamente com o evento da “reconstrução” do Templo, os escribas, sacerdotes e redator Sacerdotal precisaram realizar uma construção literária com a intenção, não apenas de legitimar o Templo como objeto de controle, mas também, produzir orgulho e felicidade nos remanescentes do povo de Judá do período do exílio da Babilônia.

Figura 4 – O Templo de Uruk, na <http://www.divinerevelations.in

Sobre a secção do Te ideocracia da glória do que Templo” que é sobre o ouro 35, até os objetos de ouro en A intenção dos escrib que viria a ser construído n era o mais poderoso, rico, s a casa de Yahweh com toda considerado um período de maior luxo possível, de acor

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na Babilônia. Gravura encontrada em Solomon Temple.

.info/tabernacle/solomon-temple.png>. Acesso em: 24 m

Templo de Salomão referida acima, há um deta ue os escribas, sacerdotes e redator Sacerdota uro que é encontrado desde as paredes do temp

encontrados em 1 Reis 7,48-51 e 9,11-14. ribas, sacerdotes e redator Sacerdotal era conta

no pós-exílio teve dias de glória em uma épo , sábio e conhecido de todos os tempos, e que da a sua riqueza. O período do reinado de Salo de extrema prosperidade no qual o rei poderia cordo com o que o rei poderia dar para Yahweh

. Disponível em: mai. 2015.

etalhe sobre a ideologia e a otal denomina de “Primeiro mplo conforme 1 Reis 6,20-

ntar ao povo que o Templo poca na qual o rei Salomão ue teve condições de honrar alomão, para os autores, foi ia agradar a Yahweh com o

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Figura 5 – Planta do Templo cuja construção é atribuída ao rei Salomão. Gravura encontrada em Solomon Temple. Disponível em: <http://www.christians-standing-with-israel.org/solomon-temple.jpg>. Acesso em: 24 mai. 2015.

A planta acima, conforme o estudado, foi inspirada nos Templos Babilônicos vistos pelos exilados e conforme a planta referida anteriormente na Figura 2.

Tais construções, baseadas nos Templos Babilônicos das cidades de Borsipa, Nippur e Uruk eram de fato grandes, mas não era o suficiente para fazer com que o povo fosse ao Templo. Eles precisariam de algo mais para acreditar que o Templo era algo grandioso que os remanescentes de Jerusalém durante o exílio pudessem se orgulhar, o que foi bem pensado pelos escribas.

Além de estabelecerem que o Templo foi em algum passado algo grandioso, construído pelo ouro que o rei Salomão ofereceu a Yahweh, também era a casa na qual Yahweh morava e habitava.

O Templo pré-exílico em si, para os escribas, não era considerado o suficiente para legitimar a sua história perante o povo. Dessa forma,a medidas do Templo pré-exílico (1 Reis 5,15-9,25) foram transmitidas para as do Tabernáculo (Êxodo 26), cuja edificação é atribuída à figura epônima de Moisés como se apresenta na sequência:

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Figura 6 – Secção do Tabernáculo. Gravura encontrada em Tabernacle Cutaway. Disponível em: <http://www.divinerevelations.info/tabernacle/tabernacle%20cutaway.jpg>. Acesso em: 24 mai. 2015.

Ao transferir as medidas do Templo para as do Tabernáculo, houve ao mesmo tempo a idéia de transmitir a construção do Templo para a tradição mosaica. Atenta-se que o redator sacerdotal se utilizou de três elementos para demonstrar a presença de Yahweh no meio do povo apontada pela crítica literária como inserções textuais que são: o Tabernáculo (Êxodo, Levítico e Números), a Arca da Aliança (Êxodo, Números, Deuteronômio, Josué, os livros de Samuel, e 1 Reis), e o Templo (Deuteronômio 23,17; 1 Samuel 1 – 3; 2 Samuel 22,7; e os livros de Reis). Há pouquíssimas citações do Tabernáculo e da Arca da Aliança no livro dos Juízes, como se a “presença de Yahweh” fosse considerada desprezível para o redator sacerdotal.

O que chama a atenção é no caso do Deuteronômio 23,17 em que os filhos e as filhas de Israel não se prostituirão a serviço do Templo, mas não se sabe que forma de prostituição do Templo, e nem que Templo se refere. Outra curiosidade que se aponta é a da história do profeta Samuel quando criança encontrada em 1 Samuel 1 – 3, em que a mãe de Samuel, Ana, o deixa no

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Templo para ser criado; mas neste período não existia o Templo, mas no livro de Samuel consta como Templo, e não como Tabernáculo, o que é uma diacronia. Há outra diacronia no salmo cuja composição é atribuída ao rei Davi encontrada em 2 Samuel 22,7, em que Yahweh escutou o grito de Davi de dentro do seu Templo; mas o Templo ainda não havia sido contruído.

Aparentemente, tratam-se de histórias que servem para legitimar o Templo que podem ter duas origens: 1ª) Ou foram histórias do Templo realizadas antes da composição sacerdotal e inseridas após a organização dos livros em uma tentativa de cronologizar os eventos; 2ª) Ou foram histórias de origem popular que foram inseridas no momento da organização dos livros devido a sua popularidade, como por exemplo se escuta no catolicismo popular que “Maria rezava o terço”, e “João Batista rezava o Pai-Nosso quando estava preso na cadeia”, que são contos diacrônicos que legitimam as rezas e orações católicas.

A princípio, há as histórias dos referidos objetos que legitimam a presença de Yahweh inseridos primeiramente na tradição mosaica, de origem sacerdotal, que são dois:

1º) O Tabernáculo, “ancestral” construído do Templo monárquico do reino de Judá, que por sua vez foi a primeira construção idealizada do templo pós-exílico criada pelos escribas.

2º) A Arca da Aliança, colocada na tradição mosaica como a forma material da prática de guardar os mandamentos, pois os dez mandamentos eram, conforme a lenda sacerdotal, guardados pelo povo em uma caixa ou baú, denominado Arca da Aliança. Ou seja, a Arca da Aliança não passa de uma forma ilustrativa de como o povo guardava os mandamentos dados por Yahweh para Moisés, que, na prática, deveriam guardar os mandamentos de Yahweh em seus corações e em suas mentes.

Ambos são elementos anteriores ao Templo epônimo cuja edificação é atribuída ao rei Salomão e estavam ligados a este último (o Templo), ao Tabernáculo como pré-Templo, e à Arca da Aliança como símbolo da guarda e da proteção das leis de Yahweh que se encontrava tanto no Tabernáculo quanto no Templo. O elemento principal antes do Templo era o Tabernáculo de Êxodo até Números; de Deuteronômio até os livros de Reis, com a construção do Templo em 1 Reis 6, o elemento principal se torna a Arca da Aliança, que é elemento presente mesmo após a construção do Templo, e desaparece na narrativa de 2 Reis com a destruição do Templo por volta de 586 a.C. por Nabucodonosor (não há nenhuma alusão da referida arca na destruição do

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Templo). Percebe-se que o sacerdotal insere a Arca da Aliança como elemento de apoio do Templo na narrativa de Reis.

Além dos referidos objetos, havia a necessidade de se estabelecer tradições que legitimassem o Templo como a da origem do terreno do Templo encontrada em 2 Samuel 24, e do monte no qual este se encontrava ter sido o local do sacrifício de Isaque de acordo com Gênesis 22,1-19, e ambas as passagens da Bíblia tratam-se de episódios dramáticos.

De 2 Samuel 24, houve um recenseamento do povo no qual o rei Davi fez um recenseamento indevido, e para pagar pelo seu erro, o profeta Gade deu três alternativas para Davi, ou três anos de fome sobre a terra, ou três meses o rei Davi fugindo de seus inimigos, ou uma peste de três dias sobre o povo, e Davi escolheu a peste, mas a peste de três dias era muito mais grave do que o próprio Davi imaginava, pois o mensageiro responsável pela peste fez algo tão grave que o próprio Yahweh se arrependeu, e quando o rei Davi viu o mensageiro da peste próximo a eira de Areúna, pediu para que a peste caísse sobre ele, e o profeta Gade sugeriu a Davi erguer um altar ali mesmo e fizesse sacrifícios para que a matança sobre o povo parasse. Davi o faz e Areúna aparece, se prostra diante de Davi como seu servo e oferece o terreno ou eira e dois bois para o sacrifício gratuitamente. Mas Davi quer comprar a eira e os bois a qualquer custo, pois não quer fazer um sacrifício que não lhe custe nada. E assim foi feito, Areúna, o jebuseu vendeu o terreno e os bois a Davi por cinquenta ciclos, construiu o altar e ofertou a Yahweh os holocaustos, e Yahweh teve pena e fez a peste cessar.

Na passagem de Gênesis 22,1-19, conhecida pelo sacrifício de Isaque, há a crença referida por Karen Armstrong284, segundo a qual o Templo judaico fora construído no local em que Abraão atara Isaque para imolá-lo, o que dá uma anterioridade patriarcal ao Templo cuja construção é atribuída ao rei Salomão. Para a autora, havia um motivo simbólico para tal identificação, pois nessa ocasião, Yahweh deixava claro que seu culto devia incluir apenas o sacrifício de animais, não de seres humanos – proibição a qual, de acordo com a pesquisadora, não foi considerada universal no mundo antigo, e afirma que é bastante significativo que se date o culto de Jerusalém no momento em que se descobriu que o caráter sagrado da humanidade não admite o sacrifício de vidas humanas. Mediante esta interpretação, havia o conhecimento dos escribas de que houve um dia no qual a humanidade apenas realizava sacrifícios humanos, e o

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local onde foi construído o Templo abriga um marco no qual, pela primeira vez, os sacrifícios não eram mais humanos, e sim de animais.

Conforme foi observado anteriormente, a ideia socialmente instituída do Templo considerado como original constrói o passado e legitima o presente, pois para que o seu presente seja reconhecido, neste caso, precisava-se de histórias que o legitimem. Quando os escribas chegaram da Babilônia no território da Judeia, provavelmente viram uma estrutura de um edifício sem história, pois o povo que permaneceu em Judá não tinha o conhecimento da função do que sobrou do Templo que era anexo do palácio dos reis de Judá. Portanto, eles deveriam, durante a “reconstrução” do Templo pós-exílico, ensinar ao povo que aquela estrutura que um dia iria se tornar um Templo foi, no passado, o mais magnífico dos Templos.

A princípio, os escribas partiram das referências que eles possuíam dos Templos Babilônicos das cidades de Borsipa, Nippur e Uruk que eram organizações bem complexas, dotadas de um poder econômico e político relevante, com estruturas arquitetônicas imponentes. Na construção do segundo Templo, há de se entender que houve uma tentativa de imitar os Templos Babilônicos e colocar tal imitação como se fosse uma reconstrução do Templo pré- exílico. Ou seja, para os de fora, era uma imitação, mas para os de dentro, era uma reconstrução.

Tal “reconstrução” deveria ser refletida nos escritos Sacerdotais, nos quais, conforme 1 Reis 5,15 – 9,25, um rei denominado Salomão foi responsável pela sua construção magnífica e inigualável como ninguém mais foi e será, de acordo com o redator Sacerdotal. Mas neste meio tempo, foram elaboradas histórias como as da infância de Samuel encontradas em 1 Samuel 1-3, cuja narrativa afirma que ele foi criado dentro do Templo antes de o Templo existir, e a passagem de 2 Samuel 22,7, em que Yahweh escutou o grito de Davi de dentro do seu Templo, antes da existência da obra construída por Salomão, que são duas passagens que foram inseridas nos textos com o intuito de não ferir a cronologia, porém com o Templo como elemento diacrônico em seu texto.

Havia, porém, a necessidade de registrar a ancestralidade do Templo no deserto, através da figura epônima elaborada pelos redatores Sacerdotais chamada Moisés através do Tabernáculo de acordo com Êxodo 26, cujas medidas são idênticas às do Templo cuja construção é atribuída ao rei Salomão. O Tabernáculo era uma espécie de pré-Templo elaborado pelo redator Sacerdotal com o sentido de reivindicar as práticas rituais como originárias desde o deserto, antes da entrada epônima dos hebreus em Canaã (pois hoje já se sabe que os hebreus nunca saíram de Canaã, e

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são cananeus). Para o Sacerdotal, as práticas rituais já eram anteriores ao Templo, e eram realizadas no Tabernáculo desde a época de Moisés até antes da construção do Templo de Salomão.

Não se deve esquecer a Arca da Aliança, que foi um elemento de autoria Sacerdotal que é referida em Êxodo, Números, Deuteronômio, Josué, os livros de Samuel e 1 Reis. No livro dos Juízes não há nenhuma presença da Arca da Aliança, a não ser uma encontrada em Juízes 20,27 na qual o redator sacerdotal apenas afirma o que não reforçou no livro inteiro, que a Arca da Aliança e Fineias, filho de Arão, estavam ali naqueles dias, sem grandes histórias em torno da Arca. Conforme os estudos feitos durante esta pesquisa, a Arca da Aliança foi uma ideia do redator Sacerdotal que partiu dos próprios escritos do Deuteronômio, livro no qual o termo “guardem os mandamentos de Yahweh” repete-se quarenta e duas vezes. Então, o escritor Sacerdotal, mediante as ideias de hegemonia dos escribas como intérpretes, colocou Yahweh como o primeiro escriba ao entregar o Decálogo a Moisés em tábuas de pedra.

Percebe-se que, como a confecção das tábuas de pedra do decálogo foi uma espécie de ilustração física e material dos mandamentos de Yahweh, da mesma forma necessitava de uma ilustração física e material de como eles seriam guardados, e a melhor ideia que o escritor sacerdotal teve foi a de criar uma Arca da Aliança para guardar os mandamentos de Yahweh, que foram guardados dentro do Tabernáculo, conforme a apresentação Sacerdotal desde antes da entrada na terra prometida, e precisaria, com o decorrer do tempo, ficar guardada dentro do Templo pré-exílico como o objeto mais sagrado que o povo de Israel tinha, e tal templo seria a morada de Yahweh. Entretanto, após a destruição do “Primeiro Templo” – que, de acordo com as pesquisas, se trata de uma capela anexa ao palácio – por volta de 586 a.C. pelos babilônios, a Arca da Aliança some da narrativa da Bíblia. Dessa forma, o redator sacerdotal faz do elemento Arca da Aliança um vínculo entre o Tabernáculo e o Templo pré-exílico.

Para concluir a elaboração da imagem, o redator Sacerdotal necessitou legitimar a construção do Templo sobre a elaboração de uma história que pode ser localizada em 2 Samuel 24 pela compra do terreno de Areúna por Davi em circunstâncias extremas nas quais o rei, por arrependimento, deveria fazer um sacrifício que lhe custasse algo devido à escolha da peste por três dias que fez seu povo morrer. Tal terreno era onde o Templo seria construído, e foi comprado por Davi, fundador da casa que leva o seu nome. O sacrifício com esforço mediante prejuízo e morte de seu povo dá um significado profundo ao holocausto realizado no Templo, pois Davi o

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fez para salvar o povo e era um sinal de profundo arrependimento, mediante às desgraças causadas por aquele que oferece animais para a libação.