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A moeda inovativa : comunicação, confiança e inovação em empresas: o caso da Embraer

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Academic year: 2021

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INSTITUTO DE ESTUDOS DA LINGUAGEM

LABORATÓRIO DE ESTUDOS AVANÇADOS EM JORNALISMO

JOSÉ RICARDO BUENO MANINI

A MOEDA INOVATIVA – COMUNICAÇÃO, CONFIANÇA E

INOVAÇÃO EM EMPRESAS: O CASO DA EMBRAER

CAMPINAS,

2016

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A MOEDA INOVATIVA – COMUNICAÇÃO, CONFIANÇA E INOVAÇÃO

EM EMPRESAS: O CASO DA EMBRAER

Dissertação de mestrado apresentada ao Instituto de Estudos da Linguagem e Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo da Universidade Estadual de Campinas para obtenção do título de Mestre em Divulgação Científica e Cultural, na área de Divulgação Científica e Cultural.

Orientadora: Profa. Dra. Maria das Graças Conde Caldas

Este exemplar corresponde à versão final da Dissertação defendida pelo

aluno José Ricardo Bueno Manini e orientada pela Profa. Dra. Maria das Graças Conde Caldas

CAMPINAS,

2016

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Agradeço, em primeiro lugar, a minha orientadora, professora Graça Caldas, pelo apoio, aconselhamento, orientações, pelas aulas e por ter me recebido como a um filho. Sempre terei orgulho de dizer que fui seu orientando.

Agradeço aos professores Maria Beatriz Bonacelli, Sergio Queiroz, David Dequech, Marko Monteiro, José Horta pela transmissão de valioso conhecimento em aula, que em muito contribuiu para o trabalho.

Agradeço aos professores Simone Pallone, Germana Barata e Vera Toledo pelas conversas de corredores, sempre inspiradoras e motivadoras de um trabalho melhor feito. À professora Simone, também pelos comentários na banca de qualificação.

Agradeço aos amigos que fiz no período de mestrado e que contribuíram para partilhar momentos de alegria – Rubens Neiva, Marcela Salazar Granada, Marcelo Figueiredo, Claudia Lemos e Marta Nascimento, entre outros.

Agradeço às secretárias do Labjor, Marivane e Alessandra, pela eficiência do trabalho que fazem e por permitirem o melhor aproveitamento possível desse período de mestrado.

Agradeço ao professor Sergio Salles, primeiro por ter feito comentários pertinentes na banca de qualificação, mas também por ter dado aulas na disciplina Desenvolvimento da Agricultura Brasileira, na qual fiz o Programa de Estágio Docente (PED). Foi um grande momento para entender como as aulas funcionam e como é a docência.

Agradeço a CAPES pelo financiamento dos estudos, que me permitiu ter maior tranquilidade para fazer o trabalho.

Agradeço aos profissionais da Embraer que tornaram essa pesquisa possível, como Marcelo Conteçote e Sandro Valeri, que emprestaram parte de seu tempo disponível para entrevistas fundamentais. Também à Tatiane Santos, por algumas perguntas importantes respondidas, sobre a campanha publicitária da empresa.

Agradeço ao coordenador do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo, professor Carlos Vogt, por ter sido o principal fundador do Labjor, laboratório em que pude desenvolver a pesquisa de forma multidisciplinar, o que talvez fosse vedado em outros centros.

Por fim, mas não menos importante, agradeço a minha mãe, as minhas irmãs e cunhados e aos meus sobrinhos, primos, tios e tias, por partilharem parte de seu cotidiano comigo e me permitir ter momentos de grande alegria, sempre revigorantes.

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da Embraer

RESUMO

Esta pesquisa de mestrado discute as relações entre comunicação e processos inovativos. O trabalho está alicerçado em uma perspectiva evolucionária e institucional da inovação, bem como nas relações entre esse arcabouço teórico, o conhecimento e a comunicação. Essa perspectiva evolucionária e institucional do processo econômico pode ser encontrada, em maior ou menor grau, em autores como Veblen (1898), Schumpeter (1911) e Hayek (1945). Também guardam relações significativas com essa perspectiva o recente trabalho de autores pertencentes aos ramos da Economia Evolucionária Neo-Schumpeteriana (Nelson e Winter, 1982) e da Nova Economia Institucional (NEI), como Douglass North (1990). O trabalho analisa como os conceitos de busca, rotina e seleção, emprestados da Economia Evolucionária Neo-Schumpeteriana, se relacionam com a comunicação organizacional, em termos de formas e conteúdo. O trabalho utiliza a metodologia de Selltiz (1974), de natureza qualitativa. A dissertação examina como as rotinas comunicativas de empresas contribuem para suas atividades inovativas. Por fim, verifica, com essa base teórica e a partir de pesquisa de campo em uma empresa do setor aeronáutico, a Embraer, o modo pelo qual esses processos comunicacionais contribuem para a evolução da tecnologia e inovação. Observa, também, como a relação entre confiança e comunicação facilita os processos inovativos e indica o papel das intersecções existentes entre essa empresa, o mercado e outras instituições, como a universidade. As conclusões do trabalho indicam que a Embraer tem rotinas comunicacionais que são criadas a fim de que os funcionários compreendam o conteúdo passado. Mostram, também, que a empresa consegue desenvolver quantidade adequada de moeda inovativa, isso é, relação mútua entre confiança e comunicação entre os seus empregados, com clientes e com outras organizações.

Palavras-chave: Comunicação; Inovação; Instituições; Comunicação Organizacional;

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Embraer case

Abstract:

This master research discusses the relations between communication and innovation processes. The work is based on an evolutionary and institutional perspective of innovation as well on the relations between these theories, knowledge and communication. This evolutionary and institutional perspective of the economic process may be found, in a greater or lesser extent, in the works of Veblen (1898), Schumpeter (1911) and Hayek (1945). Recent works by authors of the Neo-Schumpeterian Evolutionary Economics (Nelson and Winter, 1982) and of the New Institutional Economics, such as those by Douglass North (1990), have also dealt with these subjects. This work analyzes how the concepts of search, routine and selection, borrowed from the New-Schumpeterian Evolutionary Economics, are related with organizational communication in terms of forms and contents. The dissertation uses the Selltiz methodology – of qualitative nature. The text examines how communicative routines followed by enterprises contribute with their innovative activities. Besides this, it verifies, with this theoretical basis and by means of a field research made in an enterprise of the aeronautical sector, Embraer, how these communicative processes contribute with the evolution of the technology and of innovations. It also shows how the relation between trust and communication may enhance innovative processes and it indicates the role of intersections between this enterprise, the market and other institutions, such as the university. Dissertation conclusions appear to indicate that Embraer has developed communicative routines which main goal is to make workers understand transmitted content. It also shows that the enterprise produces proper quantity of innovative coin, i.e., the mutual relation between trust and communication among its employees, with clients and with other organizations.

Key-words: Communication; innovation; institutions; Organizational Communication; Evolutionary Economics; Embraer

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INTRODUÇÃO...11

1. Um panorama da discussão sobre a relação entre inovação e comunicação...11

2. Objetivo Geral...14

3. Objetivos específicos...14

4. Justificativa...15

5. Metodologia e categorias analíticas...16

6. Estrutura da dissertação...18

CAPÍTULO 1: ECONOMIA EVOLUCIONÁRIA E INOVAÇÃO...20

1. Um pouco de teoria...20

1.1 Uma visão ortodoxa...20

1.2 Visões heterodoxas...24

1.2.1 Economia evolucionária e o papel das instituições...26

1.2.1.1 O velho institucionalismo: Veblen...29

1.2.1.2 A visão de Hayek sobre instituições: o papel da comunicação...33

1.2.1.3 Schumpeter: evolucionismo não institucionalista...38

1.2.1.4 Pontos principais da economia evolucionária...43

1.3 Economia evolucionária neo-schumpeteriana...44

CAPÍTULO 2 – ROTINAS COMUNICACIONAIS NAS ORGANIZAÇÕES...49

2.1 Processo evolucionário e mudança cultural...49

2.2 Comunicação interna da empresa inovativa (os indivíduos na empresa)...54

2.3 A empresa no mercado...60

2.4 O indivíduo e a empresa no mundo...67

CAPÍTULO 3: A MOEDA INOVATIVA – COMUNICAÇÃO E CONFIANÇA PARA A INOVAÇÃO...74

3.1. Pesquisa & Desenvolvimento e Comunicação...74

3.2: Comunicação...77

3.2.1 – Modelos de comunicação...77

3.2.2 Modelos de Comunicação Organizacional...80

3.3: Confiança e processos inovativos...84

3.3.1: Visões sobre um conceito multidisciplinar...84

3.3.2 A confiança é construída?...86

3.3.3: Comunicação, cultura organizacional e construção de confiança...90

3.4: A moeda inovativa...93

3.4.1: Definição...93

3.4.2: A moeda inovativa em circulação...96

3.4.3: A moeda inovativa como metáfora...105

CAPÍTULO 4 – INOVAÇÃO E COMUNICAÇÃO NA EMBRAER...111

4.1 Cenário de inovação no Brasil...111

4.2 A Embraer e sua visão de inovação...123

4.3 Comunicação, Confiança, Imagem e Reputação (Respostas das três questões formuladas)...128

4.4 Comunicação interna...136

4.4.1 Rotinas comunicacionais...136

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4.4.4 A moeda inovativa como resultante de rotinas comunicativas exitosas e o caso

particular da Embraer...154

4.5 Outras visões de um gestor de uma Casa da Moeda Inovativa (CMI)...156

4.5.1 Recursos Humanos...156

4.5.2 Relação com a universidade...158

4.5.3 Importância da Lei de Inovação para o ambiente de inovação...160

4.5.4 Importância da linguagem para a inovação...162

4.5.5 Canais de comunicação usados pela empresa...164

CONSIDERAÇÕES FINAIS...167

Referências...173

Anexo I - Entrevista com o Gerente Sênior de Inovação da Embraer, Sandro Valeri...183

Anexo II - Entrevista com o analista de marketing e comunicação empresarial da Embraer, Marcelo Conteçote...190

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INTRODUÇÃO

1. Um panorama da discussão sobre a relação entre inovação e comunicação

“At its core, institutional theory is a theory of communication” (em seu núcleo, a teoria de instituições é uma teoria de comunicação). Com essas palavras, o estudioso da área de Comunicação Roy Suddaby concluía o artigo “How Communications Institutionalize” publicado em 2011 pela revista Management Communication Quarterly.

O artigo era uma resposta a outro texto, este do acadêmico John C. Lammers, chamado “How Institutions Communicate: Institutional Messages, Institutional Logics, and Organizational Communication”. A discussão sobre se as instituições de alguma forma comunicam (e para quem ou o quê) ou se a comunicação institucionaliza, isto é, cria instituições,era, portanto, um dos pontos altos daquele número da revista.

A Management Communication Quarterly é uma revista de certaimportância. Ela foi fundada em 1987 por acadêmicos do Massachusetts Institute of Technology (MIT) e atualmente tem fator de impacto 1,047. De acordo com o Journal Citation Reports, feito pelo Thomson Reuters, no ranking elaborado segundo o fator de impacto, ocupa a 32a posição

entre as revistas de Comunicação (de 74 revistas no total) e a 95a posição entre as revistas de

Gestão (de 173 revistas no total). Como a comunicação é um aspecto entre tantos da área de gestão, bem como a comunicação organizacional é apenas uma área dos estudos de comunicação, essas posições são bastante representativas.

Mais significativa do que a posição dessa revista é o debate acadêmico que ocorreu em suas páginas ao qual nos referimos acima. A respeito dele, é interessante observar, em primeiro lugar, seus títulos.

O artigo original, de Lammers, expõe a posição de que as instituições comunicam. Na réplica, Suddaby observa que as instituições não apenas comunicam, mas são também criadas pela comunicação e pela linguagem. Afinal, na medida em que um comportamento é conhecido e se torna dominante, e muitas vezes isso ocorre por meio da comunicação e da linguagem, há formação de instituições. O autor reclama, assim, um espaço maior para a comunicação, que não é de subserviência à estrutura institucional, mas sim de coautoria de uma dinâmica que traz impactos diversos para a sociedade. Assim, o papel da comunicação em relação às instituições é relevante para entender o comportamento social e econômico de agentes e empresas, e o que mais importa para esse trabalho, o comportamento inovador.

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autores explicam o conceito de diversos modos. Para citar alguns poucos, e segundo a Stanford Encyclopedia of Philosophy no verbete “Social Institutions”, Anthony Giddens (1984) afirma que “as instituições são os elementos mais permanentes da vida social”, enquanto Jonathan Turner (1997)diz que elas representam “um conjunto de posições, regras, normas e valores inseridos em tipos particulares de estruturas sociais e que organizam padrões estáveis da atividade humana”. Essas posições são diferentes das de Thorstein Veblen (1898), Friedrich Hayek (1945) e Joseph Schumpeter (1911) , que analisaremos no decorrer da dissertação. São também diferentes da noção que aparece em North (1990), que é a referência mais atual desse traballho.

Por haver diferentes ideias a respeito do que é uma instituição, não faz muito sentido buscar e delimitar a história do conceito. Importa dizer, porém, que a noção de instituições, é tão comum na história do pensamento que inspirou, em meados do século XIX, um poema de Walt Whitman. Escreveu ele:

(...) Ouço dizer que contra mim foi alegado que eu procurava destruir instituições; Mas em verdade eu nada tenho contra

nem a favor das instituições que tenho eu afinal a ver com elas ou com a destruição delas? (…) (tradução livre)

A etimologia da palavra, de acordo com o site Dictionary.com, remonta ao francês antigo, institucion (fundação, algo estabelecido). O significado da palavra como “norma estabelecida ou prática” é de meados do século XVI, enquanto que o significado como organização começa a ser usado quase 200 anos mais tarde, em 1707. Para esse trabalho, “instituição” tem mais a ver com norma ou algo estabelecido – por exemplo, um comportamento ou uma tendência de agir de tal modo – do que com “organização”, de modo que podemos dizer, por exemplo, que uma organização está permeada por instituições.

Em Economia, a ideia de instituições começou a ser utilizada principalmente após o trabalho do austríaco Carl Menger (1883). Ele enxergou a tendência de usar dinheiro em uma transação como uma instituição e, mais do que isso, viu uma evolução nesse uso, de um início espontâneo a uma penetração profunda no tecido social. Decorrido algum tempo, a sociedade passou a usar o dinheiro sem se perguntar por qual motivo o estava usando. Do mesmo modo, alguns grupos, de modo espontâneo, criam regras, valores, normas formais e informais que moldam o comportamento dos integrantes. Nesse sentido, andar na calçada em uma rua movimentada é uma instituição no mesmo sentido em que doar o dízimo em uma igreja. Há

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inúmeras outras instituições na vida cotidiana.

Na área de Comunicação e Gestão, cumpre notar que tentativas de explicar o comportamento organizacional por meio de instituições têm ganho força. Conforme explicam Lammers e Barbour, no texto de 2006,

(...) a teoria institucional se tornou o arcabouço teórico dominante nos estudos sobre organização (Palmer, Biggart & Dick, 2008). Um capítulo recente (Greenwood, Oliver, Suddaby e Sahlin-Andersson, 2008) atesta o desenvolvimento substancial da empresa institucional em relação à sociologia organizacional e a estudos de gestão. Da perspectiva da comunicação organizacional, a perspectiva institucional gera muitas ideias e possibilidades provocativas que permitem expandir nosso entendimento sobre comportamentos comunicativos organizacionais (Lammers e Barbour, 2006) Nesse texto de 2006, intitulado “An Institutional Theory of Organizational Communication”, Lammers e Balbour afirmam que “apesar de haver pedidos de atenção para o papel das instituições (na área de comunicação organizacional), até aqui nenhuma teoria sistemática ou definição de instituições foi articulada na literatura sobre comunicação organizacional”. Os autores listam alguns estudos, desde o início desse século, que procuram chamar atenção para o papel das instituições nessa área (como Conrad, 2000; Taylor, Flanagin, Cheney & Seibold, 2001). Nenhum desses estudos criou uma teoria que envolvesse instituições e comunicação organizacional, que foi o objetivo maior desse trabalho de 2006, como diz o próprio título. A teoria por eles apresentada reserva, contudo, um papel de subserviência da comunicação à estrutura institucional, conforme a crítica de Suddaby (2011).

Pode-se dizer também que não é uma teoria evolucionária. Esse aspecto é importante ressaltarporque, na área de Economia, muitos desdobramentos que envolvem instituições têm sido realizados dentro – ou muito próximo – de um arcabouço evolucionário. É o caso da Nova Economia Institucional (NEI), cujo autor de origem é Ronald Coase, em um texto de 1937, mas que ganhou maior atenção na década de 1970 (“The Nature of the Firm”). Também a Economia Evolucionária Pós-Schumpeteriana, ou Nova Economia Evolucionária, de Nelson e Winter (1982), têm certa proximidade com o conceito de instituições. Não à toa, o próprio Richard Nelson já tentou agrupar as duas correntes dada a grande gama de similitude entre elas – o texto “Bringing Institutions into Evolutionary Growth Theory”, de 2002, é uma amostra disso.

O panorama atual em relação a instituições, teoria evolucionária e comunicação organizacional se configura, portanto, do seguinte modo. Os estudiosos da área têm prestado

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maior atenção ao conceito de instituições, mas não existe uma teoria evolucionária que lide com o papel que as instituições desempenham na comunicação organizacional. A ligação entre processos inovativos como explicados pela Economia Evolucionária Neo-Schumpeteriana e Nova Economia Institucional não estão, portanto, ainda presentes nos estudos de comunicação organizacional.

Essa dissertação de mestrado reflete as relações entre comunicação e inovação, apontando intersecções entre conceitos desses dois ramos da área de Economia com conceitos da área de Comunicação Organizacional. Assim, abordamos as intersecções existentes entre os conceitos de “busca-rotina-seleção” (da Economia Evolucionária Neo-Schumpeteriana), “comportamento econômico inovador” (da Nova Economia Institucional), e “reputação” e “imagem” (da área de Comunicação Organizacional).

Ou, de modo mais simples, entre inovação, conforme vista por dois ramos econômicos, e comunicação. A linguagem e o conceito multidisciplinar de “modelos mentais” permeiam essas dinâmicas, até mesmo porque explicam processos cognitivos e a cognição é um aspecto chave em diversos processos, como os comunicacionais e os inovativos.

2. Objetivo Geral

O objetivo geral desta pesquisaé verificar, por meio de um arcabouço evolucionário e institucional, como a comunicação organizacional e a confiança contribuem para o processo de inovação. Em termos de comunicação organizacional abordaremos dois conceitos chave: reputação e imagem.

3. Objetivos específicos

1. Apontar a importância da inovação de acordo com uma corrente da teoria ortodoxa e segundo autores considerados heterodoxos, em particular aqueles que são relevantes para a Nova Economia Institucional e a Economia Evolucionária Neo-Schumpeteriana;

2. Examinar os pontos de contato entre capital humano e inovação; ciência, tecnologia e inovação;

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3. Verificar como o comportamento dos agentes, sejam eles inovadores ou não, é moldado pela linguagem e pela comunicação;

4. Refletir sobre a Comunicação Organizacional e o seu papel para a construção da imagem e da reputação de empresas;

5. Examinar, a partir de pesquisa de campo de uma empresa inovadora, a Embraer, os seguintes aspectos:

a) políticas de comunicação da empresa e estratégias interna

b) a cultura de comunicação da empresa, suas rotinas e sua relação com a confiança

6. Refletir sobre o papel da comunicação e da confiança em empresas de inovação

4. Justificativa

A inovação é um aspecto fundamental para o crescimento e para o desenvolvimento econômico. Diversos autores (Veblen, 1898; Schumpeter, 1934; Schumpeter, 1939) têm enfatizado o papel que processos inovativos têm na evolução de uma economia. Ao mesmo tempo, conforme vista pelo arcabouço da Nova Economia Institucional, o comportamento econômico inovador é aquele que, embora siga algumas instituições, resulta no desvio de alguma(s) outra(s).

A comunicação é um processo fundamental e poderoso na mudança institucional, bem como na manutenção de instituições prevalecentes. Conforme afirmou Suddaby recentemente “em seu núcleo, a teoria institucional é uma teoria de comunicação”. Isso porque não apenas as instituições comunicam, bem como a comunicação forma instituições.

Ao mesmo tempo, o processo inovador, dentro do arcabouço da Economia Evolucionária Neo-Schumpeteriana, guarda ampla relação com as noções evolucionárias de busca, rotina e seleção. Em uma dada organização inovativa, portanto, a comunicação organizacional, interna e externa, contribui para a manutenção e para a mudança institucional, enquanto que também contribui para os processos de busca, rotina e seleção, esses mesmos envoltos em instituições.

O processo inovativo representa aspecto fundamental para empresas e para economias nacionais, e, na atualidade, o seu estudo é ainda mais importante, visto que a economia brasileira tem perdido espaço em rankings globais de inovação. Um desses rankings é o

Global Innovation Index, no qual o Brasil aparece na 61ª posição. Há apenas três anos, o

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Sul, está atrás do Chile, do Uruguai, da Argentina e da Colômbia. Em relação aos países do grupo BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), está somente à frente da Índia.

Diante desse quadro, é possível concluir que o Brasil está relativamente atrasado no que tange à inovação. De acordo com relatório do Tribunal de Contas da União, relativo ao 2º trimestre de 2012,

(...) No Brasil, a existência de uma política industrial com foco na inovação ainda é fenômeno recente. Muitos dos mecanismos existentes ainda estão em consolidação, e os atores envolvidos dependem de certo tempo para avaliar e ajustar os instrumentos necessários para fomentar uma cultura empresarial voltada para a inovação. (...) (TCU, 2012, pg. 17)

Desse modo, estudar aspectos relativos à comunicação e sua relação com a inovação, no Brasil, não só é legítimo como necessário. A Comunicação Organizacional tem um forte papel na fomentação de uma “cultura empresarial voltada à inovação” e um determinado peso nos processos inovativos. Por isso, estudos que reflitam e aprofundem as intersecções entre inovação e comunicação precisam ser feitos.

Questões

As questões que norteiam esse trabalho são:

1) De que forma a Comunicação Organizacional, seja no âmbito interno ou externo a uma empresa, contribui para processos inovativos

2) Qual é a importância da relação entre Comunicação e confiança entre os agentes participantes de processos inovativos?

3) Qual o peso das rotinas comunicacionais para a inovação? 4) Existe uma correlação entre comunicação e eficiência inovativa?

5. Metodologia e categorias analíticas

Essa pesquisa se insere na área de estudos Sociais e de Comunicação, numa perspectiva de Estudo Exploratório e Descritivo (Selltiz, 1974, p. 59). Por ser Exploratório e Descritivo, o estudo “busca familiarizar-se com o fenômeno ou conseguir nova compreensão deste, frequentemente para poder formular um problema mais preciso da pesquisa ou criar novas hipóteses”. Os denominados Estudos Formuladores ou Exploratórios, de acordo com Selltiz (1974,p.60), também podem ter outra função: “aumentar o conhecimento da pesquisa

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acerca do fenômeno que deseja investigar em estudo posterior, mais estruturado”.

Dessa forma, a pesquisa exploratória aqui proposta poderá, no futuro, ter desdobramentos em pesquisa mais aprofundada, para testar novas hipóteses elaboradas a partir da compreensão do fenômeno identificado, porém, ainda pouco compreendido, por exigir novas pesquisas de campo.

A escolha da empresa específica, a Embraer, que permite fazer ilações entre teoria e práxis, teve como critério o desempenho inovador da mesma conforme referenciado em rankings e prêmios de inovação. Entre os prêmios observados a empresa já se saiu vencedora no prêmio FINEP de inovação e, entre os rankings, já esteve presente nos elaborados pela consultoria Strategy& (ex Booz&Company), em associação com a Organização Mundial da Propriedade Intelectual (Global Innovation 1000), e pelas revistas americanas Fast Company (Most Innovative Companies) e Forbes (Global 2000 Forbes Companies).

Face às relações naturais entre economia e inovação, foi realizada também uma ampla revisão de literatura sobre teoria econômica relacionada à inovação. De início, tinha-se como meta a conceituação do que é inovação e a relação do processo inovador com o desenvolvimento econômico. No decorrer do trabalho, investigamos o que é inovação, sua relevância para a economia, o seu espaço no arcabouço da economia evolucionária, as imbricações entre inovação e instituições dentro desse arcabouço, entre diversos outros aspectos.

Levantou-se uma bibliografia pertinente a esses pontos e se procedeu a uma leitura de textos de autores da área de Economia, bem como das áreas de Linguística e de Comunicação Organizacional. Da Economia, emprestamos conceitos, como o de inovação e o de instituição (Veblen, 1898; Hayek, 1945; Schumpeter; 1942). Ainda utilizamos conceitos emprestados da Nova Economia Institucional (North, 1990), como o de comportamento econômico e de comportamento econômico inovador, e da Economia Evolucionária Neo-Schumpeteriana (Nelson & Winter, 1982), como os de busca, seleção e rotina.

Da área de Linguística tomamos emprestados conceitos como o de modelo mental (Johnson-Laird, 1980) e o de metáfora conceitual (Lakoff, 1982). Não menos atenção foi prestada a conceitos de Comunicação Organizacional como o de “reputação” e o de “imagem”.

Para o capítulo de campo, fez-se uma pesquisa in loco na empresa escolhida, a Embraer. Nessa visita e em contatos telefônicos anteriores, material bibliográfico relativo à organização foi levantado e também se realizou entrevista semi-estruturada como o gerente sênior de inovação e com o responsável pela comunicação interna da empresa a fim de

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perceber como a prática do dia a dia de uma empresa inovadora se encaixa com a teoria estudada. Também foram identificadas peças de comunicação da empresa e suas relações com confiança e credibilidade.

6. Estrutura da dissertação

Na introdução, conforme foi visto, apresento de forma breve a relação entre instituições e comunicação. Defino o que é uma instituição, seu uso por autores em Economia e o modo como três teóricos importantes da inovação lidaram com o conceito – Thorstein Veblen, Friedrich Hayek e Joseph Schumpeter.

No primeiro capítulo, aprofundo a visão que os três economistas elaboraram sobre o processo inovativo, cada qual com suas particularidades. Explico como a inovação é um processo visto como necessário tanto por autores considerados ortodoxos como por autores vistos como heterodoxos. Indico que a Economia pode ser vista como um campo em que relações comunicativas são fundamentais. Trato dos conceitos de busca, rotina e seleção, elaborados pelo ramo da Economia Evolucionária Neo- Schumpeteriana, o que será fundamental para o resto do trabalho.

No segundo capítulo, procuro estabelecer a ligação entre esses três conceitos – busca, rotina e seleção – com as atividades de comunicação de uma dada empresa. Aponto que uma empresa inovadora costuma inovar também nas formas e conteúdos comunicativos. Menciono que a comunicação está bastante ligada a uma cultura organizacional e que a transmissão de valores dessa cultura precisa estar em sintonia com o modo como a empresa se posiciona no mundo. Posturas éticas e transparentes em relação à sociedade possibilitam ganhos no curto, médio e longo prazo.

No terceiro capítulo abordo as relações entre os departamentos da empresa, especialmente as existentes entre o departamento de Pesquisa & Desenvolvimento e os demais. Defino o conceito-chave da dissertação, a “moeda inovativa”, e mostro como essa moeda circula no mercado. Essa moeda é criada em parte pela comunicação interna da firma, de modo que as rotinas comunicativas da empresa concorrem para o seu surgimento.

No quarto capítulo examino as rotinas comunicativas internas de uma empresa selecionada, a Embraer. Elaboro uma síntese sobre como as formas comunicacionais da empresa evoluíram no plano interno. Em relação à comunicação externa, reflito sobre uma

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campanha da empresa que ocorreu entre 2011 e 2015. Apesar de tratar, no terceiro capítulo, dos conceitos de reputação e imagem, não aprofundei os estudos sobre a comunicação externa da Embraer porque ela é, em grande medida, conduzida por agências externas à empresa.

Por fim, nas Considerações Finais, comento o processo evolutivo pelo qual a comunicação de empresas está sempre submetida e os fatores evolucionários relevantes. Também discorro sobre esse processo no caso da Embraer.

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CAPÍTULO 1: ECONOMIA EVOLUCIONÁRIA E INOVAÇÃO

1. Um pouco de teoria 1.1 Uma visão ortodoxa

O produto potencial da economia brasileira, ou seja, o quanto a economia brasileira pode crescer sem causar inflação, de acordo com Silva Filho (2001) em um trabalho para o Banco Central do Brasil (Trabalhos para Discussão no. 17) pode ser estimado segundo a fórmula

Yt=AtK a

t −1L1 − at (1.1)

Nessa fórmula, “Y é o PIB efetivo, K representa os serviços do capital, L representa os serviços do trabalho e A representa a contribuição da tecnologia, apesar de a variável ser mais conhecida pelo nome de Produtividade Total dos Fatores (PTF)”. (SILVA FILHO, p.11). Os expoentes “a” e “1-a” são vistos como a contribuição do capital e do trabalho para a renda.

Essa função só retornará resultados críveis sob certas condições da economia. Por exemplo, é imperativo que a estrutura produtiva da economia brasileira possa ser representada pela função de produção Cobb-Douglas e que, desse modo, apresente as propriedades dessa função. A função Cobb-Douglas é uma função de produção particular, que mostra, para um determinado período de tempo, a qual resultado produtivo o uso de uma dada quantidade de insumos (em geral capital físico e trabalho) deve levar. Por exemplo, ela pode indicar qual foi a produção anual se houve uso de uma dada quantidade de horas de trabalho e o de uma dada quantidade de máquinas e equipamentos nesse ano determinado. Não é preciso aprofundar esses pontos, visto que o que especialmente importa para essa dissertação é o elemento “A”, ou seja, a contribuição da tecnologia.

Embora economistas tenham valorizado discussões sobre tecnologia desde trabalhos de autores clássicos como Adam Smith (1776) e David Ricardo (1815), não se sabia que a tecnologia tinha importância tão grande, em termos quantitativos, para o crescimento econômico até meados da década de 1950. Foi nesse momento que trabalhos como o de Abramovitz (1956), o de Swan (1956) e o de Solow (1957) foram publicados.

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Ao analisar dados da economia americana no período 1909-1949 Solow percebeu que 87,5% do crescimento se devia à mudança tecnológica. Em razão dessa descoberta e de seu trabalho com a teoria do crescimento, o economista ganhou o prêmio Nobel em 1987.

O modelo de Solow para estimar o crescimento econômico de longo prazo, ou modelo de Solow-Swan, se tornou uma referência na tradição neoclássica, tendo sido usado inúmeras vezes para estudos que relacionam crescimento potencial e produtividade dos fatores em um determinado período. Sem dúvida, o trabalho do Banco Central do qual retiramos à fórmula matemática para o produto potencial brasileiro é tributário dessa tradição. Tanto é assim que o artigo de 1957 de Solow é citado na bibliografia, ainda que, no texto, o economista americano não receba citação explícita.

Também tributário da tradição ortodoxa é um artigo não científico, mas com dados relevantes, de dois economistas do Citibank, publicado em 29 de outubro de 2014 no jornal “Valor Econômico”. Merece atenção o seguinte trecho:

(…) decompondo o PIB brasileiro com relação a suas fontes de crescimento (fatores de produção), nota-se que 0.4 ponto percentual da redução da nossa estimativa de expansão do PIB potencial desde 2010 (de 3,6% para 2%) derivou do menor crescimento da mão de obra. Ou seja, pode-se dizer que a demografia explica 25% da menor expansão do PIB potencial do Brasil. Já a queda na taxa de investimento ao longo do governo Dilma (18% do PIB ante 20% ao final do governo Lula) reduziu a expansão do estoque de capital, explicando outros 0.6 p.p. adicionais (ou 35%) da queda do crescimento do PIB potencial no período. Dito isso, é possível afirmar que a queda dos investimentos e a menor expansão da produtividade total dos fatores (que explica outros 40% da queda do PIB potencial) são os fatores estruturais preponderantes na explicação da menor capacidade de expansão da economia desde 2011(...) (KFOURY e PORTO, 2014)

Assim, de acordo com o texto, três fatores explicariam a queda do produto potencial da economia brasileira. A demografia (que seria responsável por queda de 25% do PIB potencial), uma menor expansão do estoque de capital (35%) e a queda dos investimentos e a menor expansão da produtividade total dos fatores (40%). Os autores argumentam que esses fatores são estruturais, não conjunturais, de modo que seria necessário mudar a política econômica para aumentar novamente o produto potencial da economia brasileira. Note que esses três fatores guardam relação com as variáveis L, K e A, respectivamente, na fórmula 1.1.

Após referirem-se a esses dados, eles argumentam que é necessário o aumento da taxa de investimento para a elevação da PTF. Essa elevação seria possível após um ajuste fiscal,

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como o que atualmente ocorre, visto que, com o corte de custos por parte do governo, o aumento do investimento seria compatível com o orçamento e com a manutenção ou redução dos patamares atuais de endividamento público.

Falta ao texto, porém, uma visão mais holística, já que outros temas não são discutidos. Por exemplo, falta indicar que a elevação da PTF poderia ocorrer também por meio do aumento do conhecimento produtivo e da inovação (um economista ortodoxo poderia observar que levaria mais tempo para que a economia voltasse a apresentar maior produto potencial).

Em relação ao conhecimento, é válido lembrar o trabalho de Arrow (1962), publicado apenas cinco anos após o famoso artigo de Solow. O trabalho de Arrow teve também enorme influência nas ciências econômicas. O texto “The Economics Implications of Learning by Doing” é tão claro, além de pertinente para o presente trabalho, que seus dois primeiros parágrafos devem ser aqui inteiramente reproduzidos.

Arrow (1962) afirma que:

(…) Nesse momento já se tornou incontroverso que os aumentos da renda per capita não podem ser explicados por aumentos na taxa capital-trabalho. Ainda que sem muitas dúvidas nenhum economista iria, em algum momento, negar o papel da mudança tecnológica para o crescimento econômico, a enorme importância dessa mudança para a formação de capital foi talvez apenas totalmente compreendida com os importantes estudos empíricos de Abramovitz (1956) e Solow (1957). Os resultados desses estudos não contrariam diretamente a visão neoclássica da função de produção como uma expressão da mudança tecnológica. Tudo o que foi adicionado é o fato óbvio de que o conhecimento está crescendo no tempo. Entretanto, uma visão do crescimento econômico que depende de modo tão pesado de uma variável exógena, ainda mais uma tão difícil de medir como a quantidade de conhecimento, é dificilmente satisfatória do ponto de vista intelectual. De um ponto de vista quantitativo, empírico, nós ficamos com o tempo como uma variável explicatória. Mas prever tendências, ainda que possa ser necessário na prática, é basicamente uma confissão de ignorância, e, o que é pior do ponto de vista prático, não representam variáveis de políticas públicas. Além disso, o conceito de conhecimento que importa para a função de produção em um determinado momento requer análise. O conhecimento tem de ser adquirido. Não estamos surpresos, como educadores, que mesmo estudantes que passam pelas mesmas experiências educacionais ganham diferentes corpos de conhecimentos, e podemos assim estar preparados para atestar que diferentes países, ao mesmo momento, têm diferentes funções de produção, além dos seus diferentes patrimônios de recursos naturais. (...) (1962, p.155)

O ponto principal do artigo de Arrow é que boa parte do conhecimento se adquire com a prática, com o fazer, e que o aumento da produtividade é também assim atingido. Inovações

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incrementais ou “menores” também ocorrem com a prática e ajudam a aumentar a produtividade. Alguns economistas (ver Rosenberg, 1982) consideram que a maior parte do aumento da produtividade decorre de inovações incrementais e não de inovações de ruptura (“inovações radicais”, no jargão técnico schumpeteriano).

Há inúmeros estudos sobre inovação que demonstram que a atividade inovativa contribui para o aumento da produtividade. Para citar alguns poucos, cálculos econométricos de Rouvinen (2002) sugerem que “valores de Pesquisa & Desenvolvimento podem ajudar a explicar a Produtividade Total dos Fatores (PTF)” (p.136). Um estudo conduzido em seis países da América Latina, porém sem incluir a economia brasileira, concluiu que empresas que inovam têm maior produtividade de trabalho (Crespi e Zuñiga, 2010). Embora não citem explicitamente o termo “inovação”, Jones e Hall (1999) relacionam desempenho de uma economia no longo prazo com um ambiente econômico em que as empresas possam “investir, criar e transferir ideias”. Não menos importante, o Manual de Oslo (1990) indica que a inovação leva a maior produtividade.

Por essas razões e com base na fórmula 1.1, argumenta-se aqui que o produto potencial da economia brasileira tenderia a voltar a crescer, tudo o mais constante, caso, em vez de queda de 40%, estimada por Kfoury e Porto no artigo publicado no Valor Econômico, (2014) observe-se elevação da PTF (variável A em 1.1).

A maior parte do que foi dito até aqui está dentro do pensamento econômico mainstream atual (ou bastante próximas dele). Isso é, dentro do pensamento dominante nas Ciências Econômicas. Nesse trabalho, adotaremos uma abordagem evolucionista e institucional da economia, visão alternativa e que entendemos ser mais profícua. É fundamental explicitar nesse primeiro capítulo que a inovação é vista como atividade fundamental para a economia tanto no pensamento mainstream (aqui entendido como sinônimo de pensamento ortodoxo) quanto para escolas filiadas ao pensamento heterodoxo.

Em termos de heterodoxia, opta-se por tratar a relação entre comunicação e inovação por meio da economia evolucionária e de instituições. Essa escolha é embasada na hipótese de que o conhecimento dos agentes econômicos e da sociedade tem importância singular tanto para atividades inovativas quanto para atividades comunicativas.

Assim a relação entre esses dois tipos de atividades ocorre também muito em função do conhecimento. Estudar essa relação é, assim, estudar o processo de aprendizado, o uso do conhecimento acumulado pelos agentes, a dinâmica engendrada por conhecimento, ciência e tecnologia.

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Institutional Economics: Generic Institutionalism”, “o institucionalismo genérico oferece uma nova perspectiva sobre a mudança econômica institucional dentro de um quadro evolucionário (…). Instituições são consideradas meios sociais de aprendizado que mudam a base de conhecimento da economia” (2013, p.1). Logo, considerando os objetivos dessa pesquisa, torna-se bastante lógico realizar esse estudo com base na economia evolucionária, a qual comporta e salienta o papel das instituições.

1.2 Visões heterodoxas

Antes de indicar as características da economia evolucionária, é vital apontar para a diferença entre ortodoxia e heterodoxia, a fim de indicar por quais motivos a economia evolucionária é, em geral, uma visão heterodoxa (ainda que, por vezes, algum autor ortodoxo, como Marshall, seja citado como evolucionário).

Pode-se dizer, em primeiro lugar, que autores de escolas heterodoxas e de escolas ortodoxas partem de premissas diferentes. É possível considerar que a maioria dos economistas ortodoxos acredita na racionalidade maximizadora dos agentes e na tendência ao equilíbrio do sistema econômico. Isso em nada se parece com o pensamento de autores heterodoxos, que é elaborado em termos de uma “racionalidade limitada” dos indivíduos (Simon, 1956) e também no equilíbrio como somente um caso entre muitos outros possíveis.

A visão heterodoxa sobre produto potencial costuma ser bastante crítica. O conceito de “produto potencial” surgiu mais claramente em 1962, em uma conferência da Associação Americana de Estatística. Foi nesse encontro anual que o economista do governo dos EUA Arthur Okun falou sobre a importância de medir e sobre como medir o produto potencial.

Okun definiu produto potencial como o nível de crescimento que não acelera a inflação. No centro do conceito está a ideia de que a economia tem um grau de desemprego compatível com a manutenção de uma taxa constante de inflação, ou seja, a visão de que existe um trade-off entre desemprego e inflação, como na curva de Phillips original1 (Okun,

1962).

Esse equilíbrio econômico caracterizado pelo máximo produto sem que haja pressões inflacionárias também leva ao pleno emprego, ou seja, um nível de emprego em que o desemprego existente é voluntário ou temporário (a chamada “taxa natural de desemprego”).

1 A curva de Phillips em sua versão original indica que existe uma relação inversa entre a taxa de desemprego e a taxa de inflação. À medida que a inflação aumenta, o desemprego cai, e vice-versa. Modelos da curva de Phillips posteriores, que também analisaram a relação entre essas duas variáveis, mudaram essa concepção inicial.

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A explicação para esse equilíbrio, que se baseia na existência de preços flexíveis, pode ser encontrada em Bresser-Pereira (1974). Explica ele:

(...) este pressuposto (da existência de preços flexíveis) permite a garantia do pleno emprego sem qualquer intervenção do governo. No momento em que uma queda momentânea na procura agregada levasse à redução da atividade econômica e ao desemprego, os salários (o preço do trabalho) seriam reduzidos, os preços das mercadorias produzidas com o respectivo trabalho cairiam, a procura aumentaria, a produção voltaria a aumentar, e o pleno emprego seria restabelecido. (...) (BRESSER-PEREIRA, 1974, p.10)

Essa explicação, dada principalmente por economistas neoclássicos, como Walras (1874), foi bastante criticada por Keynes na “Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda”, livro publicado em 1936. Bresser comenta que

(…) Na Teoria Geral, Keynes apresenta-nos uma análise pessimista do sistema econômico capitalista. Sua teoria é uma teoria macroeconômica, que, ao contrário da teoria microeconômica anterior, não toma a produção total como um dado e o pleno emprego como uma decorrência inerente ao sistema, colocando como incógnitas a alocação dos fatores de produção entre as diversas possíveis aplicações, através do mecanismo dos preços, e a consequente remuneração dos fatores. Ao invés de uma teoria estritamente estática e otimista, como era a teoria neoclássica, Keynes nos apresenta uma teoria macroeconômica relativamente dinâmica, cujas incógnitas fundamentais são o volume da produção e o nível de emprego decorrente (...) (BRESSER-PEREIRA, 1974, p.29)

Nesse sentido, do mesmo modo que Keynes não acreditava no equilíbrio econômico como o existente na teoria neoclássica em pleno emprego, diversos autores de escolas heterodoxas, profundamente influenciadas por sua obra e em particular pela “Teoria Geral”, compartilham essa descrença. Além disso, existe, entre alguns economistas heterodoxos, desconfiança em relação ao conceito de PIB potencial e ao conceito de função de produção.

Joan Robinson, por exemplo, escreveu de modo bastante crítico que:

(...) a função de produção tem sido um poderoso instrumento de deseducação. O estudante de teoria econômica é ensinado a escreve que Q = f (L,K), onde L é a quantidade de trabalho, K é a quantidade de capital e Q é igual à produção dos insumos. Ele é instruído a perceber todos os trabalhadores como do mesmo tipo e a medir L em termos de horas-homem de trabalho; a ele é contado algo sobre o problema do número-índice ao escolher uma unidade de produção; e então ele é levado rapidamente para a próxima questão, na esperança de que

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esqueça em qual unidade K é medido. Antes que ele pergunte, torna-se um professor (...) (ROBINSON, 1954, p.51)

Contribui para essa desconfiança a dificuldade em medir o PIB potencial, o que é comprovado pelos inúmeros métodos que existem para mensuração e que nem sempre apresentam resultados semelhantes, e, por parte de alguns autores heterodoxos, certa desconfiança em relação ao instrumental excessivamente matemático. Mesmo o conceito de “taxa natural de desemprego” é criticado pela sua semântica, visto que, para esses autores, não há nada de “natural” nessa taxa.

Por fim, conforme se observou durante a Controvérsia de Cambridge (“Cambridge Capital Controversy”), durante as décadas de 1950 e 1960 e que se iniciou com o artigo de Robinson acima citado e opôs economistas como ela e Pierro Sraffa, de Cambridge, Inglaterra, e os ortodoxos Robert Solow e Paul Samuelson, de Cambridge, Massachussets (MIT), Estados Unidos, mesmo o conceito de Produtividade Total de Fatores foi e continua a ser questionado por alguns economistas heterodoxos.

Assim é que a justificativa teórica para a importância da inovação por parte de economistas heterodoxos não passa, necessariamente, pelos conceitos de PIB potencial, função de produção ou Produtividade Total de Fatores. Dentro da heterodoxia, pode-se buscar no pensamento evolucionário algumas outras causas para a relevância da inovação.

1.2.1 Economia evolucionária e o papel das instituições

De acordo com Nelson e Nelson, “antes da teoria moderna neoclássica ganhar a sua presente posição de dominância em economia, muito da análise econômica era tão evolucionário quanto institucional” (2002, p.266). Para os autores, por exemplo, enquadra-se em um viés evolucionário, ao menos em algumas passagens, o próprio Adam Smith, que afirma existir uma coevolução das tecnologias físicas com a organização do trabalho, essa última vista sob um olhar de “instituições”.

Também Karl Marx e, considerando toda a obra, o inglês Alfred Marshall, dois economistas de correntes inconciliáveis, teriam visões evolucionárias e institucionalistas. De modo que “a teoria do crescimento evolucionário e que abrange instituições de um modo essencial têm uma longa e honrosa tradição em economia” (Nelson e Nelson, 2002, p.266).

Foi a geração de Marshall, que incluía ainda o economista austríaco Böhm-Bawerk e o suíço Vilfredo Pareto, entre outros, a principal responsável por tornar o pensamento

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neoclássico dominante, na virada do século XIX para o XX. Com a crescente dominância da ortodoxia, visões evolucionistas e institucionais passaram para a margem do pensamento econômico. Foi o que aconteceu com o pensamento de Veblen, de seus seguidores, de Schumpeter, e também com o de Hayek.

Ao mesmo tempo, como indica Nelson e Nelson, “correntes dissonantes do evolucionismo e do institucionalismo ganharam força”. Commons, por exemplo, fortemente influenciado por Veblen, era institucionalista, mas não evolucionário. O caso era parecido com o de Coase, fundamental alguns anos mais tarde para a Nova Economia Institucional. Por outro lado, Schumpeter adotou uma perspectiva evolucionária, mas não institucionalista (p.266).

Nas últimas décadas, contudo, ocorreu uma aproximação entre as duas correntes. As dissonâncias diminuíram e economistas como Hodgson (1988), Langlois (1989) e North (1990) adotaram uma perspectiva evolucionária sobre como as instituições se formam e mudam. O próprio Richard Nelson, autor do texto em conjunto com Katherine Nelson, se mostra favorável a uma junção dessas correntes, em especial porque elas apresentam muitos elementos em comum.

Em realidade, a economia evolucionária se desenvolveu, ao longo do tempo, exatamente como uma série de visões que convergem em algumas ideias e conceitos. Jamais foi, assim, um ramo da economia com uma única perspectiva e assim permanece.

Conforme afirma Hodgson, “o termo 'economia evolucionária' é hoje aplicado a um conjunto de abordagens diversas” (Hodgson, 2012, p.2). Por isso, não se buscará, assim, delimitar a análise a uma ou outra Escola Econômica, a um ou outro autor, mas a um leque de autores que tratam de instituições dentro de um arcabouço evolucionário.

Wäckerle aponta três economistas essenciais para esse estudo. Segundo ele, “desde os trabalhos seminais dos economistas evolucionários pioneiros como Thorstein Veblen, Friedrich von Hayek e Joseph Schumpeter, podemos falar de uma virada evolucionária na economia” (2013. p.2,). Essa virada

(…) se refere ao reconhecimento da continuidade da mudança das operações econômicas e da auto-transformação do sistema econômico por razões interiores (ao próprio sistema). É também devido a esses autores que instituições têm recebido uma grande atenção no discurso econômico, não apenas no que diz respeito à governança de sistemas econômicos, mas também quanto à transmissão e persistência do conhecimento econômico no tempo e

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Os autores citados em comum por Nelson e por Wäckerle (Veblen, Schumpeter, Hayek) como representantes da economia evolucionária também são mencionados por Hodgson (2013) e por Possas (2008). Hodgson afirma que “historicamente, uma multiplicidade de abordagens em economia, incluindo trabalhos de Adam Smith, Karl Marx, Alfred Marshall, Thorsten Veblen, Joseph Schumpeter, Friedrich Hayek têm sido descritos

como evolucionários” (2012, p1, grifo meu).

Mas como podemos definir a economia evolucionária e, dentro dela, o papel das instituições? Para esse primeiro momento, adota-se a definição de Nelson e Nelson, que afirmam:

(…) A orientação da economia institucional é sobre uma série de fatores que condicionam e definem a interação humana, tanto dentro como entre as organizações. Em contraste, muito da teoria econômica evolucionária moderna está focada em processos de avanços tecnológicos (...) (2002, p.266) (grifo meu)

A seguir, explora-se a visão de alguns dos autores que podem ser considerados evolucionários, tanto a respeito de instituições quanto sobre a atividade inovativa. O pensamento de Veblen, Schumpeter e Hayek, todos de correntes diferentes, mas com preocupações quanto à inovação e a instituições, é abordado. Ao fim dessa exposição, iremos sumarizar os principais pontos da economia evolucionária e como as instituições se situam dentro dela.

Importa ainda lembrar que a principal preocupação do trabalho é a comunicação e a sua relação com a atividade inovativa. Por isso, entende-se a economia como uma grande dinâmica permeada de comunicação.

A esse respeito, Johnson afirma que

(…) quando a economia é retratada mais como um processo de comunicação e

causação cumulativa2 do que como um sistema de equilíbrio, isto é, de um

ponto de vista institucional e não neoclássico, então o aprendizado pode ser conceituado como fonte de inovação técnica (...) (JOHNSON, 2010, p.23, grifo meu)

Já Suddaby, aponta, de modo importante para esse trabalho, que “no seu núcleo, a teoria institucional é uma teoria de comunicação” (2011, p.188), de modo que, quando lidamos com instituições, estamos também lidando com comunicação.

Por isso, se a economia pode ser vista como um processo de comunicação, como

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afirma Johnson, a atividade inovativa, econômica por excelência, necessariamente requer processos comunicacionais para ocorrer.

1.2.1.1 O velho institucionalismo: Veblen

Talvez Thorstein Veblen deva ser considerado o avô da visão institucionalista e evolucionária da economia. No fim do século XIX, o economista e sociólogo americano publicou dois textos seminais. Em 1898, foi publicado “Why is Economics Not an Evolutionary Science” (Porquê a Economia Não é uma Ciência Evolucionária), e, no ano seguinte, seu livro mais conhecido, “The Theory of The Leisure Class – An Economic Study of Institutions” (“A Teoria da Classe Ociosa – Um Estudo Econômico das Instituições”). Veblen se tornou com a publicação do primeiro artigo um dos primeiros a esboçar a ideia de uma economia evolucionária.

Embora o título do artigo possa sugerir uma defesa da separação entre ideias evolucionistas e Ciências Econômicas, em realidade o artigo se preocupa com exatamente o contrário. Veblen critica a economia por não ser evolucionária. Logo na primeira página do texto, ele afirma que há autores que estão transformando a Antropologia, a Etnologia e a Psicologia, bem como as Ciências Biológicas, em ciências modernas. Na página seguinte, define que, a seu ver, ciências modernas são evolucionárias, e a Economia, atrasada, “não é uma ciência evolucionária”.

Veblen passa então a buscar causas para esse atraso. Para ele, o problema é pensar a Economia como tendente ao equilíbrio, tal como um sistema físico, como fizeram os economistas clássicos. Afirma

(…) Dos feitos dos economistas clássicos, recentes e em voga, a ciência pode se orgulhar; mas eles falham em se adequar ao padrão evolucionário, não por não oferecer uma teoria de processo ou de relações de desenvolvimento, mas ao se alienar dos hábitos de pensamento evolucionistas. A diferença entre ciências evolucionárias e pré-evolucionárias não repousa na insistência sobre os fatos. Havia uma grande e frutífera atividade nas ciências naturais em coletar e cotejar fatos antes que essas ciências tomassem as características que as fizeram evolucionárias. Também não repousa a diferença na ausência de esforços para explicar e formular processos, sequências, crescimento e desenvolvimento em dias pré-evolucionários. Esforços desse tipo eram abundantes, em número e em diversidade (...) (VEBLEN, 1898, p.48)

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evolucionária diz respeito a uma questão de ponto de vista. Quando não evolucionária, a ciência econômica pode descrever os fatos, alinhá-los em termos de causas e efeitos, e descartar aqueles que não se encaixam ao considerá-los como elementos de perturbação. Essa postura, contudo, não permite o surgimento de uma teoria efetiva sobre mudança e desenvolvimento. Não permite, portanto, uma teoria efetiva sobre inovação, por exemplo.

Na segunda metade do século XIX, discutia-se se a evolução ocorria de modo determinista ou se era afetada por variações e sorte. A primeira visão estava mais próxima a Lamarck, enquanto, a segunda, mais próxima de Darwin. Veblen, nesse artigo, está mais próximo a Lamarck e da escola positivista de Spencer, vez que, embora indique a importância das noções de processo e desenvolvimento, não comenta a incerteza que cerca a evolução. De acordo com Hodgson (1998), Veblen se tornou mais crítico dessa postura em uma fase posterior.

Boulton (2010), ao comentar o seminal artigo, afirma que Veblen dá grande destaque ao aprendizado e à inovação.

Diz Boulton:

(…) conforme ele (Veblen) diz, 'as propriedades físicas dos materiais disponíveis aos homens são constantes; é o agente humano que muda o seu entendimento e a sua apreciação para o que essas coisas podem ser usadas é o que se desenvolve'. Ele diz que o capital é concebido como “uma massa de objetos materiais disponíveis para uso humano”, mas que isso não é suficiente quando consideramos um processo dinâmico. Reflete que, de fato, capital inclui conhecimento humano, habilidade e predileção. Percebe que 'hábitos prevalecentes de pensamento (…) entram no processo de desenvolvimento industrial'. Em outras palavras, ele está se referindo ao conhecimento como capital (BOULTON, 2010, p42).

No artigo de Veblen, às passagens citadas por Boulton se segue um parágrafo cuja ideia central será bastante profícua para a nova economia evolucionária, de Nelson e Winter. Diz Veblen:

(…) A história da vida econômica do indivíduo é um processo cumulativo de adaptação de meios a fins, que mudam de forma cumulativa à medida que o processo se desenvolve, de modo que o agente e o meio representam, em qualquer momento, o resultado de processos passados (…) (VEBLEN, 1898, p.391).

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economia evolucionária. “Uma economia evolucionária precisa ser a teoria de processo de crescimento cultural determinado pelo interesse econômico, uma teoria de uma sequência cumulativa de instituições econômicas criadas dentro do próprio processo”. Boulton (2010) afirma que essa é provavelmente uma das primeiras definições de uma economia evolucionária.

De forma a resumir o escrito até aqui sobre Veblen e o seu texto “Why is Economics Not a Evolutionary Science” , pode-se dizer que ele incentivava o surgimento de um arcabouço teórico evolucionário no estudo da Economia. Esse arcabouço serviria não apenas para descrever o sistema econômico, mas para entender o seu desenvolvimento de modo mais efetivo. Para esse desenvolvimento, o conhecimento humano era fundamental. Novos hábitos de pensamento, por exemplo, seriam importantes para o desenvolvimento industrial.

As colocações de Veblen foram bastante importantes para a época e também a posteriori. Veblen inspirou uma série de autores e a escola hoje chamada “Velho Institucionalismo”, que inclui, além de Veblen, John Commons, Wesley Mitchell, Clarence Ayres, Adolf Berle e John Kenneth Galbraith, entre outros. Apesar de dificuldades encontradas para delimitar esse ramo da Economia, pode-se dizer que o “Velho Institucionalismo” está baseado em alguns pontos. São eles, de acordo com Pondé (1997):

(…) 1) a ênfase nas relações de poder que estão presentes nas economias de mercado, onde interações entre indivíduos são marcadas por correlações de forças, conflitos de interesses e mecanismos de coerção; 2) o abandono da imagem da sociedade e da economia como um sistema autorregulado; 3) o foco da análise no processo histórico de mudança da organização social de que as instituições fazem parte (processo de “causação cumulativa”), contrapondo-se às análises hipotéticas que não levam em conta as especificidades concretas de cada situação e momento em estudo; e 4) holismo, no sentido de compreender a economia como parte de um todo em evolução – da cultura. Nesse sentido, tanto o indivíduo como a sua racionalidade apresentam-se sempre institucionalizados, pois estão inseridos em um meio cultural e condicionados por este (...) (PONDÉ, 1997, p7-8). De certo modo, esses quatro elementos estão também presentes na análise feita por Veblen sobre tecnologia. Em “The Evolution of Scientific Point of View” (1919), conforme afirma Van Der Steen (1999), o economista apresentou de modo claro sua perspectiva sobre tecnologia e instituições. Ele argumentou, em consonância com o que havia escrito 20 anos antes, que “o fator predominante em moldar as instituições tem sido a tecnologia”. Rutherford (1984) mostra que, na visão de Veblen, as instituições afetam a tecnologia bem como a

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tecnologia afeta as instituições.

Para Veblen, a tecnologia era estimulada pela propensão do homem em trabalhar e também pela sua curiosidade intelectual. A relação entre tecnologia e desenvolvimento econômico era vista deste modo:

(…) os desafios que ocorrem quanto à invenção mecânica são uma expressão de mudança no fator humano. Mudanças no material apenas estimulam mudanças adicionais por meio do fator humano. É no material humano que a continuidade do desenvolvimento precisa ser procurada; e é aqui, portanto, que as forças motoras do processo de desenvolvimento econômico precisam ser estudadas (…) (VEBLEN, 1919, p.71-72).

Nesse sentido, na visão de Veblen há uma forte relação entre processos mentais e novas tecnologias. Conforme afirma Van Der Steen (1999), “a essência da mudança técnica é a mudança em 'atos prevalecentes de pensamentos', associados com um dado estado da arte e da ciência” (p.30). Ou, para recorrer ao próprio dizer de Veblen,

(…) a mudança é sempre em último caso uma mudança de hábitos de pensamento. Isso é verdade mesmo em relação a processos mecânicos na indústria. Um determinado artifício que afeta certos fins materiais se torna uma circunstância que afeta o crescimento subsequente de hábitos de pensamento – modos de procedimento – e então se transforma em um ponto de partida para desenvolvimento de métodos que abrangem os fins buscados e para variações adicionais dos fins que deverão ser buscados (…) (VEBLEN, 1919, p.75). Esse processo constitui o que Veblen denominava de “causação cumulativa”, ou seja, à medida que a tecnologia muda, novos problemas surgem. Os novos problemas demandam mudanças de hábitos de pensamento e novos comportamentos, os quais deverão levar a novas tecnologias. O processo é circular (ou em espiral) e envolve mudanças de instituições, definidas por Veblen como “hábitos estabelecidos de pensamento comum à generalidade dos homens” (Veblen, 1919, p.239).

No processo de causação cumulativa, o que determina se uma nova instituição se tornará prevalecente é uma espécie de “seleção natural”, realizada pela sociedade. Essa sociedade apresenta um sistema institucional, sistema em parte derivado da tecnologia e em parte da cultura. As novas instituições precisam ter um grau de coerência com esse sistema, de modo que a seleção resulta de um processo holístico que inclui a cultura, a tecnologia e, por fim, o próprio sistema institucional, que tem certa autonomia em relação a essas 2 esferas.

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Ou, de acordo com Brette, “a mudança institucional aparece no sistema de Veblen como um efeito emergente das dinâmicas interativas entre fatores técnicos, instintivos e institucionais” (BRETTE, 20033).

É notável, ademais, que parte da sociedade apresenta resistência a algumas mudanças institucionais, devido, muitas vezes, a características culturais herdadas ou à infraestrutura então existente. Além disso, novas instituições precisam ter certo grau de coerência com as antigas. Por esses fatores, em geral, as instituições não mudam radicalmente, e a evolução institucional é bastante dependente do passado.

O conceito exato que Veblen aplica a instituições muda de texto para texto. Em “A Teoria da Classe Ociosa”, por exemplo, ele descreveu instituição como “hábitos de pensamento, pontos de vista, atitudes e aptidões mentais” (1899, p.133), de modo diferente, portanto, ao conceito presente no texto de 1919. De qualquer modo, a ideia central é a mesma.

1.2.1.2 A visão de Hayek sobre instituições: o papel da comunicação

Outra formulação sobre instituições, que também se liga a um arcabouço evolucionário, pode ser encontrada nos escritos do austríaco Friedrich Auguste von Hayek (1945). No entanto, conforme afirma Leathers (1990), Hayek praticamente ignorou Veblen, ainda, ou talvez pelo motivo, que este havia tecido críticas aos economistas clássicos e à “escola austríaca”, a qual, anos mais tarde Hayek pertenceria. Diz Leathers:

(…) Veblen criticou a 'Escola Austríaca' (representada por Carl Menger4) ao

dizer que ela era 'incapaz de quebrar com a tradição clássica segundo a qual a Economia é uma ciência taxonômica'. (Veblen, 1898). A falha austríaca foi atribuída a uma 'percepção falha sobre a natureza humana' (Veblen, 1898). À luz dessa crítica e da teoria evolucionária de Veblen (…), é notável que um membro tardio da Escola Austríaca, F.A.Hayek, também desenvolveu uma teoria evolucionária que incluiu uma concepção distinta da natureza humana. Curiosamente, Hayek praticamente ignorou a teoria evolucionária de Veblen, deixando aos outros a tarefa de traçar semelhanças e diferenças entre as 2 teorias. (...) (LEATHERS, p.1, 1990).

Há diversos textos que analisam as semelhanças e diferenças entre o Velho Institucionalismo e a chamada Escola Austríaca (ver, por exemplo, Samuels, 1989;

3 Disponível em http://thorstein.veblen.free.fr/index.php/documents/65-thorstein-veblen-theory-of-institutional-change-beyond-technology-and-determinism-olivier-brette.html , acesso em 1 de junho de 2015)

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Rutherford, 1989). Entre as diferenças, é possível afirmar que a visão austríaca coloca ênfase em um individualismo metodológico, enquanto que os institucionalistas se apoiam em uma visão mais holística. Mas há semelhanças, especialmente na medida em que ambas as escolas criticam duramente a visão neoclássica de equilíbrio. Mais do que isso, ambas também veem a economia como um processo de evolução constante. Hayek, contudo, não pode ser considerado um institucionalista da velha escola de Veblen.

Isso porque, em Hayek, a noção de instituição é bastante diferente da noção em Veblen. Em Veblen, conforme vimos e nas palavras de Hodgson, “instituições são um tipo especial de estrutura social com o potencial de mudar os agentes, incluindo mudanças em suas preferências e objetivos” (Hodgson, 2006, p2). Em Hayek, contudo, o conceito de instituições adquire uma essência de comunicação. Conforme afirma Myerson (2006), em um texto essencial publicado em 1945 (“The Use of Knowledge in Society”), Hayek argumentou que “a chave para uma nova teoria econômica deveria ser o reconhecimento de que instituições econômicas (…) devem ter a função essencial de comunicar informações dispersas sobre desejos e recursos de diferentes indivíduos na sociedade”. (Hayek, 1945).

Hayek se voltará em seus escritos contra o planejamento econômico estatal, em oposição ao que preconizava Keynes. No texto de 1945, ele afirma que o conhecimento está disperso entre as pessoas e que a discussão sobre a melhor forma de utilizar esse conhecimento é central para a ciência econômica. O planejamento é feito com base no conhecimento e, por isso, “os diferentes modos por meio dos quais o conhecimento no qual as pessoas baseiam seus planos é comunicado para elas é um problema crucial para qualquer teoria que procure explicar o processo econômico” (Hayek, 1945, p.520).

Na sequência, ele diferencia tipos de conhecimento. Há o conhecimento científico, que muitas vezes pode ser transformado em estatísticas, e o conhecimento definido por ele como “de circunstância de tempo e lugar”.

Esse segundo tipo é bastante complicado de ser mensurado de modo agregado, vez que depende de particularidades e circunstâncias às quais os indivíduos estão sujeitos. De modo que estatísticas agregadas quanto a esses conhecimentos precisam abstrair tais diferenças. O problema é que, muitas vezes, as diferenças são essenciais nas decisões que o agente tomam. Portanto, um órgão que processe esse conhecimento e tome decisões por todos nem sempre irá obter um melhor resultado que se os agentes tomassem as decisões por si mesmos.

Hayek argumenta então que o ideal seria saber como utilizar da melhor forma os recursos existentes sem que exista um controle geral; não apenas sem um controle geral, mas, no nível do indivíduo, sem um controle consciente. Como, por fim, criar incentivos que façam

Referências

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